JOSÉ LUCAS
jcmlucas@gmail.com
Óbidos, Portugal
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AVC espiritual?
Mais um dia de trabalho
para o Joaquim no
Hospital central onde é
psiquiatra. O dia
chuvoso trouxe-lhe
poucos pacientes.
Entretanto, foi chamado
para ver um doente que
tinha entrado nas
urgências com um AVC
(acidente vascular
cerebral).
Perguntava-se ele: “para
um psiquiatra?!“
Habituado às
idiossincrasias diárias
da vida de um médico
psiquiatra que
praticamente já vira de
tudo, lá disse à
auxiliar que podia
mandar entrar o doente
com o AVC, mas que
aquele assunto não era
da sua especialidade.
A enfermeira e a
auxiliar insistiam que
aquele AVC era
“diferente”, pois tinha
sido analisado pelos
médicos da urgência: o
doente não tinha nada e,
quando é assim…,
manda-se para o
psiquiatra!
Joaquim contava as horas
para sair do serviço,
regressar ao aconchego
do lar, revendo os
familiares.
O paciente lá entrou e,
depois de examinar
atentamente o seu
registo, de fato,
aparentemente, não tinha
qualquer patologia,
pensava Joaquim. No
entanto, o mesmo
aparentava todos os
sinais de um AVC.
Um familiar – a esposa
que o acompanhava –
disse que o doente
costumava passar por
situações “esquisitas”:
– “Sabe, doutor,
parece daquelas coisas
que se falam por aí…”.
Joaquim perguntou que
coisas.
– “Aquelas coisas de
médiuns…”, já
ouviu falar? Às vezes
lhe acontecem estas
coisas, sabe, senhor Dr…?!!!!”
– “Hummm…” – foi
a resposta discreta do
médico.
De repente, fez-se-lhe
luz.
Joaquim, além de médico
psiquiatra, era um
entendido e estudioso da
mediunidade (percepção
extrassensorial) e da
doutrina espírita (ou
Espiritismo), e as
coisas começaram a
compor-se no seu “puzzle”
mental.
Apercebeu-se de que o
doente era apenas um
médium deseducado, sem
conhecimento da
faculdade que possuía (o
sexto sentido ou
mediunidade) e daí os
achaques e as doenças
fantasmas.
Apercebeu-se também,
pela sua sensibilidade
espiritual, da presença
de um ser já falecido
junto do paciente,
começando a falar com o
Espírito (embora ambos,
paciente e familiar,
pensassem que o médico
estivesse falando com o
próprio doente), e,
mentalmente, foi pedindo
ajuda espiritual para
aquele ser que teria
falecido com AVC, cujos
sintomas, o médium, sem
saber, captava
telepaticamente.
Os médicos precisam
urgentemente conhecer o
Espiritismo e a
mediunidade, para melhor
poderem entender o ser
humano, na sua condição
de Espírito imortal
temporariamente num
corpo carnal
Passados uns 10 minutos
de evangelização e apelo
à confiança em Deus, o
doente foi recuperando a
lucidez, até voltar ao
“normal”, enquanto o
falecido com AVC era
recolhido pelos amigos
espirituais do médico
(guias ou anjos da
guarda).
Joaquim informou ao
paciente que estava tudo
bem e que podia ir para
casa; que não se
preocupasse e, em que
pese o alívio do mesmo,
o seu familiar não se
conformava: – “Mas,
oh! senhor doutor, não
lhe vai receitar nada?”.
Joaquim, habituado à
psicologia do
quotidiano, ripostou: –
“Olhe, a senhora
acredita naquelas coisas
que falou há pouco?”
– “Acredito sim,
senhor doutor.”
– “Então, pegue o seu
familiar e leve-o a um
centro espírita, na
localidade X, que lá ele
poderá ser ajudado, pois
o caso dele não é
físico, mas espiritual.”
O sorriso da esposa do
doente (como que dando a
entender que até que
enfim alguém a entendia)
foi o melhor pagamento
que o médico poderia ter
tido naquela noite
chuvosa.
E enquanto paciente e
familiar se despediam no
meio de mil
agradecimentos, Joaquim,
médico, psiquiatra,
espírita desde pequeno,
ficava a meditar em
quanto sofrimento
haveria por aí nesse
mundo afora, com pessoas
cuja doença seja,
apenas, ser portador de
uma faculdade espiritual
(mediunidade, sexto
sentido ou percepção
extrassensorial) que os
psiquiatras, não
conhecendo o
Espiritismo, rapidamente
etiquetam de psicóticas
e as encaminham para um
internamento
desnecessário.
Naquela noite, Joaquim
tinha tratado o seu
primeiro “AVC
espiritual” –
pensava ele, sorridente,
agradecendo a Deus a
oportunidade de ter sido
útil àquele ser
angustiado.
Estamos a crer que, um
dia, os currículos de
medicina contemplarão as
faculdades espirituais
do ser humano, a fim de
não serem catalogadas
como patologias.
Que venha depressa esse
tempo…