Continuamos
o estudo
metódico e sequencial do
clássico "No Invisível",
de Léon Denis, cujo
título no original
francês é
Dans l'Invisible.
Questões preliminares
A. É verdade que os
profetas israelitas eram
médiuns inspirados?
Sim. Essa é a única denominação que lhes convém. O profetismo em
Israel, durante vinte
consecutivos séculos,
foi um dos fenômenos
transcendentais mais
notáveis da História. A
crítica contemporânea
nada compreendeu ou
fingiu nada compreender
em tal sentido;
acreditou simplificar
tudo, recorrendo à
negação. A exegese
católica desnaturou o
fato, imaginando
explicar tudo com uma só
palavra: o milagre. E,
todavia, outra expressão
mais justa encontrou,
quando denominou os
profetas de “harpas
vivas do Espírito
Santo”. Inúmeros
exemplos colhidos na
Bíblia nos demonstram
que a História de Israel
é o mais belo poema
mediúnico, a epopeia
espiritualista por
excelência. É o que um
dia indubitavelmente
dirá a exegese
científica. E graças a
ela se dissiparão as
obscuridades dos Livros
sagrados.
(No Invisível, 3ª Parte. XXVI - A
mediunidade gloriosa.)
B. A música desempenhava
papel importante na
iniciação profética?
Certamente. É sabido que a música imprime o ritmo na emissão
fluídica e facilita a
ação das entidades
invisíveis, visto que a
preparação era laboriosa
e difícil o noviciado.
Durante os dois
primeiros anos, o
aspirante profeta era
simplesmente médium
passivo; depois,
aprendia a tornar-se
ativo e, pela
exteriorização, a ler no
invisível os quadros, a
norma dos acontecimentos
futuros.
(Obra citada, 3ª Parte. XXVI - A
mediunidade gloriosa.)
C. Que faculdades
mediúnicas tinha Moisés?
Várias faculdades. Moisés era vidente e auditivo. Ele viu Jeová, o
Espírito protetor de
Israel, na sarça do
Horeb e no Sinai. Quando
se inclinava diante do
propiciatório da arca da
aliança, escutava vozes.
Foi médium escrevente
quando, sob o ditado de
Eloim, escreveu as
tábuas da lei; médium
ativo, magnetizador
poderoso, quando
fulminou com uma
descarga fluídica os
hebreus revoltados no
deserto; médium
inspirado, quando entoou
seu maravilhoso cântico
após a derrota do Faraó.
Moisés apresentava ainda
o gênero especial de
mediunidade – a
transfiguração luminosa
– observada em certos
fenômenos
contemporâneos. Quando
ele desceu do Sinai,
trazia na fronte uma
auréola de luz.(Obra citada, 3ª Parte. XXVI - A mediunidade
gloriosa.)
Texto para leitura
1205. O profetismo em Israel, durante vinte consecutivos séculos, é
um dos fenômenos
transcendentais mais
notáveis da História. A
crítica contemporânea
nada compreendeu ou
fingiu nada compreender
em tal sentido;
acreditou simplificar
tudo, recorrendo à
negação. A exegese
católica desnaturou o
fato, imaginando
explicar tudo com uma só
palavra: o milagre. E,
todavia, outra expressão
mais justa encontrou,
quando denominou os
profetas de “harpas
vivas do Espírito
Santo”. Assim, nesse
ponto, como em tantos
outros, a Ciência e a
Religião, isoladas, não
podem ministrar mais que
incompletas noções; só a
doutrina espírita, que
serve de traço de união
entre uma e outra, as
pode reconciliar.
1206. O Espiritismo penetrou o mistério aparente das coisas;
projeta as claridades do
Além sobre a teologia,
que completa, e sobre o
experimentalismo, que
esclarece. A verdade é
que os profetas
israelitas são médiuns
inspirados; esta é a
única denominação que
lhes convém, como
veremos adiante, com
exemplos colhidos na
Bíblia. Eles nos
demonstrarão que a
História de Israel é o
mais belo poema
mediúnico, a epopeia
espiritualista por
excelência. É o que um
dia indubitavelmente
dirá a exegese
científica. E graças a
ela se dissiparão as
obscuridades dos Livros
sagrados. Tudo se
explicará, tudo, ao
mesmo tempo, se tornará
simples e grande.
1207. A origem do
profetismo em Israel é
assinalada por imponente
manifestação. Um dia,
Moisés escolhe 70
anciães e os coloca ao
redor do tabernáculo.
Jeová revela sua
presença em uma nuvem;
imediatamente as
poderosas faculdades de
Moisés se transmitem aos
outros e “eles
profetizaram”. O
tabernáculo aí
representa um acumulador
ou condensador fluídico;
é um meio de
exteriorização, como os
espelhos de metal
brilhante; fixando-se
nele o olhar,
provocava-se o transe.
1208. A manifestação de
Jeová na nuvem é uma
espécie de
materialização. Esta,
como vimos, sempre
começa por uma
aglomeração nebulosa,
vaga a princípio, na
qual a aparição se
desenha e toma forma
pouco a pouco. Jeová é
um dos Eloim, Espíritos
protetores do povo judeu
e de Moisés em
particular. Sob a
influência que no
momento exerce, os
poderes espirituais de
Moisés se transmitiram
aos 70 anciães, como os
poderes do Cristo se
transmitiram mais tarde,
parcialmente, aos
apóstolos, no Cenáculo,
e como hoje em dia
vemos, em certos casos,
a mediunidade
transmitir-se de uma
pessoa a outra por meio
de contacto e de passes.
1209. Assim começa o profetismo, ou mediunidade sagrada, em Israel.
Moisés, iniciado nos
mistérios de Ísis,
graças à sua longa
permanência no Egito, e
sobretudo em
consequência de suas
relações familiais com
seu sogro Jetro,
grão-sacerdote de
Heliópolis, foi a seu
turno o grande iniciador
psíquico de seu povo,
antes de se constituir o
seu imortal legislador.
1210. Desde então a mediunidade profética se tornou permanente na
raça judaica, posto que
intermitente em suas
manifestações. Está
visivelmente subordinada
a certos estados
psicológicos, que não
são sempre constantes
nem nos indivíduos nem
nos povos. Ao tempo dos
Juízes, o profetismo era
“coisa rara”. Com Samuel
reaparece, fulgura com
um novo esplendor. Nessa
época o estado de alma
do povo hebreu se
prestava melhor a tal
fenômeno. Na vida das
nações há períodos de
perturbação intelectual
e depressão moral que
obrigam o Espírito a
momentaneamente se
afastar. A França também
tem conhecido suas horas
de obscuridade e de
incerteza.
1211. Tendo compreendido que a mediunidade transcendente está
subordinada às
disposições morais dos
indivíduos e das
sociedades, Samuel
instituiu escolas de
profetas, isto é,
agremiações em que os
seus membros se
iniciavam nos mistérios
da comunicação fluídica.
Essas escolas eram
estabelecidas em certas
cidades, de preferência,
porém, nos vales
solitários ou nos
recôncavos das
montanhas.
1212. O estudo, a contemplação do infinito, no silêncio e beleza
das noites, ao cintilar
das estrelas, ou ainda à
claridade do dia, sob o
límpido céu do Oriente,
prepara o
discípulo-profeta para
receber o influxo do
Alto. A soledade o
atrai; à medida que se
afasta dos homens e se
insula, uma comunhão
mais íntima se
estabelece entre ele e o
mundo das forças
divinas. Pelos
desfiladeiros profundos
das montanhas da Judeia,
nas desertas cavernas da
cadeia selvagem de Moab,
ele sonha, presta ouvido
atento às mil vozes
dessa Natureza austera e
grave que o rodeia. É
que a Natureza inteira,
penetrada pela
substância divina, é um
médium, isto é, um
intermediário entre o
homem e os seres
superiores.
1213. Tudo se liga no Universo imenso; uma cadeia magnética prende
entre si todos os seres,
os mundos todos. Só a
nossa ciência
fragmentária e o excesso
dissolvente do espírito
crítico foram capazes de
destruir essa magnífica
síntese e insular o
homem moderno do resto
do Universo e de seus
harmoniosos planos.
1214. A música
desempenhava também
grande papel na
iniciação profética. É
sabido que essa arte
imprime o ritmo na
emissão fluídica e
facilita a ação das
entidades invisíveis. A
preparação era
laboriosa, difícil o
noviciado. Durante os
dois primeiros anos, o
aspirante profeta era
simplesmente médium
passivo; depois,
aprendia a tornar-se
ativo e, pela
exteriorização, a ler no
invisível os quadros, a
norma dos acontecimentos
futuros. Esse exercício
era longo e sujeito
muitas vezes a enganos.
1215. Influências sucessivas e contrárias se apossavam não raro dos
profetas. Tal é o
exemplo de Balaão, que
parte para amaldiçoar as
tribos e é obrigado a
profetizar a sua glória.
Nunca, como nesse
episódio bíblico, foi
mais patente a dualidade
dos Espíritos
inspiradores. Será
difícil, às vezes,
distinguir na
mediunidade, qualquer
que seja a sua natureza,
a parte do médium e a do
Espírito. Daí
contradições aparentes,
uma espécie de luta
psicológica íntima entre
o médium e o que o
inspira; é o combate
simbólico de Jacob e o
anjo; mas o Espírito
sempre termina por
vencer e sua luz
impregna vitoriosamente
a mentalidade e a
vontade do sensitivo.
1216. Convém, todavia, não esquecer que o Espírito, quando é de
natureza elevada, jamais
violenta o sensitivo de
que se apodera, respeita
a sua personalidade, a
sua liberdade, procede
sempre com delicadeza e
só emprega a persuasão.
É por esse motivo que
cada profeta, quer seja
grande como Isaías ou
humilde como o pastor
Amós, conserva, no
desempenho de sua
missão, a linguagem
habitual e o cunho de
sua personalidade.
Assim, em nossos dias,
dois médiuns, ao
interpretarem a mesma
revelação, não se
exprimirão nos mesmos
termos nem verão com
igual clareza.
1217. A cada página da
Bíblia encontramos
textos que afirmam a
mediunidade sob todas as
suas formas e em todos
os seus graus. Sob os
nomes de anjos, deuses
etc., os Espíritos
protetores dos homens ou
das nações tomam parte
em todos os fatos,
intervêm em todos os
acontecimentos.
1218. Moisés é vidente e auditivo. Ele vê Jeová, o Espírito
protetor de Israel, na
sarça do Horeb e no
Sinai. Quando se inclina
diante do propiciatório
da arca da aliança,
escuta vozes (“Núm.”,
VII, 89). É médium
escrevente quando, sob o
ditado de Eloim, escreve
as tábuas da lei; médium
ativo, magnetizador
poderoso, quando fulmina
com uma descarga
fluídica os hebreus
revoltados no deserto;
médium inspirado, quando
entoa seu maravilhoso
cântico após a derrota
do Faraó. Moisés
apresenta ainda o gênero
especial de mediunidade
– a transfiguração
luminosa – observada em
certos fenômenos
contemporâneos. Quando
ele desce do Sinai, traz
na fronte uma auréola de
luz.
1219. Samuel, cujo nascimento, como o dos predestinados, foi
precedido de oráculos e
de sinais, tornou-se
profeta desde a
infância. Dormindo no
templo, é muitas vezes
despertado por vozes que
o chamam, lhe falam no
silêncio da noite e lhe
anunciam as coisas
futuras (I, “Reis”, III,
1 a 18).
1220. Esdras (livro IV, cap. XIV) reconstitui integralmente a
Bíblia que se tinha
perdido, e isso em
condições em que ainda
se patenteiam diferentes
gêneros de mediunidade.
A voz lhe diz:
“Prepara uma grande
porção de tabuinha e
ajunta-se com cinco
escribas expeditos e
hábeis. E eu acenderei
em teu coração a lâmpada
da inteligência, que não
se apagará até que
tenhas acabado de
escrever o que houveres
começado. – Minha boca
se abriu e não tornou a
fechar-se. Ditei sem
cessar, noite e dia. E o
Altíssimo deu
inteligência aos cinco
homens que estavam
comigo, e eles
escreveram as revelações
da noite, coisa que não
compreendiam. E assim,
durante quarenta dias,
foram escritos 204
livros.”
1221. Jó (ou Job) teve uma visão que é o tipo perfeito da
materialização espírita.
Todo o livro de Jó está
repleto de iluminações e
de inspirações
mediúnicas. Sua própria
vida, atormentada de
maus Espíritos, é um
assunto de estudos
muitíssimo sugestivos.
1222. A Bíblia menciona
casos frequentes de
obsessão, entre outros,
em Saul, que é muitas
vezes subjugado por um
Espírito colérico: “Em
sua alma abandonada, um
Espírito maligno se
introduz”. É um
fenômeno de incorporação
perfeitamente
caracterizado. Saul foi
ao começo um médium “do
Senhor”; mas, em
consequência de faltas
graves e de uma vida
desordenada, perdeu sua
faculdade ou, antes, se
tornou instrumento de
Espíritos inferiores.
Essa perda, ou
enfraquecimento dos
poderes mediúnicos é
frequente nos que se
deixam dominar pelas
paixões. A mediunidade
se deprime e desaparece
sem causa aparente; mas,
ordinariamente, porque
se modificaram as
disposições íntimas do
médium.
1223. A missão dos
profetas, como a dos
médiuns contemporâneos,
era acidentada de
ciladas. São dignos de
ler, no capítulo XI da
Epístola aos Hebreus, as
provas, as humilhações,
os sofrimentos por que
passavam esses médiuns
inspirados. Uma das mais
penosas tarefas da vida
do profeta era lutar
contra os impostores.
1224. Sempre houve, e haverá sempre, falsos profetas, isto é,
médiuns impulsionados
por Espíritos malignos.
Seu objetivo, ao que
parece, é contrariar a
ação dos verdadeiros
profetas, semear a
discórdia em seus
centros habituais.
Muitos grupos espíritas
se têm desorganizado sob
a influência dos
Espíritos inferiores. É
por isso que a grande
habilidade do
espiritualista consiste
em acautelar os centros
contra a preponderância
dessas nefastas
influências, que se
comprazem obstinadamente
em perturbar a ação dos
missionários de paz e de
verdade.
1225. Em resumo, a obra dos profetas hebreus foi considerável. Suas
prédicas monoteístas e
moralizadoras prepararam
o advento do
Cristianismo e a
evolução religiosa da
Humanidade. Homens que
praticavam a meditação,
o recolhimento e a
prece, os grandes
médiuns israelitas
sabiam e ensinavam que o
comércio com o invisível
é um princípio
regenerador. Eles tinham
por missão
espiritualizar a
religião de Moisés, que
tendia a
materializar-se, do
mesmo modo que o
Espiritismo
contemporâneo tem também
a missão de
espiritualizar a
sociedade atual, que
cada vez mais se
dissolve, e reconduzir
as Igrejas às límpidas
tradições do
Cristianismo primitivo.
1226. Os profetas hebreus foram os conselheiros dos reis de Israel,
os verberadores dos
abusos de poder, os
consoladores do povo
aflito e oprimido. Como
todos os homens de
gênio, haviam percorrido
numerosas vidas,
existências de trabalho,
de investigação penosa,
que neles tinham
desenvolvido a intuição
profunda. Sua penetração
das coisas e sua
maravilhosa perspicácia
eram simplesmente os
frutos de encarnações
anteriores. Tendo vivido
no passado de Israel,
possuíam uma perfeita
inteligência da alma de
sua nacionalidade.
Assim, João Batista, que
era a reencarnação de
Elias, preparou
eficazmente seus irmãos
para a revelação de
Jesus.
1227. O tema habitual do ensino profético era antes de tudo a
adoração “em espírito e
verdade”. Os profetas
combatiam energicamente
o formalismo farisaico
da lei e proclamavam
abertamente que a
circuncisão do
sentimento vale mais que
a da carne. Assim também
em nossos dias os
Espíritos condenam as
práticas materiais e o
acanhado farisaísmo dos
falsos devotos, de todos
quantos, a pretexto de
religião, substituem os
preceitos do Evangelho
por supersticiosas
práticas.
1228. A virtude, que os
videntes de Israel mais
recomendavam era a
justiça. A palavra justo
significava então o
conjunto das virtudes:
“Dar a Deus o que é de
Deus e aos homens o que
lhes pertence”. Por toda
parte se constituíam
eles os advogados dos
pobres, desses
deserdados que então
eram chamados os Ebionim.
Depois do pecado de
idolatria, o desprezo
dos pobres e opressão
dos fracos era o mais
vivamente profligado.(1)
1229. Isaías, sobretudo, é o eloquente defensor dos pobres. O
Messias por ele
anunciado é aquele que
julgará os pobres com
justiça (Isaías, XI, 4).
É precisamente por esse
grande amor aos humildes
que certos racionalistas
modernos qualificaram os
profetas de demagogos,
de apaixonados inimigos
de toda dinastia.
1230. Na realidade, três grandes revelações mediúnicas dominam a
História. Aos profetas
de Israel sucedeu o
médium divino, Jesus. O
Espiritismo é a última
revelação, a difusão
espiritual anunciada por
Joel (II, 28, 29),
“quando o Espírito se
derramará como uma
aurora sobre o mundo, e
os velhos serão
instruídos por sonhos e
os mancebos terão
visões”.
1231. O próprio Reuss(2)
concorda que, segundo
esse oráculo, “a efusão
do Espírito será tão
ampla que a nação
inteira se tornará um
povo de profetas”.
Assim, a ação física do
Além transformará o
mundo futuro numa
humanidade de videntes e
auditivos. A mediunidade
será o último estado da
raça humana
encaminhando-se ao termo
de seu destino.
(Continua no próximo
número.)
(1) Profligado – particípio do verbo profligar:
lançar por terra;
abater, prostrar,
destruir, derrotar;
procurar destruir com
argumentos; atacar ou
cambater com palavras;
reprovar energicamente;
verberar.
(2) Trata-se,
provavelmente, de
Theodor Reuss
(1855-1923),
anglo-alemão, fundador
da ordem Ordo Templi
Orientis.