Fatos Espíritas
William Crookes
(Parte 3)
Continuamos
o estudo
metódico e sequencial do
clássico Fatos
Espíritas, de
William Crookes,
obra publicada em 1874,
cujo
título no original
inglês é
Researches in the
phenomena of the
spiritualism.
Questões preliminares
A. Que disse William
Crookes a respeito do
local e do horário mais
convenientes para
produção das
manifestações?
Disse ele que constitui
um erro crer que as
manifestações só se
podem produzir a certas
horas e em certos
lugares – em casa do
médium, ou em horas
combinadas previamente.
Segundo Crookes,
centenas de fatos
produziram-se em sua
própria casa, nas épocas
por ele designadas e em
circunstâncias que
excluíam absolutamente o
emprego e o auxílio do
mais simples
instrumento.
(Fatos Espíritas –
Fenômenos espíritas
observados por William
Crookes.)
B. É verdade que
Crookes investigou
fenômenos ocorridos por
meio da célebre médium
Kate Fox?
Sim. Um dos fenômenos
investigados, tendo como
médium Kate Fox, foi por
ele chamado de fenômeno
de percussão e sons da
mesma natureza. Esses
ruídos, que verificou
com quase todos os
médiuns, têm cada um sua
particularidade
especial. Com o Sr. Home,
eram mais variados; mas,
quanto à força e
regularidade, ele não
encontrou absolutamente
ninguém que pudesse
aproximar-se da Sra.
Kate Fox. Com ela,
bastava simplesmente que
colocasse a mão sobre
qualquer parte, para que
sons ruidosos aí se
fizessem ouvir, como que
triplo choque, e algumas
vezes com bastante força
para serem ouvidos
através de vários
aposentos.
(Obra citada – Fenômeno
de percussão e outros
sons da mesma natureza.)
C. Os movimentos e os
ruídos são governados
por alguma inteligência?
Desde o começo de suas
pesquisas, Crookes
verificou que o poder
que produzia esses
fenômenos não era
simplesmente uma força
cega, mas que uma
inteligência os dirigia,
ou pelo menos lhes
estava associada. Assim
os ruídos ouvidos eram
repetidos em número
determinado; tornaram-se
fortes ou fracos e, a
seu pedido, ressoaram em
diferentes lugares; por
um vocabulário de
sinais, convencionados
previamente, foram
respondidas perguntas e
dadas comunicações com
maior ou menor exatidão.
Segundo Crookes, a
inteligência que
governava esse fenômenos
era algumas vezes
manifestamente inferior
à do médium e estava
muitas vezes em oposição
direta aos seus desejos.
(Obra citada – Fenômeno
de percussão e outros
sons da mesma natureza.)
Texto para leitura
39. Um outro erro
corrente consiste em
crer que as
manifestações só se
podem produzir a certas
horas e em certos
lugares – em casa do
médium, ou em horas
combinadas previamente –
e partindo dessa
suposição errônea têm-se
estabelecido uma
analogia entre os
fenômenos chamados
espíritas e os passes
dos prestidigitadores e
mágicos que operam nos
teatros, os quais se
cercam de tudo o que
pertence à sua arte.
40. Para fazer ver
quanto tudo isso está
longe de ser verdadeiro,
não tenho necessidade
senão de dizer que,
afora algumas raras
exceções, as centenas de
fatos que me preparo
para atestar, para serem
imitados pelos meios
físicos ou mecânicos
conhecidos, desafiariam
a habilidade de um
Houdini, de um Bosco, de
um Anderson, protegida
por todos os recursos de
máquinas engenhosas e da
sua prática de longos
anos. Essas centenas de
fatos produziram-se na
minha própria casa, nas
épocas por mim
designadas e em
circunstâncias que
excluíam absolutamente o
emprego e o auxílio do
mais simples
instrumento.
41. Um terceiro erro é
este: que o médium deve
escolher a sua roda de
amigos e companheiros
que podem assistir à
sessão; que esses amigos
devem crer firmemente na
verdade da doutrina,
seja qual for, que o
médium enunciar; que se
imponham às pessoas de
espírito investigador
condições tais que
impeçam completamente
toda observação
cuidadosa e facilitem a
superstição e a fraude.
42. A isso posso
responder afirmando que,
à exceção de alguns
casos mui pouco
numerosos, compus eu
mesmo a minha roda de
amigos, introduzi todos
os incrédulos que me
convieram, e geralmente
impus condições
escolhidas com cuidado
por mim mesmo, para
evitar toda
possibilidade de fraude.
43. Tendo-me
assenhoreado pouco a
pouco de algumas
condições que
facilitavam a produção
dos fenômenos, as minhas
pesquisas foram
geralmente coroadas de
igual êxito, e mesmo, em
muitos casos, tive êxito
superior ao que foi
obtido em outras
ocasiões onde, em
virtude de falsas ideias
sobre a importância de
algumas práticas
insignificantes, as
condições impostas
podiam tornar menos
fácil a descoberta da
fraude.
44. Disse anteriormente
que a escuridão não é
essencial. Entretanto, é
fato bem conhecido que,
quando a força é fraca,
a luz muito viva exerce
uma ação que contraria
alguns fenômenos. A
força do Sr. Home é
bastante significativa
para subjugar essa
influência contrária;
assim, ele não admite
escuridão nas suas
sessões.
45. Afirmo que, exceto
duas vezes em que, para
algumas experiências, a
luz foi suprimida, tudo
que testemunhei foi
produzido por ele em
plena claridade. Tive
diversas ocasiões de
experimentar a ação da
luz provinda de
diferentes fontes e de
cores variadas: – a luz
do Sol, luz difusa,
luar, gás, lâmpada,
vela, luz elétrica, luz
amarela, homogênea etc.
Os raios que contrariam
as manifestações parecem
ser os da extremidade do
espectro.
46. Vou, agora, proceder
à classificação dos
fenômenos que observei,
indo dos mais simples
aos mais complexos, e
dando rapidamente, em
cada capítulo, uma
exposição sumária de
alguns dos fatos que vou
expor.
47. Movimento de corpos
pesados com contato, mas
sem esforço mecânico –
Eis uma das formas mais
simples dos fenômenos
que observei. Ela varia
em grau, desde o tremor
de um aposento e do seu
conteúdo, até a elevação
ao ar de um corpo
pesado, quando a mão
está colocada em cima.
48. Pode-se objetar que,
ao se tocar uma coisa
que está em movimento, é
possível empurrá-la,
atraí-la ou levantá-la;
provei, por experiência,
que em casos numerosos
isso não se verifica;
mas, a título de provas,
ligo pouca importância a
esta classe de
fenômenos, e só os
menciono como
preliminares de outros
movimentos do mesmo
gênero, produzidos,
porém, sem contato.
49. Esses movimentos,
posso mesmo dizer, os
fenômenos da mesma
natureza, são geralmente
precedidos de um
resfriamento do ar, todo
especial, que chega,
algumas vezes, a
tornar-se um vento bem
pronunciado. Sob a sua
influência vi folhas de
papel elevarem-se e o
termômetro baixar de
vários graus. Em outras
ocasiões, das quais mais
tarde darei pormenores,
não notei nenhum
movimento real de ar,
mas o frio foi tão
intenso que só posso
compará-lo ao que se
sente quando se tem a
mão a algumas polegadas
do mercúrio gelado.
50. Fenômeno de
percussão e outros sons
da mesma natureza – O
nome popular de pancadas
dá uma ideia muito falsa
desse gênero de
fenômenos. Por
diferentes vezes,
durante as minhas
experiências, ouvi
pancadas delicadas, como
produzidas pela ponta de
um alfinete; uma cascata
de sons penetrantes como
os de qualquer máquina
de indução em plena
atividade; detonações no
ar, ligeiros ruídos
metálicos agudos;
estalidos como os que se
ouvem quando uma máquina
de fricção está em
atividade; sons que
pareciam arranhadelas;
gorjeios como os de um
pássaro etc.
51. Esses ruídos, que
verifiquei com quase
todos os médiuns, têm
cada um sua
particularidade
especial. Com o Sr. Home,
são mais variados; mas,
quanto à força e
regularidade, não
encontrei absolutamente
ninguém que pudesse
aproximar-se da Sra.
Kate Fox.
52. Durante vários meses
tive o prazer de, em
inúmeras ocasiões,
verificar os fenômenos
variados que se
produziam em presença
dessa senhora, e foram
esses ruídos que
especialmente estudei. É
geralmente necessário,
com os outros médiuns,
para uma sessão regular,
que todos fiquem
sentados e em silêncio,
mas com a Sra. Fox
parece-lhe simplesmente
necessário colocar a mão
sobre qualquer parte,
para que sons ruidosos
aí se façam ouvir, como
que triplo choque, e
algumas vezes com
bastante força para
serem ouvidos através de
vários aposentos.
53. Ouvi-os assim
produzirem-se em uma
árvore, num grande
quadro de vidro, em um
arame esticado, numa
membrana distendida, em
um tamboril, sobre a
cobertura de uma
carruagem e no tablado
de um teatro. Ainda
mais, o contato imediato
nem sempre é necessário;
ouvi esses ruídos saírem
do soalho, das paredes
etc., quando a médium
tinha as mãos e os pés
ligados, quando estava
em pé sobre uma cadeira,
quando se achava em uma
balança suspensa do
teto, quando estava
encerrada em uma gaiola
de ferro e quando em
letargia numa poltrona.
Ouvi-os sobre os vidros
de uma harmônica,
senti-os sobre os meus
próprios ombros e sob as
minhas mãos. Ouvi-os
sobre uma folha de papel
segura entre os meus
dedos, por uma
extremidade de fio
passado num canto dessa
folha.
54. Com pleno
conhecimento das
numerosas teorias que
foram apresentadas
antes, sobretudo na
América, para explicar
esses sons,
experimentei-os de todas
as maneiras que pude
imaginar, até não mais
ser possível furtar-me à
convicção de que eram
bem reais e que não se
produziam pela fraude ou
por meios mecânicos.
55. Uma questão
importante impõe-se à
nossa atenção: esses
movimentos e esses
ruídos são governados
por uma inteligência?
Desde o começo das
minhas pesquisas,
verifiquei que o poder
que produzia esses
fenômenos não era
simplesmente uma força
cega, mas que uma
inteligência os dirigia,
ou pelo menos lhes
estava associada; assim
os ruídos de que acabo
de falar foram repetidos
em número determinado;
tornaram-se fortes ou
fracos e, a meu pedido,
ressoaram em diferentes
lugares; por um
vocabulário de sinais,
convencionados
previamente, foram
respondidas perguntas e
dadas comunicações com
maior ou menor exatidão.
56. A inteligência que
governa esse fenômenos é
algumas vezes
manifestamente inferior
à do médium e está
muitas vezes em oposição
direta aos seus desejos.
Quando se tomava a
determinação de fazer
alguma coisa, que não
podia ser considerada
muito razoável,
contínuas comunicações
eram dadas para induzir
a refletir de novo.
57. Essa inteligência é,
algumas vezes, de tal
caráter, que nos vemos
forçados a crer não
provenha de nenhuma das
pessoas presentes. Eu
poderia dar vários
exemplos como prova
dessas alegações, porém,
mais tarde, quando
tratar da origem dessa
inteligência, o assunto
será discutido mais a
fundo.
(Continua no próximo
número.)