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Clássicos do Espiritismo
Ano 8 - N° 377 - 24 de Agosto de 2014
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 


Fatos Espíritas

William Crookes

(Parte 2)

Continuamos o estudo metódico e sequencial do clássico Fatos Espíritas, de William Crookes, obra publicada em 1874, cujo título no original inglês é Researches in the phenomena of the spiritualism.

Questões preliminares   

A. A que antagonismo se refere William Crookes quando atesta sua convicção a propósito da realidade dos fenômenos por ele observados?

Segundo Crookes, os diversos fenômenos que pôde presenciar são tão extraordinários e tão inteiramente opostos aos mais enraizados pontos do credo científico, que, ao recordar-se dos detalhes de que fora testemunha, havia um antagonismo em seu espírito entre a razão, que diz ser isso cientificamente impossível, e o testemunho de seus sentidos da vista e do tato, testemunho corroborado pelos sentidos de todas as pessoas presentes, circunstância que lhe diz não serem testemunhos mentirosos, visto que depõem contra suas próprias ideias preconcebidas.
(Fatos Espíritas – Fenômenos espíritas observados por William Crookes.)

B. Quanto tempo Crookes dedicou às pesquisas dos fenômenos espíritas?

Cerca de quatro anos, embora a ideia inicial fosse consagrar ao trabalho um ou dois meses somente. Tendo, porém, chegado à conclusão, como todo pesquisador imparcial, de que havia alguma coisa ali, não pôde recusar-se a continuar nessas pesquisas, qualquer que fosse o ponto a que elas pudessem conduzi-lo. Foi assim que alguns meses se tornaram em alguns anos e, se ele pudesse dispor de todo o seu tempo, é possível que as experiências ainda prosseguissem.
(Obra citada – Fenômenos espíritas observados por William Crookes.)

C. A escuridão é condição essencial à produção dos fenômenos espíritas?

Não. A escuridão não é essencial à produção dos fenômenos, exceto em alguns casos, como, por exemplo, nos fenômenos de aparições luminosas. Mas, nos poucos casos em que os fenômenos descritos foram produzidos na escuridão, teve ele o cuidado de assegurar que as condições de controle fossem rigorosas, para que a supressão de um dos sentidos – a visão – não viesse enfraquecer a prova fornecida.
(Obra citada – Fenômenos espíritas observados por William Crookes.)

Texto para leitura

20. Fenômenos espíritas observados por William Crookes – Assim como um viajante que explora um país longínquo, cujas maravilhas não fossem até então conhecidas senão por notícias e contos de caráter vago e pouco exato, assim, desde quatro anos procedo assiduamente a pesquisas em uma região das ciências naturais que oferece ao homem de ciência um solo quase virgem.

21. Do mesmo modo que o viajante percebe, nos fenômenos naturais de que pode ser testemunha, a ação das forças governadas por leis naturais, onde outros não veem senão a intervenção caprichosa de deuses ofendidos, assim me esforcei por esboçar a operação das leis e das forças da natureza onde outros não têm visto mais que a ação de seres sobrenaturais, sem dependência de qualquer lei e sem obediência a qualquer força senão a da sua livre vontade.

22. O viajante, nas suas excursões longínquas, depende inteiramente da boa vontade e da proteção dos chefes e dos que exercem a medicina no meio das tribos entre as quais para; igualmente, nas minhas pesquisas, não somente recebi em grau assinalado o auxílio dos que possuíam os poderes especiais, que eu procurava examinar, mas ainda contraí sólidas e sérias amizades com muitos homens, reputados diretores de opinião, e deles recebi a hospitalidade.

23. Como o viajante envia a seu país, quando acha ocasião para isso, uma narração concisa dos seus progressos, narração que é recebida muitas vezes com a incredulidade ou a zombaria, porque necessariamente essa narração não tem nenhuma ligação com tudo o que lhe pôde dar origem; também, em duas ocasiões, reuni e publiquei fatos que me pareciam admiráveis e precisos, mas tendo deixado de descrever as suas fases preliminares – o que teria sido necessário para conduzir o espírito público à apreciação do fenômeno e para mostrar que ele se ligava a outros fatos observados –, esses fatos também não somente encontraram a incredulidade, mas ainda deram origem a muitas apreciações malévolas.

24. Enfim, como o viajante que, tendo terminado as suas explorações, volta aos seus antigos colaboradores e reúne todas as suas notas, classifica-as e as põe em ordem a fim de dar ao público uma narração encadeada, chegando ao termo dessa investigação, classifiquei e reuni todas as minhas observações espalhadas, para apresentá-las ao público sob a forma de um volume.

25. Os diversos fenômenos que venho atestar são tão extraordinários e tão inteiramente opostos aos mais enraizados pontos do credo científico – entre outros a universal e invariável ação da força de gravitação –, que mesmo agora, recordando-me dos detalhes de que fui testemunha, há antagonismo em meu espírito entre minha razão, que diz ser isso cientificamente impossível, e o testemunho de meus sentidos da vista e do tato, testemunho corroborado pelos sentidos de todas as pessoas presentes – que me dizem não serem testemunhos mentirosos, visto que eles depõem contra as minhas ideias preconcebidas.

26. Supor que uma espécie de loucura ou de ilusão vem dominar subitamente um grupo de pessoas inteligentes e sensatas, que estão de acordo sobre as menores particularidades e detalhes dos fatos de que são testemunhas, parece-me mais incrível do que os próprios fatos que eles atestam.

27. O assunto é muito mais difícil e mais vasto do que parece. Há cerca de quatro anos tive a intenção de consagrar um ou dois meses somente ao trabalho de certificar-me se certos fatos maravilhosos, dos quais eu tinha ouvido falar, poderiam sustentar a prova de um exame rigoroso. Mas, tendo logo chegado à mesma conclusão, como todo pesquisador imparcial, isto é, que “havia alguma coisa aí”, não podia mais, eu, estudante das leis da natureza, recusar-me a continuar nessas pesquisas, qualquer que fosse o ponto a que elas me pudessem conduzir. Foi assim que alguns meses se tornaram em alguns anos e, se eu pudesse dispor de todo o meu tempo, é possível que as experiências ainda prosseguissem.

28. Outros assuntos, porém, de interesse científico e prático reclamam agora a minha atenção; e como não posso consagrar a tais pesquisas o tempo que seria preciso e que mereceriam; como tenho plena confiança que daqui a alguns anos os homens de ciência estudarão esse assunto; como as ocasiões que possuo não são tão propícias quanto o era há algum tempo, porque então o Sr. Daniel Home gozava boa saúde, a Srta. Kate Fox (agora a Sra. Jencken) não estava absorvida pelas suas ocupações domésticas e maternas; por todos esses motivos, vejo-me obrigado a suspender, neste momento, as minhas investigações.

29. Para obter franco acesso junto às pessoas plenamente dotadas da faculdade sobre as quais se baseiam as minhas experiências, era preciso um crédito maior do que aquele de que um investigador científico pode dispor.

30. Para os seus adeptos mais convencidos, o Espiritismo é uma religião. Os médiuns, em muitos casos, membros da família, são guardados com grande cuidado, o que só com dificuldade um estranho compreenderia. Crendo seriamente e conscienciosamente na verdade de certas doutrinas que repousam sobre o que se lhes afigura como manifestações miraculosas, esses adeptos parecem acreditar que a presença de um investigador científico é uma profanação do santuário.

31. Por favor pessoal, fui admitido mais de uma vez a assistir a reuniões que ofereciam antes o aspecto de uma cerimônia religiosa do que de uma sessão de Espiritismo. Mas ser admitido, por favor, uma ou duas vezes, como um estranho teria sido autorizado a assistir aos mistérios d'Elêusis, ou um pagão a contemplar o santo dos santos, não é o meio de confirmar os fatos e descobrir-lhes as leis. Satisfazer a curiosidade é bem diferente do proceder a uma busca sistemática. Quanto a mim, procuro sempre a verdade.

32. Em algumas ocasiões me permitiram, é certo, fazer verificações e impor condições; mas somente uma ou duas vezes me foi possível fazer sair a sacerdotisa do seu santuário e, em minha própria casa, rodeado de amigos, aproveitar a ocasião de pôr à prova os fenômenos dos quais fui testemunha em outros lugares, em condições menos concludentes.

33. Seguindo o plano que adotei em outras circunstâncias – plano que, embora contrariando muito as ideias preconcebidas de certos críticos, me parecia, por boas razões, aceitável aos leitores do Quartely Journal of Science –, tinha eu a intenção de apresentar os resultados de meu trabalho sob a forma de um ou dois artigos para esse jornal. Mas, revendo as minhas notas, achei tal riqueza de fatos, tal superabundância de provas, tão esmagadora massa de testemunhos, que, para as pôr todas em ordem, era preciso encher vários números do Quartely. É mister, pois, que atualmente me limite a dar um esboço dos meus trabalhos, reservando para outra ocasião as provas e os detalhes mais amplos.

34. O meu fim principal será, pois, fazer conhecer a série das manifestações que se produziram em minha casa, em presença de testemunhas dignas de fé e sob as condições dos mais severos exames que pude imaginar. Ademais, cada fato que observei é corroborado por pessoas independentes, que o observaram em outros tempos e em outros lugares. Ver-se-á que todos esses fatos têm o caráter mais surpreendente e que parecem inteiramente inconciliáveis com todas as teorias conhecidas da ciência moderna.

35. Tendo-me assegurado da sua realidade, seria uma covardia moral negar-lhes o meu testemunho, só porque as minhas publicações precedentes foram ridicularizadas por críticos e outras pessoas que nada em absoluto conheciam do assunto e que supunham ter bastante critério para ver e julgar por si mesmas se esses fenômenos eram ou não verdadeiros.

36. Direi simplesmente tudo o que vi e o que me foi provado por experiências repetidas e verificadas, e tenho ainda necessidade de que me demonstrem não ser razoável esforçar-se uma pessoa por descobrir as causas de fenômenos inexplicados.

37. Primeiro que tudo devo retificar um ou dois erros que se acham implantados profundamente no espírito público. Um, o de ser a escuridão essencial à produção dos fenômenos. Isso não é exato. Exceto alguns casos nos quais a escuridão tem sido uma condição indispensável, como, por exemplo, nos fenômenos de aparições luminosas e em alguns outros, tudo o que narro produziu-se à luz.

38. Nos poucos casos em que os fenômenos descritos foram produzidos na escuridão, tive muito cuidado de os mencionar; ademais, quando alguma razão particular exigia a extinção da luz, os resultados que se manifestaram estiveram em condições de controle tão perfeitos que a supressão de um dos nossos sentidos não pôde realmente enfraquecer a prova fornecida.
(Continua no próximo número.)
 



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita