MARCELO TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ (Brasil)
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Minha descoberta com o
argueiro e a trave no
olho
Jesus Cristo foi mesmo
um Mestre. Mestre do
amor, Mestre do
desprendimento, Mestre
da caridade, Mestre do
perdão... E também
Mestre da sabedoria.
Seus ensinamentos
precisam e merecem ser
estudados à exaustão,
porque deles tiramos
sempre uma interpretação
diferente à medida que
os anos se passam e
vamos aprofundando o
estudo.
Foi assim comigo certa
vez numa palestra na
qual utilizei a passagem
evangélica sobre o
argueiro e a trave no
olho:
“Por que vedes um
argueiro no olho do
vosso irmão, vós que não
vedes uma trave no vosso
olho? Ou como dizeis ao
vosso irmão: Deixai-me
tirar um argueiro do
vosso olho, vós que
tendes uma trave no
vosso? Hipócritas, tirai
primeiramente a trave do
vosso olho, e então
vereis como podereis
tirar o argueiro do olho
do vosso irmão”. (S.
Mateus, cap. VII, v. 3,
4, 5.)
Argueiro, para quem não
sabe, é cisco. Aquele
cisco que cai no olho e
incomoda à beça, fazendo
com que pisquemos sem
parar para expulsá-lo.
O ensinamento de Jesus é
destinado aos que têm
uma trave, ou seja, um
pedaço de pau no olho,
mas não percebem. Em
contrapartida, enxerga o
cisco, que é algo
minúsculo, no olho de
outra pessoa.
Sempre fiquei intrigado
com tal comparação.
Imaginava ser impossível
enxergar um cisco no
olho alheio se estou com
uma trave de madeira no
meu olho, algo que
impede totalmente a
visão.
Foi aí que percebi um
interessante ângulo de
interpretação desse
trecho do Novo
Testamento.
Eu tenho a tal da trave
no meu olho; o vizinho,
um cisco. Por que eu
vejo o cisco no olho do
outro e não vejo um
pedação de madeira preso
ao meu olho? Porque uma
trave faz com que eu
veja tudo de forma
distorcida, fora de
esquadro. Tão distorcida
que penso que o cisco no
olho do próximo é maior
que a trave que
atrapalha minha visão.
Ou então, simplesmente,
não há cisco algum no
olho do vizinho. Eu é
que, na minha visão pra
lá de equivocada, acho
isso. Moral da história:
fazemos sempre uma
comparação tendo a nós
mesmos como referência.
Por essa razão, não
devemos julgar. Não há
como comparar uma pessoa
à outra. Cada um é cada
um. Impossível comparar
Paula com Juliana porque
ninguém é padrão, medida
oficial. Esse princípio
básico, assimilado pelo
cristão que tem ouvidos
de ouvir, fará com que
ele veja que ninguém é
melhor ou pior do que
ninguém. É como o lema
da escola de samba
Acadêmicos do Salgueiro,
do Rio de Janeiro, RJ: “Nem
melhor, nem pior. Apenas
uma escola diferente”.
Temos uma visão muito
maniqueísta sobre o
mundo. Antes de
prosseguir, convém
esclarecer o significado
da palavra maniqueísta.
Fala, Wikipédia!
“O Maniqueísmo é uma
filosofia
religiosa
sincrética
e dualística fundada e
propagada por
Maniqueu,
profeta iraniano (216 –
276 d.C.), que divide o
mundo simplesmente entre
Bem, ou
Deus,
e Mal, ou o
Diabo.
A
matéria
é intrinsecamente má, e
o
espírito,
intrinsecamente bom. Com
a popularização do
termo, maniqueísta
passou a ser um adjetivo
para toda doutrina
fundada nos dois
princípios opostos do
Bem e do Mal.”
Trata-se de uma doutrina
considerada extinta, mas
enxergamos tudo (olha a
trave no olho aí) de
forma maniqueísta muitas
vezes. Achamos que o
mundo é dividido entre
bons e maus, feios e
bonitos, pobres e ricos,
os que serão salvos e os
que serão condenados...
Nada disso. O mundo é
composto por Espíritos
em evolução (todos nós)
que ainda têm muito que
aprender e corrigir.
Quanto mais cedo
percebermos isso, mais
facilidade teremos para
conviver com as
diferenças, compreender
e perdoar.
E entenderemos também
que no movimento
espírita ninguém é mais
ou menos espírita do que
ninguém.
Digo isso porque, em 27
anos de movimento
espírita, já me deparei
com gente se achando a
última bolacha do pacote
porque tem 10 tarefas no
centro espírita, e se
achando mais
privilegiada do que a
pessoa que só tem duas
tarefas. Complicado
isso.
Pedro tem dez tarefas:
evangeliza infância,
evangeliza mocidade, faz
parte da reunião
mediúnica, aplica
passes, cuida da
divulgação, faz
palestra, aplica estudo
sistematizado, pinta,
borda, caseia, chuleia,
aceita encomenda de
doces e salgados, está
praticamente todos os
dias dentro do Centro
Espírita. Uma coisa! Já
João, coitado, só vai às
quartas-feiras, quando
aplica passes; e, aos
sábados, quando ajuda no
preparo do lanche para
os socialmente carentes.
Daí Pedro,
equivocadamente, se
julga com o passaporte
carimbado para Nosso Lar
e acha que Pedro não
terá a mesma sorte que
ele. Não é por aí,
gente.
Jesus Cristo é bem claro
sobre o assunto quando
fala sobre os
trabalhadores da última
hora. Nessa passagem, os
que foram recrutados
para trabalhar no último
período receberam o
mesmo dos que estavam
trabalhando desde a
primeira hora. A
passagem chama atenção
para a qualidade do
trabalho, que é o que de
fato vale.
Infelizmente já ouvi
Julianas se queixando de
que foram olhadas de
cima para baixo pelas
Paulas, só porque não
participavam de
determinada tarefa ou
evento espírita. Será
que para sermos
espíritas temos de,
obrigatoriamente, tomar
parte num número “x” de
tarefas? Penso que não.
A meu ver, ninguém é
mais ou menos espírita
devido ao número de
tarefas a que se dedica.
Se a pessoa pode dar
conta de várias tarefas,
ótimo. Mas não se julgue
melhor do que os outros
companheiros por isso.
Aliás, como não devemos
julgar, não devemos,
portanto, achar que
existe o espírita
padrão. Cada um é
espírita do que jeito
que pode e como pode.
Confesso que já tive a
minha fase de achar um
absurdo ver determinados
companheiros não
aderirem a esse ou
àquele trabalho na casa
espírita. Como se todos
tivessem a obrigação de
estar em todas. Mas o
tempo passa, a trave vai
cedendo e passamos a ter
olhos de ver.
BIBLIOGRAFIA:
1 -
www.wikipedia.com.br.