969. Uma das experiências realizadas com a Sra. d´Espérance foi
assim narrada no
“diário” da Baronesa
Peyron:
“O leve ruído produzido
pela mão a mergulhar no
líquido e ser dele
retirada continuou
durante alguns minutos,
à sombra das cortinas,
permitindo-nos divisar
completamente a forma
branca inclinada para o
recipiente. Depois,
Nefentes retomou a
atitude erecta e
voltou-se para nós,
olhando em torno, até
que descobriu o Sr. F.
sentado atrás de um
outro experimentador,
que o ocultava em parte.
Dirigiu-se então a ele,
suspensa no ar,
procurando entregar-lhe
um objeto. ‘Ela me
entrega um bocado de
cera!’ exclamou ele; mas
logo reparando: ‘Não; é
o modelo de sua mão,
coberta até ao punho; a
mão se dissolve no
interior do molde.’
Enquanto ele falava
ainda, a forma deslizava
tranquilamente para o
gabinete, deixando nas
mãos do Sr. F. o modelo
de parafina. Tínhamos,
finalmente, obtido o tão
desejado fenômeno!
Terminada a sessão, foi
examinado o molde:
exteriormente parecia
informe, glanduloso,
formado por um grande
número de camadas
superpostas de parafina,
em cujo interior
notava-se a impressão de
todos os dedos de mão
muitíssimo pequena.
Fomos no dia seguinte
levá-la a um modelador,
a fim de nos dar a
reprodução interior em
gesso. Tal foi a sua
estupefação e a de seus
operários, que
consideraram aquele
objeto como obra de
feiticeira. Executado o
trabalho, pudemos então
admirar uma mão muito
pequena e completa até
ao punho; todas as
minúcias das unhas e da
pele apareciam: os dedos
se apresentavam curvados
por forma tal que seria
impossível a uma mão
humana ser retirada sem
quebrar o modelo.”
970. As materializações de membros fluídicos podem algumas vezes
explicar-se por um
desdobramento parcial do
organismo do médium.
Aksakof obteve um molde
do pé da forma
desdobrada de Eglinton.
Foi igualmente
comprovado que as mãos
exteriorizadas de
Eusápia Paladino
deixavam impressões, a
distância, em
substâncias plásticas.
971. Desses fatos acreditaram certas pessoas poder deduzir que as
aparições de fantasmas
não passam de
desdobramentos do
médium. Essa explicação
é inadmissível, pois
que, como vimos, em
presença de um único
médium puderam contar-se
até cinco ou seis
Espíritos
materializados, de sexo
diferente, alguns dos
quais falavam línguas
estranhas, desconhecidas
do sensitivo. Mesmo nos
casos de aparições
insuladas, as formas
materializadas diferem
totalmente do médium,
física e
intelectualmente, como o
demonstram os fatos
citados.
972. Aksakof é induzido a crer que essas formas não são reproduções
das que revestiam os
Espíritos em sua
existência terrestre;
são antes formas de
fantasia, criadas pelos
agentes invisíveis, não
encerrados nessas
formas, senão
animando-as
exteriormente. Essa
explicação, ao que ele
diz, ter-lhe-ia sido
ministrada pelos
Espíritos.
973. Essa teoria, se é aplicável aos fenômenos de Gotenburgo, não
parece poder tornar-se
extensiva a todos os
casos de materialização,
como, por exemplo, aos
fatos observados por
Crookes, Wallace, Gibier
etc. Se, com efeito,
pode o Espírito criar
formas materiais que são
simples imagens, pode
também condensar seu
próprio invólucro, a
ponto de o tornar
visível. O fenômeno das
materializações se
explica de modo racional
e satisfatório pelo
funcionamento do
perispírito. Esse
envoltório fluídico da
alma é como um desenho,
um esboço, em que a
matéria se incorpora, se
condensa, por sucessivas
acumulações das
moléculas, até chegar a
reconstituir um
organismo humano.
974. Assim, com Katie King o Espírito materializado é uma mulher
terrestre; respira, seu
coração palpita; possui
todos os caracteres
fisiológicos de uma
pessoa viva. Nos moldes
em parafina obtidos por
Zoellner, Dentou e
outros, moldes ou
impressões de mãos, pés
e rostos, as menores
particularidades da
pele, dos ossos, dos
tendões são reproduzidos
com rigorosa exatidão.
Os Drs. Nichols e Friese
obtiveram, na presença
de doze testemunhas, o
molde de mão de criança,
com um sinal particular,
uma ligeira deformidade,
que permitiu a uma
senhora presente
reconhecer a mão de sua
filha, morta aos cinco
anos de idade.
975. Não se deve concluir daí que o Espírito conserve, no Espaço,
as imperfeições físicas
ou as mutilações de seu
corpo terrestre. Seria
um erro crasso, pois que
o testemunho unânime dos
desencarnados nos indica
exatamente o contrário.
No Além, jamais o
perispírito é mutilado
ou enfermo: “Quando o
Espírito se quer
materializar – diz
Gabriel Delanne – é
obrigado a pôr novamente
em ação o mecanismo
perispiritual, e este
reconstitui o corpo com
as modificações que
sofrera durante a
permanência do Espírito
na Terra.”
976. A seguinte
narrativa, transmitida
ao jornal “Facts” pelo
Sr. James N. Sherman, de
Rumfort (Rhode Island),
e reproduzida em “Light”
de 1885, pág. 235, é um
novo exemplo da lei de
conservação das formas
evolvidas pelo ser
durante a sua passagem
aqui na Terra:
“Estive, na minha
mocidade, entre os anos
de 1835 e 1839, nas
ilhas do Pacifico, e
havia indígenas a bordo
do nosso navio, com os
quais consegui aprender
perfeitamente a língua
que falavam. Mais tarde,
a 23 de fevereiro de
1883, assisti a uma
sessão em casa dos Srs.
Allens, em Providência (Rhode
Island), durante a qual
se materializou um
indígena das ilhas do
Pacífico: reconheci-o
pela descrição que fez
da queda que havia dado
da pavesada(1)
e da qual resultara
contundir-se no joelho,
que ficou inchado. Na
aludida sessão, colocou
ele a mão no joelho, que
apresentava,
materializado, a mesma
tumefação e rijeza
verificadas por ocasião
do acidente e que não
mais cessaram. A bordo
lhe chamávamos Billie
Marryat.”
977. Os elementos das materializações são temporariamente hauridos
nos médiuns e nas outras
pessoas presentes. Suas
radiações, seus
eflúvios, são
condensados pela vontade
dos Espíritos,
inicialmente em cúmulos
luminosos; depois, à
medida que aumenta a
condensação, a forma se
desenha, torna-se cada
vez mais visível. Esse
fenômeno é sempre, nas
sessões, acompanhado de
sensação de frio,
indício de dispêndio de
força e de calor – não
sendo calor e luz, como
se sabe, senão modos
vibratórios, mais ou
menos intensos, da mesma
substância dinâmica, num
período uniforme de
tempo. Nos médiuns, esse
dispêndio é considerável
e se traduz por
diferenças de peso muito
sensíveis.
978. Crookes o verificou durante as materializações de Katie King,
por meio de balanças
munidas de aparelhos
registradores. A esse
respeito, diz a Sra. Fl.
Marryat: “Vi Florence
Cook numa balança
especialmente fabricada
pelo Sr. Crookes; ela
estava atrás da cortina,
enquanto o fiel
permanecia à vista.
Nessas condições, a
médium, que pesava 80
libras no estado normal,
acusava apenas 40, desde
que a forma de Katie
estivesse completamente
materializada.”
979. Nas experiências dos Srs. Armstrong e Reimers, feitas em
Liverpool com o concurso
dos médiuns Miss Wood e
Fairlamb, procedeu-se à
pesagem dos médiuns e
das formas aparecidas, e
pôde-se verificar que o
peso perdido pelas
sensitivas se encontrava
nas aparições
materializadas. Durante
todo o tempo em que
duram esses fenômenos os
médiuns estão
mergulhados em transe
profundo, semelhante à
morte. Seus corpos
minguam, os vestidos
flutuam em torno deles;
a pele pende flácida e
vazia e forma
verdadeiros sacos.
980. Os outros assistentes sofrem também diminuição de força e de
vida. O Sr. Larsen o
assinala, após a
aparição de sua mulher:
“Eu devo ter contribuído
para sua materialização,
porque no dia seguinte
estava bastante
fatigado; tinha os olhos
amortecidos; os cabelos
e a barba estavam um
pouco embranquecidos;
evidente que muita força
física me havia sido
subtraída. Em poucos
dias readquiriu meu
corpo o vigor normal;
mas isso indica que as
pessoas dotadas de
poderes mediúnicos devem
tomar suas precauções.”
981. A Sra. Florence
Marryat descreve uma
sessão que se efetuou,
no dia 5 de setembro de
1884, em presença dos
Coronéis Stewart e Lean,
do Sr. e da Sra.
Russell-Davies, do Sr.
Morgan e dela própria,
na qual os Espíritos
mostraram aos
experimentadores de que
modo procediam a fim de
organizar para si mesmos
um corpo a expensas do
médium:
“Eglinton se apresentou
primeiramente entre nós,
em transe completo.
Entrou de costas, com os
olhos fechados, a
respiração ofegante,
parecendo debater-se
contra a força que o
impeliu para o nosso
lado. Uma vez aí,
apoiou-se a uma cadeira
e vimos sair-lhe da
ilharga(2)
esquerda uma espécie de
vapor, massa nevoenta
como fumo. Suas pernas
estavam iluminadas por
clarões que as
percorriam em todos os
sentidos. Um véu branco
se lhe estendia pela
cabeça e pelas ombros. A
massa vaporosa ia
aumentando sempre e a
opressão do médium
tornava-se mais intensa,
enquanto mãos
invisíveis,
retirando-lhe da ilharga
flocos de uma espécie de
gaze muito leve, os
acumulavam no solo, em
camadas superpostas.
Acompanhávamos com
alvoroçada atenção os
progressos desse
trabalho. De repente se
evaporou a massa e num
abrir e fechar de olhos
um Espírito
perfeitamente formado
apareceu ao lado de
Eglinton. Ninguém
poderia dizer donde nem
como se achava ele entre
nós; mas aí estava.
Eglinton deixou-se cair
no soalho.”
982. Não somente são feitas consideráveis absorções do corpo do
médium, mas em certos
casos é este submetido à
desagregação total. Nas
experiências dirigidas
por Aksakof, em casa da
Sra. d'Espérance, em
Gotenburgo, foi
observada uma coisa
surpreendente. O corpo
do médium, isolado no
gabinete escuro, havia
parcialmente
desaparecido.
Inteiramente desagregada
e tornada invisível por
um poder misterioso, a
parte inferior do corpo
tinha servido às
materializações dos
Espíritos Ana, Iolanda e
Leila. Seus elementos
haviam sido
transfundidos
temporariamente nas
formas espectrais, para
em seguida voltarem a
seu primitivo estado,
tendo conservado todas
as suas propriedades e
sem que disso o médium
tivesse tido
consciência.
983. Fato semelhante foi registrado pelo Coronel Olcott, em
condições de
fiscalização que
tornavam impossível toda
fraude. A médium, Sra.
Compton, a quem haviam
tirado os brincos das
orelhas, foi amarrada a
uma cadeira com linha
muito forte, enfiada nos
orifícios dos lobos das
orelhas e lacrada no
espaldar da cadeira,
sendo impresso no lacre
o sinete pessoal do
coronel. Além disso, a
cadeira foi fixada ao
soalho por meio de um
barbante e cera. O
Espírito de uma menina,
Katie Brink, apareceu
vestido de branco,
circulou pela sala e
tocou diversas pessoas.
Convidado a deixar-se
pesar, prestou-se de bom
grado e o peso
verificado foi de 77
libras inglesas:
“Penetrei no gabinete –
diz o coronel – enquanto
a menina estava na sala;
não encontrei a médium;
a cadeira estava vazia;
nela não havia nenhuma
espécie de corpo.
Convidei então a menina
a tornar-se mais leve,
se fosse possível, e
subir de novo ao prato
da balança. Seu peso
havia baixado a 59
libras. Ela reapareceu
ainda, dirigiu-se de um
a outro espectador,
sentou-se nos joelhos da
Sra. Hardy e,
finalmente, prestou-se a
uma derradeira pesagem,
que não acusou mais de
52 libras, posto que, do
começo ao fim dessas
operações, nenhuma
mudança se houvesse
operado na aparência de
sua forma corporal.
Efetuada essa última
pesagem, o Espírito não
tornou a aparecer.
Penetrei com a lâmpada
no gabinete e encontrei
a médium tal como a
havia deixado no começo
da sessão, amarrada com
as linhas e os sinetes
de lacre intactos.
Continuava sentada, com
a cabeça encostada a uma
das paredes; sua carne,
pálida, tinha a
frialdade do mármore;
com as pupilas reviradas
sob as pálpebras, a
fronte coberta de suor
frio, estava sem pulso e
quase sem respiração.
Permaneceu vinte minutos
em catalepsia; depois a
vida lhe foi pouco a
pouco regressando ao
corpo e ela voltou ao
seu estado normal;
colocada no prato da
balança, pesou 121
libras.”
984. O venerável Arcediago(3) Colley, reitor de Stockton,
efetuou, em 6 de outubro
de 1905, uma conferência
relativa ao Espiritismo,
durante a semana do
Congresso da Igreja
Anglicana. Essa
conferência fez grande
rumor na Grã-Bretanha;
foi, em seguida,
publicada em brochura e
acreditamos interessante
reproduzir-lhe as
seguintes passagens.
Nela diz o autor:
“Aqui está um extrato do
meu diário, em 28 de
dezembro de 1877. Éramos
cinco reunidos essa
noite, com o nosso
eminente médium, em meu
aposento, 22, Bernard
Street, Russel Square,
em Londres. A primeira
forma humana anormal que
nessa ocasião se
apresentou foi a de um
menino, igual à de
qualquer menino inglês
de seis ou sete anos.
Essa pequena
personalidade, à vista
de todos (três bicos de
gás estavam bem acesos),
se reconstituiu diante
de nós.
Para não repetir tantas
vezes, sem necessidade,
como se produzem essas
maravilhas, direi uma
vez por todas que a
aparição dos nossos
amigos psíquicos se
opera do seguinte modo:
eu me conservava
habitualmente ao lado do
médium em transe,
amparando-o com o braço
esquerdo, de modo a
assegurar-me as melhores
condições possíveis para
observar o que se
passava.
Quando estávamos à
espera de uma
materialização (e, às
vezes, de repente, sem
nenhuma expectativa do
grande parto psíquico),
víamos elevar-se, como
do tubo de uma caldeira,
através da roupa preta
do médium e um pouco
abaixo do seu peito
esquerdo, um filamento
vaporoso, que permanecia
apenas visível, estando
a uma ou duas polegadas
do corpo do nosso amigo.
Então esse filamento
constituía pouco a pouco
uma espécie de névoa,
donde saiam os nossos
visitantes psíquicos,
utilizando-se
aparentemente desse
vapor fluídico para
formar as amplas
roupagens brancas em que
se envolviam...
Ora, a forma infantil
que, de modo anormal, se
achava em nossa
presença, vestida de
branco e com lindos
cabelos de ouro, tinha
todas as atitudes
próprias de uma criança
humana; batia com as
mãozinhas, aproximava a
boca para que cada um de
nós a beijasse, falava
de modo infantil, com um
leve receio. O médium,
como um irmão mais
velho, dava-lhe
instruções e o mandava
aqui, ali, levar tal e
tal coisa de um lado a
outro do aposento – o
que o menino fazia com
perfeita naturalidade.
Aproximando-se,
finalmente, com
singeleza e confiança,
do autor de sua
existência momentânea, a
graciosa criatura foi
por ele reabsorvida e
desapareceu, fundindo-se
novamente no corpo do
nosso amigo.
Tocou depois a vez ao
egípcio, nosso amigo ‘o
Mahedi’. A cor da pele
bronzeada que
apresentava o nosso
visitante anormal, que
eu conseguia examinar de
perto com uma lente,
através da qual lhe
observava minuciosamente
a carne, as unhas, as
mãos pequenas, os pés,
os tornozelos, os braços
e as pernas trigueiras(4)
e cabeludas, a
mobilidade das feições,
em que, de quando em
quando, brilhava uma
expressão de esfinge; o
nariz pronunciado, o
contorno geral do
semblante, o perfil
regular, os olhos
negros, o olhar
penetrante, não,
contudo, sem
benevolência, os cabelos
pretos, lisos e
compridos, com o bigode
e a barba longos e
caídos, os membros
nervudos e musculosos; a
grande estatura, de mais
de dois metros, tudo
isso me confirmava nas
primeiras impressões de
que ‘o Mahedi’ era um
oriental, mas não da
Índia nem do Extremo
Oriente.
Meu exame, feito com
todo o vagar nessa
ocasião, foi muitas
vezes repetido e eu
tinha consciência da
graça que o nosso amigo
misterioso achava na
minha importuna e
minuciosa inspeção de
sua robusta pessoa
físico-psíquica.
Eu não retiraria, para
ser arcebispo de
Cantuária, uma única
palavra do que escrevi
acerca de coisas vistas
e anotadas, pela
primeira vez, há longos
anos e sobre as quais
meditei em silêncio
durante vinte e oito
anos.