MILTON MEDRAN
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Porto Alegre, RS (Brasil)
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Volta breve, Rubem!
O poeta e escritor Rubem
Alves, mineiro de fala
mansa e alma doce, que
nos deixou, dias atrás,
contava esta história:
Sua mãe dava aula de
piano. Um dia, uma amiga
foi visitá-la com o
filho de três anos. Ao
entrar, o garoto, vendo
o piano aberto com uma
partitura, sentou-se ali
e começou a tocar a
música. O menino se
chamava Nelson Freire,
que se tornaria um dos
maiores pianistas do
mundo. Garoto prodígio,
aos quatro anos deu seu
primeiro concerto.
Ao relembrar isso,
Rubem, que tinha sido
pastor presbiteriano e
jamais encontrou
respostas definitivas
para as grandes questões
da vida, sempre
perguntava: Como um
menino de três anos
poderia ter aquele
conhecimento todo sobre
música? Ele próprio,
quando criança, queria
ser pianista. Mas
gracejava dizendo que
não tinha recebido tal
privilégio de Deus. Que
a divindade lhe havia
dado outro talento: o de
fazer música através da
palavra, de suas
crônicas, contos e
poesias.
O poeta mineiro usava
esse recurso de
linguagem, dizendo que
os dons, trazidos
conosco ao nascermos,
são privilégios
concedidos por Deus a
certas almas.
Na verdade, são
conquistas individuais
que a generosa lei
divina, igual para
todos, nos possibilita
alcançar, vida após
vida, nessa caminhada
rumo à plenitude. O
próprio Rubem Alves
comparava a alma humana
a uma borboleta que,
antes de voar, tinha
sido uma feia lagarta e
passou por metamorfoses
que a fizeram bela como
é: “Aquele que
experimenta a beleza,
está em comunhão com o
sagrado”, dizia.
Rubem deixou escrito que
estava voltando para o
mesmo lugar onde
estivera antes de nascer
e que, um dia, de lá há
de voltar.
Que volte breve!
Precisamos muito de
almas assim.
Milton Rubens Medran
Moreira é jornalista,
advogado, escritor,
pres. do Centro Cultural
Espírita de Porto
Alegre.