A. Os Espíritos podem
produzir as roupas e os
acessórios com que se
apresentam nas
aparições?
Sim. Eles podem
produzir, pela ação da
vontade, as formas que
revestiu e os trajos que
usou na Terra e que lhe
permitem fazer-se
reconhecer. Aliás, esse
é, com efeito, o
objetivo essencial de
tais manifestações. Daí
as roupagens, vestes,
armas e acessórios com
que se apresentam as
aparições. Quase sempre
esses acessórios não têm
consistência nem
duração. Pode,
entretanto, acontecer
que o Espírito concentre
bastante força para
condensar objetos, a
ponto de os tornar
tangíveis e duradouros.
(No Invisível - O
Espiritismo
experimental:
Os fatos - XX -
Aparições e
materializações de
Espíritos.)
B. Léon Denis diz que os
fenômenos de
materialização podem ser
classificados em três
ordens. Quais são elas?
A primeira ordem inclui
os casos em que o duplo
do médium exteriorizado
é utilizado e modificado
pelo Espírito, a ponto
de reproduzir o aspecto
que tinha este na Terra
e mesmo os traços de sua
fisionomia. O Espírito,
por efeito da vontade,
se reflete, se fotografa
na forma fluídica do
médium; é uma
transfiguração mais ou
menos completa, conforme
o poder do manifestante.
Mas, em certas
experiências, a aparição
terá alguma semelhança
com o médium.
Em outros casos, o
Espírito, com o auxílio
dos fluidos ambientes,
cria formas temporárias
que anima e dirige de
fora, sem se incorporar,
como o observou Aksakof.
Há, finalmente, casos -
bem mais numerosos - em
que o Espírito condensa
e materializa seu
próprio envoltório
fluídico, de forma a
aparecer tal como era em
sua precedente
existência terrestre. A
materialização seria
assim uma espécie de
reencarnação efêmera.
O papel dos médiuns
difere essencialmente
conforme os casos.
(Obra citada - O
Espiritismo
experimental:
Os fatos - XX -
Aparições e
materializações de
Espíritos.)
C. As condições do
ambiente podem favorecer
ou prejudicar os
fenômenos dessa
natureza?
Sim. O estudo das forças
em ação nesses fenômenos
demonstra que eficazes
auxiliares podem ser a
música e os cantos. Suas
vibrações harmônicas
facilitam a combinação
dos fluidos. Em sentido
oposto, temos verificado
a desfavorável
influência da luz; esta
produz um efeito
dissolvente sobre os
fluidos em elaboração e
exige um emprego mais
considerável de força
psíquica. Daí a
necessidade das sessões
obscuras, pelo menos nas
tentativas iniciais.
(Obra citada - O
Espiritismo
experimental:
Os fatos - XX -
Aparições e
materializações de
Espíritos.)
Texto para leitura
985. Às materializações
de Espíritos se vêm
algumas vezes
acrescentar criações
espontâneas de plantas,
transportes de flores e
frutos. No dia 28 de
junho de 1890, sob as
vistas de Aksakof e do
professor Boutlerov, em
casa da Sra. d`Espérance,
em Gotenburgo, um lírio
dourado, de seis pés de
altura, foi produzido
pelo Espírito Iolanda.
Auxiliado pelos
assistentes, esse
Espírito depositou
areia, terra e água num
vaso, que em seguida
cobriu com o véu. Este
se elevou lentamente,
impelido de modo
contínuo por um objeto
invisível; e quando
Iolanda retirou o véu
viu-se aparecer uma
linda planta coberta de
flores, que exalavam
penetrante aroma. Esse
lírio dourado se
conservou durante uma
semana inteira, depois
do que desapareceu
misteriosamente como
tinha vindo.
986. Acabamos de ver os
Espíritos em ação,
criando objetos e
flores. Do mesmo modo
operam eles na formação
das vestes, costumes e
adornos que aparecem.
Esse fato, de se
mostrarem vestidos os
Espíritos, tem provocado
numerosas objeções, a
que cumpre responder.
Recordemos antes de
tudo, como princípio,
que a vontade e o
pensamento são
criadores. Nas
aparições, já vimos como
a matéria sutil obedece
aos seus menores
influxos. Um Espírito
pode agir sobre os
fluidos e emprestar-lhes
formas e propriedades
adequadas ao fim que
tenha em vista.
987. No domínio
terrestre, essa ação já
se revela nas práticas
do Magnetismo. O homem
dotado do poder de curar
transmite, pela vontade,
aos eflúvios que dele
emanam e, por extensão,
à água e a certos
objetos materiais, como
panos, metais, etc.,
propriedades curativas.
Os fenômenos do
Hipnotismo e da sugestão
nos mostram, sob outras
formas, a aplicação
dessa mesma lei.
Mediante a sugestão
provocam-se, no
organismo de sensitivos
adormecidos, profundas
modificações; pode-se
fazer aparecerem ou
cicatrizarem chagas,
estigmas, queimaduras,
regular certas funções
como a circulação, as
secreções, etc., que no
estado normal escapam à
ação da vontade.
988. Casos há em que um
experimentador,
sugerindo a sensitivos
que um selo postal, uma
obreira, são
vesicatórios(1),
transmite pelo
pensamento a esses
inofensivos objetos uma
força que faz empolar a
pele e produzir
serosidades. Outros têm
provocado, por simples
ordem, hemorragias
cutâneas.
989. Pela sugestão, que
é principalmente um ato
da vontade, tem-se
conseguido não somente
impressionar sensitivos,
mas também causar-lhes
verdadeiras
perturbações, pela
ingestão de líquidos
anódinos(2)
a que se emprestam
propriedades nocivas. É
assim que se provoca a
embriaguez com água
pura. Coisa mais grave:
fizeram absorver a um
sensitivo um veneno
imaginário e esse
veneno, apesar de uma
sugestão contrária quase
imediata, produziu
desordens fisiológicas
que por muito tempo lhe
arruinaram a saúde. O
memorial dessa
experiência existe no
Salpetrière.
990. A esses exemplos
cumpre acrescentar as
impressões
experimentadas por
senhoras grávidas e que
se traduzem, no corpo do
filho em gestação, por
taras, manchas,
deformações. A
influência dessas
emoções às vezes é
vivíssima. O Doutor
Goudard, numa
comunicação à Sociedade
de Estudos Psíquicos de
Marselha, refere os
seguintes fatos:
“Um homem culto, saído
de uma de nossas grandes
faculdades, foi operado,
em sua infância, de um
duplo polegar de cada
lado, que simulava uma
pata de crustáceo, e era
atribuído ao fato de ter
sido sua mãe, durante a
gravidez, trincada
fortemente na mão por
uma lagosta. Uma outra
mãe, vivamente
impressionada à vista de
uma carranca de fonte,
deu à luz um feto cuja
cabeça tinha uma
estranha semelhança de
feições com essa
carranca.”
991. Caso notável é o
seguinte, publicado pelo
“Matin”, de 1º de junho
de 1906:
“Uma jovem de 19 anos,
Luísa Mirbel, tinha
vivido muito tempo com
um rapaz chamado Pedro
Chauvin, de 27 anos de
idade, que tinha por
alcunha ‘o Tatuado’.
Esse indivíduo era
célebre numa zona
especial de Montparnasse
pela magnífica série de
tatuagens que lhe ornava
o corpo. Beberrão e
violento, ele batia na
amante, que não ousava
abandoná-lo com receio
de suas represálias. Há
uns quinze meses Pedro
Chauvin foi preso em
consequência de um roubo
e condenado a alguns
meses de prisão. Luísa
Mirbel aproveitou a
ocasião para fugir.
Definitivamente
resolvida a abandonar a
existência vergonhosa
que tinha levado, veio
morar no bairro Picpus,
onde travou conhecimento
com um honrado
trabalhador, João
Barrau, que a desposou.
Um dia sentiu ela que
não tardaria a ser mãe.
Um receio, entretanto, a
assaltava:
– Olha – repetiu várias
vezes ao marido –, eu
tenho medo de que aquele
indivíduo, que abusou da
inexperiência da minha
mocidade, me venha um
dia procurar. Temo por
ti e por mim, porque o
‘Tatuado’ é terrível em
suas vinganças.
J. Barrau esforçava-se
por tranquilizá-la, mas
em vão. À noite, a pobre
rapariga via em sonho o
antigo amante e acordava
trêmula. Uma manhã disse
ao marido:
– Tive esta noite um
sonho horrível:
parecia-me que o
‘Tatuado’ estava ali. Eu
acabava de dar à luz o
nosso filho; ele o
apertava nos braços e
lhe desenhava no corpo
todas as tatuagens que
em si próprio traz.
– Tu estás louca, minha
pobre amiga – respondeu
João Barrau –. Esquece
esse homem. Eu te
asseguro que ele jamais
te tornará a achar.
Ora, ontem de manhã,
Luísa Mirbel deu à luz
um filho. Imagine-se o
espanto dos que a
assistiam, vendo no
corpo do menino largas
manchas azuladas em que
facilmente se
reconheciam os traços de
letras e desenhos. No
peito notava-se
distintamente um coração
atravessado por um
punhal.”
992. Em seu livro “La
Zone Frontière” (pág.
131) o Senhor Sage
refere dois outros
fatos:
“Na Itália, um morcego
penetrou, esvoaçando,
numa sala de baile e as
senhoras investiram,
procurando enxotá-lo com
os lenços; o mísero
animalejo deixou-se cair
no ombro nu de uma das
senhoras, que teve um
desmaio. Pouco tempo
depois essa senhora deu
à luz uma filha, que
trazia no ombro a imagem
perfeita de um morcego
com as asas estendidas.
Nada faltava: os pelos
cinzentos, as garras, o
focinho. A menina,
depois de moça, nunca se
pôde decotar.
As impressões fracas,
desde que perdurem,
produzem o mesmo
resultado que as súbitas
e violentas. Liébault
refere que um vinhateiro
se assemelhava de modo
surpreendente à estátua
do santo padroeiro da
sua aldeia, que existia
na igreja. Durante a
gravidez sua mãe havia
tido a ideia fixa de que
o filho se pareceria com
o santo.”
993. No ser humano, como
se vê, o pensamento e a
vontade influem
profundamente sobre o
organismo e suas
funções. Em outros casos
o nosso pensamento pode
adquirir bastante
intensidade para criar
formas e imagens
suscetíveis de
impressionarem placas
fotográficas. São
numerosos os exemplos.
994. Aksakof diz que no
curso de experiências
fotográficas feitas em
companhia de Mumler e do
Doutor Child, em 1862,
foi obtida numa placa a
imagem de uma senhora
que desejava
ardentemente aparecer
com uma guitarra nos
braços. A forma desejada
apareceu. Desde então se
têm multiplicado esses
casos. Nas experiências
de sugestão, têm-se
muitas vezes criado pelo
pensamento objetos que
para os sensitivos
possuíam uma existência
real e estavam
submetidos às leis da
óptica.
995. Não é mesmo
necessário que a ação
seja volitiva. Muitas
vezes, como nos casos de
gravidez que indicamos,
o pensamento é
inconsciente e nem por
isso deixa de produzir
efeitos muitíssimo
sensíveis sobre a
matéria. O mesmo se dá
com os vivos
exteriorizados que
aparecem a distância.
Basta que seu pensamento
se tenha fixado numa
pessoa ausente para que
sua forma surja diante
dela, a ponto de ser
facilmente reconhecida.
996. Se o homem pode
mentalmente operar tais
efeitos, que resultado
não obterá o Espírito,
desembaraçado de todo
obstáculo carnal, ele
cujo pensamento vibra
com intensidade
superior? Ora, não
somente o Espírito
domina os elementos
sutis da matéria, de
modo a impressionar a
placa sensível e os
órgãos dos videntes, mas
nas aparições visíveis
para todos pode ainda
produzir, pela ação da
vontade, as formas que
revestiu e os trajos que
usou na Terra e que lhe
permitem fazer-se
reconhecer.
997. Esse é, com efeito,
o objetivo essencial de
tais manifestações. Daí
as roupagens, vestes,
armas e acessórios com
que se apresentam as
aparições. Quase sempre
esses acessórios não têm
consistência nem
duração. Pode,
entretanto, acontecer
que o Espírito concentre
bastante força para
condensar objetos, a
ponto de os tornar
tangíveis e duradouros.
998. Certos Espíritos
podem modificar seu
aspecto, com facilidade
prodigiosa, aos olhos
mesmo dos assistentes.
Aqui está um caso que
parece dar razão à
hipótese de Aksakof, há
pouco mencionada. Refere
o Sr. Brakett que numa
sessão de materialização
foi visto aparecer o
Espírito de um moço
alto, dizendo-se irmão
de uma senhora que ele
acompanhava. Esta
observou que o não podia
reconhecer, porque só o
vira menino. Pouco a
pouco a figura foi
diminuindo de estatura,
até atingir a do menino
que a senhora conhecera.
999. Recordemos também o
caso de Emma Hardinge,
assinalado pelo Sr.
Colville: apareceu ela
com o vestido de rainha
das fadas, que trouxera
muito tempo antes, em
sua mocidade. Nesse
caso, como em alguns
outros, a aparição
parece não ser mais que
simples imagem mental
exteriorizada pelo
Espírito, que adquire
bastante consistência
material para ser
percebida pelos
sentidos.
1000. Às vezes os
Espíritos imprimem às
formas que revestem o
mais encantador aspecto.
Robert Dale Owen,
ministro dos Estados
Unidos na Corte de
Nápoles, em sua obra
“Região em Litígio”,
descreve a aparição de
uma forma feminina: “Seu
brilho era comparável ao
da neve recente
iluminada por um raio de
Sol, fazendo lembrar o
que foi escrito sobre
vestes de luz do Cristo,
na transfiguração, ou
ainda o brilho do
mármore de Paros, o mais
puro e o mais
recentemente talhado,
sob o jato de viva luz.”
1001. Em resumo, pode-se
dizer que os modos de
ação do Espírito variam
conforme os recursos
facultados pelo meio em
que ele opera. Os
fenômenos de
materialização devem ser
classificados em três
ordens:
a) Primeiramente, os
casos em que o duplo do
médium exteriorizado é
utilizado e modificado
pelo Espírito, a ponto
de reproduzir o aspecto
que tinha este na Terra
e mesmo os traços de sua
fisionomia. O Espírito,
por efeito da vontade,
se reflete, se fotografa
na forma fluídica do
médium; é uma
transfiguração mais ou
menos completa, conforme
o poder do manifestante.
Por isso, em certas
experiências, a aparição
terá alguma semelhança
com o médium.
b) Noutros casos o
Espírito, com o auxílio
dos fluidos ambientes,
cria formas temporárias
que anima e dirige de
fora, sem se incorporar,
como o observou Aksakof.
c) Há, finalmente,
casos, mais numerosos,
em que o Espírito
condensa e materializa
seu próprio envoltório
fluídico, de forma a
reaparecer tal como era
em sua precedente
existência terrestre. A
materialização seria
assim uma espécie de
reencarnação efêmera.
1002. O papel dos
médiuns difere
essencialmente conforme
os casos. Eles passam
por todos os graus do
transe, de acordo com as
absorções que lhes devem
ser feitas. Às vezes
mesmo, como nas Sras. d'Espérance
e Compton, a absorção é
total. Noutras
circunstâncias os
Espíritos trazem consigo
quase todos os elementos
da materialização e o
médium conserva-se
acordado.
1003. O estudo das
forças em ação nesses
fenômenos demonstra que
eficazes auxiliares
podem ser a música e os
cantos. Suas vibrações
harmônicas facilitam a
combinação dos fluidos.
Em sentido oposto, temos
verificado a
desfavorável influência
da luz; esta produz um
efeito dissolvente sobre
os fluidos em elaboração
e exige um emprego mais
considerável de força
psíquica. Daí a
necessidade das sessões
obscuras, pelo menos nas
tentativas iniciais.
1004. Todos quantos têm
observado a Natureza
sabem que as ondas
luminosas perturbam a
formação do ser em seu
período de gestação.
Todo gérmen, todo corpo,
seja vegetal, animal ou
humano, deve
constituir-se nas
trevas, antes de
aparecer à luz do dia. A
fotografia é obrigada a
operar em condições
análogas. A reprodução
das imagens requer a
obscuridade. O mesmo
acontece com as
formações temporárias de
Espíritos. É por isso
que se adotam gabinetes
escuros nas salas de
experiências, para
facilitar as
materializações. Às
vezes, contudo, quando a
força é suficiente,
vê-se o fenômeno
produzir-se no meio dos
assistentes.
1005. Todas estas
observações são
cientificamente
confirmadas pelas
experiências da
telegrafia sem fio.
Segundo uma comunicação
do Sr. Marconi à
Sociedade Real de
Londres, está verificado
que as ondas hertzianas
se transmitem melhor à
noite que de dia; o
nascer do Sol produz
grande perturbação nas
transmissões.
1006. É assim que o
Espiritismo, depois de
nos ter franqueado o
vasto império das forças
e dos elementos
invisíveis da Natureza,
nos inicia nas leis que
regem as suas profundas
harmonias. É pelo estudo
de seus fenômenos que a
matéria, em seu mais
rarefeito estado, se nos
apresenta como um mundo
sutil em que se imprimem
os pensamentos e os
atos. Ao mesmo tempo ela
constitui imenso
reservatório de energias
que, vindo
acrescentar-se às
energias psíquicas,
engendram a força por
excelência, o poder
criador de que emana o
Universo em suas eternas
e variáveis
manifestações.
(Continua no próximo
número.)
(1)
Vesicatório – Vesicante.
(Patol.) Que ou aquilo
que produz vesícula(s).
Vesícula (Derm.):
Pequena bolha cutânea
que contém líquido
seroso; empola. Pequena
bexiga ou cavidade.
(2)
Anódino
– Que mitiga as dores
(medicamento); acesódino,
antalgésico, antálgico.
Paliativo.
Insignificante,
medíocre. Que é pouco
importante; secundário.