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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 357 - 6 de Abril de 2014

VLADIMIR POLÍZIO
polizio@terra.com.br
Jundiaí, SP (Brasil)

 
 
 

Carentes ou simplesmente crianças?


Ouvimos muito dos outros e nós, espíritas, não falamos pouco sobre a necessidade e importância do respeito aos nossos irmãos, tenham eles maior ou menor idade que a nossa.

Talvez não possa aqui ser fechada a questão e afirmar que é regra universal o emprego de um indicativo discriminatório que identifique, de pronto, a condição de grupos de crianças quando organizadas para determinadas atividades, quer sejam em passeios, aprendizados escolares, brinquedos, dança, música ou mesmo em disputas esportivas.

Não bastasse por si só a realidade incômoda e difícil de habitarem bairros em que quase tudo falta, além do humilde e precário abrigo que lhes serve de moradia, ainda são vilipendiadas no sentimento, tendo de se acostumar com o rótulo perene e nada agradável que a própria sociedade impõe.

Mas, exceções à parte, amplamente sabido é o uso constante de uma pecha que, por si só, já caracteriza uma antecipada segregação social e econômica ao identificar essas crianças, esses jovens ou mesmo adultos, como sendo “carentes”.

Por que terão eles de ser reconhecidos por esse estigma?

Ao colocar-se a importância econômica para definir uma condição de vida, sobrepondo-se aos valores morais ostensivamente ignorados, estaria esse pensamento coerente com os ensinamentos de Jesus, quando fala em seu Evangelho da importância do exercício da caridade ou quando, fraternalmente, lembra que o reino do céu pertence às crianças, numa doce referência ao amor, à inocência, à humildade e à bondade? Nessa passagem, como em outras, não fez o Divino Amigo nenhuma alusão às condições econômicas ou mesmo sociais; disse apenas “crianças”, que é o sentido figurativo representado por todos aqueles que possuem coração sensato, bondoso, sem maldade ainda.

Acompanhando o noticiário de um modo geral, notamos e lamentamos o empenho e a ênfase ao se empregarem os adjetivos “pobres” e/ou “carentes” ao identificar e classificar essas crianças.    

Aliás, esse comportamento é percebido, inclusive, em alguns eventos espíritas quando a miserável condição do grupo ou grupos de crianças é anunciada em pomposa apresentação ou mesmo nas manchetes da imprensa, em jornais ou TV.

Infelizmente essas crianças estão crescendo sob nossos olhos, com esse doloroso rótulo que lhes é imposto.

Vale, e muito, repensar o assunto e promover um basta em comportamentos considerados distantes do ensinamento cristão.

Na passagem quando Jesus referiu-se aos cuidados que se devia ter para que a mão esquerda não soubesse o que fazia a direita, estava preservando o beneficiário de qualquer sentimento de humilhação ou mesmo de constrangimento. Não parece tarefa simples a tentativa de incluir socialmente alguém que é convidado a entrar num projeto de transformação, pela porta dos fundos.       Elas estão crescendo e sendo chamadas de “pobres” e/ou “carentes”, sendo certo que não precisam ouvir ou ler assuntos ou escritos sobre esse tratamento desigual e acintosamente discriminatório, como se esse proceder fosse muito importante deixar claro a todos a condição dos atendidos.

Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier, nos lembra que é importante “... refletir nos arranhões mentais que você experimenta quando alguém se reporta irrefletidamente aos seus problemas e aprenda a respeitar os problemas alheios. Ninguém estima transitar sobre tapetes de espinhos”. E complementa: “Bem sabemos que cada um traz consigo o resultado de suas próprias ações, porém, não nos é lícito destacar o sofrimento ou condições da individualidade”.

Reflita sobre isso.


 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita