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Clássicos do Espiritismo
Ano 8 - N° 366 - 8 de Junho de 2014
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

No Invisível

Léon Denis

(Parte 41)

Continuamos o estudo metódico e sequencial do clássico "No Invisível", de Léon Denis, cujo título no original francês é Dans l'Invisible.

Questões preliminares  

A. É verdade que numerosos contraditores, vencidos pela evidência dos fatos, mudaram de tática com relação ao Espiritismo?

Sim. Depois de haverem longo tempo negado a realidade dos fenômenos espíritas, numerosos contraditores mudaram de tática e agora afirmam: Sim, o Espiritismo é verdadeiro, mas a sua prática é inçada de perigos. Esses perigos, entretanto, têm sido muito exagerados. De fato, em todas as coisas há precauções a adotar, mas é injusto salientar o lado mau das práticas espíritas, sem assinalar os benefícios que delas resultam e que sobrepujam consideravelmente os abusos e as decepções. (No Invisível, 3ª Parte. Grandezas e misérias da mediunidade - XXII - Prática e perigos da mediunidade.)

B. De onde provêm as dificuldades da experimentação espírita?

As dificuldades provêm de não possuírem os nossos contemporâneos, em geral, a mínima noção das leis psíquicas e serem, além disso, inaptos para as estudar com proveito, em virtude das disposições de espírito resultantes de péssima educação. Por sua presunção e preconceitos, como por seu escarninho cepticismo, afastam de si as influências favoráveis. Em tais condições, pode acontecer que a experimentação espírita reserve numerosas ciladas, muito mais, entretanto, aos médiuns que aos observadores. Como sabemos, o médium é um ser nervoso, sensível, impressionável; tem necessidade de sentir-se envolto numa atmosfera de calma, de paz e benevolência, que só a presença dos Espíritos adiantados pode criar. A prolongada ação fluídica dos Espíritos inferiores lhe pode ser funesta, arruinar-lhe a saúde, provocando os fenômenos de obsessão e possessão de que falamos. (Obra citada, 3ª Parte. Grandezas e misérias da mediunidade - XXII - Prática e perigos da mediunidade.)

C. Que atitude é recomendável quando lidamos com os chamados obsessores?

Segundo Léon Denis, os maus Espíritos são, em geral, apenas ignorantes e pode-se conduzi-los ao caminho do bem pela doçura, paciência e persuasão. Essa é a atitude recomendável nesses casos, capaz de fazer cessar o processo, sem uso nenhum de violência. A propósito, ele reproduz um interessante relato publicado em “Annales des Sciences Psychiques”, de janeiro de 1911, atestado pelo Sr. E. Magnin, professor da Escola de Magnetismo, no qual se revela a excelência do método mencionado. (Obra citada, 3ª Parte. Grandezas e misérias da mediunidade - XXII - Prática e perigos da mediunidade.)

Texto para leitura

1057. Todos os fatos que acabamos de citar estão revestidos das garantias necessárias para assegurar-lhes a autenticidade. Em sua maioria, foram eles submetidos à mais rigorosa crítica. Poderíamos ter acrescentado muitos outros casos semelhantes, se o plano deste trabalho não nos impusesse limites restritos.

1058. Em resumo, podemos dizer que são copiosas as provas da sobrevivência para aqueles que as procuram de ânimo sincero, com inteligência e perseverança. Assim, a noção de imortalidade se destaca pouco a pouco das sombras acumuladas pelos sofismas e negações, e a alma humana se afirma em sua imperecedoura realidade. O Universo infinito vem a ser a nossa eterna pátria. A vasta perspectiva dos tempos se desdobra aos nossos olhos como o campo de nossos trabalhos, de nossos estudos e progressos. E quando esta certeza penetrou em nosso espírito, nenhum desfalecimento nem temor nos pode mais acabrunhar, nem nesta vida nem nas inúmeras vidas que nos compele o destino a percorrer.

1059. 3ª Parte. Grandezas e misérias da mediunidade - XXII - Prática e perigos da mediunidade – Depois de haverem longo tempo negado a realidade dos fenômenos espíritas, numerosos contraditores, subjugados pela evidência, mudaram de tática e afirmam: Sim, o Espiritismo é verdadeiro, mas a sua prática é inçada de perigos.

1060. Não se pode contestar que o Espiritismo ofereça perigos aos imprudentes que, sem estudos prévios, sem preparo, sem método nem proteção eficaz, se entregam às investigações ocultas. Fazendo da experimentação um passatempo, uma frívola diversão, atraem os elementos inferiores do mundo invisível, de cujas influências fatalmente padecem.

1061. Esses perigos, entretanto, têm sido muito exagerados. Em todas as coisas há precauções a adotar. A Física, a Química e a Medicina exigem também prolongados estudos e o ignorante que pretendesse manipular substâncias químicas, explosivos ou tóxicos, poria em risco a saúde e a própria vida.

1062. Não há uma só coisa, conforme o uso que dela fizermos, que não seja boa ou má. É sempre injusto salientar o lado mau das práticas espíritas, sem assinalar os benefícios que delas resultam e que sobrepujam consideravelmente os abusos e as decepções. Nenhum progresso, nenhuma descoberta se efetua sem perigos.

1063. Se ninguém tivesse, desde a origem dos tempos, ousado aventurar-se no Oceano, porque a navegação é arriscada, que teria daí resultado? A Humanidade, fragmentada em diversas famílias, permaneceria insulada nos continentes e teria perdido todo o proveito que aufere das viagens e permutas.

1064. O mundo invisível é também um vasto e profundo oceano semeado de escolhos, mas repleto de vida e de riqueza. Por trás da cortina do além-túmulo se agitam multidões inúmeras que temos interesse em conhecer, porque são depositárias do segredo de nosso próprio futuro. Daí a necessidade de estudar, de explorar esse mundo invisível e ponderar-lhe as forças, os inexauríveis recursos que contém, recursos ao pé dos quais os da Terra parecerão um dia bem restritos.

1065. A ação do mundo invisível sobre a Humanidade é constante. Estamos submetidos às suas influências e sugestões. Querer ignorá-lo é conservar-se inerme diante desse mundo, ao passo que por um estudo metódico aprendemos a atrair as forças benfazejas, os socorros, as boas influências que ele encerra; aprendemos a repelir as más influências, a reagir contra elas pela vontade e pela prece.

1066. Tudo depende do modo de emprego e da direção dada às nossas forças mentais. E quantos males há, cuja origem nos escapa, porque queremos ignorar essas coisas, males que poderiam ser evitados por um estudo aprofundado e consciencioso do mundo invisível! Em sua maior parte, os neuróticos e os alucinados, tratados sem êxito pela medicina oficial, não são mais que obsessos, passíveis de ser curados pelas práticas espíritas e magnéticas.

1067. Deus colocou o homem no centro de um oceano de vida, de um reservatório inesgotável de forças e potência. E deu-lhe a inteligência, a razão, a consciência, para aprender a conhecer essas forças, a assenhorear-se delas e as utilizar. Por esse exercício constante é que a nós mesmos nos desenvolveremos e chegaremos a afirmar o nosso império sobre a Natureza, o domínio do pensamento sobre a matéria, o reino do Espírito sobre o mundo. É esse o mais elevado objetivo a que possamos consagrar a nossa vida. Em vez de afastar dele o homem, ensinemos-lhe a caminhar ao seu encontro, sem hesitação. Estudemos, escrutemos o Universo em todos os seus aspectos, sob todas as suas formas. Saber é o supremo bem, e todos os males provêm da ignorância.

1068. As dificuldades da experimentação provêm de não possuírem os nossos contemporâneos, em geral, a mínima noção das leis psíquicas e serem, além disso, inaptos para as estudar com proveito, em virtude das disposições de espírito resultantes de péssima educação. Por sua presunção e preconceitos, como por seu escarninho cepticismo, afastam de si as influências favoráveis. Em tais condições, pode acontecer que a experimentação espírita reserve numerosas ciladas, muito mais, entretanto, aos médiuns que aos observadores.

1069. O médium é um ser nervoso, sensível, impressionável; tem necessidade de sentir-se envolto numa atmosfera de calma, de paz e benevolência, que só a presença dos Espíritos adiantados pode criar. A prolongada ação fluídica dos Espíritos inferiores lhe pode ser funesta, arruinar-lhe a saúde, provocando os fenômenos de obsessão e possessão de que falamos. São numerosos esses casos. Allan Kardec os estudou e assinalou. Vários outros,  depois dele, foram relatados por Eugênio Nus. Citaremos casos mais recentes. Alguns chegam até à loucura. Disso forjaram um argumento contra o Espiritismo. Tais desastres, contudo, resultam simplesmente da leviandade e falta de precaução dos experimentadores, e nada provam contra o princípio. Por toda parte, no Espiritismo, ao lado do mal se encontra o remédio.

1070. É necessário, como dissemos, adotar precauções na prática da mediunidade. As vias de comunicação que o Espiritismo facilita entre o nosso e o mundo oculto podem servir de veículos de invasão às almas perversas que flutuam em nossa atmosfera, se lhes não soubermos opor a resistência vigilante e firme. Muitas almas sensíveis e delicadas, encarnadas na Terra, têm sofrido em consequência de seu comércio com esses Espíritos maléficos, cujos desejos, apetites e remorsos os atraem constantemente para perto de nós.

1071. As almas elevadas sabem, mediante seus conselhos, preservar-nos dos abusos, dos perigos, e nos guiar pelo caminho da sabedoria; mas sua proteção será ineficaz se, por nossa parte, não fizermos esforços para nos melhorarmos.

1072. É destino do homem desenvolver suas forças, edificar ele próprio sua inteligência e sua consciência. É preciso que saibamos atingir um estado moral que nos ponha ao abrigo de toda agressão das individualidades inferiores. Sem isso, a presença de nossos Guias será impotente para nos salvaguardar. Ao contrário, a luz que em torno de nós projetam atrairá os Espíritos do abismo, como a lâmpada acesa na amplidão da noite atrai as falenas, os pássaros noturnos, todos os alados habitantes da treva.

1073. Falamos das obsessões; eis a seguir alguns exemplos. O médium Filipe Randone, diz “La Mediunità”, de Roma, tem sido alvo das turbulências de um Espírito designado pelo nome de “uomo fui”, que se tem esforçado várias vezes para esmagá-lo, durante a noite, sob uma pilha de móveis, que se diverte em transportar-lhe para o leito. Em plena sessão, ele se apodera violentamente de Randone e o atira ao chão, com risco de o matar. Até agora não foi possível desembaraçar o médium desse perigoso visitante.

1074. Em compensação, a revista “Luz y Unión”, de Barcelona, edição de dezembro de 1902, refere que uma infortunada mãe de família impelida ao crime contra seu marido por uma influência oculta, acometida de acesso de furor, para cuja debelação eram de todo impotentes os recursos ordinários, foi curada em dois meses, graças à evocação e conversão do Espírito obsessor, mediante a persuasão e a prece.

1075. É evidente que análogos resultados seriam obtidos, em muitos casos, com o emprego dos mesmos processos. Em sua maioria, os Espíritos que intervêm nos fenômenos de casas mal-assombradas podem ser classificados entre os obsessores. O espectro de Valence-en-Brie (1896), que derribava os móveis na casa do Sr. Lebègeu, e cuja voz se fazia ouvir desde a adega até o sótão, injuriando os moradores, expandindo-se em palavras grosseiras e expressões indecorosas, é o tipo desses manifestantes de baixa categoria.

1076. O “Psychische Studien”, de agosto de 1891, registra um caso análogo. Uma pobre mulher de Goepingen, de 50 anos de idade, era perseguida pelo Espírito de seu marido que, depois de a haver abandonado, ausentando-se para a América e levando consigo uma outra mulher, assassinara sua amante e suicidara-se em seguida. Produzia variados e contínuos ruídos em seu quarto e impedia de dormirem os locatários vizinhos. Ela o reconhecia pela voz; e teve que mudar várias vezes de domicílio, mas inutilmente. O Espírito a toda parte a acompanhava. Metia-se-lhe na cama durante a noite, empurrava-a com violência e puxava-lhe o cabelo. Uma ocasião queimou-a tão vivamente que durante 15 dias ela conservou o sinal da queimadura.

1077. Esses maus Espíritos são, em geral, apenas ignorantes e pode-se conduzi-los ao caminho do bem pela doçura, paciência e persuasão. Também os há perversos, endurecidos e mesmo perigosos, que se não conseguiria impunemente afrontar, sem se estar munido de vontade, de fé e de moralidade. Convém repeti-lo: a lei de analogia regula todas as coisas no domínio do invisível. Nossos contactos com o mundo ultraterrestre variam ao infinito, conforme a natureza de nossos pensamentos e de nossos fluidos, que constituem poderosos ímãs para o bem como para o mal. Mediante ele podemos associar-nos ao que há de melhor ou de pior no Além e provocar em torno de nós as manifestações mais sublimes ou os mais repulsivos fenômenos.

1078. Citemos ainda estes dois interessantes casos de obsessão, que foi possível fazer cessar mediante processos diferentes, tendo sido o primeiro publicado em “Annales des Sciences Psychiques”, de janeiro de 1911, e atestado pelo Sr. E. Magnin, professor da Escola de Magnetismo:

“Uma senhora, ainda bem moça, que padecia dores de cabeça de origem neurastênica, ao fim de alguns anos agravadas com uma obsessão de suicídio, me veio consultar. O minucioso exame que lhe fiz revelou um organismo isento de qualquer tara física. O lado psíquico, ao contrário, deixava muito a desejar: emotivo, extravagante, facilmente sugestionável. A enferma acusava com insistência uma opressão ‘enlouquecedora’, dizia ela, sobre a nuca, acompanhada de uma sensação de peso, às vezes intolerável, sobre os ombros; nessas ocasiões sentia-se assaltada de um desejo quase irresistível de matar-se.

No curso de longa conversa me revelou ela que, antes de seu casamento, havia sido requestada por um oficial, a quem amava, mas com quem fora, por motivos de família, impedida de casar-se. Falecera este algum tempo depois, e a breve trecho começara ela a sentir essa obsessão de acabar com a vida. Aí estava indubitavelmente a origem da ideia obsidente, e um tratamento psicoterápico se impunha. Várias sessões, em estado de vigília, foram efetuadas sem êxito; fiz em seguida experiências de reeducação na hipnose ‘magnética’ e não obtive melhora alguma; sugestões imperativas no sono ‘hipnótico’ também não produziram resultado apreciável.

Decidi então, com anuência do marido, mas sem que o soubesse a enferma, operar com o concurso de uma médium que eu vinha estudando há algum tempo e que muitas vezes me surpreendera pela nitidez das percepções visuais que o seu dom de ‘vidente’ lhe permitia descrever-me. Não revelei à médium uma única palavra da situação e só depois de haver adormecido a enferma é que a coloquei em sua presença. Preveni-a de que lhe não faria pergunta alguma e que, por sua parte, se limitasse a descrever o mais simplesmente possível o que seu dom de vista psíquica lhe deixasse ver.

Tão depressa foi trazida ao pé da enferma, adormecida numa poltrona, descreveu um ser que parecia ‘agarrado’ às costas da paciente. Sem deixar perceber minha surpresa e o interesse que despertava essa observação, pedi à vidente que indicasse a posição exata do ser invisível para mim. ‘Com a mão direita – disse – ele aperta a nuca da enferma e com a esquerda oculta a própria fronte’. Depois, ofegante de comoção, exclamou: ‘É um suicida e quer que ela se lhe vá reunir’. A meu pedido, lhe descreveu a fisionomia, a expressão: ‘um olhar singularmente estranho’. Pudemos em seguida, eu e a médium, conversar com essa personalidade. Longa e extenuante foi a minha conversação, até que vim a experimentar um alívio e uma verdadeira satisfação, ao saber pela médium que os meus argumentos haviam convencido o ‘espectro’ e que, tocado de compaixão, ele prometia deixar sua vítima em paz.

Só duas horas depois de ter a médium se retirado foi possível despertar a paciente. Não lhe revelei uma única palavra da experiência, que ela devia sempre ignorar. Ao despedir-se, me disse ela: ‘Sinto-me hoje muito aliviada’. Dois dias depois voltou a visitar-me: a transformação era visível. Sua atitude, expressão fisionômica, maneira de vestir-se, tudo denotava completa mudança em seus pensamentos; suas naturais disposições, sua jovialidade e gosto pelas artes lhe tinham voltado de um dia para o outro. Seu marido já não a reconhecia, tão brusca fora a transição.

Depois da aludida experiência, a jovem senhora não mais tornou a sentir a opressão na nuca, nem a sensação física de peso nos ombros, nem a obsessão psíquica de suicídio; sua saúde, em todos os sentidos, se tornou até hoje perfeita.

Uma discreta pesquisa me permitiu saber que o oficial em questão não morrera de febre infecciosa, como o acreditavam as pessoas de suas relações, mas que ele se tinha realmente suicidado com um tiro na cabeça. Também o seu caráter ficou averiguado ser exatamente o que descrevera a médium, bem como o olhar ‘estranho’, explicado por um ligeiro estrabismo.” (Continua no próximo número.)  

 


 


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