CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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Olhos de ver!...
Sobre o que vou
escrever? Vem a
vontade, falta a
ideia. Sem
dúvida,
ocorrência comum
a todo escritor,
em fases de maré
rasa, em que a
inspiração
parece se esvair
por um ralo sob
a pressão das
preocupações
cotidianas. Não
obstante, teimo.
Escrever,
publicar livros,
textos sobre
temas
espirituais,
edificantes, na
medida do
possível, úteis
e agradáveis a
todos, é um dos
grandes
referenciais de
vida do qual não
abro mão. Dentre
todos os
detalhes do
caminho, está
entre os que
mais alegrias me
trazem. Então,
sobre o que
escrevo hoje?
Só resta o
palpite, o
impulso
intuitivo,
determinado,
talvez, por
imagens
repetidas que
deparei nas
últimas horas
frequentando,
principalmente,
o Facebook em
busca de
entretenimento e
interatividade
com amigos.
Vi pelo menos
umas cinco fotos
deslumbrantes de
paisagens
campestres
noturnas, a céu
aberto, em
locais do mundo
praticamente
isentos do
obscurecimento
dos efeitos da
luz elétrica
sobre a visão
fantástica dos
céus
esfarinhados de
estrelas! E,
para mim, nada
talvez nos
devolva melhor
do que esses
cenários mágicos
a retomada da
noção do que
seja Deus!
Lembro-me de uma
vez em que
estive na Ilha
Fernando de
Noronha, e
experimentei in
loco esta
vivência
inesquecível. Em
turismo de
grupo, passeando
pelas paisagens
encantadas
daquele lugar
paradisíaco em
plena noite de
verão, com os
céus
assoberbados dos
milhares de
luzes da nossa
Via Láctea,
achei de me
deitar sobre uma
daquelas pedras
imensas próximas
do mar, na
região onde
caminhávamos.
Demorei-me em
silêncio por
breves minutos
naquela atitude
meditativa, e
recordo ter de
repente
comentado do
nada, como se
meu Espírito
falasse, ali,
sem a
interferência do
corpo, das
cordas vocais:
"– Não sei
por que acho que
a morte é bem
isso!..." Ao
que alguém do
grupo que me
ouvia das
proximidades
respondeu,
também com os
olhos presos na
vastidão
impressionante,
silente,
daqueles milhões
de astros
faiscantes nas
extensões
incalculáveis
dos céus
límpidos: – "Então
deve ser uma
coisa boa! A
morte!..."
Hoje, acredito
que tenha sido a
sensação de
Unidade absoluta
do meu íntimo,
do meu Espírito
dissociado do
veículo corporal
naquele estado
de transe, com a
vastidão da Vida
manifesta,
livre, perfeita,
natural, ao meu
redor, que me
compeliu a
largar aquelas
palavras soltas
no ar.
Sim. Hoje guardo
a convicção de
que é justo
nesses momentos
raros de
comunhão plena,
desimpedida,
amorosa, com a
Criação divina,
que
compreendemos a
plena essência
de toda a
manifestação
vital ao redor
de nós. Aquele
céu infinito,
silente e
solene,
unificado com a
verdade mais
genuína de
nossos
Espíritos! No
agora eterno, cá
estamos também
infinitos,
permanentes,
onipresentes! Em
nós, como nos
milhares de
mundos brilhando
em movimento na
sinfonia soberba
dos espaços,
como também nas
flores felizes
com os ares do
inverno bem ali,
na minha
varanda; como no
gato manhoso do
vizinho, e nos
seres humanos
que, aos
milhões, nos
cercam
espalhados na
Terra – em tudo
está Deus!
E talvez seja
essa a segunda
razão do que
opto por
escrever agora.
Pela associação
disso com a
segunda cena
assistida ontem
em vídeo que
anda passeando
pela web, sobre
o sofrimento
hediondo vivido
pelas crianças
na África.
Vi dois meninos
de sete anos,
esquálidos,
abandonados,
arrastando-se
pela terra
esbatida, porque
não tinham mais
forças para
levantar. Uma
equipe espanhola
em visita
humanitária
fazia as
imagens. Uma
única irmã de
oito anos ainda
saudável era
tudo que tinham
aquelas duas
crianças
agonizantes,
recolhendo
migalhas do chão
sujo para saciar
a fome. E a
repórter da
equipe chora
convulsivamente,
assistindo às
cenas
inacreditáveis.
A pequena
heroína de oito
anos corre de um
lado para outro.
Traz de longe
uma bacia cheia
com água, e, com
movimentos
instintivos,
pega os
irmãozinhos, um
a um, para o
banho. Lava-os
com perícia
materna, sem dar
muita atenção
aos que de certa
distância
comovem-se,
quase em choque,
com a cena. Os
meninos não têm
o tamanho normal
para crianças de
sete anos, ainda
assim, inertes,
sem forças para
ficar de pé,
pesam, mas a
menina,
diligente, os
carrega de um
lado para outro
como pode. Findo
o banho,
coloca-os sobre
um acolchoado
tosco na terra
esbatida.
Seca-os, debaixo
do choro sofrido
de um deles.
Depois,
entrega-lhes
biscoitos que a
equipe de
filmagem lhe
entrega para
comer. Ela
oferece primeiro
aos dois
irmãozinhos, que
ficam ali,
roendo os
biscoitos
deitados, nas
mãozinhas
enfraquecidas.
Só depois ela se
permite comer.
Tudo instintivo!
Deus em pessoa
agindo naquela
menina, e ainda
ali, naquela
situação
crítica,
conduzindo-a a
auxiliar
primeiro os mais
fracos e frágeis
enquanto lhe
sobram as
forças. Uma
criança apenas –
de oito anos!
Deus! A Vida
manifesta, e
presente em
todos –
inclusive nos
repórteres
perplexos, todos
notadamente
entravados em
palavras e
atitudes, talvez
que
envergonhados de
sua robustez bem
nutrida de
origem em países
capitalistas,
talvez
perguntando-se,
como eu mesma
fiz, assistindo
em horrível
estado de
perplexidade ao
vídeo, como que
chegamos a este
ponto?!
Como permitimos
que crianças de
quaisquer partes
do mundo, desta
joia flutuante
nos espaços
infindos
acolhendo a
mesma Vida
manifesta pelo
Criador em todo
o infinito,
fossem assim
relegadas a um
tal martírio?
Como se
valessem, as
suas vidas,
menos do que as
de pessoas
viventes
n'outras regiões
deste planeta
pródigo? Como se
os recursos
deste mundo
rico, pleno,
pudessem assim
ser
monopolizados
apenas em favor
de alguns, por
razões
inteiramente
arbitrárias, em
prejuízo de
tantos outros?!
Amigos,
precisamos do
que o Mestre
Jesus outrora
definiu como "olhos
de ver" –
sem os quais,
nem olhando,
conseguimos
enxergar! Sem os
quais, segundo
Suas próprias
palavras, nos
convertemos
comodamente em "cegos
que conduzem
outros cegos,
sepulcros
caiados, bem
vistosos por
fora, mas cheios
de podridão por
dentro"!
Precisamos
recobrar a
capacidade
ancestral de
simplicidade na
percepção das
coisas! E o
contato direto,
desobstruído com
as expressões
divinas que
diariamente nos
aparecem em toda
a sua majestade,
é vital para
que, sempre a
tempo, voltemos
a valorizar a
Vida em toda a
extensão da sua
manifestação
pelo Criador
generoso,
presente dentro
e fora de nós!
Porque é óbvio
demais, e está
bem diante de
nós, a cada
minuto! Porque é
esta a grande e
definitiva
Verdade que cabe
a todos, enfim,
recordar para
agir em favor da
única felicidade
real possível –
fora das sombras
enganosas dos
interesses frios
da
materialidade: Deus,
o Criador, é
presente em tudo
que nos rodeia!
Em nós. Fora de
nós. No vizinho,
no parceiro de
trabalho. No
israelita e no
islâmico, no
africano e no
americano, no
muçulmano, no
indiano, no
francês e no
chinês! Não
importa!
Onde há Vida,
está presente
Deus – a Origem
maior de tudo!
E somente com
base nesta
certeza
conseguiremos,
enfim, vencer
nossos piores
enganos e medos
para agir; para
acabar em
definitivo com
as causas de
toda a miséria e
sofrimento que
paralisam a raça
humana e, então,
preservar,
cuidar,
santificar em
cada minuto tudo
o que o Criador
idealiza como a
manifestação do
sonho mais
perfeito para
cada coisa
presente no
Universo, e para
cada ser em
trajetória neste
nosso planeta
ainda tão
perdido em
sombras!