A. Com relação à
identificação dos
Espíritos, a fotografia
transcendental tem sido
um meio de prova
importante?
Sim. Um bom contingente
de provas dessa
identificação nos veio
por meio da fotografia
de Espíritos. Nesta obra
é explicado como o
pesquisador William
Stead procedia para
obtenção das fotografias
transcendentais e que
cuidados tinha ele com o
objetivo de evitar
fraudes.
(No Invisível - O
Espiritismo
experimental: Os fatos -
XXI - Identidade dos
Espíritos.)
B. Podem os Espíritos,
por meio da mediunidade,
ajudar familiares no
tocante à regularização
de seus negócios
terrestres?
Podem. A propósito desse
fato, o Dr. Cyriax, em
sua brochura “Die Lehre
Von Geist”, relatou um
caso interessante em que
ele próprio tomou parte.
Aksakof narra também um
fato semelhante,
extraído dos
“Proceedings”, no qual o
Príncipe de
Sayn-Wittgenstein-Berlesbourg
obteve do General Barão
de Korff, morto meses
antes, uma comunicação
espontânea em que lhe
determinava que
revelasse à sua família
o lugar em que fora
escondido seu
testamento. O documento
foi encontrado no lugar
indicado pelo Espírito.
(Obra
citada - O Espiritismo
experimental: Os fatos -
XXI - Identidade dos
Espíritos.)
C. Há nesta obra relatos
de comunicações
transmitidas em idiomas
desconhecidos pelos
médiuns?
Sim. Dois desses relatos
foram extraídos da
“Annales des Sciences
Psychiques”, de Ernesto
Bozzano. No primeiro, a
médium era uma menina de
11 anos, filha do Sr.
Hugh Junor Brown. A
mensagem foi escrita em
língua cafre, que a
jovem médium ignorava
por completo. No segundo
caso, foi utilizado o
idioma sérvio, que o
médium também
desconhecia.
(Obra citada - O
Espiritismo
experimental: Os fatos -
XXI - Identidade dos
Espíritos.)
Texto para leitura
1047. No tocante à
identificação dos
Espíritos comunicantes,
a fotografia
transcendental fornece
também seu contingente
de provas. “La Revue”,
de 15 de janeiro de
1909, publica um artigo
de William Stead,
intitulado “Como
comunicar com o Além?”,
do qual extraímos o
trecho referente à
fotografia dos
invisíveis, que adiante
resumimos.
1048. Segundo o artigo,
nada é mais fácil que
adulterar fotografias
desse gênero, e um
prestidigitador pode
sempre enganar o
observador desconfiado e
vigilante. As chapas de
que William Stead se
servia, por ele mesmo
reveladas e previamente
marcadas, forneciam,
porém, alguma garantia
contra as fraudes.
1049. A prova de
autenticidade da
fotografia de um
Espírito consiste antes
de tudo na execução de
um retrato perfeitamente
reconhecível da pessoa
falecida por um
fotógrafo que nada
absolutamente saiba da
existência dessa pessoa
e, em seguida, no fato
de não ser percebida
forma alguma visível
pelo operador ou por
quem assiste à operação.
1050. Tais fotografias
foram obtidas por
William Stead, não uma,
mas repetidas vezes. Eis
um caso por ele
referido:
“O fotógrafo, cuja
mediunidade permite
fotografar o invisível,
é um artista já velho e
sem instrução,
particularidade que o
impede mesmo, em dadas
circunstâncias, de se
ocupar vantajosamente de
sua profissão. É
clarividente e, como por
minha parte o
denominarei,
clariaudiente.
Durante a última guerra
dos Boers, fui pedir-lhe
uma sessão, curioso que
estava de saber o que se
iria passar. Mal me
havia sentado em frente
do bom velho, disse-me
ele:
– Tive outro dia uma
turra. Um velho Boer
veio à minha oficina;
trazia uma carabina e
seu olhar feroz
causou-me certo medo.
‘Vai-te embora –
disse-lhe eu; – não
gosto de armas de fogo.’
Ele se foi; mas voltou e
está aí. Entrou com
vosmecê; não traz a
carabina e o seu olhar
já não é tão feroz. Devo
consentir que fique?
– Certamente – respondi
–. Julga que o poderá
fotografar?
– Não sei – disse o
velho –; posso
experimentar.
Sentei-me diante da
objetiva e o operador
empunhou o obturador. Eu
nada podia ver; antes,
porém, da exposição da
chapa, interroguei o
fotógrafo:
– Pois que noutro dia
lhe falou, poderá
falar-lhe agora,
novamente?
– Decerto; ele está
sempre atrás de vosmecê.
– Ele lhe responderá, se
o interrogar?
– Não sei, vamos ver.
– Pergunte-lhe o nome.
O fotógrafo teve o gesto
de fazer uma pergunta
mental e esperar a
resposta. E logo:
– Diz ele que se chama
Piet Botha.
– Piet Botha? – objetei
num tom de dúvida. –
Conheço um Filipe, um
Luís, um Cristiano e não
sei quantos outros
Botha, mas nunca ouvi
falar desse Piet.
– Diz ele que é o seu
nome – replicou,
teimoso, o velho.
Quando revelou a chapa,
vi, de pé, atrás de mim,
um rapagão barbado, que
tanto poderia ser um
boer como um mujick. Não
disse uma palavra; mas
esperei até o fim da
guerra e, quando chegou
a Londres o General
Botha, lhe enviei a
fotografia por
intermédio do Sr.
Fischer, atual
primeiro-ministro do
Estado Livre de Orange.
No dia seguinte, o Sr.
Wessels, delegado de um
outro Estado, me veio
procurar.
– Onde obteve o senhor
esta fotografia que deu
ao Sr. Fischer?
Narrei-lhe fielmente
como se achava ela em
meu poder. Meneou a
cabeça:
– Não creio em almas do
outro mundo; mas diga-me
seriamente de onde lhe
veio esse retrato.
Aquele homem jamais
conheceu William Stead;
nunca pisou a
Inglaterra.
– Disse-lhe como o
obtive – insisti eu – e
o senhor pode não me
acreditar; mas por que
se mostra assim tão
admirado?
– Porque aquele homem –
disse – é um dos meus
parentes; tenho em minha
casa o seu retrato.
– Deveras! – exclamei. –
É morto?
– Foi o primeiro
comandante boer que
morreu no cerco de
Kimberley... Petrus
Botha – acrescentou –
mas, para abreviar, o
apelidávamos Piet.
Conservo essa fotografia
em meu poder; foi
igualmente identificada
por outros delegados dos
Estados Livres, que
também haviam conhecido
Piet Botha.
Ora, isso não se explica
pela telepatia nem cabe
admitir a hipótese de
fraude. Foi por mero
acaso que pedi ao
fotógrafo verificar se o
Espírito daria o nome.
Ninguém na Inglaterra,
tanto quanto pude
certificar-me, sabia que
existia Piet Botha.”
1051. Em várias
circunstâncias,
Espíritos desencarnados
contribuem com suas
indicações para a
regularização de seus
negócios terrestres;
ajudam a encontrar
testamentos ocultos ou
extraviados. O Dr.
Cyriax, em sua brochura
“Die Lehre Von Geist”,
refere um fato desse
gênero em que ele
próprio tomou parte:
“Um rapaz de Baltimore,
chamado Robert, havia
sido educado por uma de
suas tias, rica,
celibatária, que,
tendo-o adotado, fizera
dar-lhe uma instrução
completa e o havia
casado. Tornara-se ele
pai de família, quando
sua tia faleceu
subitamente. Não se lhe
achou testamento algum e
os parentes interessados
trataram de excluir da
herança o Sr. Robert.
Este, extremamente
perplexo, foi, por
indicação de alguns
amigos, consultar a Sra.
Morill, médium, que
evocou a tia falecida.
Revelou então esse
Espírito que o
testamento estava
guardado num armário de
roupa branca, no andar
superior de sua vivenda.
Só depois de remexido
todo o conteúdo do
armário foi que se
achou, num pé de meia, o
documento, tal qual fora
descrito. Ninguém no
mundo, e o médium menos
que qualquer outra
pessoa, podia ter a
mínima ideia de tal
esconderijo. Só o
Espírito da tia estava
no caso de fornecer
aquela indicação.”
1052. Aksakof narra um
fato semelhante,
extraído dos
“Proceedings”, vol. XVI,
pág. 353. O Príncipe de
Sayn-Wittgenstein-Berlesbourg
obteve do General Barão
de Korff, morto havia
alguns meses, uma
comunicação espontânea,
na qual lhe determinava
que revelasse à sua
família o lugar em que,
por inimizade, haviam
escondido seu
testamento. Esse
documento foi descoberto
no lugar indicado pelo
Espírito.
1053. A esses fatos
acrescentaremos dois
casos de identidade,
publicados por E.
Bozzano em “Annales des
Sciences Psychiques” de
janeiro de 1910, e que
consistiram em escritos
ou conversações em
línguas desconhecidas
pelo médium. Foi o
primeiro referido por
Myers em sua obra sobre
a “Consciência
subliminal” (“Proceedings
of the S.P.R.”, vol. IX,
pág. 124) e é
concernente a um
episódio de escrita
obtida por intermédio de
uma menina de 11 anos,
filha do Sr. Hugh Junor
Brown, que o publicou em
um livro intitulado “The
Holy Truth”. Myers
conheceu pessoalmente o
narrador e assegura a
sua perfeita
sinceridade.
1054. Reproduzimos a
narrativa deste último:
“Passeando um dia com
minha mulher, encontrei
um preto que eu não
conhecia, mas que logo
me pareceu um cafre(1),
em razão dos largos
orifícios que
apresentava nas orelhas,
costume peculiar a essa
raça. Depois de o ter
interrogado em sua
língua nativa, o que
deveras o surpreendeu,
convidei-o a vir a nossa
casa e dei-lhe o meu
endereço. Apresentou-se
ele justamente na
ocasião em que fazíamos
experiências mediúnicas.
Disse ao criado que o
fizesse entrar e
perguntei se não
estariam presentes
Espíritos amigos seus. A
mão de minha filha
escreveu, em resposta,
vários nomes cafres, que
eu li para o preto ouvir
e que ele reconheceu,
manifestando grande
espanto. Perguntei então
se tais amigos tinham
alguma coisa a dizer ao
preto e imediatamente
foi escrita em língua
cafre uma frase em que
havia palavras que eu
não conhecia. Li-as ao
meu visitante, que lhes
compreendeu
perfeitamente a
significação, exceto a
de uma única palavra.
Tentei fazê-lo
entendê-la,
pronunciando-a de vários
modos, mas em vão. De
repente, a mão de minha
filha escreveu: ‘Dá um
estalo com a língua.’
Recordei-me então de um
característico estalo
que deve habitualmente
acompanhar a letra t, na
língua cafre, e
pronunciei a palavra
conforme o método
indicado, conseguindo
fazer-me compreender
imediatamente.
Cumpre-me assinalar que
minha filha nenhuma
palavra conhece do cafre,
tendo nascido anos
depois de haver eu
deixado aquelas regiões.
Perguntei quem era o
sujeito que dirigia a
mão de minha filha,
sendo geralmente a arte
de escrever ignorada
pelos cafres, e me foi
respondido que o ditado
fora escrito por um
velho amigo meu, H. S.,
a pedido dos amigos do
preto. Ora, H. S.,
pessoa culta e de
elevada posição, falava
perfeitamente o cafre,
tendo residido longo
tempo em Natal. Nesse
momento expliquei ao meu
visitante que os
Espíritos de seus amigos
estavam presentes, o que
pareceu aterrorizá-lo.”
1055. O Ministro
Plenipotenciário da
Sérvia em Londres, Sr.
Chedo Mijatovich,
escreveu o seguinte ao
diretor do “Light”
(1908, pág. 136):
“Não sou espírita, mas
encontro-me precisamente
no caminho que conduz a
essa crença, e fui
atraído graças a uma
experiência pessoal, que
julgo de meu dever
tornar pública. (Aí
refere ele que vários
espíritas húngaros lhe
escreveram, pedindo-lhe
procurasse em Londres
algum médium bem
conceituado, a fim de,
sendo possível, entrar
em relação com um antigo
soberano sérvio e
consultá-lo sobre
determinado assunto.)
A esse tempo exatamente
– continua ele – minha
mulher tinha dito
qualquer coisa acerca de
um Sr. Vango, dotado, ao
que se dizia, de
notáveis faculdades
mediúnicas, e por esse
motivo o fui procurar.
Nunca o tinha visto e,
por seu lado, ele também
nunca me vira. Nenhuma
razão há para supor-se
que ele tinha
informações a meu
respeito, ou que as
tivesse adivinhado. À
minha pergunta, se me
poderia pôr em relação
com o Espírito em que eu
pensava, respondeu
modestamente que às
vezes era bem sucedido,
mas nem sempre, e que
outras muitas, ao
contrário, se
manifestavam Espíritos
não desejados pelo
consulente. Em seguida
se declarou à minha
disposição,
recomendando-me que
concentrasse o
pensamento no Espírito
que eu desejava.
Em pouco adormeceu o Sr.
Vango e começou: ‘Está
aqui o Espírito de um
moço que parece muito
aflito por lhe falar,
mas exprime-se numa
língua que eu não
conheço.’ O soberano
sérvio, em quem havia eu
concentrado o
pensamento, falecera já
maduro em 1850; eu
estava, entretanto,
curioso de saber quem
seria esse jovem
Espírito aflito por me
falar e pedi ao médium
que repetisse ao menos
uma palavra pronunciada
pela entidade presente,
ao que respondeu que o
tentaria. Assim dizendo,
inclinou o busto para a
parede em frente da qual
estava sentado, numa
atitude de quem se põe a
escutar. E logo, com
extrema surpresa para
mim, começou a
pronunciar lentamente em
língua sérvia: ‘Molim
vas pihite moyoy materi
Nataliyi da ye molim da
mi oprosti’, cuja
tradução é: ‘Peço-te o
favor de escrever a
minha mãe Natália,
dizendo-lhe que imploro
seu perdão’. Compreendi
naturalmente que se
tratava do Espírito do
jovem Rei Alexandre.
Pedi então ao Sr. Vango
que lhe descrevesse a
aparência, e ele
prontamente: ‘Oh! é
horrível! Seu corpo está
crivado como que de
punhaladas!’
Se tivesse outra prova
sido necessária para me
convencer da identidade
do Espírito comunicante,
bastava a que em seguida
me deu o Sr. Vango,
acrescentando: ‘O
Espírito lhe deseja
dizer que deplora
amargamente não ter
seguido o seu conselho
relativo à ereção de um
certo monumento e às
medidas policiais a
adotar no caso.’
Referia-se isso a um
conselho confidencial
que eu havia dado ao Rei
Alexandre, dois anos
antes do seu assassínio,
e que na ocasião ele
julgava intempestivo, só
podendo a seu ver ser
posto em prática no
começo de 1904. Devo
acrescentar que o Sr.
Vango repetiu as
palavras sérvias de um
modo bem característico,
pronunciando-as sílaba
por sílaba e começando
pela última de cada
palavra, para voltar à
primeira.
Como dou publicidade ao
fato no interesse da
verdade, não hesito em
assinar meu nome com a
indicação de meu cargo.
– (Assinado) Chedo
Mijatovich, Ministro
Plenipotenciário da
Sérvia na Corte de
Saint-James; 3,
Redchiffe-gardens, S.W.,
Londres.”
1056.
O Sr. Daniel D. Home, em
“Life and Mission” (págs.
19 a 22), descreve um
conjunto de provas de
identidade, obtidas pela
mediunidade vidente e
auditiva, que julgamos
dever aqui reproduzir:
“Ao tempo em que eu
habitava Springfield
(Mass), fui acometido de
grave enfermidade que me
reteve no leito por
algum tempo. Um dia, no
momento em que o médico
acabava de retirar-se,
veio um Espírito
comunicar-se comigo e me
transmitiu esta
determinação: ‘Vais
tomar esta tarde o trem
para Hartford; trata-se
de assunto importante
para o progresso da
causa. Não discutas;
faze simplesmente o que
te dizemos.’ Dei parte a
minha família dessa
estranha ordem e, apesar
do meu estado de
fraqueza, tomei o trem,
ignorando completamente
o que ia fazer e qual o
fim de tal viagem.
Chegado a Hartford, fui
abordado por um
desconhecido, que me
disse: ‘Não tive ocasião
de o ver senão uma vez;
entretanto, creio não
estar enganado: é o Sr.
Home, não é verdade?’
Respondi
afirmativamente,
acrescentando que
chegava a Hartford, sem
saber absolutamente o
que aí queriam de mim.
‘É extraordinário! –
replicou meu
interlocutor – eu vinha
justamente tomar o trem
para ir procurá-lo em
Springfield.’
Explicou-me então que
uma importante família,
muito conhecida, me
mandava convidar a
visitá-la e lhe prestar
meu concurso, nas
investigações que
desejava fazer em
matéria de Espiritismo.
O fim da viagem
começava, portanto, a
esboçar-se; mas o
mistério continuava
impenetrável quanto ao
prosseguimento dessa
aventura.
Um agradável trajeto em
carruagem nos conduziu
rapidamente ao nosso
destino. O dono da casa,
Sr. Ward Cheney, estava
justamente à porta e
deu-me as boas-vindas,
dizendo que o mais cedo
que esperava ver-me
chegar era o dia
seguinte. Ao penetrar no
vestíbulo, atraiu-me a
atenção o frufru(2)
de pesado vestido de
seda. Reparo em torno de
mim e fico surpreendido
de não ver pessoa
alguma; logo, porém,
passamos a um dos
salões, e não me
preocupei mais com o
incidente.
Pouco depois divisei no
vestíbulo uma senhora
idosa, baixinha,
trajando um vestido de
seda encorpada,
cinzenta, e que parecia
muito atarefada. Aí
estava a explicação do
mistério: eu ouvira, sem
a ver, essa pessoa que
andava pela casa, de um
para outro lado.
Tendo-se feito novamente
ouvir o frufru da seda,
e tendo-o o Sr. Cheney
notado ao mesmo tempo em
que eu, perguntou-me ele
donde poderia provir
esse ruído: ‘Oh! –
respondi – é do vestido
de seda cinzenta daquela
senhora idosa que está
ali no vestíbulo. Quem é
essa pessoa?’ A aparição
era tão distinta, com
efeito, que eu não tinha
a menor dúvida de que
aquela senhora fosse uma
criatura de carne e
osso.
Chegando nesse momento o
resto da família, as
apresentações impediram
o Sr. Cheney de me
responder, e nada mais
pude saber na ocasião;
tendo sido, entretanto,
servido o jantar,
admirei-me de não ver à
mesa a senhora do
vestido de seda:
aguçou-me a curiosidade
e essa pessoa se tornou
desde então para mim um
motivo de preocupação.
Quando as pessoas se
retiraram da sala de
jantar, tornei a ouvir o
roçagar do vestido de
seda. Nada via, mas ouvi
distintamente uma voz
que dizia: ‘Estou
aborrecida por terem
colocado um esquife
sobre o meu; não quero
que lá o deixem ficar.’
Tendo comunicado ao
chefe da família e a sua
mulher o estranho
recado, eles se olharam
com surpresa; depois o
Sr. Cheney, quebrando o
silêncio, me disse que
‘reconhecia
perfeitamente aquele
vestido, sua cor e mesmo
a qualidade da seda
encorpada; mas, –
acrescentou – a
referência ao esquife
colocado sobre o seu é
absurda e errônea.’
Essa resposta me deixou
perplexo; não sabia já o
que dizer, tanto mais
que antes da comunicação
eu não tinha suspeitado
que se tratava de uma
desencarnada; não
conhecia mesmo as
relações de família ou
de amizade que pudessem
existir entre a velha
dama e os Cheney.
Uma hora mais tarde,
ouvi de repente a mesma
voz, proferindo
exatamente as mesmas
palavras, mas
acrescentando: ‘Além
disso, Seth não tinha o
direito de cortar essa
árvore.’ Tendo dado
parte desse novo recado
ao Sr. Cheney, ficou ele
muito apreensivo. ‘Há em
tudo isso – disse ele –
alguma coisa bastante
singular; meu irmão Seth
fez cortar uma árvore
que encobria a vista da
antiga vivenda e nós
sempre fomos de opinião
que a pessoa que lhe diz
estar falando não teria
consentido em
derribarem-na, se ainda
pertencesse a este
mundo. Quanto ao resto
do aviso, não tem sequer
sombra de bom-senso.’
Tendo-me sido dado, à
noite, a mesma
comunicação pela
terceira vez,
arrisquei-me de novo a
um desmentido formal, no
que se referia ao
esquife. Estava sob
impressão muito
aflitiva, quando me
retirei para o meu
quarto. Nunca tinha eu
recebido comunicação
falsa, e mesmo admitindo
a perfeita veracidade do
fato arguido, semelhante
insistência, da parte de
um Espírito
desencarnado, em não
querer que fosse um
outro esquife colocado
sobre o seu, me parecia
absolutamente ridícula.
Pela manhã expus ao Sr.
Cheney a minha profunda
contrariedade; ele me
respondeu que ‘tinha
também com isso grande
pesar, mas que ia
provar-me que esse
Espírito – se era de
fato quem pretendia ser
– estava completamente
enganado. Vamos ao
jazigo de nossa família
– disse ele – e verá
que, ainda que o
quiséssemos, não seria
possível colocar um
esquife em cima do seu.’
Chegados ao cemitério,
fomos procurar o coveiro
que tinha a chave do
jazigo. No momento em
que ia abrir a porta,
ele pareceu refletir e
disse com um ar um tanto
embaraçado, dirigindo-se
ao Sr. Cheney: ‘Devo
prevenir-vos, senhor, de
que, como ficava
justamente um pequeno
espaço acima da Sra.
***, coloquei aí o
pequenino féretro do
filho de L. Creio que
isso não tem
importância, mas talvez
eu tivesse feito melhor
avisando-vos. É só desde
ontem que ele aí está.”
Jamais esquecerei o
olhar que me lançou o
Sr. Cheney, ao exclamar,
voltando-se para mim:
‘Meu Deus! É então
verdade!’
Nessa mesma noite
tivemos uma nova
manifestação do
Espírito, que nos veio
dizer: ‘Não acreditem
que eu ligue a mínima
importância ao féretro
colocado sobre o meu;
poderiam aí empilhar uma
pirâmide de esquifes,
que isso me seria
perfeitamente
indiferente. Meu único
fim era provar-lhes uma
vez por todas minha
identidade e os induzir
à absoluta convicção de
que sou sempre um ser
vivo e dotado de razão,
a mesma E... que sempre
fui. Foi esse o finito
motivo que me levou a
proceder como o fiz.”
(Continua no próximo
número.)
(1)
Cafre [do ár. kafr ou
kufr, 'infiel']
significa: Nome dado
pelos islamitas aos
gentios e idólatras, e
por ext., aos negros
pagãos da África
oriental; aplica-se,
sobretudo, às populações
bantas de Moçambique, da
África do Sul e dos
demais países do sudeste
da África. O natural ou
habitante da Cafraria,
denominação que, no
passado, se dava à
região entre o rio Kei e
os limites da província
de Natal, na África do
Sul; xossa. Gloss. Forma
pidginizada do
africâner, com léxico
extraído basicamente de
línguas bantas e do
inglês.
(2)
Frufru [do fr.
froufrou] significa:
rumor de folhas;
ruge-ruge, especialmente
de seda; rumor de asas
no voo.