ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Vícios em
tecnologia:
revisitando o
tema
Tem sido objeto
de enorme
preocupação nos
meios espíritas
a problemática
derivada do uso
excessivo da
tecnologia.
Confrades têm
denominado tal
doença – já que
trata de um
comportamento
viciante – como
uma espécie de
síndrome (SIT) a
qual leva os
seus portadores
a viver, em
situações mais
extremas, sob
intensa solidão
e isolamento por
causa do
obsessivo apego
aos objetos ou
ambientes
tecnológicos. O
problema é tão
grave que há até
centros de
tratamento
devotados à cura
de pessoas com
tais
características
comportamentais.
Os diagnósticos,
a propósito,
indicam que
muitas delas
chegam ao
extremo de
estragar os seus
relacionamentos
afetivos, em
algum momento,
devido à
dificuldade de
se
autocontrolarem
no uso desses
equipamentos.
De maneira
semelhante,
estudiosos e
pesquisadores
têm declarado
que o uso
excessivo de
tecnologia acaba
“esgotando o
cérebro”, tal
qual ocorre com
a depressão ou o
uso de
anfetaminas. Por
exemplo, a
neurologista
inglesa Susan
Greenfield
afirma que “...
computadores,
tablets,
smartphones,
enfim, todos os
dispositivos
interativos,
quando usados
excessiva e
ininterruptamente,
deixam a mente
em um estado de
confusão sobre o
aqui e o agora
muito semelhante
aos efeitos do
Alzheimer. As
pessoas nesse
estado perdem
momentaneamente
a noção clara do
que seja
passado,
presente ou
futuro”.
Ela pondera
ainda que “...
não existem
evidências de
que o cérebro
sadio submetido
de maneira
intermitente a
esses estímulos
sofrerá
transformações
fisiológicas
permanentes. No
entanto, essa é
uma hipótese a
considerar
seriamente a
longo prazo”.
Portanto, não há
nenhuma dúvida
que a marca do
progresso humano
é traduzida,
entre outras
coisas, pela
interatividade e
acessibilidade.
Desse modo,
softwares e
hardwares dos
mais variados
tipos e designs
têm ajudado as
pessoas a
estabelecer
conexões e a
realizar
operações e
atividades
inimaginadas.
Em consequência,
com muita
facilidade
pagamos nossas
contas pela
internet,
compramos
produtos e
serviços que
podem estar em
qualquer local
do planeta,
lemos livros e
artigos
digitalizados,
marcamos
compromissos,
travamos
contatos com
outras pessoas
que podem estar
fisicamente bem
distantes de nós
por meio de
e-mails, chats e
das facilidades
do Skype,
pesquisamos os
mais variados
assuntos e assim
por diante. Tudo
isso é
simplesmente
fascinante!
Poderíamos
também
acrescentar os
onipresentes
iPods colados
aos corpos das
pessoas. Afinal,
na atualidade, é
raro alguém não
estar caminhando
sem portar esse
aparelho que
virou
praticamente uma
mania mundial.
Aliás, dá-se a
impressão que
para os seus
usuários
contumazes nada
mais importa, a
não ser curtir
as músicas em
alto volume, o
que está
levando, por
sinal, muitas
crianças e
jovens a
apresentar
prematura perda
auditiva,
segundo revelam
os
especialistas.
Vale ressaltar
igualmente que
nas grandes
cidades é comum
observá-los
sentados em
bancos de ônibus
e vagões de
metrôs
carregando os
seus aparelhos
quase sempre com
o olhar
alienado, bem
como
indiferentes a
tudo e a todos,
mas
especialmente às
mulheres e
idosos
necessitando de
uma gentileza.
Mas há também em
tudo o que
descrevemos
outra
contrapartida
muita séria a
ser considerada.
Como afirmou
outrora o
apóstolo Paulo
de Tarso com muita
propriedade: “Todas
as coisas me são
lícitas, mas nem
todas as coisas
convêm; todas as
coisas me são
lícitas, mas nem
todas as coisas
edificam”
(I Coríntios,
10: 23). Desse
modo, cabem as
perguntas: o que
há de edificante
no cultivo de
tais hábitos? No
que eles ajudam
o indivíduo a
progredir ética
e
moralmente? A
opção por uma
vida reclusa ou
alienada é algo
salutar? Não há
também aí um
estilo de vida
obsessivo?
Passar a maior
parte do dia
“manietado” às
teclas de um
smartphone,
notebook ou
dispositivos
como joystick e
fones de ouvido
ajudará em nossa
marcha
ascensional?
Estamos atraindo
para o nosso
lado que tipos
de entidades
espirituais
devido a tal
desordem
psicológica?
Uma coisa é
certa: ao se
deixar subjugar
a esse ponto, o
indivíduo está
se distanciando
voluntariamente
de uma
existência sadia
e enriquecedora.
Em outras
palavras, está
desperdiçando
tempo precioso
com coisas e
atividades que
não agregarão
discernimento e
lucidez ao seu
ser. Com efeito,
necessitamos nos
empenhar em
mergulhar com
regularidade na
intimidade de
nossa alma.
Precisamos de
tempo para
meditar, orar e
avaliar a nossa
conduta,
caminhos
percorridos,
valores
cultivados,
atitudes
tomadas, a fim
de promover os
ajustes e
correções de
rumo, quando
necessários. É
nestes momentos
vitais que
“falamos” com
Deus. É ainda
por meio desses
exercícios
salutares que
normalmente
encontramos a
paz íntima e as
respostas para
as dúvidas e
incertezas que
nos assaltam. E
se não alocarmos
espaço em nossa
agenda diária
para tais
práticas,
certamente nos
desviaremos dos
rumos traçados
com vistas às
nossas
conquistas
interiores.
Mas ao atirar-se
com sofreguidão
às distrações
produzidas pelos
dispositivos
eletrônicos
citados, o
indivíduo
bloqueia parcial
ou mesmo
completamente as
inspirações
elevadas
derivadas do
plano maior da
vida em seu
próprio
benefício. Em
razão do
comprometimento
da sua
capacidade de
percepção
extrassensorial,
as sugestões
saneadoras lhe
chegam
fragmentadas ou
substancialmente
estioladas na
melhor das
hipóteses.
Não deve ser por
outro motivo que
o Espírito
Joanna de
Ângelis, na obra Ilumina-te
(psicografada
por Divaldo P.
Franco), nos
traz
interessantes
advertências e
recomendações a
respeito. Afirma
a referida
benfeitora que
“A parafernália
da tecnologia da
inutilidade
encontra-se ao
alcance fácil de
todos, desviando
os seus
aficionados dos
compromissos
graves e das
responsabilidades
severas, que
substituem pelo vazio
existencial. Em
consequência,
falecem as suas
resistências
morais, quando
testados na
vivência dos
postulados
dignificadores e
sacrificiais,
indispensáveis à
existência
feliz”.
Usando a
metáfora da
natureza, ela
conjectura que,
a fim de nos
abastecermos de
energias
revigorantes e
benfazejas para
a continuidade
da luta
libertadora,
necessitamos
“... de
silêncio, de
meditação, de
algum tempo no deserto...”.
E ainda adverte:
“Quando se
consegue o
hábito de pensar
em silêncio, no
deserto íntimo,
permanece a
alegria de
viver, seja sob
aplausos ou
apupos, em
estabilidade
social ou em
pendência de
muitas
realizações”.
Desse modo,
“Esse equilíbrio
íntimo é a
resposta da
autoconquista,
do descobrimento
dos legítimos
objetivos da
jornada, sem as
ilusões dos
triunfos
enganosos”. Por
fim, ela
acrescenta:
“Esse silêncio,
portanto, é tão
importante para
o Espírito
quanto o é o pão
para o corpo”.
Portanto,
evitemos todos
os excessos e
obsessões,
inclusive os de
natureza
tecnológica.
Aprendamos a
desfrutar dos
avanços e
recursos que a
modernidade nos
proporciona com
equilíbrio e
sensatez, de
modo a não nos
tornarmos deles
escravos e assim
comprometermos
ainda mais a
nossa saúde
espiritual.