CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
|
|
Antes
e depois
Não havia ainda
me acostumado à
mesa cirúrgica.
Soro com
sedativos na
veia, batimentos
cardíacos
controlados,
ainda olhava com
certa
curiosidade a
movimentação em
volta, e caí
durante uns dois
minutos num
cochilo breve,
para acordar
logo, sem saber
direito como
havia dormido
daquele jeito;
mas o fato é
que, então, o
olho direito já
tinha sido
anestesiado para
a cirurgia de
catarata
precoce, que me
acometeu justo
quando, no auge
das atividades
da vida, nem
imaginaria o ter
que me ver às
voltas com este
contratempo
inconveniente.
De repente entra
o cirurgião. E,
também, quase
sem que eu me
desse conta,
como um mágico
tirando um
coelho da
cartola, dispara
uma série de
luzes esquisitas
no olho
anestesiado. Nem
findos quinze
minutos,
pronuncia um
“acabou”, que me
soou ainda mais
sem sentido!
Olho já tampado,
perplexa,
acachapada,
pensava comigo
mesma: acabou,
como? Que hora
saiu o
cristalino
imprestável? E
quando entrou o
novo?
Espetáculo de
mágica, mesmo,
para quem, leiga
como sou, entra
numa sala
cirúrgica sem
nada entender
dos métodos
avançados deste
tipo de
intervenção
operatória à
base de
ultrassom, dos
tempos em que
vivemos, mas a
grande e
surpreendente
realidade veio,
mesmo, depois.
Com a vista
novinha em
folha, ao longo
dos dias
percebi,
espantada, o
quanto já vinha
enxergando mal –
com os dois
olhos! Porque,
só então, com a
visão em ponto
de bala, afinal
me dei conta de
como a outra
estava ruim,
vendo tudo
amarelado,
destituído da
luminosidade
vívida que,
conforme foi
dominando a sã,
chegou a me
sugerir a
suposição
absurda de que
era ela a
anormal, com
todo aquele
brilho de
coloração
diamantina,
encantadora!
Talvez a
cirurgia não
tivesse
alcançado
sucesso, algo
deveria estar
errado!
Tonta, de dentro
dessas
impressões
desencontradas,
só agora, duas
semanas depois,
e com o auxílio
do cirurgião,
consegui enfim
raciocinar com
acerto, para
entender que
tinha, já, com o
passar do tempo,
as duas vistas
comprometidas! O
hábito de
enxergar mal
–
explicou-me o
médico
competente, de
bom humor
–
se assenhoreara
do meu cotidiano
sem que me
apercebesse, o
que eu julgava
tratar-se de
mera necessidade
corretiva com as
periódicas
trocas de graus
de óculos!
A vida é uma
caixinha de
surpresas – bom
que, de tempos
em tempos, boas!
Em breve,
estarei de novo
sobre a mesa
cirúrgica para a
correção devida
da outra vista,
amigos, mas a
vivência me
sugeriu
reflexões úteis
também n’outro
sentido. Pensei,
nesses dias, que
coisa bem
parecida deve
nos acontecer
quando deixamos
as limitações
perceptivas de
mais uma
reencarnação
finda, para lá
chegar, no nosso
habitat
espiritual
verdadeiro,
deparando, e aí
sim, com nova
luminosidade
extasiante,
através da visão
espiritual mais
fidedigna,
desperta para o
espetáculo
maravilhoso da
continuidade de
nossas vidas
n’outras
esferas!
Encontrando
rostos risonhos
e felizes pelo
nosso retorno;
paisagens
brilhosas,
coloridas de
novos e
insuspeitados
matizes, luzes
antes
imperceptíveis
pelos nossos
sentidos
materiais
falhos; sons
mais apurados,
emoções mais
depuradas,
enfim...
Que encanto deve
ser, para os
nossos Espíritos
exaustos dos
desafios
terrenos, mais
um reencontro
com tais
panoramas
divinos, quando,
então, e
finalmente,
curados de um
mal de
“catarata” de
outra ordem – a
que é
característica
dos nossos
sentidos visuais
embotados pelas
imensas
restrições
corpóreas que
nos permitem
somente
enxergar, não a
existência, na
versão mais
luminosa na sua
fonte, mas
apenas a
percepção
embotada da
filial da
matéria mais
densa, onde
provisoriamente
estagiamos!
O antes e depois
do sentido
visual me foi
proporcionado,
na experiência
médica recente,
vislumbrar, por
antecipação, o
que nos espera
no despertar
maior para a
continuidade dos
nossos caminhos
nos cenários
mais reais de
nossos
verdadeiros
lares! E a
escolha desses
cenários, hoje e
sempre, caberá
apenas a nós
mesmos!
Que visão de
maior ou menor
capacidade
elegeremos para
cada dia do
nosso porvir, e
para depois de
vencida a etapa
de
necessariamente
se enxergar um
pouco menos,
pelo filtro
denso do
aprendizado nos
palcos da
estadia material
terrena?
Criaremos, com
base no mérito
do amor, a
sintonia com as
paisagens
banhadas das
luzes das
esferas da
felicidade ideal
do Espírito? Ou,
como me
aconteceu, ao
não me aperceber
do avanço do mal
visual que me
acometia, nos
acostumaremos
com menos? Não
nos daremos
conta da
urgência da
intervenção
cirúrgica nas
nossas rudes
restrições
espirituais,
inibidoras do
merecimento aos
lugares
destinados
àqueles que, com
atitudes, se
fazem
naturalmente
afinizados às
dimensões
diamantinas de
clara acuidade
sensorial para
todos os seus
habitantes, como
Espíritos
libertos?