Mesmo
ferido
Hilário Silva
O
rapaz fora
rudemente
esbofeteado num
baile. Em sã
consciência, não
sentia culpa
alguma. Nada
fizera que
pudesse ofender.
Por mera
desconfiança, o
agressor
esmurrara-lhe o
rosto. “Covarde,
covarde” –
haviam dito os
circunstantes.
Ele, porém,
limpando a face
sanguinolenta,
compreendeu que,
desarmado, não
seria prudente
medir forças.
Jurara, porém,
vingar-se. E,
agora, munido de
um revólver,
aguardava
ocasião.
Um amigo, no
entanto,
percebendo-lhe a
alma sombria,
instou muito e
conduziu-o a uma
reunião da
Doutrina
Espírita.
Desinteressado,
ouviu preces e
pregações,
comentários e
apontamentos
edificantes.
Ao término da
sessão, porém,
um amigo
espiritual, pela
mão de um dos
médiuns
presentes,
escreveu bela
página sobre o
perdão, na qual
surgiam
afirmações como
estas:
-
A justiça real
vem de Deus.
-
Ninguém precisa
vingar-se.
-
Mesmo ferido,
serve e perdoa.
-
A corrigenda do
ofensor pode ser
amanhã.
O
jovem ouviu
atentamente e
saiu pensando,
pensando...
Na manhã
seguinte, topou,
face a face, o
desafeto, mas
recordou a lição
e conteve-se.
Por uma semana
se repetiu o
reencontro, e,
por sete vezes,
freou-se
prudentemente.
Dias depois,
porém,
retornando ao
trabalho,
encontra um
enterro e
descobre-se. Só
então vem a
saber que o
grande
esmurrador,
aquele que o
ferira, morrera
na véspera,
picado por um
escorpião.
Do livro
Ideias e
Ilustrações,
obra
psicografada
pelo médium
Francisco
Cândido Xavier,
de autoria de
Espíritos
diversos.