EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Campinas, SP
(Brasil)
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O céu está em
festa. O pássaro
encantado
retornou...
– Pode ir,
pássaro. Volta
quando
quiseres...
– Obrigado,
menina. Tenho
que partir. E
preciso partir
para que a
saudade chegue e
eu tenha vontade
de voltar.
Longe, na
saudade, eu
ficarei mais
bonito. Sempre
que eu ficar com
saudade, tu
ficarás mais
bonita. E
enfeitar-te-ás
para me
esperar...
(A menina e o
pássaro
encantado –
Rubem Alves.)
Rubem Alves,
escritor e
educador, de 80
anos, faleceu no
fim da manhã de
sábado (19 de
julho), em
Campinas (SP),
em decorrência
de falência
múltipla de
órgãos. Uma alma
delicada, ele
enfrentava um
câncer há alguns
anos e estava
internado desde
o dia 10 de
julho de 2014.
Referência no
País em temas
relacionados à
educação, Rubem
Alves, um
encantador,
lidou com as
palavras com
raro talento...
Como um ser
humano
inspirador,
teceu uma obra
vasta,
acrescentando
poesia,
“esperança da
beleza e da
alegria” para
cada assunto que
tratou, seja
sobre gente,
bicho, árvore,
ou sobre as
pobres almas
mutiladas,
prisioneiras na
mesmice da sala
de aula, porque
ali,
infelizmente,
ninguém aprende
nada, só repete
“boca de
forno, forno”...
Desde que o
leio, e por isso
me sinto no
direito
(autêntico) de
considerar que o
conheci – ao
menos um pouco,
claro, pergunto
a mim mesma
acerca da sua
(real) vocação.
Sem temor não
seria absurdo
supor que o tom
de alma de Rubem
Alves agregou,
entre outros
ritmos, uma
elegante
maestria apta a
despertar, em
cada um de nós,
crianças que
somos, um apelo
transformador
por um mundo
mais inspirador,
um mundo onde as
pessoas estejam
alegremente
vivas e
criativas.
Alves nasceu no
dia 15 de
setembro de 1933
em Boa
Esperança, no
Sul de Minas
Gerais, e morava
em Campinas há
décadas. Um dos
intelectuais
mais respeitados
do Brasil, e
muito amado por
toda gente, de
forma versátil
publicou
diversos textos
em jornais e
revistas do País
e atuou como
cronista, poeta,
filósofo,
contador de
histórias,
ensaísta,
teólogo, autor
de livros
infantis...
Sobre o amor
pela educação,
escreveu: “Educar
não é ensinar
matemática,
física, química,
geografia,
português. Essas
coisas podem ser
aprendidas nos
livros e nos
computadores.
Dispensam a
presença do
educador, educar
é outra coisa.
(...) A primeira
tarefa da
educação é
ensinar a ver.
(...) Quem vê
bem nunca fica
entediado na
vida”.
Em entrevista à
Globo News em
agosto de 2012,
o mineiro Alves
defendeu que a
educação no
Brasil deveria
passar por
mudanças. “Na
educação, a
coisa mais
deletéria na
relação do
professor com o
aluno é dar a
resposta. Ele
tem que provocar
a curiosidade e
a pesquisa”,
considerou.
A prova do
vestibular
também foi tema
de críticas à
época. “Se os
reitores das
universidades
fizessem
vestibular,
seriam
reprovados,
assim como os
professores de
cursinho. Então,
por que os
adolescentes têm
que passar?”,
questionou.
Em um texto
biográfico no
site oficial, o
educador
escreveu trechos
sobre a morte: “Eu
achava que
religião não era
para garantir o
céu, depois da
morte, mas para
tornar esse
mundo melhor,
enquanto estamos
vivos”.
Em carta à
filha, Rubem
Alves pediu para
ser cremado. E,
segundo seus
bonitos desejos,
teve suas cinzas
jogadas embaixo
de um ipê
amarelo enquanto
foram lidos
textos de seus
poetas
preferidos, como
Cecília Meireles
e Fernando
Pessoa...
Até breve, “Pássaro
encantado”,
e continue a se
cuidar. E
sentiremos
saudade.
Notas:
As obras de
Rubem Alves, que
englobam um
legado vasto e
sensível, vão de
teologia a
clássicos
infantis. Para
saber mais,
consulte:
www.rubemalves.com.br/.