CLÁUDIO BUENO DA SILVA
Klardec1857@yahoo.com.br
Osasco, SP
(Brasil)
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Trabalhar não é sofrer
Ouve-se com frequência:
“Toda profissão é
honrosa, não há por que
sentir-se humilhado com
as tarefas simples”.
Embora este pensamento
seja verdadeiro,
normalmente ele é
aplicado aos outros,
nunca a quem fala. As
palavras ditas nem
sempre são sinceras. No
campo profissional
grande parte das pessoas
não se submete a
trabalho humilde,
segundo a opinião de que
não é condizente com a
sua posição. Fora
da área profissional não
é diferente para a
maioria que, pelo mesmo
e outros motivos, não
gosta de cumprir
pequenas tarefas que lhe
dizem respeito, menos
ainda as que não dizem.
Porém, num mundo como o
nosso onde as situações
podem mudar a qualquer
tempo e sem aviso, a
ocupação singela é um
fato que pode se
oferecer a qualquer
pessoa, de inesperado.
Neste caso o humilde
acatará as atribuições
naturalmente, com a
sensação de cumprir um
dever, o orgulhoso
sofrerá descontente.
Em linhas gerais, o
conceito de trabalho que
permeia a sociedade
moderna está
estritamente associado à
permuta, à troca:
trabalho por dinheiro.
Fora das relações
contratuais de trabalho,
documentadas ou verbais,
muitos não se sentem
obrigados a nada. Já a
visão do Espiritismo
sobre a questão é bem
outra e ultrapassa esses
estreitos limites. “Toda
ocupação útil é
trabalho”, disseram os
Espíritos a Allan Kardec
(1). Com esse conceito
abrangente, não só a
atividade material
conta, mas toda e
qualquer ação da
inteligência que vise ao
bem comum, ao progresso
individual e coletivo.
Segundo o Espiritismo, o
trabalho é meio de
desenvolvimento material
e espiritual.
Com esse entendimento –
ainda estranho para a
humanidade – o trabalho
braçal ou intelectual,
remunerado ou
voluntário, passa a ter
um sentido diferente, um
caráter especial,
compreendido também como
instrumento de
aprendizado e elevação,
não somente de
manutenção, e não só
voltado para as
necessidades imediatas
do homem. O trabalho, na
conceituação espírita,
além de provedor da
subsistência do corpo, é
acumulador de
experiências para a
formação do patrimônio
do Espírito.
O trabalho na Terra tem
caráter compulsório, o
homem precisa trabalhar
para viver, consequência
da sua natureza
corpórea. Mas as
convenções e os
interesses humanos
desvirtuam seu real
significado,
transformando-o num peso
social, numa coisa
tormentosa de que as
pessoas se desincumbem
com aborrecimento.
Enquanto nos mundos mais
adiantados a ociosidade
parece ser um suplício,
na Terra é tida como
benefício, como faz
lembrar a questão 678,
de “O Livro dos
Espíritos”. “Trabalhar
não é sofrer, mas
progredir,
desenvolver-se,
conquistar a
felicidade”, afirma
Herculano Pires em nota
de rodapé ao capítulo
“Lei do trabalho”, do
mesmo livro.
Seguindo esse
raciocínio, por menores
aptidões que uma pessoa
possa ter, jamais lhe
faltará ocupação, seja
para o seu sustento,
seja na colaboração em
prol da ordem, do
progresso e da justiça
social. Diante de tantos
benefícios que Deus
concede ao homem e das
condições que cria para
que ele aprimore sua
inteligência, não se
justifica que o
indivíduo negligencie
sua participação no
desenvolvimento da vida
ou mesmo se desculpe com
não ter o que fazer.
Deus é generoso e a
natureza, pródiga.
O conceito
espiritualizado de
trabalho que o
Espiritismo formula leva
o homem à conquista de
valores definitivos que
o aproximam de condições
bem mais felizes do que
quaisquer cargos ou
posições humanas possam
oferecer.
(1) Questão
675 de “O Livro dos
Espíritos”, Allan
Kardec, LAKE Editora.