MARCELO TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ (Brasil)
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Caridade com meias sujas
Aconteceu numa casa
espírita do Estado do
Rio de Janeiro. Um
frequentador chegou com
uma sacola de roupas
infantis para serem
doadas. Entre as roupas,
e em evidência, um par
de meias sujas. Tão em
evidência que foram
notadas pelo voluntário
da casa espírita assim
que a sacola passou para
a mão dele.
De início, a vontade
desse colaborador foi
chorar. De tristeza.
Afinal, o bom senso
recomenda que não se
deve fazer caridade com
meias sujas. Por falar
nisso, o que é caridade?
Não há (e nem sei se
houve um dia), no
currículo escolar
brasileiro, uma
disciplina chamada
etimologia. E o que é
etimologia? É a ciência
que estuda de onde vêm
as palavras, mostrando
como são formadas e o
que significam.
Caridade não deixa de
ser sinônimo de amor. Os
teólogos cristãos
empregam, de forma
distinta, duas palavras
para o amor. Eros (deus
grego do amor) é o amor
carnal; ágape (banquete
fraterno do início da
era cristã), o amor
espiritual. Pois bem, o
amor ágape, que é o amor
da reunião, do estar
junto de forma fraterna,
dividindo tudo com
prazer, é traduzido na
língua portuguesa por
caridade, palavra
derivada do latim,
caritas, que
significa grande amor.
O apóstolo Paulo, em
Coríntios, cap. 13,
versículos 1 a 3, diz:
- Ainda que eu
falasse as línguas dos
homens e dos anjos, se
eu não tivesse a
caridade, seria como um
bronze que soa ou como o
sino que tine. E se eu
tiver o dom de profecia,
e conhecer todos os
mistérios, e quanto se
pode saber; e se tiver
toda a fé, até o ponto
de transportar montes, e
não tiver caridade, não
sou nada. E se eu
distribuísse todos os
meus bens em o sustento
dos pobres, e se
entregasse o meu corpo
para ser queimado, se
todavia não tivesse
caridade, nada disso me
aproveitaria.
Em suma, se eu não tiver
o amor em forma de
movimento, amor fraterno
que compartilha tudo de
forma prazerosa, nada
serei.
Eis por que Allan
Kardec, em “O Livro dos
Espíritos”, nomeia a
última Lei Moral como
Lei de Justiça, Amor e
Caridade. Amor é a força
que rege o universo, que
vitaliza. Justiça é o
amor que corrige, educa
e leva ao
amadurecimento. Caridade
é o amor dinamizado, é a
prática pela qual
deixamos fluir o amor,
seja na forma de
bondade, compaixão...
Basta consultar a
questão 886 da obra
citada. Está lá:
“Caridade, segundo
Jesus, não se restringe
somente à esmola, mas
abrange todas as
relações com os nossos
semelhantes, sejam eles
nossos inferiores,
nossos iguais ou nossos
superiores”.
Por que tantas
definições e
explicações? Para dizer
que doar meias sujas a
pessoas carentes não é
fazer caridade. Se a
caridade abrange todas
as relações com os
nossos semelhantes,
devemos dar a quem
precisa roupas e objetos
que façam o necessitado
se sentir valorizado,
nunca inferiorizado ou
humilhado.
Amigos meus de outras
religiões já me contaram
da quantidade de
quinquilharias que
recebem de doação para
encaminhamento aos
socialmente carentes:
móveis quebrados, roupas
sujas e rasgadas,
remédios e mantimentos
fora do prazo de
validade, livros
despencados... No meio
espírita acontece a
mesma coisa.
Infelizmente, muitas
pessoas não conhecem nem
praticam o real
significado da palavra
caridade. Se
conhecessem, não
tirariam do armário as
tralhas para serem
doadas.
Caridade nunca será
sinônimo de dar qualquer
coisa aos pobres. São
pobres, não é mesmo?
Então, qualquer
bugiganga serve? Nada
disso! Caridade é doar
com prazer tudo que
estiver em bom estado,
na certeza de que o
necessitado que receber
a doação fará bom uso
dela, igualando, dessa
forma, na mesma vibração
de amor, quem a doou e
quem a recebeu.
Bibliografia:
1 -
MOLLO, Elio. Amor e
Caridade. É Bom Saber
Quem é Quem.
www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo216.html.