JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)
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Bem-aventurados os
pobres de espírito
Um texto que deveríamos
ler e refletir,
diariamente, é o Sermão
da Montanha, no capítulo
5 do Evangelho de
Mateus. Essa passagem de
Jesus é uma das mais
belas páginas que o
Mundo já recebeu. É um
dos mais perfeitos,
elevados e completos
cursos de iniciação
espiritual legados a
todos nós. Cada
bem-aventurança merece
ser comentada em
separado. Vamos começar
pela primeira:
“Bem-aventurados os
pobres de espírito, pois
deles é o Reino dos
Céus”.
Allan Kardec, n’O
Evangelho segundo o
Espiritismo,
capítulo VII, destaca a
oposição entre humildade
e orgulho. A primeira é
típica dos Espíritos
superiores, sendo que o
mais elevado de todos é
o próprio Jesus, manso e
humilde de coração,
consoante suas próprias
palavras em Mateus,
capítulo 11: 28-30:
“Venham a mim todos
aqueles que se encontram
oprimidos e cansados, e
eu os aliviarei. Tomem
sobre vocês o meu manto
e aprendam comigo, que
sou manso e humilde de
coração; e vocês
alcançarão descanso para
suas almas. Pois o meu
jugo é suave e o meu
fardo é leve”.
Pobres de espírito não
são os desprovidos de
inteligência, diz
Kardec, mas os que são
humildes. Para os
últimos é que está
reservado o Reino de
Deus, para os que buscam
o conhecimento, a
riqueza interior. Já
para algumas pessoas que
detêm muito estudo, nem
todas, felizmente, até
mesmo a ideia de Deus
soa como infantilidade
dos que consideram
“pobres de espírito”. É
a falsa superioridade de
quem apenas conhece o
lado teórico das coisas.
E essa é a grande
diferença entre o que
possui saberes e o
verdadeiro sábio. Aquele
nega a Deus, pois seu
orgulho do suposto
conhecimento o faz
rejeitar as mensagens do
mundo invisível. Para
essas pessoas, as
máximas de Jesus são
boas apenas quando são
utilizadas no controle
dos atos de criaturas
simples, facilmente
manipuladas pelos mais
espertos. Um dia, porém,
explica Kardec, os
pretensos sábios da
Terra penetrarão o mundo
invisível que tanto
negaram, então já não
lhes será possível
manter a empáfia e se
sentirão humilhados.
Pobres de espírito, nas
palavras de Jesus, não
são os simplórios, os
ingênuos, ignorantes, e
sim os que possuem
simplicidade de coração
e humildade espiritual.
Mais vale, então, para a
felicidade futura, que
sejamos pobres em
espírito e ricos
moralmente. Em Lucas,
capítulo 22, versículo
27, o Senhor nos
transmite esta belíssima
imagem da grandeza
espiritual que possui e
espera de cada um de
nós, para que possamos
ser seus dignos
discípulos: “Pois qual é
o maior: quem está à
mesa ou quem serve? Não
será quem está à mesa?
Eu, porém, sou, entre
vocês, como aquele que
serve”. E, em João,
capítulo 13, o Mestre
cobre-se com uma toalha,
enche uma bacia de água
e lava os pés de seus
discípulos, após o que
lhes recomenda que
aquele que desejar ser o
maior, que se faça o
servidor dos demais,
como ele, nosso Mestre e
Senhor, o fazia.
Essas considerações
levam-nos a recomendar a
todos que nos leem uma
atitude de permanente
doação, perante a vida e
as pessoas. Atitude de
amor incondicional,
principalmente àqueles
que não nos compreendem,
atos voltados à prática
permanente da humildade
sem jamais nos eximirmos
de ser úteis.
Humildade sempre:
Haja
o que houver na vida,
neste mundo,
Unicamente
isto é imprescindível:
Muita
humildade, muito amor,
profundo
Idealismo,
elevação do nível...
Luta
contra o sentido falso,
oriundo
Da
imperfeição humana bem
visível
Ao
mudo apelo, apelo mudo e
fundo
De
tua consciência
ultrassensível
Em
seu olhar perscrutador,
rotundo.
Sente
a humildade de
reconhecer
Em
cada ser humano a irmã e
o irmão
Membros
do Grande Todo a
florescer
Para
frutificar na elevação
Rumo
ao Supremo Pai de todo
ser
E
sentirás Jesus no
coração.
Os pobres de espírito do
Sermão do Monte podemos
ser nós, quando já não
nos julgamos acima dos
nossos semelhantes, por
termos entrado em
contado com a sublime
mensagem do Cristo. Mas
nosso orgulho ainda se
manifesta no momento em
que deixamos de praticar
a compaixão para com os
desafortunados, como
ocorreu na história
psicografada por
Francisco Cândido
Xavier, no livro A
boa nova, que
sintetizamos a seguir.
Conta-nos o Espírito
Humberto de Campos que
os enfermos e pobres de
Corazim, Magdala,
Betsaida, Dalmanuta e
outras aldeias das
proximidades de
Cafarnaum enchiam as
suas ruas, na época
inesquecível da presença
do Senhor na Terra. Os
discípulos eram
procurados. Felipe,
pelos doentes, Pedro
pelos pobres, que
rodeavam sua casa em
busca de um lenitivo
para suas dores no
mundo.
Assim, nos primeiros
dias do apostolado,
pequeno grupo de
infelizes procurou Levi
(Mateus), o apóstolo
publicano, em sua casa
confortável. Queriam
explicações sobre o
Evangelho do Reino dos
Céus...
Mateus, demonstrando,
nessa época, estranheza,
disse-lhes que, no novo
Reino, Jesus reuniria
todos os corações
sinceros e de boa
vontade desejosos de
irmanar-se como filhos
de Deus. Mas,
perguntou-lhes, o que
julgavam poder fazer, se
um era aleijado, o outro
fora abandonado pela
família e outro mais
vivia aflito?
Essas pessoas
entristeceram-se.
Sentiram-se humilhadas
pelas palavras do
apóstolo, as quais os
faziam sentirem-se
inúteis. No entanto,
aguardariam, mais tarde,
a presença de Jesus, que
pregaria no monte... A
esperança haveria de
retornar aos seus
corações...
Antes, porém, de
dirigir-se para a
montanha, onde uma
multidão já o aguardava,
Jesus esteve também com
Mateus e, após ouvi-lo
sobre a recusa deste à
contribuição dos
desafortunados,
esclareceu-lhe com
carinho:
— No entanto, Levi,
precisamos amar e
aceitar a preciosa
colaboração do mundo!...
Se o Evangelho é a
Boa Nova, como não
há de ser a mensagem
divina para eles,
tristes e deserdados, na
imensa família humana?
Mateus comoveu-se, mas
respondeu desapontado:
— Só quis expressar meu
desejo de apressar a
supremacia do Evangelho
ante os que governam o
mundo.
Jesus, com bondade,
tornou a dizer-lhe:
— Quem governa o Mundo é
Deus, e o Seu Amor não
tem pressa... “Os
triunfadores do mundo
são pobres seres que
caminham por abismos
tenebrosos”. É preciso
atentarmos na alma
branda e humilde dos
vencidos, a quem Deus
envia bênçãos de bondade
infinita. Amemo-los e
ajudemo-los. Suas
lágrimas adubam a Terra
e a semente do Evangelho
germinará para a luz da
vida com o sacrifício
dessas pessoas simples e
esperançosas.
Os demais apóstolos
chegaram, e o grupo
seguiu para um dos
montes próximos onde
Jesus pronunciou seu
sermão. E foi assim que
sua primeira frase foi
esta: “Bem-aventurados
os pobres de espírito,
porque deles é o reino
dos céus”.
Sejamos, pois, pobres
de espírito como
exemplificou Jesus, que,
sendo o Governador da
Terra, não se sentiu
diminuído em ter como
amigos e lavar os pés de
simples pescadores e
homens do povo. Façamos
como Ele, que agiu com
humildade e espírito de
serviço ao próximo, sem
qualquer desejo de
retribuição, ou de
reconhecimento, mas por
puro amor. Somente assim
alcançaremos o Reino do
Céu.