MARCUS
VINICIUS DE AZEVEDO
BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
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A hipótese
insuperável
de Kardec
Terminei esta
semana a leitura
do livro
“Kardec, a
biografia”, de
Marcel Souto
Maior. Gostei do
Livro, com os
senões (e
vantagens) de
uma obra escrita
por alguém que
está de fora das
fileiras
espíritas, pelo
menos no
discurso, mas
que soube
retratar de
forma leve os
eventos
históricos que
conduziram a
chamada
codificação da
doutrina
espírita e que
hoje nos alenta
e nos inspira,
nas lutas
cotidianas.
Bem redigido, de
forma clara e
didática,
antecipando o
roteiro da
película a ser
produzida, o
livro mostra um Kardec homem,
com
dificuldades,
inserido em um
contexto
político e
filosófico, para
assim ser o
baluarte do
espiritualismo
moderno, que
entre mesas
girantes e
cadernos
manuscritos,
produziu um
manancial de
conhecimento a
influenciar o
mundo até hoje,
passados mais de
150 anos.
A leitura do
livro mostrou-me
um homem de
ciência, sagaz e
bem-intencionado
que, diante de
fenômenos
populares
envolvendo mesas
girantes, busca
identificar a
sua gênese e com
o apoio das
informações
fornecidas pelos
próprios
causadores dos
fenômenos, os
Espíritos,
elabora assim
uma tese que deu
conta daquela
casuística,
abrangendo um
sistema
filosófico
amplo, sobre a
natureza e o
destino do ser
humano no
universo.
Essa tese,
fundamentada na
imortalidade da
alma, na
comunicabilidade
dos Espíritos e
nas múltiplas
existências,
inédita na sua
integração, jaz
insuperável,
influenciando um
sem-número de
produções
culturais, que
trazem nesse
paradigma seu
espelho, no
qual, apesar da
baixa difusão
percentual do
Espiritismo como
movimento
religioso, esta
doutrina tem,
por meio de seus
princípios
basilares,
conquistado seu
espaço nesses
mais de 150
anos, ao sol das
ilações sobre a
vida futura.
A imortalidade
da alma,
hipótese comum à
maioria das
religiões, tem
mais
recentemente
ganhado corpo
nas pesquisas
sobre EQM-Estado
de Quase Morte
do Dr. Raymond
Moody Júnior e
Sam Parnia, na
análise de
pessoas que em
estado de coma
retornam à vida
e narram
situações
similares. A
despeito das
hipóteses
formuladas sobre
a ação do
subconsciente,
os estudos
continuam,
amparados na
hipótese básica.
As múltiplas
existências
tiveram também
seus baluartes,
nas pesquisas e
produções de
Hemendras
Banerjee, Brian
Weiss, Albert de
Rochas e Ian
Stevenson, com
destaque para os
estudos da
Profa. Hellen
Wambach, que
comparou dados
das regressões
com informações
históricas sobre
as sociedades.
Recentemente a
Terapia de Vidas
Passadas se
vulgarizou entre
os
profissionais, e
tem-se estudado
relatos de vidas
passadas e a sua
associação a
marcas de
nascença. Tem-se
ainda, aí bem
recentemente, os
estudos na
Universidade do
Prof. Jim Tucker,
que vira e mexe
aparece nos
programas
televisivos com
intrigantes
casos de
lembranças de
vidas passadas.
No campo da
comunicação com
o Além, os
médiuns
brasileiros
forneceram
grande material
de estudo, nas
mediunidades de
Chico Xavier e
os diversos
estudos
correlatos, em
especial na
questão da
grafoscopia. Os
casos
mediúnicos de
Divaldo Franco,
Arigó,
Peixotinho e do
Médium de cura
João de Deus têm
sido objeto de
estudos que
ratificam e
fortalecem as
ideias postas
por Kardec.
O ceticismo
ainda campeia,
por comodismo,
por interesse ou
por decepção.
Ainda que surjam
explicações
isoladas de
céticos, de
forma integrada
esses fenômenos
encontram
guarida nas
formulações
kardequianas à
luz dos
depoimentos dos
Espíritos, o que
vem sendo
reforçado pela
ação dos
estudiosos
citados e outros
desconhecidos,
que labutam de
forma
incansável,
enfrentando o
preconceito da
academia e a
pressão de
ideologias
religiosas, como
enfrentou Allan
Kardec no seu
tempo, conforme
bem descrito
pela sua
presente
biografia.
Para além de uma
revelação,
Kardec
apresentou um
sistema lógico
coerente como
resposta ao
fenômeno posto,
construído a
partir do
material
coletado das
comunicações com
os Espíritos.
Uma hipótese que
ele mesmo
apresentou e
refutou as
contradições, ao
estudar os
sistemas no
Capítulo IV de
“O Livro dos
Médiuns”. Ali,
Kardec já se
posiciona sobre
as demais
hipóteses em
relação ao
fenômeno
mediúnico e
expõe, por
argumentos, por
que a tese
espírita se
apresenta
insuperável para
dar conta da
situação. E, até
hoje, a
explicação ainda
é válida.
Os pilares, a
visão de que o
fenômeno
derivava de
inteligências
que, chamadas de
Espíritos, nada
mais eram dos
que os homens
sem a roupagem
carnal, que se
sucediam em
existências no
mundo de cá e de
lá, permanecem
robustos e
convergentes aos
estudos que se
seguiram, pelas
regressões,
comunicações e
lembranças.
Dizer que Kardec
é atual não é
tomá-lo pela
letra idêntica
de um suposto
livro sagrado e
sim pela força
do paradigma por
ele proposto na
explicação da
fenomenologia
espírita e de
todo o contexto
com base nesses
pressupostos.
O aspecto
filosófico da
hipótese
espírita,
abraçando Deus e
o problema do
ser, do destino
e da dor, traz a
essa uma grande
força,
impulsionando
vidas à
modificação de
disposições, à
reforma íntima e
à prática da
caridade,
tornando nosso
mundo melhor.
Outras
hipóteses, além
de não atenderem
a completude dos
fenômenos,
baseiam-se em
pressupostos
teológicos
estranhos à
razão, com
deuses seletivos
e injustos,
atendendo a
injunções e
poderes
estranhos à
visão do bem. O
Espiritismo se
apresenta como
uma verdade
ratificada pela
razão e pelos
fenômenos, na
cantiga de
esperança que
embala a
humanidade, mas
que se faz
incômoda.
Incômoda, pois
rompe os
grilhões
filosóficos do
mundo antigo, da
idade de trevas
e das visões
escravizantes de
vida futura, que
Kardec não se
furtou a tratar
no livro “O Céu
e o Inferno”.
Ideias que ainda
pululam por aí,
acompanhadas dos
mesmos fenômenos
de outrora, à
busca de
soluções
razoáveis, que
já surgiram no
século retrasado
pelas mãos do
mestre Lionês.
Assim como
ocorreu na
biografia de
Chico Xavier,
acredito que o
livro do
escritor Marcel
Souto Maior
despertará o
interesse pela
obra Kardequiana
no público em
geral, obra essa
que se apresenta
insuperável,
pelo método e
pela
consistência, na
resposta aos
fenômenos
mediúnicos. O
estudo
sistematizado
das obras nos
permite entender
a essência do
Espiritismo e de
como chegamos a
compreender que
mesas que
giravam nos
forneciam uma
resposta
filosófica para
a existência.
As ideias de
Kardec
influenciaram o
mundo. Ainda que
carentes de
autoria
específica do
Espírito A ou B,
talvez como um
bom caminho para
evitar a captura
e a exposição,
essas ideias
seguem por aí em
filmes e livros,
distantes da
estranheza de
outras épocas.
Ideias de um
Deus justo, de
vidas que não
terminam, de
mortos que não
se calam, de
falhas que são
reparadas. Uma
visão de mundo
libertadora que,
pelo esforço de
um homem, das
pessoas à sua
volta e das
gerações que se
seguiram, do
mundo de cá e de
lá, continua a
nos brindar com
o consolo que
ampara, mas
também com a
sagacidade que
liberta.