GEBALDO JOSÉ DE
SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás
(Brasil)
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A pureza do amor
“Deixai que
venham a mim as
criancinhas
e não as
impeçais, porque
o reino dos céus
é para os que se
assemelham a
elas.” (Mc,
10:14)
Dois personagens
do livro Os
Miseráveis,
do genial
escritor francês
Victor Hugo,
impressionam-nos
de modo
particular.
O primeiro é
Jean Valjean, o
‘ladrão’, que,
por roubar
um pão para seus
sete sobrinhos e
para a mãe
deles, sua irmã,
foi condenado às
galés, por
dezenove anos! O
segundo é o
Bispo
Charles-François-Bienvenu
Myriel,
conhecido como
Bispo Myriel ou
Dom Benvindo,
ou, ainda,
Monsenhor
Bienvenu.
O primeiro, como
ex-presidiário,
é expulso de
todos os
lugares. Não lhe
bastou cumprir a
pena, eis que a
sociedade o
condenou “para
sempre”. Apenas
o Bispo Benvindo
o acolhe e
ampara.
Não obstante a
bondade de
Monsenhor
Bienvenu, o
ingrato
rouba-lhe os
talheres de
prata, à noite,
e foge.
Preso pela
polícia, com os
produtos
furtados ao
Bispo, é
reconduzido à
casa do
extraordinário
homem, que lhes
diz que fora ele
a dar-lhe os
objetos de
prata; e ainda
repreende Jean
Valjean por
haver
‘esquecido’ dois
valiosos
castiçais; além
de ‘lembrá-lo’
da promessa que
fizera de
recomeçar a vida
honestamente.
A partir daí,
Jean Valjean,
diante de tanta
bondade, muda
realmente sua
vida e seu modo
de pensar sobre
a sociedade em
que vivia.
À semelhança do
que se lê na
obra de Victor
Hugo, sobre a
generosidade do
Bispo Benvindo,
houve, nesta
cidade de
Goiânia, uma boa
senhora – que
conhecemos
pessoalmente –
que vivenciou o
Evangelho de
forma
encantadora e
inacreditável
para os dias que
hoje vivemos na
Terra. Revelava
a pureza e a
inocência de que
nos fala Jesus.
Entre tantas
outras senhoras,
generosas e
amáveis, nela se
destaca a
bondade e
meiguice que
dedicou a todos
aqueles que
passaram por sua
modesta, mas
belíssima vida.
Desconheço seu
nome verdadeiro,
pois a ela todos
se referiam como
Vó F...
Não se trata,
pois, de ficção,
mas de linda
experiência!
Entre as muitas
histórias sobre
sua constante
generosidade, a
que narro a
seguir merece
divulgação, para
ilustrar o que é
capaz a pessoa
de sentimentos
puros, que
realmente ama o
semelhante,
conhecido, ou
não; bom, ou mau
– e que vê no
próximo um
irmão, um filho
de Deus.
Eis breve resumo
de um dos
episódios
singulares de
sua vida.
Foi
surpreendida, em
casa, por um
homem que, ao
pular o muro,
anunciou-lhe:
– É um assalto,
vovó!
Ela, embora
assustada, mas
sem temê-lo,
convida-o a
segui-la até o
quarto,
dizendo-lhe:
– Venha, meu
filho! Recebi
ontem o dinheiro
da
aposentadoria.
Está sobre o
guarda-roupa,
onde não o
alcanço. Pegue-o
você mesmo. Não
há o que temer:
estou sozinha.
O homem a segue,
pega o dinheiro
e se apressa
para fugir, mas
ela o retém,
perguntando-lhe:
– Por que faz
isso, meu filho?
Por que age
assim?
Verdade, ou não,
ele informa:
– Estou passando
por dificuldades
e tenho filhos
para tratar!
Ela, com a
pureza do
coração
iluminado pelo
verdadeiro Amor,
pela compaixão –
acreditando no
que o outro lhe
dizia, eis que
não cultiva
malícia, mas
boa-fé –, diz a
ele:
– Não vá ainda
não! Tem aqui o
dinheiro da
feira que meu
filho deixou.
Pegue-o também!
O homem hesita
diante de tanto
carinho e
sinceridade; de
tanta pureza de
coração! Quem
sabe tocado em
seu íntimo por
espontâneos e
sucessivos
gestos de
compreensão,
tenta recusar a
oferta. Quem
sabe também
porque mentia em
suas razões para
roubá-la! Mas
ela insiste:
– Leve, para
socorrer sua
família! Depois
meu filho me dá
outro dinheiro!
Ele pega a
segunda
importância e se
dirige ao muro
para saltá-lo de
volta, fugindo.
Ela lhe diz:
– Não faça isso!
Pode
machucar-se!
Saia pela porta
da frente! Como
viu, estou
sozinha e não há
o que temer. Mas
espere um pouco:
acabei de assar
pães de queijo e
vou pegar alguns
para seus
filhinhos!
Ele aguarda, ela
prepara a
encomenda e o
despede pela
porta da frente:
– Vá com Deus,
meu filho!
Ao sair pelo
portão que dá
acesso à rua,
cruza ele com o
filho mais velho
da
extraordinária
senhora, que ali
chegara para ver
a boa mãe.
Este cumprimenta
o desconhecido
que se afasta
para a rua,
celeremente, a
fugir. O filho
entra na casa e
pergunta à nobre
mãe:
– Quem é aquele
homem que saiu
agora, mãe?
– É um ladrão,
meu filho. – e
lhe relata o
ocorrido.
– Mãe! Irei
atrás dele, para
recuperar seu
dinheiro e
prendê-lo!
– Não, meu
filho, não vá:
ele está
precisando
muito!...
Só coube ao
filho – também
ele um
humanista, tal
como Victor Hugo
– obedecer ao
apelo suave de
sua terna
mãezinha e,
certamente,
repor o dinheiro
para a feira!
Devia, ainda,
elevar o
pensamento a
Deus, em
gratidão pela
mãe que, em toda
sua vida, só
exemplificou
compaixão,
bondade,
ternura,
dedicação,
renúncia,
humildade e
sempre soube
exibir belo e
gentil sorriso,
no qual
expressava o que
lhe ia na alma:
pureza
inconcebível num
vivente desta
Terra, tão
carente de belos
exemplos dessa
natureza.
Legítima
seguidora, em
plenitude, do
Cristo!
Vivenciou o
Evangelho em
toda sua pureza,
pois, como se
vê, fazia o bem
com
naturalidade,
sem esforços!
Até a quem,
aparentemente,
não o merecia!
Que Deus a
abençoe, onde
quer que se
encontre! E
àquele irmão
equivocado e a
tantos outros
que, como ele,
agem da mesma
forma!