MARCELO TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ (Brasil)
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A omissão dos bons
Várias questões de O
Livro dos Espíritos
figuram entre as minhas
preferidas. A 932 é uma
delas.
"932. Por que, no mundo,
tão amiúde a influência
dos maus sobrepuja a dos
bons?”
“Por fraqueza destes. Os
maus são intrigantes e
audaciosos, os bons são
tímidos. Quando estes o
quiserem,
preponderarão.”
Conheço gente que pensa
serem o bem e o mal duas
forças antagônicas e de
igual poder que vivem em
eterna luta. É a visão
maniqueísta, sobre a
qual já falei neste
livro.
É equivocado achar que o
bem e o mal têm igual
potência. O mal é
somente a ausência do
bem. Só isso. Quando o
bem chega, o mal bate em
retirada. É como a
escuridão. Ao acendermos
uma luz, um fósforo que
seja, a escuridão perde
a força. Se a rua está
às escuras e acendemos a
luz do quarto, não é a
escuridão que entra pela
janela, é a luz que sai
por ela.
Para quem acha que estou
sendo um tanto piegas,
vamos a exemplos com
mais sustança, como
dizem os antigos.
O livro Libertação,
do Espírito André Luiz,
psicografia de Chico
Xavier, mostra um vasto
local de baixíssima
vibração espiritual
comandado por uma
entidade astuta, mas
profundamente infeliz,
pois se mostra enredada
em planos de ódio e
vingança. Para pô-los em
prática, comanda vários
Espíritos igualmente
infelizes, que cumprem
suas ordens, atuando
sobre o psiquismo de
várias criaturas
encarnadas. A equipe da
qual André Luiz faz
parte inicia, então, com
amor, coragem e
paciência, um plano que,
aos poucos, vai
conduzindo aquelas almas
à redenção de si mesmas
pelo trabalho de
reerguimento moral. Ao
final do livro, a mãe
do, digamos, chefe do
bando aparece,
esplendorosa, nimbada de
luz para buscar o filho,
que não a via há muito
tempo, visto que, tão
logo desencarnou,
deixou-se levar por
sentimentos inferiores.
Ele, então, emocionado
ante a presença da mãe,
deixa cair toda a
máscara de crueldade,
revela-se frágil,
carente, a mãe o leva
embora e a luz do bem se
faz presente, inundando
o lugar de paz. O bem
não foi tímido, foi
audacioso, trabalhou de
forma diligente e o mal
se dissipou.
Outro ótimo exemplo está
no livro Sexo e
Obsessão, de Manoel
Philomeno de Miranda,
psicografia de Divaldo
P. Franco. No livro, o
Marquês de Sade (Sim,
ele mesmo!), Espírito
altamente vinculado ao
sexo vicioso – tanto que
a palavra sadismo deriva
do nome dele – mesmo
séculos depois de sua
morte, é também
surpreendido, no plano
espiritual, pela
presença da mãe. E com o
concurso dos amigos
espirituais (Sim, eles
mesmos!), é iniciado um
processo de redenção
daquela alma, pois o bem
sempre vence.
Assim também deve ser
conosco. Somos de fato
muito tímidos quando nos
defrontamos com o mal. E
não estou falando do mal
enorme, simbolizado por
um vampiro, uma
assombração ou coisa que
o valha. Tampouco estou
falando do bem em
grandes proporções.
Aliás, precisamos parar
de achar que bem e mal
são coisas de grandes
escalas. Também o são,
mas ambos estão
presentes nas pequenas
ações do dia a dia.
É curioso esse dado do
ser humano. Achar que
para fazer o bem é
necessária grande soma
em dinheiro, feitos
grandiosos etc. Conheço
gente que diz ter o
sonho de construir um
hospital se ganhasse na
loteria. De fato é um
sonho louvável, mas,
enquanto isso, os bancos
de sangue vivem vazios,
suplicando por doadores,
e quase ninguém aparece
para doar sangue. Por
essa razão, o mal,
representado por doentes
necessitados e baixos
estoques de sangue,
prospera. E prospera por
quê? Por fraqueza dos
bons, traduzida em
preguiça, falta de
interesse, medo da
agulha... E eu falo isso
de cadeira, pois sou
doador de sangue.
Fiz meu primeiro curso
universitário à noite no
Rio de Janeiro, morando
em Petrópolis. À época
(1988 a 1992), os ônibus
Rio-Petrópolis-Rio não
possuíam ar
condicionado. Nos dias
quentes, era necessário
abrir a janela para
refrescar o ambiente. Só
que havia janelas que
não eram janelas, eram
vidros. Quem viaja muito
em ônibus interurbanos
sabe que, dependendo da
poltrona comprada,
senta-se ao vidro, e não
à abertura da janela.
Eu, como viajava sempre,
já sabia quais assentos
eram janelas e quais
eram vidros.
Certa vez, num dia
quente de verão, cheguei
cedo à Rodoviária Novo
Rio e comprei janela.
Fui, então, lanchar.
Quando embarquei no
ônibus, havia um homem
sentado no assento
(janela) que eu havia
comprado. Em suma, ele
comprou um assento que
era no vidro, e não na
abertura da janela, e
sentou-se no meu lugar.
Ele, então, de forma
autoritária, me
despachando, disse para
que eu sentasse no lugar
dele, que era janela
também. Eu sabia que não
era, mas, por covardia
moral, sentei-me e vim
emburrado para casa, me
julgando o homem mais
tolo do mundo. Não havia
sido corajoso para lutar
pelo direito de sentar
no assento que eu havia
escolhido. Deixei o mal,
representado por um
sujeito folgado e
arrogante, me vencer.
O tempo passou, fui
pegando idade, estudando
a Doutrina Espírita e
aprendendo a não ser
omisso ante o mal nosso
de cada dia. Por várias
vezes, me vi em
situações parecidas como
a que relatei e fiz, com
educação e força moral,
fazer valerem os meus
direitos.
Um belo exemplo
aconteceu quando eu
esperava para atravessar
a rua na faixa de
pedestres e um carro só
faltou passar por cima
de mim para
estacionar... na faixa
de pedestres! Como logo
atravessei a rua, acabei
não me manifestando, mas
passei a ficar atento ao
fato. Tempos depois,
estava eu esperando para
atravessar no mesmo
local quando chegou um
carro, encostou mais à
frente e começou a dar
marcha a ré para
estacionar na faixa,
onde eu aguardava para,
no meu direito,
atravessar a rua. Não
arredei pé de onde
estava. Fiz o motorista
desistir de estacionar
na faixa e sair em busca
de outra vaga. Senti-me
vitorioso; o mal da
falta de respeito aos
direitos do próximo na
via pública havia sido
derrotado por mim. Fiz
valer o meu direito e o
de muitos pedestres.
Em 2005, estava em
Brasília, quando tive a
oportunidade de assistir
ao seminário
Diretrizes para uma vida
feliz, ministrado
pelo médium e tribuno
baiano Divaldo Pereira
Franco. Foi um seminário
de dois dias (sábado e
domingo à tarde). No
domingo de manhã, foi
promovido um bate-papo
de Divaldo com
dirigentes dos centros
espíritas da região, do
qual também participei.
Uma das perguntas feitas
a Divaldo versou
justamente sobre se
devemos ou não chamar
atenção de algum
companheiro do centro
espírita que está
fazendo algo errado.
Divaldo disse que sim.
Se a pessoa está errada,
deve ser chamada a
atenção, lógico que com
respeito e carinho, mas
precisa ser advertida, a
fim de não continuar
cometendo o mesmo erro.
- E se ela ficar
chateada? Perguntou
alguém. Resposta de
Divaldo:- Se ela
ficar chateada é
problema dela. O que não
podemos é deixar o mal
triunfar por receio
nosso.
Ele, então, aproveita a
deixa e conta que, certa
vez, depois de uma série
de palestras, estava na
fila do check in
do aeroporto, a fim de
voltar para Salvador,
onde mora. Veio, então,
um sujeito e furou a
fila, postando-se à
frente de Divaldo que,
então, disse: - O
senhor furou a fila.
O homem retrucou: -
Ah, mas eu estou com
pressa. Divaldo
rebateu: - As outras
pessoas também. Foi por
isso que elas chegaram
antes do senhor. Qual é
o seu destino? O
homem respondeu: -
Salvador. Divaldo
finalizou: - O meu
também. Por favor, para
o fim da fila.
O homem, então, não teve
alternativa a não ser
procurar o fim da fila e
lá esperar a sua vez.
Finalizando, Divaldo
disse uma frase que
nunca mais irei esquecer
e que levo comigo até
hoje, a fim de fazer
valer meus direitos e
não ser omisso diante do
mal: - Não confundam
falta de energia com
bondade.
Espero de coração que
você, que lê estas
linhas, tenha essa frase
sempre em mente e não
deixe prosperar o mal
presente nas pequenas
coisas do dia a dia.
Bibliografia:
1 -
FRANCO, Divaldo Pereira.
Sexo e Obsessão.
Livraria Espírita
Alvorada Editora (Leal),
1ª Ed., 2002, Salvador,
BA
2 -
KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos.
Federação Espírita
Brasileira (FEB), 60ª
Ed., 1984, Brasília, DF.
3 -
XAVIER, Francisco
Cândido. Libertação,
Federação Espírita
Brasileira (FEB), 12ª
Ed., 1986, Brasília, DF.