CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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“Oh, Captain, My
Captain!” –
Tributo a Robin
Williams
Quando o filme
Sociedade dos
Poetas Mortos
foi exibido nos
cinemas, eu
acabara há pouco
a minha
faculdade de
Letras, e hoje
sei que o
personagem
interpretado com
brilhantismo por
Robin Williams,
John Keating,
foi o
catalisador que,
em conjunto com
outras
circunstâncias
de foro íntimo,
me presenteou
com a sensação
de redenção por
ter-me formado
por puro amor em
algo que, no
nosso país de
contrastes
educacionais e
culturais
desfavoráveis,
não serve a
quase ninguém
para alguma
finalidade
prática que não
seja a de
lecionar línguas
estrangeiras ou
português em
salas de aulas
repletas de
alunos das mais
disparatadas
compleições
sociais, que,
com muita
frequência, não
exatamente vão
considerar o
estudo da
literatura ou da
gramática como
algo tão
eletrizante
quanto o último
lançamento
block buster
dos cinemas.
Para os que não
viram o filme, a
história nos
conta sobre o
professor de
literatura John
Keating que, num
colégio
tradicional e
rigoroso para
garotos nos
Estados Unidos,
era o mais
absoluto
contraste frente
à austeridade de
outros colegas
de profissão
enquadrados no
sistema
–
como um filme em
preto e branco
diante de um
colorido, ou
como alguém que
baila e dança e
sorri, entre
soldados de
chumbo marchando
em exército
mecânico.
No decorrer do
filme, John
ensina seu grupo
de alunos a
respeito de
poesia, sem se
deter em livros
ou somente em
regras de
métrica e rima;
mas mostrando
àquele grupo de
adolescentes, já
portadores de
apatia
preocupante sob
a pressão de
suas famílias
gessificadas nos
costumes de
época e das
etiquetas
sociais, que
poesia é vida a
ser saboreada,
criada e vivida!
E conta-lhes
sobre seus
próprios tempos
de estudante,
naquele mesmo
Colégio seleto
para alunos
internos, quando
participou do
grupo quase
místico batizado
Sociedade dos
Poetas Mortos.
E explica, sob
os olhares
fascinados dos
rapazes, sobre o
que faziam,
altas horas da
madrugada:
burlando a
vigilância
rígida dos
inspetores,
escapuliam por
entre as
neblinas geladas
das planícies no
inverno para o
encontro quase
ritualístico na
gruta, onde
liam, fumavam,
riam,
gargalhavam,
dançavam, e
criavam poemas
em regime de
improviso. E se
reuniam sob os
auspícios de um
lema, proposto
por Keating
– Carpe
diem!
–
Aproveite o dia!
– e dos
versos de Henry
Thoureau, poeta
e escritor
americano, que
rezam:
"Fui para os
Bosques viver de
livre vontade.
Para sugar todo
o Tutano da
Vida. Para
aniquilar tudo o
que não era vida
e para, quando
morrer, não
Descobrir que
não vivi...".
Um dos meninos
mais brilhantes
de sua turma,
embora também o
mais tolhido
pela severidade
do pai, que quer
vê-lo formado em
Medicina, em
contrapartida
aos seus anseios
e talento para o
teatro - Neil -
é o que mais se
entusiasma com a
ideia de
ressuscitar a
antiga
Sociedade, e,
instigando seus
colegas,
consegue
realizar este
intento.
Feliz, Neil se
inscreve como
ator no programa
cultural do
Colégio, para a
peça de
Shakespeare,
Sonhos de Uma
Noite de Verão,
interpretando
Puck. Enquanto
isso, é
inspirado pelas
reuniões cada
vez mais férteis
em criatividade
com os amigos,
que também e aos
poucos vão
tomando gosto
pela novidade e
pelos efeitos
benéficos que a
aventura vai
proporcionando
ao próprio
aprendizado da
disciplina de
Keating, antes
considerada
aborrecida, como
todas as outras,
ministradas
pelos docentes
pelos métodos
tradicionais
pouco
eficientes, e
desprovidos de
maior sentido
para suas vidas.
Mas aquele
idílio só dura
até o ponto em
que, em
paralelo, o
sucesso de
Keating com seus
métodos de
ensino pouco
ortodoxos começa
a despertar a
animosidade dos
demais
profissionais e
da direção do
colégio; e, ao
mesmo tempo, o
pai de Neil
descobre o ardil
com que o filho
dribla sua
vigilância para
atuar na peça.
Ele tenta
obrigá-lo a
desfazer-se do
projeto, embora
depois,
estranhamente, o
consinta. Mas
apenas para, ao
fim de tudo,
comunicar ao
filho que o
retirará do
Colégio, para
atendê-lo nos
objetivos
rígidos que quer
para a sua
carreira futura,
e determinando,
sem apelação,
que nunca mais
se envolverá com
teatro.
No final
trágico, o rapaz
comete suicídio,
em cena tocante.
Deixa, no frio
nevado da janela
de seu quarto, a
coroa florida do
seu personagem
do teatro, após
a noite de
apresentação
bem-sucedida na
qual foi
ovacionado por
toda a plateia
de pais,
professores e
alunos. Arrebata
a arma do pai,
enquanto este e
a esposa
dormiam, e corta
o fio precioso
da vida com um
tiro na cabeça
–
como se
atendendo ao
apelo dos versos
de Thoureau
recusa-se a
deixar de viver,
para se dobrar a
uma exigência
imposta ao seu
destino que, de
qualquer modo, o
condenaria ao
fardo de não
viver como
compreendia a
vida.
Foi deste modo
que o personagem
legendário de
Robin Williams
marcou a
universitária
recém-formada,
justamente em
Letras, sem
pretender
exatamente
seguir o
magistério, mas,
e embora sem
saber bem o que
faria disso
depois, apenas
por saber e amar
desde sempre
ler, escrever, e
aprender
idiomas. As
décadas se
passaram, e
carreguei aquele
John Keating
dentro de mim,
como
inesquecível
homenagem aos
meus mais belos
ideais num país
no qual,
infelizmente, o
escritor se vê
fadado a se
orgulhar não
mais do que por
ser escritor, na
maioria das
vezes
– já
que o sistema só
agracia
profissionalmente
aquele escritor
que, a par de
sê-lo, ainda
conta com a rara
estrela que o
favorece e
converte em
máquina
editorial de
fazer dinheiro.
Mas – “oh,
captain, my
captain!” –
rezava a
saudação
tradicional dos
novos poetas
mortos diante de
John Keating
–
você houve por
bem agir como o
Puck! Deixou
sobre a janela
nevada de nossos
invernos sua
coroa de louros
cheia de frutos
maduros, através
dos filmes com
os quais nos
encantou os
corações, e
rompeu com o fio
de sua vida!
Para conseguir
viver? Para "viver
de livre
vontade... Para
sugar todo o
Tutano da Vida.
Para aniquilar
tudo o que não
era vida e, para
quando morrer,
não Descobrir
que não
viveu?..."
Os dilemas, os
sofrimentos, as
amarguras e
ansiedades de
Robin Williams,
esta lenda da
cinematografia
de nossos
tempos, foram os
de muitos de
nós. E, n'algum
momento, parecem
tê-lo vencido.
Robin decidiu
procurar suas
respostas e a
realização de
seus melhores
anseios naquela
outra realidade,
que um dia
aguardará a
todos como a
única certeza
absoluta desta
nossa passagem
curta pela
materialidade.
Como espírita,
desaconselho com
veemência a
retirada do fio
da vida antes
que o próprio
Criador nos
convide a deixar
este mundo. Há
uma programação
séria, bem
elaborada antes
de cada retorno
à matéria, cujo
curso, se
interrompido
drasticamente,
lança o Espírito
em inevitável
quanto intenso
estado de
perturbação e
sofrimento.
Todavia, não
compartilho da
ideia inflexível
de que, todo
suicida,
fatalmente,
fique preso nas
malhas do umbral
sombrio, sendo
punido e acusado
por almas
infelizes como
covarde ou
alucinado. Creio
firmemente que
há infinitas
nuances nesta
questão
delicada, que
pedem respeito,
compaixão,
entendimento, e,
sobretudo
silêncio de quem
fica, porque, do
momento do
reencontro de
cada um de nós
com o Criador,
no retorno para
cada uma de suas
infinitas
estadias,
sabemos somente
nós, Ele mesmo e
os tutores
dimensionais
que, amorosos,
nunca desamparam
ninguém que lhes
mereça a
intercessão para
a cura e o
acerto do rumo.
Robin Williams,
excelente ator,
deixa-nos o
presente de
incontáveis
filmes de
conteúdo
significativo,
luminoso,
bem-humorado.
Ser humano como
todos somos,
estava doente, e
enfrentava
desafios
difíceis. Não o
julguemos,
portanto, por
suas hesitações
compreensíveis,
e por enganos
que fazem parte
das trajetórias
de todos que
seguem seu
aprendizado
sobre a face da
Terra.
Muito obrigada,
John Keating/Robin
Williams, por
ter-me
incentivado,
ainda tão jovem,
a aprender a
olhar cada
capítulo da
vida, seja lá
qual for, de sob
o ângulo
diferente
alcançado do
alto de uma
mesa!...
“Oh, captain, my
captain!”,
que as falanges
de luz do
invisível o
acolham, cuidem
e o encaminhem a
estradas mais
felizes, mais
floridas – ao
encontro da
saúde, do amor e
da paz, e das
respostas que
talvez não tenha
conseguido
encontrar em
meio às
turbulências
muitas vezes
desnorteadoras
deste mundo!