886. No estado de exteriorização total, o despertar é completo. O
Espírito readquire, com
a plenitude de suas
faculdades latentes, de
seus conhecimentos e
recordações, uma
liberdade e uma energia
de ação amplificadas.
Atinge o seu máximo de
vibrações e pode
reconstituir seu
passado.
887. Há, portanto, duas ordens de fatos no transe e é preciso
distingui-los com
cuidado: primeiramente a
intervenção dos
desencarnados, e depois
os outros casos, em que
o médium, sob o influxo
magnético de seu guia
espiritual, se
reconstitui numa de suas
anteriores existências.
No caso de Helena Smith,
que o Sr. Flournoy,
professor de Psicologia
da Universidade de
Genebra, estudou durante
quatro anos, a médium em
transe reproduz as cenas
de uma de suas
existências, passada na
Índia, no século XII.
888. Nesse estado, ela serve-se frequentemente de termos
sanscríticos, língua que
ela ignora no estado
normal. Fornece, a
respeito de personagens
históricas da Índia,
indicações positivas,
impossíveis de achar em
obra alguma usual, e
cuja confirmação, depois
de muitas pesquisas, o
professor descobre numa
obra de Marlès,
historiador pouco
conhecido e inteiramente
fora do alcance da
sensitiva.
889. Helena Smith, nas fases do transe, assume atitude que enleva e
impressiona. Eis o que a
respeito diz o Sr.
Flournoy:
“Há em todo o seu ser,
na expressão da
fisionomia, nos
movimentos, no timbre da
voz, quando fala ou
canta em hindu, uma
graça indolente, um
abandono, uma doçura
melancólica, alguma
coisa de encantador e
lânguido que corresponde
maravilhosamente ao
caráter do Oriente. Toda
a mímica de Helena, tão
diferente, e esse falar
exótico têm tal cunho de
originalidade, próprio,
natural, que se chega a
perguntar com
estupefação donde vem a
essa filha das ribeiras
do Lemen, sem educação
artística nem
conhecimentos especiais
do Oriente, uma
perfeição de desempenho
que a melhor atriz não
alcançaria senão à custa
de demorados estudos ou
de longa permanência nas
margens do Ganges.”
890. No que se refere à escrita e à linguagem hindus, o Sr.
Flournoy acrescenta que,
em suas pesquisas para
as experiências, todas
as pistas que pôde
descobrir eram “falsas”,
e pede ao leitor que “o
dispense de pormenorizar
seus insucessos”. Todas
essas experiências,
porém – diz ele – o
induziram a
“divertir-se”. Depois do
que, conclui rejeitando
a teoria dos Espíritos,
para ver nos fenômenos
espíritas unicamente uma
criação, um manejo da
consciência
“subliminal”.
891. Observemos que as conclusões do Sr. Flournoy estão em
contradição com os fatos
observados. No transe, a
Srta. Smith vê muitas
vezes seu Guia,
Leopoldo, a seu lado, e
ouve-lhe a voz. Ele tem
vontade própria e
procede como entende,
muitas vezes se
estabelecendo luta entre
eles. A Srta. Smith
discute e resiste, ao
querer ele tomar posse
do seu organismo. E
quando, apesar de seus
esforços, esta se torna
completa, toda a sua
pessoa se transforma;
muda-se a voz; é a de um
homem, lenta e grave, de
pronúncia italiana; o
aspecto se lhe torna
majestoso.
892. Quando Leopoldo se apodera da mão de Helena, para a fazer
escrever, a escrita é
inteiramente diversa, e
a ortografia é a do
século XVIII, época em
que ele viveu na Terra.
Mais ainda: ele
“intervém constantemente
em sua vida de modo
sensível e quase físico,
não deixando margem à
menor dúvida”. Eis um
exemplo: Numa sessão, o
Espírito Leopoldo
levanta a médium com a
almofada em que repousa,
sem o concurso de nenhum
dos assistentes. Ocorre
aí um fenômeno de
levitação perfeitamente
caracterizado e que não
seria lícito atribuir ao
“subliminal”, pois que
exige a intervenção de
uma força e de agente
exterior.
893. Certamente, nem tudo é de fácil explicação nos fenômenos de
que a Srta. Smith é o
foco. Em seu caso,
cumpre reconhecê-lo, são
abundantes as
dificuldades, e fatores
diversos parecem
intervir. Nota-se um
entrelaçamento de fatos
espíritas e de fatos de
animismo, de produtos da
subconsciência
intercalados com
intervenções de
Inteligências exteriores
e super-humanas, que
complicam singularmente
o problema.
894. Desse conjunto um tanto confuso destacam-se, todavia, provas
de identidade claras,
nítidas, positivas,
como, por exemplo: a
manifestação de João, o
cavouqueiro(1),
cuja personalidade se
revela com
particularidades
convincentes; a do cura
Burnier e a do síndico
Chaumontet, falecidos há
cerca de meio século,
cuja escrita e
assinatura a médium
reproduz automaticamente
e são reconhecidas, após
averiguações, exatamente
iguais às que figuram em
grande número de termos
de nascimentos,
casamentos e óbitos, que
formam os arquivos da
Comuna de Chessenaz,
onde a Srta. Smith nunca
esteve.
895. Somos levados a crer que nessa médium a força psíquica é
muitas vezes
insuficiente, as fases
do transe extremamente
desiguais e frequente o
despertar da própria
personalidade. Daí,
contudo, não se segue
que os fatos observados
se possam explicar, como
pretende o Sr. Flournoy,
pelo mecanismo das
faculdades da memória
associadas ao poder de
imaginação da
subconsciência. Além
disso, o professor, em
sua disposição de
“divertir-se”, terá mais
de uma vez atraído
Espíritos galhofeiros a
essas sessões, em que –
diz ele – “ria-se
bastante”.
896. Os mistificadores são para recear em casos tais. E é aí que se
compreende a utilidade
das regras que
indicamos: unidade e
elevação de pensamento
dos assistentes, como
meio de facilitar a ação
dos agentes exteriores.
Rir, brincar,
interromper a todo
instante, interrogar
fora de propósito, tudo
isso constitui péssimas
condições para
experiências sérias.
897. Não é caso insulado o de Helena Smith. Um médium do nosso
grupo reproduziu
diversas vezes, em
transe, sob a influência
do Espírito-guia, cenas
de sua vida anterior. Um
magnetizador, amparado
pela ação oculta dos
Espíritos protetores,
pode também provocar
esses fenômenos em
certos sensitivos.
Fernandez Colavida,
presidente do Grupo de
Estudos Psíquicos de
Barcelona, obteve
resultados que
acreditamos dever
assinalar.
898. Eis o que a tal respeito consta no relatório dos delegados
espanhóis ao Congresso
Espírita de 1900:
“Magnetizado o médium no
mais alto grau, F.
Colavida lhe ordenou que
dissesse o que havia
feito na véspera, na
antevéspera, uma semana,
um mês, um ano antes, e
o fez sucessivamente
recuar até à infância,
que explicou em todas as
suas particularidades.
Impelido sempre pela
mesma vontade, o médium
referiu sua vida no
Espaço, sua morte na
última encarnação e,
continuamente
estimulado, chegou até
quatro encarnações, a
mais antiga das quais
era uma existência
inteiramente selvagem. A
cada existência, as
feições do médium
mudavam de expressão.
Para ser restituído a
seu estado habitual, foi
gradualmente reconduzido
até sua presente
encarnação e despertado
em seguida.”
899. Num intuito de verificação, o experimentador fez magnetizar o
sensitivo por uma outra
pessoa e sugerir-lhe que
suas anteriores
narrativas eram falsas.
Apesar dessa sugestão, o
médium reproduziu a
série de quatro
existências, como antes
o fizera.
900. Esteva Marata, presidente da União Espírita de Catalunha,
declara ter obtido
análogos resultados,
pelos mesmos processos,
em sua esposa, em estado
de transe. Essas
experiências poderiam
ser multiplicadas e
obteríamos assim
numerosos elementos de
certeza sobre o fato das
existências anteriores
da alma; elas, todavia,
exigem grande prudência.
O experimentador deve
escolher sensitivos que
sejam dotados de muita
sensibilidade e bem
desenvolvidos. Deve ser
assistido por um
Espírito bastante
poderoso para afastar
todas as influências
estranhas, todas as
causas de perturbação, e
preservar o médium de
possíveis acidentes.
901. Recapitulemos, então: A teoria da subconsciência é verdadeira
no sentido de que nossa
consciência plena é mais
extensa que nossa
consciência normal. Dela
emerge nos estados
sonambúlicos, domina-a e
a ultrapassa, sem dela
jamais se separar. A
teoria da subconsciência
é falsa se pretender-se
considerar esta como
segunda consciência
autônoma, como dupla
personalidade. Não há em
nós dois seres que
coexistam, ignorando-se.
A personalidade, a
consciência, é una. O
que simplesmente
acontece é que ela se
apresenta sob dois
aspectos diferentes:
ora, durante a vida
material, nos restritos
limites do corpo físico,
com uma memória e
faculdades
circunscritas; ora,
durante a vida psíquica,
na plenitude de suas
aquisições intelectuais
e de suas recordações.
Nesse caso, abrange
todas as fases de seu
passado e as pode fazer
reviver.
902. Todas as teorias dos Srs. Pierre Janet, Binet, Taine, Ribot
etc. assentam sobre
aparências vãs. O “eu”
não se fraciona. As
faculdades
extraordinárias,
reveladas no transe,
convergem, ao contrário,
no sentido de uma
unidade tanto mais
grandiosa quanto mais
completa é a
exteriorização.
Infelizmente a situação
nem sempre é clara, nem
o desprendimento
suficiente. Às vezes se
produzem umas espécies
de intercalação, de
fluxo e refluxo
vibratório entre as
causas atuantes, que
tornam obscuro e confuso
o fenômeno. É
principalmente o caso
quando se manifestam
diversas personalidades
invisíveis e nenhuma
delas tem a força nem a
vontade necessárias para
afastar os motivos de
erro.
903. As causas em ação podem confundir-se nos estados sonambúlicos
parciais e incompletos.
Há, porém, um estado
superior, em que o
Espírito se apresenta em
todo o seu poder vital,
em sua penetração íntima
das coisas. Pode-se
então assistir a
fenômenos realmente
grandiosos. Para os
obter é preciso, porém,
proceder de modo mais
sério do que o fazem os
psicólogos “hílares(2)
e brincalhões”.
904. São dessa ordem as manifestações de George Pelham, Robert
Hyslop e,
principalmente, as de
Imperator, de Jerônimo e
do Espírito Azul. Nelas,
os sinais
característicos, as
provas de identidade são
abundantes; nenhuma
dúvida poderia existir.
O mesmo acontece nos
casos em que numerosas
personalidades,
apresentando grande
variedade de caracteres
e opiniões, se sucedem
com precisão e
regularidade no corpo de
um médium e fazem ouvir,
pela mesma boca, ora a
linguagem mais trivial,
ora a linguagem seleta e
elevada, exprimindo
nobres e delicados
sentimentos, apreciações
tão profundas que
extasiam todo o
auditório.
905. As manifestações de Espíritos desventurados, que vêm, guiados
por almas compassivas,
referir-nos seus
sofrimentos, suas dores
e aflições, buscar
ensinos e conforto, não
são também imposturas do
subliminal. Temos a esse
propósito muitas vezes
observado um fato: a
influência fluídica dos
Espíritos inferiores
incomoda os médiuns,
causa-lhes indisposições
durante o transe e
violentas dores de
cabeça ao despertar, a
ponto de reclamar o
desligamento imediato
por meio de passes
magnéticos. Nos mesmos
sensitivos, ao
contrário, com outras
entidades elevadas,
como, por exemplo, o
Espírito Azul, o transe
é doce, a influência
benéfica, o médium
desperta sob impressão
de calma, como saturado
de uma atmosfera de paz
e de serenidade.
906. As teorias da subconsciência e da dupla personalidade são
impotentes para explicar
esses fatos. O
subconsciente é
simplesmente um estado
da memória, cujas
camadas profundas,
silenciosas na vida
normal, despertam e
vibram durante a
exteriorização. É o que
demonstram os casos de
reconstituição das vidas
anteriores nos médiuns.
Há nisso magnífico
objeto de estudo, para
chegar-se ao
conhecimento do ser e
das leis de sua
evolução.
907. Aí encontramos a prova de que o “eu” consciente não é uma
criação espontânea, mas
constituiu sua
individualidade mediante
sucessivas aquisições,
através de longa série
de existências. Não
tendo o organismo físico
atual contribuído para
algumas dessas
aquisições, é evidente
que não poderia o
Espírito ser considerado
a resultante desse
organismo, pois que
existiu antes deste e
lhe sobreviverá.
908. Assim se deriva a teoria espírita, em toda a sua lógica e
esplendor, de um
conjunto de fatos que só
ela é capaz de explicar.
A alma neles se revela,
independente do corpo,
em sua personalidade
indivisível, em seu
“ego” lentamente
constituído através dos
tempos, com o auxílio de
materiais que conserva
latentes em si mesma, e
cuja posse readquire no
estado de
desprendimento: assim no
sono, como no transe, ou
por ocasião da morte.
909. XX - Aparições e materializações de Espíritos – São os
fenômenos de aparição e
materialização os que
mais vivamente
impressionam os
experimentadores. Nas
manifestações de que
precedentemente nos
ocupamos, o Espírito
atua por meio de objetos
materiais ou de
organismos estranhos.
Vamos agora apreciá-lo
diretamente em ação.
Cônscio de que entre as
provas de sua
sobrevivência nenhuma é
mais convincente que sua
vida terrestre, vai
procurar o Espírito
reconstituir essa forma
por meio dos elementos
fluídicos e da força
vital hauridos nos
assistentes.
910. Em certas sessões, na presença de médiuns dotados de
considerável força
psíquica, veem-se formar
mãos, rostos, bustos e
mesmo corpos inteiros,
que têm todas as
aparências de vida:
calor, tangibilidade,
movimento. Essas mãos
nos tocam, nos acariciam
ou batem; mudam de lugar
os objetos e fazem
vibrar os instrumentos
de música; esses rostos
se animam e falam; esses
corpos se movem e
passeiam por entre os
assistentes. Pode-se
agarrá-los, palpá-los;
depois, eles se
desvanecem num repente,
passando do estado
sólido ao fluídico, após
efêmera duração.
911. Assim como os fenômenos de incorporação nos iniciam nas leis
profundas da Psicologia,
a reconstituição das
formas de Espíritos nos
vai familiarizar com os
estados menos conhecidos
da matéria.
Mostrando-nos que ação
pode a vontade exercer
sobre os imponderáveis,
ela nos fará penetrar
nos mais íntimos
segredos da Criação, ou,
antes, da renovação
perpétua do Universo.
912. Sabemos que o fluido universal, ou fluido cósmico etéreo,
representa o estado mais
simples da matéria; sua
sutileza é tal que
escapa a toda análise.
E, entretanto, desse
fluido procedem,
mediante condensações
graduais, todos os
corpos sólidos e pesados
que constituem a base da
matéria terrestre. Esses
corpos não são tão
densos, tão compactos
como parecem. Com a
maior facilidade os
atravessam os fluidos,
assim como os próprios
Espíritos. Estes, pela
concentração da vontade,
secundados pela força
psíquica, os podem
desagregar,
dissociar-lhes os
elementos, restituí-los
ao estado fluídico,
depois transportá-los e
os reconstituir em seu
primitivo estado. Assim
se explica o fenômeno
dos transportes.
913. Percorrendo sucessivos graus de sua rarefação, a matéria passa
do sólido ao líquido,
depois ao estado gasoso,
e finalmente ao estado
de fluido. Os corpos
mais duros podem assim
voltar ao estado etéreo
e invisível. Em sentido
inverso, o fluido mais
sutil se pode
gradualmente converter
em corpo tangível e
opaco. Toda a Natureza
nos mostra o
encadeamento das
transformações que
conduzem a matéria, do
mais puro ao mais
grosseiro estado físico.
914. À medida que se rarefaz e se torna mais sutil, a matéria
adquire novas
propriedades, potências
de intensidade
progressiva. Disso nos
fornecem exemplos os
explosivos, as radiações
de certas substâncias, o
poder de penetração dos
raios catódicos, a ação
a grande distância das
ondas hertzianas. Por
eles somos levados a
considerar o éter
cósmico o meio em que a
matéria e a energia se
confundem, o grande foco
das atividades
dinâmicas, a fonte das
inesgotáveis forças que
a vontade divina
impulsiona e donde se
expandem, em ondas
incessantes, as
harmonias da vida e do
pensamento eterno.