EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Campinas, SP
(Brasil)
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Sensíveis
prelúdios...
De acordo com a
médica Michaela
Gloecker, “nada
pode substituir
as vivências
infantis de
proteção,
confiança e
relacionamento
constante nos
primeiros três
anos. Mesmo
quando os pais
dividem esta
tarefa entre si,
ainda se mantém
um gesto
fundamental,
ideal, dessa
trindade: no
centro, a
criança, que
exige e aceita
tudo com
naturalidade, e
a seu lado, os
pais, que
acompanham seu
desenvolvimento,
alegram-se com
seus progressos
e, como
retribuição,
recebem o amor e
a confiança do
filho. Com isso
tocamos o lado
ideal do que
significa ser
pai e mãe: com
toda a
naturalidade, a
criança vive
protegida e com
plena confiança
nos pais. Porém
a mãe e o pai
são como que os
representantes
daquilo que em
todas as
religiões foi
venerado como
aspectos divinos
paterno e
materno, ao lado
do elemento
eternamente em
devir e que, no
cristianismo,
tem sua
designação
suprema na
Santíssima
Trindade. Quem
quando criança
experimentou a
aceitação
carinhosa e sem
reservas de sua
própria essência
tal qual ela é,
e também o
empenho para se
atingir o que é
puramente
humano,
verdadeiro e
bom, gosta de
lembrar-se de
sua infância
mesmo que tenha
sofrido pobreza
e penúria
materiais.
Jacques
Lusseyran
declarou em sua
biografia que o
amor que seus
pais nutriam por
ele, criança
cega, era como a
armadura mágica
que, uma vez
colocada,
protege por toda
a vida”.
Assim, de acordo
com a visão
desta pediatra,
reconhecemos: há
um ideal
materno/paterno
a ser
perseguido.
Mas, na prática,
o que acontece?
Será que
conseguimos em
nome do filho
dar forma
a esta imagem
de Pai e de Mãe?
Um dos grandes
desafios de se
educar filhos em
nossa época
nasce do fato de
pertencermos a
uma cultura que,
de forma
efetiva, não
valoriza a
maternidade como
um trabalho
válido e nobre.
No geral, as
pessoas
consideram
aceitável e
digna a
dedicação
integral à
esfera da
produção
(trabalho/carreira).
Em palavras
simples, há
escasso crédito
e apoio à
postura de quem
escolhe
dedicar-se aos
filhos,
especialmente
nos primeiros
três anos (1).
E a (nossa)
sociedade,
apegada às suas
prioridades
econômicas
(campo da
produção),
largamente
colabora para
desprestigiar o
trabalho de
educação das
crianças.
Afinal, quem
recebe os
maiores salários
no país?
Certamente não
são os
encarregados dos
cuidados com as
crianças, nem os
professores do
jardim da
infância, do
ensino
fundamental,
cujo ofício
expressivo
auxilia a missão
dos pais e mesmo
dos destinos
coletivos.
De outro lado,
felizmente há
bons motivos e
razões para o
cultivo da
esperança, pois
existem pessoas
que consideram a
função de
pai/mãe como uma
missão sagrada e
procuram tecer
práticas
criativas e
calorosas de
orientar seus
filhos e cuidar
deles, mesmo
diante dos
desafios e
obstáculos
diários (2).
E embora nos
deparemos mais e
mais com
situações
emocionais
desconcertantes,
porque o
ambiente social
é, no geral,
hostil para
a família educar
filhos saudáveis
(basta, aqui,
içarmos a ação
dos mass
media),
somos
testemunhas de
cuidados diários
de amor, apoio,
energia e
presença
calorosa por
parte de adultos
atentos e
responsáveis,
mães, pais (cuidadores
e professores)
plenamente
disponíveis a
assegurar o
desenvolvimento
ético e afetivo
de (suas)
crianças.
Façamos, pois,
com atenção e
amor o que nos
cabe em relação
à infância, e
para que os
jovens amanhã se
apaixonem pela
ética, beleza e
rejeitem, com
naturalidade, a
razão
intolerante
das usinas
nucleares, o
ódio reprimido
do holocausto,
pois, bem-amados
e acolhidos,
primeiro
aprenderam amar
para
depois
conhecerem...
E
como pais, pais
substitutos,
cuidadores,
professores,
médicos, amigos,
enfim, cidadãos,
atenta e
conscientemente,
nos deixemos
guiar por
impulsos
micaélicos (3)
para que sejamos
inspirados a
tratar a criança
valorizando sua
natureza e
necessidades,
procurando não
trair, nem
agredir seus
olhares
brilhantes.
Afinal, sem
exceção, “toda
criança traz
consigo a
mensagem de que
Deus não
desanima” (Tagore).
E, por fim,
porque senão a
estória alonga,
como a vida
não é uma
corrida em linha
reta, em
nome dos filhos,
e por isso pelo
bem de toda
criança, sejamos
afetivos,
respeitosos,
vibrantes, pois
é este prelúdio
(breve) da
existência que
dá solo seguro
às virtudes –
elas então
florescerão e
como um
projeto humano
infinito.
Notas:
(1) No Brasil as
empresas podem
aderir ao
programa Empresa
Cidadã e que
permite a
ampliação da
licença-maternidade
de 4 para 6
meses. A
concessão do
benefício é uma
opção da
empresa, que
poderá abater a
despesa do
Imposto de
Renda. Depois da
adesão, a
funcionária tem
um prazo de 30
dias após o
nascimento para
requerer a
ampliação. Ela
tem direito ao
salário
integral. A
medida também
vale para casos
de ação. A
regulamentação
desse benefício
foi publicada no
dia 22 de
janeiro de 2014
no Diário
Oficial da
União, e mais de
um ano após o
Congresso
aprovar a lei
que criou esse
programa
(Empresa
Cidadã),
ampliando o
prazo para 6
meses. As
vantagens
fiscais, no
entanto,
limitam-se às
empresas que
fazem a
declaração do
Imposto de Renda
pelo sistema de
lucro real (a
maioria é de
grande
corporação), o
que reduz o
alcance da
medida, pois as
empresas
incluídas no
simples ou no
sistema de lucro
presumido não
têm como abater
a despesa
(Fonte: Agência
Estado).
(2) Conheço mães
que lutam muito
para manter a
presença (com
cuidado e afeto)
no cotidiano dos
filhos, apesar
da jornada
laboral diária.
Atendo outras,
ansiosas, diante
do fim da
licença-maternidade,
ou em razão do
desemprego do
marido, ou mesmo
“mães
provedoras”,
solitárias e que
se sentem
desamparadas,
buscando coragem
para dar conta
da prole...
Ainda, procuro
ajudar
homens/pais que
criam sozinhos
seus filhos, sem
a figura da mãe.
E muitos destes
adoráveis
indivíduos, em
suas lutas,
estão a caminhar
bem e os filhos
se sentem,
apesar de um
quadro doméstico
diferenciado,
seguros e
acolhidos. E a
prática
terapêutica, ao
menos a que
procuro
partilhar,
reconhece que o
amor
sempre dirige e
dá um contorno
feliz aos rumos
familiares, e
mesmo para estes
“modelos
familiares” que
surgiram nos
últimos tempos e
estão a firmar
ou, ainda,
perante os
(duros) desafios
econômicos
contemporâneos.
(3) Quando digo
“micaélico”
penso aqui tanto
no caráter de
Miguel Arcanjo,
nas suas
virtudes
angelicais como
coragem – que
significa uma
ação movida pelo
coração –, como
nos Espíritos
que, no
Invisível, estão
a auxiliar os
movimentos
ligados a tornar
a infância um
período sagrado
na Terra e para
que almas possam
se desenvolver
com serenidade e
segurança, ou
seja, a força
micaélica a meu
ver pode
representar a
necessidade de
um modelo de
educação
integralmente
apoiado nos
critérios do
Amor pregado por
Jesus.