CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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O
sumiço da caneca
Sempre que
acontece, a
mente lógica
tende a
questionar,
quase
raivosamente,
querendo nos
empurrar para
alguma
explicação
racional
qualquer – mas,
em alguns casos,
não adianta!
Especialmente
quando acontece
em fases que
justificam
plenamente
alguma
interferência
multidimensional
nos enredos de
nossas vidas. E
isto é
frequente, como
me aconteceu
neste exato
momento.
Final de férias
para mim, e não
me iludo, ante a
perspectiva de
tornar a me
transferir do
céu para a terra
nos próximos
dias. De modo
que viajei, e,
em Aracaju, me
deleitei em
visita ao meu
pai, com os pés
metidos nas
águas mornas das
ondas rasinhas
que, como
crianças
brincalhonas, me
massagearam os
pés. Fomos ao
cinema, nos
divertimos,
contamos piadas,
e torcemos –
sim, por que
não? – pelo
Brasil na Copa,
experimentando
todas as
emoções.
Voltamos, e aqui
estamos, em
casa; e, segundo
as tradições das
férias, uso a
outra metade do
tempo para me
dedicar à
resolução das
múltiplas
pendências
domésticas, de
modo a
providenciar
consertos de
canos; sair,
comprar
presentes de
aniversário e ir
às compras no
mercado.
Voltei às aulas
de violino, que
deixara em
suspenso durante
algum tempo.
Filhos e mãe,
curtição com
eles. Enfim,
rotina cotidiana
que, embora
movimentada,
estranhamente,
relaxa os
nervos. Muda a
estação do
padrão dos
estresses
anteriores.
Vibramos em
outra
frequência, mais
desanuviada de
um lado – porém,
de tanto nos
empurrar para
fincar os pés no
chão de nosso
dia-a-dia, pode
embotar um pouco
a sensibilidade
do médium
habituado à
interação
constante com
mentores
desencarnados,
de cujo trabalho
de parceria
literária eles
parecem ter
também me
conferido uma
pausa para
descanso.
De resto, tendo
outras
preocupações,
dependentes da
passagem do
tempo,
encobertas por
esta pausa de
atenção presa n'outros
interesses, com
a iminência do
retorno ao
trabalho
profissional,
todavia, agora o
cenário anterior
vai retomando
aos poucos, e
nem que apenas
devagar, em
nível emocional
e mental, a
ordem de suas
prioridades.
Em virtude
disso, tenho
a impressão de
que, observando
este panorama de
cima, as minhas
oscilações de
estado de
espírito dos
últimos dias,
meus mentores
estavam
preocupados com
as repercussões
das mesmas, que
vinham me
compelindo a
mergulhar numa
espécie de
entorpecimento
da sensibilidade
para as
tendências de
certos tópicos
importantes e
interesses meus,
cuja importância
vinha
desmerecendo, e,
atipicamente,
nivelando por
baixo.
E, como há algum
tempo não fazia
minhas
mentalizações e
preces de
hábito, não lhes
dirigia o
pensamento e não
me dedicava ao
regular
intercâmbio
psicográfico e
ao trabalho de
ordem espiritual
responsável por
submeter meu
repertório de
vida a uma
sintonia fina,
necessária ao
bom desempenho
dos
compromissos,
desafios e
atividades
diárias, acharam
por bem, ainda
agora, pregar-me
ligeiro susto!
Aplicar-me um
chamado, com um
tipo de
"megafone"
espiritual de
que lançam mão
volta e meia
para chamar
atenção, em
situações
específicas, ou
com objetivos
variados – seja
para reconforto
em determinados
instantes de
aflição, para
sinalizar sua
presença
amparadora n'outras
ocasiões, ou
respondendo a
algum
questionamento
específico, ou
com outras
tantas
finalidades.
Com a mente
povoada de
pensamentos
instáveis como
um céu nublado,
embora
inofensivo,
providenciei o
almoço. Fiz o
prato. E fui até
o aparador de
copos para
buscar minha
caneca nova,
que, era
indiscutível,
colocara ali há
pouco,
pendurada, após
beber água. Mas
não estava lá! –
constatei, entre
confusa e
aborrecida.
Um detalhe bobo
dos movimentos
cotidianos, mas
que em
determinados
instantes
chateia, quando
aquela voz de
dentro nos
segreda que não
poderia estar
acontecendo! Eu
tinha a mais
absoluta certeza
de que a caneca
estava lá! E, no
entanto, os
fatos, ali, me
indicavam o
contrário, mas
então, por Deus
– o que diabos
ocorria?! Então,
atarantada nesta
mistura de
perplexidade com
impaciência, saí
pela cozinha e
pela casa em
busca da mesma!
Fui umas quatro
vezes à sala,
aos quartos.
Questionei minha
filha na sala,
ela por sua vez,
metida nos seus
jogos, me
respondeu com um
"não vi" vago,
como se com o
espírito preso
em Marte.
Voltei à
cozinha.
Rodopiei em toda
a extensão dela
umas quatro
vezes, e, em
pelo menos três
delas, parei,
embasbacada,
diante do
porta-copos
misterioso onde
os outros três
copos jaziam,
sem o menor
indício da
caneca grande,
com algumas
rosas
estampadas, que
adquirira há
poucos dias. Nem
ali, nem nas
proximidades! E,
durante alguns
segundos,
senti-me meio
idiota, como é
recorrente
nestes momentos,
embora
experimentasse
uma sensação
indefinível de
que alguém por
ali, às ocultas,
se divertia com
a minha
situação!
A fome me
compeliu a
deixar o caso
para lá, e enfim
tomar do prato e
almoçar
devidamente. "Ora,
azeite"!
- Pensei.
N'algum buraco
da bendita casa
deve estar,
então, para que
me preocupar com
isso? Todavia, a
intervalos
vinha-me a
recordação
insistente de
que já
vivenciara
episódios
parecidos, com
outra
significação que
conhecia bem.
Mas empurrei,
resoluta, estas
reflexões para
lá, e comi,
tentando
esquecer a
caneca, ao menos
naquele momento.
Fato, caros
leitores, é que
acabei de comer,
já distraída com
outros
pensamentos, e,
de pronto, me
dirigi com o
prato na mão
para a pia
espaçosa, onde
se acha o meu
porta-copos,
sentindo sede, e
pensando em
pegar outra
caneca para
beber a melhor
bebida entre
todas, para esta
finalidade: a
água! Olhei
outra vez, meio
alheada, para o
porta-copos. E
parei,
estatelada, a
ponto de deixar
cair prato e
talheres no
chão!
Lá estava a
caneca,
placidamente,
entre os outros
copos
enfileirados,
como se, de modo
bizarro,
rindo-se da
minha cara! E,
na mesma hora,
com
espontaneidade,
emergiu com
força à minha
sensibilidade e
à visão de
dentro a
presença do meu
mentor nas
proximidades,
sussurrando-me a
explicação para
o mistério: "Até
que enfim, não?
Não posso fazer
este tipo de
coisa toda hora,
mas será
possível que só
com a
desmaterialização
e
rematerialização
de um objeto
consigo chamar
sua atenção para
nós?! Acabaram
as férias,
vamos! Hora de
um papo!
Precisamos
conversar"!
– Brincava, como
sempre é do seu
estilo. E bem na
hora mais
necessária, sem
enganos!
Eis, então, o
caso da nossa
'crônica da vida
invisível' de
hoje. A história
fascinante da
grande caneca
enfeitada que, à
plena luz do
dia, sumiu-se
diante de meus
olhos, e com
menos de vinte
minutos depois
reapareceu para
mais uma
demonstração
espontânea da
interação de que
somos alvo,
constantemente,
com os nossos
amigos, mentores
e habitantes das
esferas
invisíveis.