ALMIR DEL PRETTE
adprette@ufscar.br
São Carlos, SP (Brasil)
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A criança e o
Espiritismo
“É pela educação que as
novas gerações se
transformam e se
aperfeiçoam. Para uma
sociedade nova é preciso
homens novos. Por isso,
a educação, desde a
infância, é de
importância capital.”
(Léon Denis, Depois da
morte, 1997/FEB.)
A proteção à infância é
um requisito
fundamental, não apenas
para a sobrevivência da
humanidade, mas, também,
para o aperfeiçoamento
da civilização. Há
séculos que pensadores
de diferentes áreas de
conhecimento chamam a
atenção para os riscos a
que a criança está
exposta. Tais
pensadores, como, por
exemplo, Léon Denis,
realçam a importância de
uma educação voltada
para o aperfeiçoamento
das novas gerações, que
sucederiam as atuais nas
várias atividades da
vida social.
O que significa proteger
a infância? Como isso
pode ser realizado? O
que o Centro Espírita
pode e deve fazer? Essas
são questões que exigem
reflexão cuidadosa. No
capítulo VII, de O Livro
dos Espíritos, o item
VI, “Da infância”, traz
vários apontamentos
importantes sobre essa
fase do desenvolvimento.
Chama à atenção a
pergunta 385, na qual
Allan Kardec interroga a
espiritualidade sobre as
modificações que ocorrem
no indivíduo,
principalmente a partir
do final da
adolescência. São várias
e interessantes as
considerações feitas a
essa pergunta, contudo,
vamos nos deter a um
ponto relacionado a este
artigo: “... os
Espíritos não ingressam
na vida corpórea
senão para se
aperfeiçoarem, para se
melhorarem...”
(itálico nosso). Ao
aceitarmos tal
afirmação, precisamos,
com urgência, verificar
se as atividades que
propiciamos ou
permitimos aos nossos
filhos podem, de fato,
ajudá-los no
aperfeiçoamento
espiritual.
Muitas pesquisas vêm
relatando o que sucede
em um dia típico da vida
das crianças. A resposta
preocupante na
atualidade é o tempo que
a criança fica exposta à
mídia. Na década de 70,
uma criança ficava cerca
de duas horas diante da
televisão. Hoje, ela
permanece quatro horas
ou mais vendo TV ou
entretida em games nada
inocentes. Nesses
“divertimentos” elas são
estimuladas à aquisição
e ao consumo de diversos
produtos comestíveis e
“utilitários” como
roupas, calçados,
brinquedos etc.
Esse é o principal
processo para induzir as
crianças a se tornarem
consumistas quase
obcecadas. Qual é o
mecanismo indutor? Muito
fácil de entender: há
uma associação nada
sutil entre o produto
exposto e um “estado” da
criança. Por exemplo, no
caso dos games, a
movimentação rápida de
personagens, o jogo de
cores e sombras, os sons
repetitivos, a
necessidade de
decodificar a cena e
responder a ela em
fração de segundo, tudo
isso produz uma
hiperexcitação no
cérebro, ou em algumas
áreas do cérebro. Tal
excitação é suavizada
pela interrupção do jogo
e pela visão de
biscoitos,
refrigerantes, “barbies”,
roupas etc. Produto e
logomarca ficam
registrados no
inconsciente da criança
e “reaparecem” em
diferentes situações do
cotidiano. Algo
semelhante ocorre diante
da TV. O resultado desse
estilo de vida, para uma
boa parte das crianças é
bem conhecido:
consumismo, diminuição
de oportunidades de
engajamento em outras
atividades e efeitos
colaterais do tipo
obesidade, diabetes,
TDAH, agressividade,
risco à drogadição,
erotismo infantil e
demais mazelas
associadas.
Nossos filhos são
Espíritos! Tal
afirmativa é axiomática,
ou seja, ninguém a
coloca em dúvida. Isso
nos leva à reflexão
sobre como o Centro
Espírita pode auxiliar a
nova geração que precisa
se transformar e que
reencarnou buscando
exatamente isso. É
importante questionar a
eficiência do modelo
escolar tradicional.
Copiá-lo nas atividades
do Centro pode nos
conduzir aos mesmos
erros. O que realmente é
essencial, no ensino e
na aprendizagem, é o
tipo de relação entre
educador e educandos e
dos educandos entre si.
Não há uma receita, um
padrão único, mas, sem
dúvida, algumas
premissas são
fundamentais. A primeira
é desligar-se da ideia
de que aprendizagem
somente ocorre na “sala
de aula”. A segunda é
aceitar que temos
múltiplas inteligências,
o que acaba com a
supremacia das
atividades lápis-papel
em detrimento de outras.
A terceira é assumir
como um equívoco que há:
uma pessoa que educa e
outra que é educada. A
educação é um processo
coletivo e, nessa
perspectiva, cada Centro
pode ter uma experiência
singular de
evangelização infantil
e, no entanto, com
resultados que se
assemelham a outros. O
intercâmbio e a troca de
experiência entre
Centros deveriam ser
dinamizados.
O envolvimento dos pais
nas atividades de
evangelização no Centro
é fundamental e as novas
concepções de educação
precisam ser conhecidas
e discutidas. Há muita
coisa nova acontecendo
no âmbito da educação e
antigos educadores
também estão sendo
revisitados. Filmes vêm
registrando discussões
de temas recorrentes,
como, por exemplo, “A
educação proibida”.
Enfim, precisamos
encarar os novos
desafios e não podemos
nos acomodar com medo de
experimentar novos
procedimentos e,
sobretudo, não podemos
ignorar os riscos que a
infância atual enfrenta.
Se há algum tempo atrás
podíamos alegar
ignorância, hoje, graças
às novas tecnologias,
dispomos de muito
conhecimento, facilmente
acessado. E, nesse
sentido, é importante
criar espaços no Centro
para acessar e usar o
conhecimento disponível,
auxiliando os pais na
arte de educar as
futuras
gerações.