RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)
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A guerra de cada um
Na questão de número 742
de O Livro Dos
Espíritos, Kardec
indaga sobre qual é a
causa que leva o homem à
guerra. Os Espíritos
superiores nos ensinam o
seguinte: “Predominância
da natureza animal sobre
a natureza espiritual e
satisfação das paixões.
No estado de barbárie,
os povos não conhecem
senão o direito do mais
forte; por isso, a
guerra é para eles um
estado normal. À medida
que o homem progride,
ela se torna menos
frequente, porque lhe
evita as causas e,
quando é necessária,
sabe aliá-la à
humanidade”.
Você acha que as guerras
já acabaram? E se eu
afirmar que diariamente
elas acontecem?
Basta procurarmos a
definição do que seja
uma guerra no stricto
sensu e no lato
sensu. Em lato
sensu, ou seja, em
sentido amplo, a guerra
é a que nós conhecemos
de um país contra outro
ou, até mesmo, uma
guerra civil. Em
stricto sensu, ou
seja, em sentido mais
restrito, essa guerra
explode, infelizmente,
todos os dias envolvendo
pessoas. Os noticiários
da imprensa estão
repletos desses exemplos
lamentáveis. Nos dias
atuais uma senhora jovem
foi executada por um
grupo de pessoas que
resolveram fazer
“justiça” com as
próprias mãos. E a
vítima era inocente. Em
outro caso de grande
repercussão, uma menina
de treze anos foi
executada por outras
duas adolescentes por
motivo fútil. E se
fôssemos continuar a
citar exemplos, o espaço
não daria para outros
comentários. Na revista
ISTOÉ, edição de número
2320, de 14/05/2014,
páginas 64 a 66,
encontramos um estudo de
um sociólogo da USP que
nos revela dados
alarmantes: um milhão de
brasileiros participaram
de linchamentos nos
últimos 60 anos; duas
vezes por dia pessoas
são linchadas ou sofrem
tentativas de
linchamento no País. É a
guerra particular que
envolve pessoas com uma
carga muito grande de
ódio dentro de si.
Quando encontram um
motivo, por mais
injustificável que seja,
despejam sobre a vítima
todo o fel que trazem na
alma. Essa é a guerra em
seu stricto sensu,
que ainda abunda pelas
sociedades nos mais
diferentes países. É a
guerra de cada um.
Ensina Joanna de Ângelis
que o ódio é o filho
predileto da selvageria
que permanece em a
natureza humana.
Irracional, ele trabalha
pela destruição de seu
oponente, real ou
imaginário, não
cessando, mesmo após a
derrota daquele.
Muitas vezes pensamos
que o ódio capaz de tal
destruição já nasce
gigantesco como se fosse
um monstro devorador da
paz alheia. Mas não.
Esse ódio vai sendo
alimentado dia a dia
através de pequenos
desajustes que não
percebemos ou que não
valorizamos. Nasce
frágil como uma primeira
centelha de um grande
incêndio. Quando nos
irritamos e discutimos
no trânsito, ei-lo que
está começando a
irromper pequenino
dentro de nós. Quando
nos desentendemos com um
companheiro no trabalho,
ei-lo a dar os primeiros
passos dentro de nós.
Quando alimentamos a
discussão dentro do lar,
eis aí a tentativa do
ódio em nascer e crescer
se assim o permitirmos.
Quando revidamos uma
pequena ofensa, estamos
proporcionando ocasião
para que o ódio capaz de
destruir o outro ganhe
espaço. É a guerra
particular de cada um.
Conforme nos leciona
Joanna de Ângelis,
Amorterapia – eis a
proposta de Jesus.
A ignorância deve ser
combatida e o ignorante
educado.
O crime necessita ser
eliminado, mas o
criminoso merece ser
reeducado.
As calamidades de
quaisquer expressões
precisam ser extirpadas,
no entanto os seus
prepostos, na condição
de doentes, aguardam
amparo e cura.
O amor não acusa,
corrige; não atemoriza,
ajuda; não pune, educa;
não execra, edifica; não
destrói, salva.
Pitágoras, há mais de
2.500 anos afirmava o
seguinte: “Enquanto o
homem continuar a ser
destruidor impiedoso dos
seres animados dos
planos inferiores, não
conhecerá a saúde nem a
paz. Enquanto os homens
massacrarem os animais,
eles se matarão uns aos
outros. Aquele que
semeia a morte e o
sofrimento não pode
colher a alegria e o
amor”.
Não é o que temos feito?
Que nos perdoem aqueles
que aqui não se incluam,
mas a grande maioria,
infelizmente, veste a
carapuça.
Contaminamos rios;
poluímos a atmosfera;
dizimamos florestas em
busca do dinheiro;
submetemos pela força os
animais nas mais
diferentes situações e
pelos mais diferentes
motivos. São atitudes
agressivas que nos
conferem a sensação de
sermos todos poderosos,
principalmente quando a
impunidade acompanha com
o seu beneplácito tais
atitudes. Nessa onda de
tudo podermos, quando
nos deparamos com o
semelhante à nossa
frente que destoa da
maneira como pensamos,
ele corre o risco de ser
atropelado com a mesma
sensação de poder com
que viemos agredindo os
outros reinos da
Criação. É a guerra de
cada um. É a guerra em
seu stricto sensu.
Tão devastadora para
o seu autor como a outra
guerra, a que envolve a
muitas pessoas que se
atracam porque deixaram
crescer dentro de si as
pequeninas cargas de
ódio que foram minando o
amor que deveria ter
florescido no sentimento
de cada um. A guerra
ainda está por aí
procurando abrigo nos
corações invigilantes. É
a guerra de cada um que
deveria ser contra si
mesmo, contra as suas
imperfeições, mas que,
infelizmente, se volta
contra o próprio
semelhante a quem
deveríamos amar como a
nós mesmos.