946. Outros testemunhos, não menos importantes, foram coligidos
pelo Congresso
Espiritualista de Paris,
em 1900. Na sessão de 23
de setembro, o Dr. Bayol,
ex-governador do Dahomey,
senador e presidente do
Conselho Geral das Bocas
do Ródano, expôs com
clareza os fenômenos de
aparições observados, de
1º de janeiro de 1899 a
6 de setembro de 1900,
numa quinta de Aliscamps,
em Arles.
947. Visitamos, depois disso, o cemitério romano de Aliscamps
(Campos Elíseos), onde
se alinham sob o límpido
céu da Provença extensas
filas de sarcófagos
antigos. Vimos a
sepultura de Acella, de
quem se vai tratar, e
lemos a seguinte
inscrição: “A minha
filha Acella, morta aos
17 anos, na própria
noite de seu noivado”.
Foi numa quinta próxima,
construída com pedras
tumulares, que se
fizeram as experiências
do Dr. Bayol, em
presença de eminentes
personagens, como o
prefeito das Bocas do
Ródano, um general de
Divisão, o grande poeta
Mistral, autor da “Mireille”,
doutores em Medicina,
advogados, etc.
948. Os fenômenos começaram pelos movimentos de pesada mesa, que
girava na sala com
grande ruído. Viram-se
depois dois globos
luminosos circunvagar e
refletirem-se nos
espelhos, o que
demonstrava a sua
perfeita objetividade. O
Dr. Bayol teve a ideia
de evocar o Espírito de
Acella, a jovem romana,
morta no tempo dos
Antoninos. Apareceu uma
chama, que se dirigia
para ele e lhe pousou na
cabeça. Com ela
conversou como se o
fizesse com uma pessoa
viva, e a chama se
agitava de modo
inteligente. Viam-se, às
vezes, até dez a doze
chamas, que pareciam
inteligentes e
iluminavam toda a sala.
“Estaríamos alucinados?”
– interroga o Dr. Bayol.
“Éramos, algumas vezes,
dezenove, e creio que é
difícil alucinar-se um
velho colonial como eu.”
949. Mais tarde, em Eyguières, Acella se tornou visível e deu uma
impressão do rosto em
parafina, não em
côncavo, como costumam
ser os moldes, mas em
relevo. Produziram-se
depois transportes,
chuvas de pétalas de
rosa, de folhas de
figueira e louro, que
enchiam os bolsos do
narrador. Foi ditado um
poema em idioma
provençal e desferidas
melodias num bandolim,
sem contacto aparente.
950. Os médiuns, pessoas iletradas, obtiveram fenômenos de escrita
em grego. Outras vezes
se produziram efeitos
físicos de grande
energia. Um dos médiuns
foi projetado no ar, a
uma altura de quatro
metros, e tornou a cair
sobre a mesa, sem nada
sofrer. “Minhas
experiências – disse o
Dr. Bayol em seu
memorial – foram
rodeadas de todas as
precauções possíveis. Há
na França uma coisa
formidável, um terrível
monstro, que mete medo
aos franceses e que se
chama ridículo. A um
velho colonial como eu
permitireis que o
afronte. Estou
convencido de que tenho
razão e não devo ter
medo de dizer a
verdade.”
951. No correr dos anos de 1901 e de 1902, toda a imprensa italiana
se ocupou com uma série
de sessões dadas pela
médium Eusápia Paladino
no Círculo Minerva, em
Gênova, em presença dos
professores Lombroso,
Morsélli e F. Porro e do
arguto escritor,
conhecido em toda a
península, extremamente
céptico a respeito do
Espiritismo, A. Vassalo,
diretor do “Século XIX”.
952. Dez sessões se efetuaram. Depois de numerosos fenômenos
físicos e vários casos
de levitação,
formaram-se aparições.
Eis como o Sr. Vassalo
as descreve em seu
jornal:
“O fenômeno dura tempo
demasiado longo, para
que possa ser atribuído
à alucinação, parcial ou
coletiva. Por cima da
cabeça do médium
mostra-se uma mão
branca, num gesto de
adeus a todos os
assistentes. Para
favorecer o
desenvolvimento do
fenômeno, apaga-se a
luz, que impede a
materialização. Sinto
imediatamente atrás de
mim o indubitável
contacto de uma pessoa;
dois braços me cingem
com ternura e afeto;
duas mãozinhas débeis,
proporcionadas à mão
entrevista, me tomam a
cabeça, acariciando-a,
uma luz misteriosa me
ofusca e recebo longos e
repetidos beijos,
ouvidos por todos. Só
pode ser meu falecido
filho Naldino; e agora
que se acende uma vela,
uma silhueta se desenha
ao meu lado,
representando exatamente
as feições do meu menino
falecido; essa forma
permanece imóvel durante
alguns segundos.
A quarta sessão nos
mostra o fenômeno em seu
ponto culminante.
Naldino aparece
novamente. A princípio,
um demorado abraço,
durante o qual sinto a
forma de um rapaz,
franzina, comprimir-me;
depois, uma multidão de
beijos, percebidos por
todos, e palavras em
dialeto genovês – o
médium só fala o
napolitano – que todos
ouvem e que têm um
timbre particular sobre
que não me posso
enganar: ‘Papa mio! papa
mio!’, intercaladas de
exclamação de alegria:
‘o Dio!’
De repente, o contacto
com o invisível – tão
visível, entretanto –
parece querer
desvanecer-se; como que
se vai evaporar; depois,
novo abraço. Recebo três
longos e apaixonados
beijos, e a voz me diz:
‘Estes são para mamãe’.
Convidam-nos a acender
de novo a lâmpada
elétrica; e, como se o
invisível nos quisesse
dar uma derradeira prova
de sua presença, um
fenômeno, entrevisto em
precedente sessão pelo
professor Lombroso, se
renova. Percebemos todos
uma forma humana, de
perfeita semelhança com
a já designada, abrir os
braços e cingir-me. Uma
de suas mãos toma-me a
mão direita, enquanto
com a esquerda seguro
sempre o médium, que,
como todos pudemos
certificar-nos, estava
reclinado na cadeira, em
hipnose profunda.”
953. Em certas noites foram múltiplas as aparições. Perfis
indistintos, contornos
de cabeças, sombras
obscuras se desenham num
fundo escassamente
iluminado; fantasmas
brancos, de extrema
tenuidade, se mostram
nos lugares escuros da
sala. O professor
Morsélli reconhece a
sombra de sua filhinha,
morta aos onze anos. O
Sr. Bozzano sente uma
delicada mão de mulher o
apertar, o acariciar;
dois braços lhe cingem o
pescoço. Uma voz débil,
mas distinta, pronuncia
um nome que é para ele
“uma revelação de
Além-túmulo”. Durante
todo esse tempo, o
médium, acordado, geme,
dirige súplicas aos seus
amigos invisíveis e
pede-lhes socorro. Seus
sofrimentos chegam a tal
ponto, que é preciso
suspender as
experiências.
954. No curso de uma sessão dirigida pelo Dr. Morsélli, professor
de Psicologia na
Universidade de Gênova,
durante a qual o médium,
depois de minucioso
exame de suas vestes,
foi amarrado em uma
cama, cinco formas
materializadas
apareceram em meia-luz.
A última era a de uma
senhora, envolta em gaze
transparente e trazendo
nos braços uma
criancinha. Outra figura
de moça, cuja sombra
projetada pela luz do
gás se desenhava na
parede, cumprimentou, e
a sombra acompanhou
todos os movimentos da
forma.
955. Travou-se viva polêmica entre vários jornais a respeito dessas
experiências. Numa de
suas réplicas, assim se
exprimia o professor
Morsélli:
“Declaro que o
Espiritismo merece ser
plenamente estudado
pelos sábios e, por
minha parte, confesso
que nele creio
inteiramente. Eu, o
materialista obstinado;
eu, o intrépido diretor
de um jornal
intransigente e
positivista,
pretenderiam fazer-me
passar por vítima de uma
alucinação ou por
neófito crédulo?!”
956. A. Vassalo, numa
conferência feita
posteriormente em Roma,
na sede da Associação da
Imprensa, perante um
público de escol, sob a
presidência do Sr.
Luzzatti, antigo
ministro, expôs
desassombradamente todos
os fatos a que acabamos
de aludir e afirmou as
aparições de seu filho
falecido.
957. César Lombroso, finalmente, o célebre professor da
Universidade de Turim,
em sua obra “Hipnotismo
e Espiritismo”, no
capítulo intitulado
“Fantasmas”, depois de
relatar as aparições
obtidas no curso das
sessões de Eusápia, por
Vassalo e Morsélli,
assim se exprime:
“Obtive eu próprio uma
bem comovedora aparição.
Foi em Gênova, em 1882.
Eusápia não parecia,
nesse momento, em
condições de produzir
grande coisa.
Pedindo-lhe ao começo
que fizesse mover-se em
plena luz um pesado
tinteiro, objetou-me em
tom vulgar: ‘De que
servem tais ninharias?
Eu sou capaz de te fazer
ver tua mãe’. Pouco
depois, na meia
obscuridade produzida
por uma lâmpada de
vidros encarnados, vi
destacar-se da cortina
uma silhueta, envolta
num véu e de bem pequena
estatura, como o era
minha pobre mãe. Fez o
giro completo em torno à
mesa e se deteve ao pé
de mim, sorrindo e me
dirigindo palavras que
os outros ouviam, mas
que, em consequência da
minha surdez, não pude
perceber. Extremamente
comovido, peço-lhe que
repita, e ela diz:
‘César, fio mio’, o que,
confesso, me surpreende
bastante, porque de
preferência costumava
ela dizer, em sua língua
veneziana: ‘mio fiol’.
Depois a meu pedido faz
novamente o giro em
torno à mesa e me envia
um beijo. Nesse momento,
Eusápia estava bem
segura por seus dois
vizinhos e, ao demais,
sua estatura excede pelo
menos dez centímetros à
de minha mãe, que me
tornou a aparecer ainda,
menos distinta,
enviando-me beijos e me
falando em mais oito
sessões, nos anos de
1906 e 1907, em Milão e
Turim.”
958. Massaro, de Palermo, numa sessão, a 26 de novembro de 1906, em
Milão, viu aparecer seu
filho, que o tomou
amplamente nos braços e
o abraçou.
959. Como se vê, já não têm conta as aparições e materializações de
Espíritos, as quais têm
sido observadas em todos
os países por numerosos
experimentadores. Em
Tours, pude eu mesmo
observar uma delas, que
descrevi em meu livro
“Cristianismo e
Espiritismo”, cap. IX.
Nesse caso, a forma era
vaga e sombria; não
caminhava, deslizava
pelo solo. Às vezes,
porém, as aparições
revestem todos os
caracteres de uma beleza
ideal.
960. O Sr. Georg Larsen, numa carta dirigida ao “Eko”, jornal que
se publica na Suécia,
descreve a aparição de
sua esposa Ana, falecida
a 24 de março de 1899. O
fenômeno ocorreu em
Berlim, em 1901, em
presença da Princesa
Karadja, da Condessa de
Moltke e outras pessoas.
Redigiu-se um memorial,
que foi assinado por
todos os assistentes. O
Sr. Larsen assim se
exprime:
“Abriram-se as cortinas,
deixando ver um
espetáculo maravilhoso.
Vimos elegante mulher,
vestida de noiva, com
longo véu branco que lhe
caía da cabeça aos pés;
mas que véu! Parecia
tecido de aéreos raios
luminosos. E como eu lhe
reconhecia as feições!
Há doze anos me conduzia
ao altar essa mulher,
então viva. Como era
formosa, com o véu sobre
os cabelos negros e a
estrela brilhante ao
alto da cabeça! Ouvi em
torno de mim exclamações
de assombro. Meus olhos
se conservaram fixos no
adorado rosto, até que
de novo cerraram-se as
cortinas.
Um momento depois
reapareceu ela, tal como
costumava estar em nossa
casa; caminhou até mais
perto de mim e levantou
os braços estendidos. Os
cabelos negros formavam
a mais bela moldura em
torno do seu rosto;
estava com os braços nus
e tinha o esbelto corpo
envolto num longo
vestido de um branco de
neve. Fitava-me com seus
olhos luminosos; eu
tornava a encontrar sua
atitude e sua expressão
afetuosa; era minha
mulher viva; mas a
aparição total tinha uma
beleza e uma harmonia
singulares, um conjunto
idealizado, que um ser
da Terra não possui.
Murmurei o seu nome. O
sentimento de uma
felicidade inexprimível
se apoderava de mim. Ela
deslizou silenciosamente
até ao gabinete, cujas
cortinas se cerraram de
novo. A sala estava bem
iluminada; os
assistentes se
conservaram sérios e
calmos; o médium
permaneceu visível em
sua poltrona, ao lado e
durante todo o tempo da
aparição.”
961. A pedido do Sr.
Larsen, foi-lhe deixado
um pedaço do véu, que
ele ainda conserva em
seu poder. “Esse véu –
diz ele – de um tecido
delicado, foi urdido com
matéria igual à que
emprega o Espírito para
se tornar visível e tem
sua origem nas radiações
do corpo humano.”
962. Em sua crítica aos fenômenos de aparição, recorrem quase
sempre os detratores do
Espiritismo à teoria da
alucinação. É uma
explicação, por igual,
cômoda e vaga, e antes
uma palavra oca,
destinada a dissimular a
penúria de argumentos de
contraditores em apuros.
Conviria antes de tudo
definir precisamente o
que é alucinação. É –
dizem – uma aberração
dos sentidos. Mas o
campo de nossas
percepções é tão
limitado, tantas coisas
na Natureza escapam aos
nossos sentidos
imperfeitos, que nunca
sabemos, nos casos
controvertidos, se não
se trata de objetos
percebidos por sentidos
mais sutis, mais
apurados que os da
generalidade dos homens.
963. Como vimos, grande número de manifestações espíritas baseia-se
em fotografias ou
moldes, que, confirmando
sua autenticidade,
excluem toda
possibilidade de ilusão.
Aksakof obteve
fotografias de uma forma
de Espírito
materializada, que
amparava nos braços o
médium Eglinton, imerso
em profundo transe e num
estado de completo
esgotamento. Todos os
assistentes distinguiam
a aparição, de elevada
estatura, de barba preta
e penetrante olhar.
964. Em casa da Sra. d`Espérance, em Gotenburgo, obtiveram-se em
1897 numerosas
fotografias de
Espíritos, na presença
de Aksakof e de outros
experimentadores.
965. Moldes de membros materializados são obtidos em parafina
derretida, moldes sobre
os quais é, em seguida,
calcado um modelo em
gesso, que reproduz em
relevo, com perfeita
exatidão, todas as
particularidades
anatômicas da forma. As
mãos, moldadas por esse
processo, não têm
relação alguma com as
dos médiuns. O professor
de Geologia Denton as
obteve de tamanhos
diferentes, desde mãos
gigantescas que excediam
as dimensões de mãos
humanas, até dedos de
criancinhas. Como medida
de fiscalização, as
experiências foram
feitas numa caixa
fechada à chave e
lacrada, previamente
examinada por todos os
assistentes. A operação
se efetuou em plena luz,
estando o médium
constantemente vigiado,
e os relatórios foram
assinados pelos
experimentadores, entre
os quais se achavam o
professor Denton, o Dr.
Gardner, o Coronel Cope,
Epes Sargent, literato
bem conhecido nos
Estados Unidos, etc.
966. Idênticas experiências foram feitas com o mesmo resultado pelo
Sr. Reimers, de
Manchester, sendo a
cabeça e as mãos do
médium presas num saco
de filó, amarrado na
cintura. Os agentes
ocultos são visíveis ao
mesmo tempo em que o
médium. Numa sessão,
foram simultaneamente
vistos este último e
quatro formas
materializadas, tendo
cada uma a fisionomia e
sinais particulares que
a distinguiam das outras
figuras. Apresentavam-se
aos assistentes, após a
operação da moldagem, e
os convidavam a retirar
eles mesmos as luvas de
parafina de suas mãos e
os revestimentos de seus
pés materializados.
967. Toda fraude se torna ao demais impossível pelo fato de que,
estando a parafina a
ferver, não haveria mão
humana que lhe pudesse
tolerar a excessiva
temperatura, como não
poderia igualmente
retirar-se do molde, sem
quebrar-lhe ou, pelo
menos, estragar-lhe a
forma, delicada e
extremamente quebradiça,
enquanto a mão oculta
parece
desmaterializar-se no
próprio molde.