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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 362 - 11 de Maio de 2014

CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 
 
 

Antes e depois


Não havia ainda me acostumado à mesa cirúrgica. Soro com sedativos na veia, batimentos cardíacos controlados, ainda olhava com certa curiosidade a movimentação em volta, e caí durante uns dois minutos num cochilo breve, para acordar logo, sem saber direito como havia dormido daquele jeito; mas o fato é que, então, o olho direito já tinha sido anestesiado para a cirurgia de catarata precoce, que me acometeu justo quando, no auge das atividades da vida, nem imaginaria o ter que me ver às voltas com este contratempo inconveniente.

De repente entra o cirurgião. E, também, quase sem que eu me desse conta, como um mágico tirando um coelho da cartola, dispara uma série de luzes esquisitas no olho anestesiado. Nem findos quinze minutos, pronuncia um “acabou”, que me soou ainda mais sem sentido! Olho já tampado, perplexa, acachapada, pensava comigo mesma: acabou, como? Que hora saiu o cristalino imprestável? E quando entrou o novo?

Espetáculo de mágica, mesmo, para quem, leiga como sou, entra numa sala cirúrgica sem nada entender dos métodos avançados deste tipo de intervenção operatória à base de ultrassom, dos tempos em que vivemos, mas a grande e surpreendente realidade veio, mesmo, depois.

Com a vista novinha em folha, ao longo dos dias percebi, espantada, o quanto já vinha enxergando mal – com os dois olhos! Porque, só então, com a visão em ponto de bala, afinal me dei conta de como a outra estava ruim, vendo tudo amarelado, destituído da luminosidade vívida que, conforme foi dominando a sã, chegou a me sugerir a suposição absurda de que era ela a anormal, com todo aquele brilho de coloração diamantina, encantadora! Talvez a cirurgia não tivesse alcançado sucesso, algo deveria estar errado!

Tonta, de dentro dessas impressões desencontradas, só agora, duas semanas depois, e com o auxílio do cirurgião, consegui enfim raciocinar com acerto, para entender que tinha, já, com o passar do tempo, as duas vistas comprometidas! O hábito de enxergar mal explicou-me o médico competente, de bom humor se assenhoreara do meu cotidiano sem que me apercebesse, o que eu julgava tratar-se de mera necessidade corretiva com as periódicas trocas de graus de óculos!

A vida é uma caixinha de surpresas – bom que, de tempos em tempos, boas!

Em breve, estarei de novo sobre a mesa cirúrgica para a correção devida da outra vista, amigos, mas a vivência me sugeriu reflexões úteis também n’outro sentido. Pensei, nesses dias, que coisa bem parecida deve nos acontecer quando deixamos as limitações perceptivas de mais uma reencarnação finda, para lá chegar, no nosso habitat espiritual verdadeiro, deparando, e aí sim, com nova luminosidade extasiante, através da visão espiritual mais fidedigna, desperta para o espetáculo maravilhoso da continuidade de nossas vidas n’outras esferas! Encontrando rostos risonhos e felizes pelo nosso retorno; paisagens brilhosas, coloridas de novos e insuspeitados matizes, luzes antes imperceptíveis pelos nossos sentidos materiais falhos; sons mais apurados, emoções mais depuradas, enfim...

Que encanto deve ser, para os nossos Espíritos exaustos dos desafios terrenos, mais um reencontro com tais panoramas divinos, quando, então, e finalmente, curados de um mal de “catarata” de outra ordem – a que é característica dos nossos sentidos visuais embotados pelas imensas restrições corpóreas que nos permitem somente enxergar, não a existência, na versão mais luminosa na sua fonte, mas apenas a percepção embotada da filial da matéria mais densa, onde provisoriamente estagiamos!

O antes e depois do sentido visual me foi proporcionado, na experiência médica recente, vislumbrar, por antecipação, o que nos espera no despertar maior para a continuidade dos nossos caminhos nos cenários mais reais de nossos verdadeiros lares! E a escolha desses cenários, hoje e sempre, caberá apenas a nós mesmos!

Que visão de maior ou menor capacidade elegeremos para cada dia do nosso porvir, e para depois de vencida a etapa de necessariamente se enxergar um pouco menos, pelo filtro denso do aprendizado nos palcos da estadia material terrena?

Criaremos, com base no mérito do amor, a sintonia com as paisagens banhadas das luzes das esferas da felicidade ideal do Espírito? Ou, como me aconteceu, ao não me aperceber do avanço do mal visual que me acometia, nos acostumaremos com menos? Não nos daremos conta da urgência da intervenção cirúrgica nas nossas rudes restrições espirituais, inibidoras do merecimento aos lugares destinados àqueles que, com atitudes, se fazem naturalmente afinizados às dimensões diamantinas de clara acuidade sensorial para todos os seus habitantes, como Espíritos libertos? 

 


 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita