JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)
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Entendimento fraterno
No livro Fonte viva
(XAVIER, 2013), lemos a
seguinte frase do
apóstolo Pedro: “Mas,
sobretudo, tende ardente
caridade uns para com os
outros” (I Pedro,
4:8).
Caridade: essa palavra
resume toda a Lei de
Deus. Não foi por outra
razão que Allan Kardec
registrou, n’O
Evangelho segundo o
Espiritismo (cap.
XV): “Fora da caridade
não há salvação”. Junto
dela está a humildade,
diz Kardec (op. cit.,
it. 5).
O que diz O Livro dos
Espíritos sobre a
caridade?
Pergunta 886: “Qual o
verdadeiro sentido da
palavra caridade, como a
entendia Jesus?”
Resposta: “Benevolência
para com todos,
indulgência para as
imperfeições dos outros,
perdão das ofensas".
[...].
A caridade, segundo
Jesus, não se restringe
à esmola, abrange todas
as relações em que nos
achamos com os nossos
semelhantes, sejam eles
nossos inferiores,
nossos iguais, ou nossos
superiores. Ela nos
prescreve a indulgência,
porque de indulgência
precisamos nós mesmos, e
nos proíbe que
humilhemos os
desafortunados,
contrariamente ao que se
costuma fazer. [...] O
homem verdadeiramente
bom procura elevar aos
seus próprios olhos
aquele que lhe é
inferior, diminuindo a
distância que os separa.
A grande maioria dos
religiosos busca
aprofundar seus
conhecimentos; sejam
eles católicos,
evangélicos, islamitas,
umbandistas, budistas,
judeus, espíritas, os
que realmente amam os
ensinamentos da Bíblia,
da Torá, do Alcorão,
etc. Entretanto, quão
poucos são os que se
esforçam, sinceramente,
em praticá-los em toda a
sua essência.
Quantos religiosos há
que por possuírem um
pouco mais de informação
que seus irmãos, sobre
as obras da sua crença,
se esquecem de
exercitar, entre os
confrades e demais
pessoas, as máximas que
pregam do alto da
tribuna, muitas vezes,
sob grande emoção e
aplausos. Buscam o
destaque pessoal e não a
união, o desinteresse, o
devotamento e a
abnegação em torno do
trabalho imenso que
requer a Doutrina que
pregam.
Falam para a plateia
daquilo que ainda não se
esforçam em praticar.
Captam do plano
espiritual superior as
mais belas inspirações,
comovem os ouvintes e se
comovem. Entretanto, mal
termina a reunião
doutrinária, transferem
a sintonia mental
elevada para as
entidades inferiores e,
não raro, cometem as
mesmas faltas que há
poucos minutos
recomendavam não se
deveriam cometer.
Disputam, quase a tapas,
cargos de direção ou
destaque na casa, igreja
ou templo, como se
somente eles estivessem
na situação privilegiada
de exercer o poder
espiritual ali. E
exibem, mesmo, seus
títulos e conhecimentos
acadêmicos, não para
servir, mas para
demonstrar superioridade
intelectual em relação a
outros confrades que
também aspiram a
trabalhar devotadamente
no lar que os acolheu.
Se prometem algo, com a
mesma facilidade
esquecem sua promessa.
Julgam-se sempre
melhores e mais bem
preparados do que seus
irmãos de ideal
religioso e não perdoam
as mínimas faltas
alheias, embora cometam
outras até mesmo
maiores. De todos
desconfiam, como
adversários ferrenhos na
disputa de cargos
efêmeros na instituição
religiosa e, se lhes
fazem quaisquer críticas
fraternas, não perdem a
ocasião de vingar-se.
Atingido seu objetivo,
sorriem, intimamente,
satisfeitos em ter
afastado de seu caminho
mais um empecilho e se
verem livres para
buscarem apenas aqueles
que lhes aplaudem os
atos antifraternos.
Antes de qualquer outra
virtude, é preciso
exercitar a humildade,
que é o ramo mais
importante da grande
árvore chamada caridade,
cujos galhos abrangem
todas as demais
qualidades espirituais.
Por isso, é importante
refletir sobre o que diz
o Espírito Emmanuel
(XAVIER, 2013, item
122): “Não existem
tarefas maiores ou
menores. Todas são
importantes em
significação”.
E prossegue dizendo o
benfeitor espiritual
(id., ibid.)
Um homem será respeitado
pelas leis que implanta,
outro será admirado
pelos feitos que
realiza. Mas o
legislador e o herói não
alcançariam a evidência
em que se destacam, sem
o trabalho humilde do
lavrador que semeia o
campo e sem o esforço
apagado do varredor que
contribui para a higiene
da via pública.
A responsabilidade de um
Administrador é muito
grande, mas a dos demais
integrantes da empresa
não é menor, pois “A
comunidade é um conjunto
de serviço, gerando a
riqueza da experiência.
E não podemos esquecer
que a harmonia dessa
máquina viva depende de
nós” (XAVIER, 2013, loc.
cit.).
O cristão autêntico,
como todo ser humano que
aspire iluminar-se, não
pode jamais deixar de
praticar a regra
áurea, como nos
recomenda Emmanuel em
outra página, como
complemento à
necessidade de nos
dedicarmos à assistência
mútua, com “ardente amor
fraterno”.
Exercitemos, pois, a
humildade e a caridade
com todos, servindo
sempre, com boa vontade
e contentamento. Pois,
para que possamos dizer
“Senhor, Senhor” e
sermos atendidos como
verdadeiros servos do
Cristo, é preciso pôr em
prática, a todo instante
o contido nesta
belíssima mensagem,
psicografada por Chico
Xavier:
Faremos hoje o bem a que
aspiramos receber.
Alimentaremos para com
os semelhantes os
sentimentos que
esperamos alimentem eles
para conosco.
Pensaremos acerca do
próximo somente aquilo
que estimamos pense o
próximo quanto a nós.
Falaremos as palavras
que gostaríamos de
ouvir.
Retificaremos em nós
tudo o que nos desagrade
nos outros.
Respeitaremos a tarefa
do companheiro como
aguardamos respeito para
a responsabilidade que
nos pesa nos ombros.
Consideraremos o tempo,
o trabalho, a opinião e
a família do vizinho tão
preciosos quanto os
nossos.
Auxiliaremos sem
perguntar, lembrando
como ficamos felizes ao
sermos auxiliados sem
que nos dirijam
perguntas.
Amparemos as vítimas do
mal com a bondade que
contamos receber em
nossas quedas, sem
estimular o mal e sem
esquecer a fidelidade à
prática do bem.
Trabalharemos e
serviremos nos moldes
que reclamamos do
esforço alheio.
Desculparemos
incondicionalmente as
ofensas endereçadas no
mesmo padrão de
confiança dentro do qual
aguardamos as desculpas
daqueles a quem
porventura tenhamos
ofendido.
Conservaremos o nosso
dever em linha reta e
nobre, tanto quanto
desejamos retidão e
limpeza nas obrigações
daqueles que nos cercam.
Usaremos paciência e
sinceridade para com os
nossos irmãos, na medida
com que esperamos de
todos eles paciência e
sinceridade, junto de
nós.
Faremos, enfim, aos
outros o que desejamos
os outros nos façam.
Para que o amor não
enlouqueça em paixão e
para que a justiça não
se desmande em
despotismo, agiremos
persuadidos de que o
tempo da regra áurea, em
todas as situações,
agora ou no futuro, será
sempre hoje. (XAVIER;
VIEIRA, 1973. Mens. nº
52.)
Esses, com certeza, são
passos preciosos, que
deveríamos memorizar e
nos esforçar para pôr em
prática toda vez que a
luz de alerta se acender
em nossa mente,
resultante da
convivência fraterna com
todas as pessoas. Desse
modo, estaremos no
exercício permanente da
caridade ardente
para com todos.
Caridade e humildade,
virtudes-antídotos
contra o egoísmo e o
orgulho. Até quando
continuaremos ouvindo e
falando sobre isso, mas
agindo contrariamente à
regra áurea de Jesus:
“fazer aos outros o que
desejamos que eles nos
façam”?
Referências:
KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o
Espiritismo. Ed.
histórica. Brasília: FEB,
2013.
______. O Livro dos
Espíritos. 6. ed. de
bolso. Brasília: FEB,
2001.
XAVIER, Francisco
Cândido. Fonte viva.
Brasília: FEB, 2013.
XAVIER, Francisco
Cândido; VIEIRA, Waldo.
Opinião espírita.
4. ed. Uberaba, MG: CEC,
1973.