EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Campinas, SP
(Brasil)
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Sempre é tempo
de buscar viver
com significado
Muitas pessoas
vivem
distraídas,
deprimidas ou
simplesmente
se deixam ir
levando no
decorrer de suas
existências.
Conheço alguns
indivíduos que
traçaram
objetivos
prioritários,
mas apenas
dedicados às
expectativas
materiais, cuja
motivação
(oculta) reside
na (i)lógica do
insaciável
consumo, de tal
forma que quando
os cumpriram se
sentiram vazios,
com a sensação
de “e daí? É
só isso?”.
Outras,
mulheres,
exercitaram seus
cuidados
dirigidos aos
filhos e ao
campo doméstico
e, chegando ao
final da vida,
sentem-se
carentes,
desanimadas,
acreditando que
não floresceram
sob a nitidez do
precioso
exercício
vocacional...
Sim,
infelizmente a
síndrome do
ninho vazio
e a sensação de
desperdício de
dons – ou um
pobre
aproveitamento
das energias
criativas – têm
sentido porque,
hoje, mais do
que ontem, todos
são convidados a
exercer funções
que extrapolem
os muros da
própria casa...
Criar filhos é
uma missão
séria e digna,
todavia tem
tempo definido
e, considerando
a saúde psíquica
da criança, está
restrita no
geral aos três
primeiros
setênios (0-7;
7-14; e 14-21),
reconhecendo
ainda os dois
primeiros mais
exigentes de
atenção e
amoroso empenho
por parte dos
cuidadores, uma
vez que a
criança nasce
totalmente
dependente,
assumindo os
pais (ou o
responsável pelo
menor) a
condição
provisória de
primeiros
tutores.
Ao ingressar no
mundo adulto,
cada indivíduo,
a estagiar aqui
para mais “um
dia de colégio”,
dispõe do
precioso direito
de fazer as
próprias
escolhas e
decidir a
respeito da
jornada. Mas,
infelizmente,
observo muitos
pais sofrerem,
especialmente
mães, porque
acreditam que os
filhos vieram ao
mundo para serem
suas projeções
ou marionetes.
Quando há amor,
há espaço para a
liberdade, ou
seja, o sujeito
é livre para
erigir sua
biografia...
De modo simples,
e segundo o que
escuto no
atendimento
terapêutico de
mulheres,
variegadas as
idades e
condições
econômicas, à
medida que os
filhos crescem,
elas percebem
que é saudável
meditar sobre
outras opções de
autodesenvolvimento,
aspirando a
contribuírem,
ainda que de
forma modesta,
para o bem da
sociedade.
Sem dúvida, as
mulheres que
decidiram, além
do exercício
privado, apostar
em alternativas
para o
crescimento
pessoal e
profissional, a
longo prazo
descobriram que
desfrutam com
mais
estabilidade de
benefícios
emocionais e
psíquicos
colhidos dessas
outras opções.
Em consequência,
depois que os
filhos vão
cuidar de suas
vidas, elas
resistem melhor
aos malefícios
das carências
abissais e
escapam à
sedução dos
mecanismos
nocivos de
controle e
manipulação,
pois se tornam
pessoas
criativas e
participantes
também do mundo
público (além
das vidraças
domésticas).
E embora algumas
mulheres
dependam de uma
dose de fé para
dar o primeiro
passo em direção
a uma existência
com significado,
obrigando-se,
por exemplo, a
assumir um
trabalho
assistencial
algumas vezes
por semana,
combinado a
estudos e/ou
cursos
relacionados a
necessidades
pessoais de
crescimento,
todas que
enfrentaram o
desafio se
sentem mais
adequadas
consigo mesmas,
pois se puseram
a lutar por
criatividade e
cidadania
participativa e
não apenas as
repetidas
condutas
praticadas no
reino
privado...
Há poucos meses
conheci uma
mulher que se
sentia frustrada
com a própria
vida e
ressentida com a
filha adulta que
migrara para um
outro país. Após
boas conversas e
pequenas
alterações de
hábitos e
gostos, ela
concluiu que
suas mágoas na
verdade diziam
respeito a uma
rotina esvaziada
de objetivos e
fins úteis a si
mesma e ao seu
entorno.
Cuidar da filha
a vida
inteira (e
me valho aqui de
expressão
repetida por
esta mulher em
nossas sessões)
a manteve
ocupada e
negligente
em relação às
reais
necessidades de
mudança e
aperfeiçoamento
do seu Ser em
trânsito na
experiência
corpórea.
Como dispunha de
uma condição
econômica
estável, decidiu
ser voluntária
em centro de
educação de
crianças
especiais.
Começou o
trabalho de
maneira tímida e
episódica. Há
duas semanas me
contou, cheia de
entusiasmo, que
tinha assumido
uma função e
agora ia ao
centro
diariamente
pelas manhãs.
Sorrindo, me
disse que estava
feliz e
motivada.
Perguntei sobre
a filha e ela me
respondeu sem
titubeios: “confesso,
há tempos não
nos entendíamos
tão bem. Percebi
o quanto eu
estava exigindo
atenção e não
por amor..., mas
por
condicionamento,
controle e
apego. E,
convenhamos,
amor e apego são
coisas bem
distintas, não?”.
No meu trabalho
com mulheres,
homens e
crianças,
insisto em duas
coisas sempre:
a) não estamos
aqui, no
Planeta, para
gozar férias; b)
é muito
importante que
reconheçamos
nosso propósito
essencial e que
trabalhemos para
desenvolvê-lo e
dar-lhe
visibilidade.
Entretanto, um
precioso
segredo: a
partir do
momento em que
as pessoas estão
aptas a
conhecer/seguir
seu próprio
caminho,
contribuindo com
a florescência
do autoamor e o
bom destino da
Casa Comum,
certamente elas
contribuem de
forma mais
significativa
com a qualidade
de vida no
planeta.
Ademais, sem
exceção, como
criaturas
carregamos a
necessidade
inalienável do
trabalho
criativo –
que dá realidade
às nossas
potencialidades
e cor ao
nosso projeto
existencial.
Por fim,
abrir-se para as
forças criativas
é um instrumento
muito poderoso,
que pode também
agregar aspectos
internos de
cura sutis,
o que ajuda a
pessoa a se
viver viva,
entusiasmada no
momento
presente, sem
temer o futuro,
pois
reinventar-se,
além da casa ou
da varanda,
sempre vale a
pena.