JOSÉ LUCAS
jcmlucas@gmail.com
Óbidos, Portugal
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Manicômio? depende
do
médico…
Aquela terça-feira era
mais um dia de azáfama.
O médico, psiquiatra,
despediu-se dos filhos,
do cônjuge, e rumou
apressadamente ao
Hospital onde presta
serviço. Enquanto
trincava às pressas uma
bucha de pão, no meio do
trânsito loucamente
normal de Lisboa e
arredores, ia ouvindo as
notícias, com aquele ar
de quem já não ouve
nada. Desligou o rádio.
Ideias saltitantes iam
de galho em galho, nos
milhões de neurônios
cerebrais: contas à
vida, o futuro dos
progenitores, o dia de
amanhã, entre outras
questões existenciais.
Após o matinal
musichall das
buzinas rodoviárias, lá
chegou ao parque de
estacionamento do
Hospital.
Um café bem forte vinha
mesmo a calhar.
Chegado às urgências, um
enfermeiro atirou-lhe de
repente: “doutor,
hoje de manhã, já ali
estão três para o senhor”.
Ele parou, sentou-se na
secretaria e, enquanto
nos escaninhos da mente
se questionava por onde
andaria o seu pai
falecido (agora no mundo
espiritual), ia dando
uma vista de olhos pelos
processos. Pegou no
microfone de chamada,
ligou-o, e chamou o
doente nº 1, num gesto
já ritualizado.
Batem à porta, à qual
responde: “pode
entrar”!
Um jovem, franzino,
adentra o consultório,
ar cabisbaixo e, como
que a sondar todos os
cantos do espaço físico,
não fosse haver ali
alguma ameaça. Afinal,
não era um consultório
qualquer, era um
consultório de um
psiquiatra, num Hospital
do Estado (nada fiável,
pensava ele).
O médico, espírita, após
as suas orações antes do
trabalho no Hospital,
onde solicitara o amparo
dos bons Espíritos e a
lucidez e discernimento
para poder ser útil
naquele dia, olhou com
ternura o jovem,
pensando: “podia ser
meu filho!”.
Entre dentes, disse: “sente-se,
esteja à vontade. O que
o traz por cá?”.
No processo inicial, já
tinha havido uma
triagem, que o atirava
para um internamento
compulsivo em
psiquiatria (ouvia
vozes que mais ninguém
ouvia).
O jovem, meio com medo,
lá foi contando a sua
história pessoal: desde
muito novo que se sentia
diferente dos demais
jovens e, ultimamente,
via seres que mais
ninguém via e ouvia-os,
ao ponto de alguns o
cumprimentarem, outros
serem indiferentes e
outros, ainda, serem
maldosos. Em casa,
ninguém via e ouvia o
que ele percepcionava e,
ali, estava à espera da
cura.
O médico, psiquiatra,
espírita, ouviu-o
atentamente e, após
severo diagnóstico
médico, concluiu que ele
não tinha problema
algum, passando a fazer
questões do foro
espiritual. Neste campo,
o rapaz parecia estar à
vontade e respondia com
desenvoltura ao que lhe
perguntava.
Os médicos precisam
estudar a doutrina
espírita, como nós
precisamos de pão, para
o dia a dia
O diagnóstico foi fácil:
o rapaz era médium,
tinha percepção
extrassensorial.
“Doutor, é grave?”,
perguntava com
ansiedade.
Seguiu-se um longo
silêncio de alguns
segundos, enquanto o
médico prescrevia uma
receita.
Pensou com os seus
botões: “pronto, lá
vou eu ficar intoxicado
com drogas”.
O médico tinha um
sorriso amigo e
acolhedor, o que o
tranquilizou e, após
acabar de rabiscar,
disse-lhe: “você não
tem doença nenhuma e não
precisa de medicação;
você tem um sexto
sentido que se chama
mediunidade e precisa
aprender a lidar com
ela. Sugiro-lhe esta
associação espírita
(onde não há comércio
nem aceitação de
dinheiro), aonde deve
ir, expor a sua
situação, estudar e
integrar-se. Depois,
leve uma vida normal!”.
O rapaz estava
incrédulo! Nem um
calmante?
“Não precisa”,
respondeu com bonomia o
médico, mas, se
precisar, volte e peça
para falar comigo.
O jovem deu-lhe um
abraço sentido e
disse-lhe: “sabe
doutor, o senhor é a
primeira pessoa a
acreditar em mim, que eu
não estou maluco. Vou lá
sim, e depois volto para
lhe dizer como foi”.
E foi-se…
Ao tomar conhecimento
deste caso, fiquei
alarmado: e se o rapaz
desse com um psiquiatra
que não fosse espírita?
A esta hora estaria
encharcado em
antipsicóticos e, quiçá,
internado num manicômio…
Que responsabilidade a
dos médicos!!!
Felizmente, já existem
muitos médicos espíritas
em Portugal. Mas ainda
não chega.
Que bom seria se a
filosofia espírita fosse
de estudo obrigatório
nos cursos de Medicina,
onde os médicos
aprendessem que, ao
invés de sermos um
aglomerado de células,
nós somos um ser
espiritual
temporariamente num
corpo de carne, a
cumprir um desiderato ao
longo da eternidade,
resgatando ousadias de
outras vidas, que por
agora nos trazem
transtornos.
Um dia será assim!