ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
|
|
Algumas lições
da Copa do Mundo
de 2014
Os estudiosos e
historiadores
terão alguns
aspectos
importantes para
analisar e
debater sobre o
legado da Copa
do Mundo de 2014
no Brasil. O
primeiro envolve
o futebol e a
sua capacidade
extraordinária
de alavancar
interesse e
paixão. O
futebol é, sem
dúvida, um
esporte
fascinante,
singular, único
capaz de reunir
países inteiros
em torno de uma
tela de
televisão como
nenhum outro
faz. É obvio
também que há
bem menos
artistas da bola
– capazes de
provocar
verdadeiros
êxtases nas
multidões – na
atualidade do
que no passado.
Em decorrência,
já não se veem
tantas jogadas
ou lances
espetaculares
como outrora.
Essa Copa também
comprovou tal
deficiência
criativa.
De fato, com o
passar dos anos
o futebol vem
sendo jogado de
maneira mais
pragmática,
horizontalizada,
bem menos
elegante, enfim.
O objetivo é a
vitória, mesmo
que por meio de
um placar
exíguo. O
espetáculo
propriamente
dito ficou em
segundo plano.
Enquanto isso, o
preparo físico e
o posicionamento
dos jogadores
(esquema tático)
em campo
ganharam
preponderância
nos últimos
tempos. Em
consequência, o
futebol perdeu
certo brilho,
pois os dribles
desconcertantes,
as jogadas mais
ousadas e a
alegria foram
quase extintas
em nome da
aplicação
tática. Desse
modo, o futebol
moderno é jogado
por muitos
jogadores bons,
mas pouquíssimos
excepcionais,
isto é, aqueles
de causar
veneração.
Apesar disso,
viram-se na Copa
de 2014 jogos
disputadíssimos,
o frenesi das
arquibancadas e
a bola
balançando as
redes para o
contentamento
geral. Em suma,
mais uma vez o
futebol como
esporte de
massas ganhou!
Entretanto, a
nota dissonante
desse imenso
evento foi o
desempenho da
nossa seleção. O
fracasso obtido
em campo
demandará
profundas
mudanças e
reformulações
nos métodos e
sistemas de
trabalho de
jogadores e
técnicos. Temos
de reconhecer,
com muita
humildade, que
já não somos os
melhores há um
bom tempo. Essa
Copa expôs com
muita clareza,
aliás, todas as
nossas
deficiências e
mazelas
técnicas. Mas
isso é assunto
para
especialistas e
não pretendemos
aqui avançar
sobre essa
matéria – até
porque o nosso
povo conhece bem
futebol e sabe o
que é preciso
ser feito.
Os estádios, por
sua vez, estavam
quase sempre
lotados e
acomodaram
convenientemente
os torcedores.
Em termos de
infraestrutura,
é de se
lamentar,
contudo, que boa
parte das obras
de mobilidade
urbana e
aeroportos – que
constituiriam um
verdadeiro
legado à
população – não
tenham ficado
prontas a tempo.
Mas nós
brasileiros
sabemos muito
bem que as
coisas em nosso
país ainda
funcionam assim.
Falhamos
clamorosamente
na execução das
coisas, mas
certamente
superaremos esse
problema um dia.
Por outro lado,
se deixamos a
desejar nesse
particular,
felizmente foram
dissipadas as
mais temíveis
nuvens de
preocupações que
antecediam a
Copa quanto ao
ambiente interno
do país.
As orações e
vibrações dos
que almejavam a
paz nos corações
humanos foram
ouvidas pela
espiritualidade
maior que
afastaram ou
neutralizaram
entidades
mal-intencionadas
que desejavam a
prevalência de
um cenário
assombroso de
embates
sangrentos e
destruições
generalizadas.
Posto isto, não
seria exagero
afirmar que o
povo brasileiro
foi campeão
mundial em
simpatia,
congraçamento,
fraternidade,
acolhimento,
alegria e
amizade aos
membros dos
povos que nos
visitaram.
Demonstramos
elegância até
mesmo num
momento de
suprema dor
coletiva com a
derrota
fragorosa da
nossa seleção.
Suportamos com
estoicismo a
gozação de
torcedores de
outros países,
especialmente de
argentinos, que
chegaram a
afirmar que, se
tivesse sido o
contrário, a
reação deles
teria sido
provavelmente
violenta.
Portanto,
conseguimos
mostrar ao mundo
que é, sim,
possível
conviver
pacificamente
mesmo num
momento de
adversidade.
Surpreendemos
positivamente
até mesmo os
nossos vizinhos,
que ficaram
admirados pelo
tratamento
cordial e humano
recebidos.
Quando se vê
tanta violência
e desamor
eclodindo na
face da Terra, o
Brasil
apresentou ao
planeta que o
esporte pode
servir de
alavanca para
aproximação e
amizade entre as
pessoas de
diferentes
nacionalidades.
As lições da
Copa do Mundo de
2014 servem de
reflexão para
todas as nações
em conflito e as
amantes do
esporte.