Fatos Espíritas
William Crookes
(Parte 7)
Continuamos
o estudo
metódico e sequencial do
clássico Fatos
Espíritas, de
William Crookes,
obra publicada em 1874,
cujo
título no original
inglês é
Researches in the
phenomena of the
spiritualism.
Questões preliminares
A. Quantas teorias foram
propostas para explicar
os fenômenos observados?
William Crookes menciona
nesta obra oito teorias.
A sétima teoria atribui
as manifestações à
intervenção dos mortos.
É a teoria espiritual
por excelência. A oitava
teoria atribui as
manifestações a uma
força psíquica, sem
associá-la
necessariamente à
intervenção dos
Espíritos.
(Fatos Espíritas –
Teorias expostas para
explicar os fenômenos
observados.)
B. Em face de tantas
suposições, o que
parecia a Crookes
indiscutível?
Ele assim se expressou:
“O que há de certo é que
um médium possui
uma qualquer coisa
que um ser comum não
possui. Dai um nome a
essa qualquer coisa;
chamai-lhe X, se
quiserdes, embora o Sr.
Serjeant Cox a denomine
força psíquica".
Essa qualquer coisa
citada por Crookes é o
que o Espiritismo chama
de faculdade mediúnica.
(Obra citada – Teorias
expostas para explicar
os fenômenos
observados.)
C. Qual é exatamente a
diferença entre a sétima
e a oitava teorias?
A diferença entre os
partidários da força
psíquica e a do
espiritualismo consiste
nisto: – os primeiros
sustentam não se ter
ainda provado, senão de
maneira insuficiente,
que existe um outro
agente de direção que
não a inteligência do
médium e que se trata
dos espíritos dos
mortos; ao passo que os
espiritualistas aceitam
como artigo de fé, sem
pedir mais provas, que
são os espíritos dos
mortos os únicos agentes
da produção de todos os
fenômenos.
(Obra citada –
Teorias expostas para
explicar os fenômenos
observados.)
Texto para leitura
124. Teorias expostas
para explicar os
fenômenos observados
– Primeira teoria:
Os fenômenos são todos
resultantes de fraudes,
de hábeis disposições
mecânicas ou de
prestidigitação; os
médiuns são impostores e
os assistentes são
imbecis.
125. É evidente que essa
teoria não pode explicar
senão muito pequeno
número de fatos
observados. Admito de
boa vontade que, entre
os médiuns que têm
aparecido diante do
público, existam muitos
impostores consumados,
que se aproveitam do
gosto do público para as
sessões espíritas, a fim
de encher a bolsa de
dinheiro, ganho sem
dificuldade; que haja
outros que, não tendo
para enganar nenhum
interesse pecuniário,
sejam levados à fraude
pelo único desejo,
parece, de adquirir
notoriedade. Achei-me em
presença de vários
desses embustes: alguns
eram muito engenhosos;
outros eram tão
grosseiros que não há
uma pessoa testemunha de
fenômenos reais que se
deixasse enganar.
126. Um investigador
desses gêneros de fatos
que no começo de suas
pesquisas encontra uma
dessas burlas,
desgosta-se e é natural
que, ou em particular ou
pela voz da imprensa,
emita suas opiniões, e
englobe na mesma
condenação toda espécie
de “médiuns”.
127. Com um médium
verdadeiro acontece que
os primeiros fenômenos
que se observam parecem
geralmente provenientes
de ligeiros movimentos
da mesa e de fracas
pancadas sob os pés ou
as mãos do médium; esses
efeitos, concordo, são
muito fáceis de imitar
pelo médium ou por
qualquer outra pessoa
sentada à mesa.
128. Se, como acontece
algumas vezes, não se
produz nada, o
observador céptico
retira-se firmemente
convencido de que, já
tendo com a sua
penetração sem igual
descoberto que o médium
enganava, este tem
receio de praticar
outras fraudes em sua
presença. Escreverá,
pois, aos jornais;
explicará a fraude e,
provavelmente,
expandir-se-á em
sentimentos de
comiseração à vista do
triste espetáculo de
pessoas que,
inteligentes em
aparência, se deixam
levar pelo erro que ele
descobriu ao primeiro
golpe de vista.
129. Há enorme diferença
entre as sortes de um
escamoteador de
profissão que, cercado
de aparelhos, auxiliado
por certo número de
pessoas ocultas e de
comparsas, iludem pela
destreza e ligeireza de
mãos, em seu próprio
teatro, e os fenômenos
que se produzem em
presença do Sr. Home, em
plena luz, num aposento
particular que, até ao
começo da sessão, foi
ocupado sem interrupção
por mim e por meus
amigos, que não somente
não teriam favorecido a
menor fraude, mas ainda
observavam a distância
tudo o que se passava.
130. Ainda mais: o Sr.
Home foi muitas vezes
examinado antes e depois
das sessões, a seu
próprio pedido. Durante
as manifestações mais
notáveis eu lhe segurava
por vezes as mãos e
colocava os meus pés
sobre os seus. Não
propus uma só vez
modificar as disposições
para tornar a fraude
menos possível, sem que
ele não consentisse
imediatamente e, muitas
vezes mesmo, chamou a
atenção para os meios de
controle que se podiam
empregar.
131. Falo sobretudo do
Sr. Home, porque tem
muito mais força que os
outros médiuns com os
quais fiz experiências;
mas com todos tomei
precauções suficientes
para que a fraude fosse
riscada da lista das
explicações possíveis.
132. Não podemos
esquecer que uma
explicação, para ser
admissível, deve
satisfazer a todas as
condições do problema;
não é lógico, pois, que
uma pessoa, que talvez
só tenha visto alguns
fenômenos inferiores,
diga: “suponho que tudo
isso é burla”, ou mais:
“tenho visto como essas
peloticas podem ser
executadas”.
133. Segunda teoria
– As pessoas que
assistem a uma sessão
são vítimas de uma
espécie de loucura ou de
ilusão e se persuadem de
que se produzem
fenômenos que não
existem realmente.
134. Terceira teoria
– Tudo isso é o
resultado da ação
consciente e
inconsciente do cérebro.
Esta teoria e a
precedente só podem,
evidentemente, abraçar
uma parte muito pequena
dos fenômenos; e elas
mesmas não os explicam
senão de maneira
improvável, podendo ser
refutadas em poucas
palavras.
135. Chego agora às
teorias “espirituais”. É
preciso lembrar que a
palavra espírito
é empregada em um
sentido muito vago pelo
maior número de pessoas.
136. Quarta teoria
– Os fenômenos
produzidos são
resultantes do espírito
do médium, que se
associa talvez ao
espírito de todas as
pessoas presentes ou de
algumas somente.
137. Quinta teoria
– São devidos à ação dos
maus espíritos, ou
demônios, que se
manifestam como querem e
da maneira como lhes
apraz, a fim de
destruírem o
Cristianismo e de
perderem as almas dos
homens.
138. Sexta teoria
– São produzidos por
certa classe de seres
que vivem na Terra, mas
imateriais, invisíveis
aos nossos olhos, e
todavia capazes, em
certos casos, de
manifestar a sua
presença. Em todos os
países e em todas as
épocas, têm sido
conhecidos sob o nome de
gênios (o que não quer
dizer que sejam
necessariamente maus),
gnomos, fadas, duendes,
diabretes, anões etc.
139. Sétima teoria
– As manifestações são
devidas à intervenção
dos mortos: é a teoria
espiritual por
excelência.
140. Oitava teoria
– A da força psíquica,
que é antes um
complemento das teorias
4, 5, 6 e 7 do que uma
teoria por si mesma.
Segundo ela, supõe-se
que o médium ou o
círculo das pessoas
reunidas para formar um
todo, possui uma força,
um poder, uma
influência, uma virtude
ou um dom, por meio dos
quais seres inteligentes
podem produzir os
fenômenos observados.
Quanto ao que podem ser
esses seres
inteligentes, é matéria
para outras teorias.
141. O que há de certo é
que um médium
possui uma qualquer
coisa que um ser
comum não possui. Dai um
nome a essa qualquer
coisa; chamai-lhe X, se
quiserdes, embora o Sr.
Serjeant Cox a denomine
força psíquica.
142. Esses assuntos têm
sido tão mal
compreendidos que julgo
acertado dar a
explicação seguinte,
servindo-me das próprias
palavras do Sr. Serjeant
Cox:
A teoria da força
psíquica nada mais é
do que a simples
verificação do fato
quase indiscutível
atualmente: o de que, em
certas condições, ainda
imperfeitamente fixadas
e a certa distância
ainda indeterminada,
promana do corpo de
certas pessoas, dotadas
de uma organização
nervosa especial, uma
força que, sem o contato
dos músculos ou do que a
eles se ligue, exerce
uma ação à distância,
produz visivelmente o
movimento de corpos
sólidos e neles faz
vibrar sons. Como a
presença de uma tal
organização é necessária
à produção dos
fenômenos, é razoável
concluir que essa força
procede desta
organização por um meio
ainda desconhecido.
Assim como o próprio
organismo é movido e
dirigido interiormente
por uma força que é a
alma, ou é governado
pela Alma, Espírito ou
Inteligência (dai-lhe o
nome que quiserdes) que
constitui o ser
individual a que
chamamos homem;
também é razoável
concluir que a força que
produz o movimento, além
dos limites do corpo, é
a mesma que o executa
dentro dos seus limites.
E, assim como se veem
muitas vezes a força
exterior dirigida por
uma inteligência, também
é razoável concluir que
a inteligência que
dirige a força exterior
é a mesma que a governa
interiormente. É a essa
força que dei o nome de
força psíquica,
porque esse nome define
bem a energia que, em
minha opinião, tem sua
fonte na Alma ou
Inteligência do homem.
Quase inteiramente de
acordo com aqueles que
adotam esta teoria da
força psíquica, como
sendo o agente pelo qual
os fenômenos se
produzem, eu não
pretendo afirmar que tal
força não possa ser
algumas vezes captada e
dirigida por alguma
outra Inteligência que
não seja a da força
psíquica.
143. Os mais fervorosos
espiritualistas admitem
em realidade a
existência da força
psíquica sob o nome
de todo impróprio de
magnetismo, com o qual
ela não tem a menor
relação, pois eles
afirmam que os espíritos
dos mortos não podem
executar os atos que se
lhes atribui senão por
meio da força magnética
do médium, isto é, dessa
força psíquica.
144. A diferença entre
os partidários da
força psíquica e a
do espiritualismo
consiste nisto: – que
sustentam aqueles não se
ter ainda provado, senão
de maneira insuficiente,
que existe um outro
agente de direção que
não a inteligência do
médium e que se trata
dos espíritos dos
mortos; ao passo que os
espiritualistas aceitam
como artigo de fé, sem
pedir mais provas, que
são os espíritos dos
mortos os únicos agentes
da produção de todos os
fenômenos.
145. Assim, a
controvérsia se reduz a
uma pura questão de
fato, que não se poderá
resolver senão por
laboriosa série de
experiências e pela
reunião de grande número
de fatos psicológicos:
será esse o primeiro
dever que terá a cumprir
a Sociedade de
Psicologia atualmente em
organização.(1)
(Continua no próximo
número.)
(1)
Ao publicar em 1931 seu
livro Animismo ou
Espiritismo?,
Ernesto Bozzano resolveu
de vez essa questão, ao
propor que há fatos
espíritas e fatos
anímicos; portanto,
nem o Animismo nem o
Espiritismo explicam,
sozinhos, o conjunto dos
fatos observados por
pesquisadores do porte
de William Crookes e
outros.