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Estudando as obras de Manoel Philomeno de Miranda
Ano 8 - N° 382 - 28 de Setembro de 2014
THIAGO BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br
 
Curitiba, Paraná (Brasil)  
 

 

Loucura e Obsessão

Manoel Philomeno de Miranda

(Parte 29)

Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do livro Loucura Obsessão, sexta obra de Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco e publicada em 1988.

Questões preliminares

A. Sabe-se que Ouspensky, o pensador russo discípulo de Gurdjieff, classificou os homens em dois grupos. Como eles se denominam?

Ouspensky classificou-os em fisiológicos e psicológicos. Os primeiros seriam aqueles cujo comportamento se submete ao repouso, ao estômago e ao sexo, enquanto os outros são os que vivem conforme o sentimento e a mente. Comentando o assunto, Dr. Bezerra disse que prefere considerar que há homens que ainda transitam sob o comando da sua natureza animal, primitiva, há os que vivem sob a predominância da natureza espiritual e os que se encontram na fase intermediária, em caminho do estágio mais grosseiro para o mais sutil.  O homem, no qual predomina a natureza animal, reage sempre e com violência; detém o que tem e não reparte, em razão do egoísmo que o vitima. Aquele em quem a natureza espiritual se destaca, age, porque pensa com calma, nas circunstâncias mais graves, preservando o equilíbrio; possui sem reter, multiplicando a benefício do próximo, promovendo a comunidade onde se encontra e desenvolvendo os sentimentos do altruísmo, que o felicita. (Loucura e Obsessão, cap. 19,  pp. 241 a 243.)

B. Dos três grupos mencionados por Dr. Bezerra, qual reúne o contingente mais numeroso?

Segundo Dr. Bezerra, há nos quadros sociais da Terra uma prevalência de homens-instinto, em relação a um número menor de homens-razão, que se empenham por criar condições de progresso e realização em favor dos que estão atrás. E, movimentando-se entre os dois contingentes, há os que despertam para as realidades espirituais, galgando os degraus de ascensão a duras penas. Explicou o Benfeitor: “Estagiando uma larga faixa dos Espíritos na primeira fase, suas paixões são agressivas; seus desejos, dominadores; suas aspirações, primitivas, sem as resistências morais que dão valor ético ao ser, partindo para sucessivos revides e cobranças, quando contrariados nos seus gostos ou feridos nos seus falsos brios, ou desagradados nos seus apetites”. (Obra citada, cap. 19, pp. 243 e 244.)

C. Nos processos obsessivos, quem é o mais desventurado: o obsidiado ou o chamado obsessor?

É preciso primeiro lembrar que a ocorrência da enfermidade obsessiva somente se dá porque os litigantes são afins, sendo a aparente vítima o endividado, e o cobrador, que deveria perdoar, o infeliz real, carente de socorro e misericórdia. Carente de socorro, para que adquira a paz; de misericórdia, a fim de que se desembarace do sofrimento que se alonga desde a hora em que foi ludibriado, traído ou abandonado, e que, mantendo-se na injusta exigência de reparação, passa para a posição mais desditosa, que é a de algoz. Diante, pois, de perseguidos e perseguidores, nunca se deve esquecer que o mais desventurado é aquele que se desforça, porquanto agride as Leis da Vida e gera animosidade para si mesmo. Mas ele assim procede por loucura, que decorre da infelicidade que o domina. (Obra citada, cap. 19,  pp. 244 a 246.) 

Texto para leitura 

113. O crescimento moral do ser exige decisão vigorosa – Analisando com Miranda a problemática sempre grave e complexa da obsessão, Dr. Bezerra asseverou: “Enquanto as paisagens mental e moral do homem não mudem o clima de aspirações responsáveis pelos problemas que geram, o intercâmbio obsessivo permanecerá. Dependências afetivas, necessidades emocionais e campos de vibrações odientas são sustentados nos jogos dos interesses entre os desencarnados e os homens. Porque estes não se elevem espiritualmente, aqueles encontrarão ganchos, nos quais se prendem, passando de hóspedes a gerentes da casa mental que lhes cede lugar. O crescimento moral do ser é impositivo inadiável do seu processo evolutivo, que está a exigir decisão vigorosa, para ser levada adiante sem mais tardança. Os atavismos que lhe predominam, em arrastamentos comprometedores, devem ceder lugar às aspirações enobrecidas, que o atrairão para objetivos libertadores”. “Ouspensky, pensador russo, que se fez excelente discípulo de Gurdjieff, dividiu os homens em dois grupos: fisiológicos e psicológicos, para bem os situar na área das suas necessidades e aspirações. Os primeiros seriam aqueles cujo comportamento se submete ao repouso, ao estômago e ao sexo, enquanto os outros são os que vivem conforme o sentimento e a mente. Preferiríamos considerar que há os que ainda transitam sob o comando da sua natureza animal, primitiva, aqueles que vivem sob a predominância da natureza espiritual e os que se encontram na fase intermediária, em caminho do estágio mais grosseiro para o mais sutil. Os primeiros são homens-instinto, mais dirigidos pelas sensações, enquanto os últimos são homens-razão, comandados pela emoção. Aqueles vivem para comer, gozar e dormir, sem tempo mental para sentir os ideais de beleza e progresso. Os outros, não obstante se utilizem das sensações que decorrem das imposições fisiológicas, cultivam os sentimentos, e as emoções sobrepõem-se aos caprichos dos prazeres, fugidios e imediatos. O homem, no qual predomina a natureza animal, reage sempre e com violência; detém o que tem e não reparte, em razão do egoísmo que o vitima. Aquele em quem a natureza espiritual se destaca, age, porque pensa com calma, nas circunstâncias mais graves, preservando o equilíbrio; possui sem reter, multiplicando a benefício do próximo, promovendo a comunidade onde se encontra e desenvolvendo os sentimentos do altruísmo, que o felicita. O amor, no período das dependências fisiológicas, é possessivo, arrebatado, físico, enquanto que, no dos anelos espirituais, se compraz, libertando; torna-se, então, amplo, sem condicionamentos, anelando o melhor para o outro, mesmo que isto lhe seja sacrificial. Um parece tomar a vida e retê-la nas suas paixões, enquanto o outro dá a vida e libera para crescer e multiplicar-se em outras vidas.” (Loucura e Obsessão, cap. 19,  pp. 241 a 243.) 

114. O sofrimento é opção individual da criatura humana – Prosseguindo sua explanação, o Benfeitor Espiritual acentuou: “Os que se encontram em trânsito entre as experiências primevas e as conquistas da razão, apesar dos vínculos fortes com a retaguarda evolutiva, acalentam ideais de enobrecimento, sofrem tédio em relação aos gozos, padecem certas insatisfações e frustrações, porque já não lhes bastam as sensações fortes, exauridoras, tendo necessidade de mais altos valores íntimos, que independam do imediato, do jogo cansativo dos desejos físicos. Ambições mais nobres se lhes desenham nas áreas mentais e os desejos sofrem alteração de estrutura. Pressentem a glória do amor e a dádiva da paz, engajando-se nos movimentos idealistas, apesar das incertezas e dubiedades que os assaltam vez por outra”. Dito isto, Dr. Bezerra lembrou que há, nos quadros sociais da Terra, uma prevalência de homens-instinto, em relação a um número menor de homens-razão, que se empenham por criar condições de progresso e realização em favor dos que estão atrás. E, movimentando-se entre os dois contingentes, há os que despertam para as realidades espirituais, galgando os degraus de ascensão a duras penas. Em seguida, o Benfeitor prosseguiu: “Estagiando uma larga faixa dos Espíritos na primeira fase, suas paixões são agressivas; seus desejos, dominadores; suas aspirações, primitivas, sem as resistências morais que dão valor ético ao ser, partindo para sucessivos revides e cobranças, quando contrariados nos seus gostos ou feridos nos seus falsos brios, ou desagradados nos seus apetites... Porque em idêntica posição vibratória, disputam entre si os espólios infelizes dos interesses de que se nutrem, vivendo em intercâmbio obsessivo, quando o amor é apenas força de desejo, ou no ódio, quando cegos pela revolta e envenenados pela vingança. Um pouco acima, os intermediários são também fáceis presas das alienações espirituais, por falta de consolidação dos ideais libertários, o que os faz recuar, tombando nos círculos das disputas rudes e alucinadas. À medida que o homem suplanta a dependência dos vícios e se eleva, emocionalmente, acima do estômago e do sexo, terá conseguido o valioso recurso terapêutico preventivo em relação a essa parasitose infeliz, que o mantém em círculos viciosos, nas faixas mais primárias das reencarnações reeducativas”.  “O Espírito – diz Dr. Bezerra – não foi criado por Deus para sofrer. O sofrimento é sua opção pessoal, em face da vigência do amor que felicita, em todo lugar, aguardando por ele. Todavia, como decorrência da sensualidade a que se escraviza, retarda a felicidade que lhe está destinada. Damos aqui, à palavra sensualidade, uma abrangência maior: paixão pelo comer, vestir, gozar, viver nos limites dos interesses pessoais, mantendo os sentimentos adstritos aos impositivos orgânicos, dos quais não prescinde, sem espaço mental ou emocional para a renúncia, a abnegação, a fraternidade...” (Loucura e Obsessão, cap. 19,  pp. 243 e 244.) 

115. A enfermidade obsessiva se dá porque os litigantes são afins – Feita ligeira pausa, Dr. Bezerra acrescentou: “Enquanto vigerem aqueles arcabouços primários na personalidade, o intercâmbio com outros semelhantes é inevitável. O mesmo ocorre, sem dúvida, entre os indivíduos que vivem as emoções da sua natureza espiritual, cuja sintonia é natural com as Fontes da Vida, de onde procede a inspiração do bem, do bom e do belo, atraindo-os para as conquistas gloriosas do amor. Assim, é sempre conveniente recordar que a obsessão é uma ponte de duas vias: o Espírito que a transita e segue na direção do homem, somente logra passagem porque este lhe vem em busca, em face das mesmas necessidades, compromissos e graus de evolução. A ocorrência, portanto, da enfermidade obsessiva somente se dá porque ambos os litigantes são afins, sendo a aparente vítima o endividado, e o cobrador, que deveria perdoar, o infeliz real, carente de socorro e misericórdia. De socorro, para que adquira a paz; de misericórdia, a fim de que se desembarace do sofrimento que se alonga desde a hora em que foi ludibriado, traído ou abandonado, e que, mantendo-se na injusta exigência de reparação, passa para a posição mais desditosa, que é a de algoz. Diante, pois, de perseguidos e perseguidores, nunca se deve esquecer que o mais desventurado é aquele que se desforça, porquanto agride as Leis da Vida e gera animosidade para si mesmo. Todavia, assim procede por loucura, que decorre da infelicidade que o domina”. “A terapêutica desobsessiva é, desse modo, muito complexa, envolvendo todos aqueles que se lhe dedicam, em grave e elevado cometimento credor de carinho e respeito.” Logo que o Benfeitor concluiu a sua fala, Miranda, convencido pelo esclarecimento recebido, anotou estas sábias palavras: “A exigência da evolução pessoal é de urgência para todos nós, através da qual a renovação social se dará naturalmente”. Na reunião programada para aquela noite, que irmã Emerenciana denominara “socorro de libertação”, o médium Antenor fora designado para intermediário do Espírito que se comunicaria, em razão de suas amplas possibilidades na psicofonia. Seria tratado naquela sessão um paciente da Casa, filho do Diretor-Presidente da Instituição. “Vítima de pertinaz obsessão, a que faz jus – esclareceu Felinto –, não granjeou títulos de enobrecimento para que o problema tivesse a solução conforme o desejo de todos, particularmente dos pais, que são abnegados trabalhadores do bem e portadores de méritos valiosos. Todavia, há circunstâncias e ocorrências que não puderam ser solucionadas da forma como é considerada a saúde na Terra. Hoje, cremos, se dará o desfecho da trama que se arrasta por muito tempo.” (Loucura e Obsessão, cap. 19,  pp. 244 a 246.) 

116. O passe é importante no auxílio aos doentes da alma – Conduzido por Irmã Emerenciana, e logo atraído ao perispírito de Antenor, o Espírito obsidente entrou, de imediato, em estertores e, transfigurando a face do médium e o seu conjunto: expressão, gestos, voz, exclamou: “Nunca o perdoarei!” Um senhor aproximou-se, bastante emocionado, aureolado por tênue claridade e, influenciado por Emerenciana, disse: “Não te pedimos que o perdoes. Rogamos que lhe dês oportunidade de reparar os males que praticou em relação a ti e àqueles a quem amas. Sem querer justificá-lo, digo-te que ele estava louco. O traidor, que rouba a confiança e estrangula a amizade, nas forças do seu crime, encontra-se fora de si. Basta que tenhas piedade e lhe concedas o que a ti ele não ofereceu, levando-te a este estado...” – “Só palavras, que em nada modificam a situação. Você tem o direito de interceder por ele: é seu filho, o infame que a mim desgraçou.” – “Eu o sei e me apiedo de vós ambos. Choro o meu filho infeliz e lamento por ti, meu pobre irmão. Ele acaba de completar vinte anos e já se vão dezesseis de dores inomináveis para nós e para ele. Quando se iniciou a doença, ele foi, a pouco e pouco, perdendo os recursos da fala, da compreensão, enquanto se lhe aumentava a agressividade, a irritação, a par do retardamento mental... Tu falas de dor, todavia, sem desejar relacionar sofrimentos, sua mãe e eu, desde então, nunca mais pudemos repousar, à noite, pois é quando mais ele se excita e se desespera... Acostumamo-nos a quase não dormir. Ali está ela, chorando conosco. Olha-a, desfigurada e triste, sofrida e extenuada, sem ódio por ti, que trouxeste, através do nosso filho, desventura ao nosso lar. Quantas vezes ele nos bateu na face! Quantas outras, tu lhe tomaste as mãos e nos agrediste também! A princípio, não sabíamos o de que se tratava. Críamos apenas no diagnóstico médico, que afirmava ser um incurável distúrbio neurológico, que lhe lesara grandes áreas orgânicas. Da aflição inicial e da amargura que nos tomou, passamos à piedade... Quando a fé em Deus e na Sua justiça nos clareou a noite das dores, ante a certeza da reencarnação e da sobrevivência do Espírito à morte física, passamos a amá-lo e a ter mais coragem...” – “Não me tente sensibilizar – interrompeu-o o Espírito –, pois que isto mais me revolta.” “Ele é seu filho querido, porém traiu-me, roubando-me ao lar a filha amada a quem corrompeu e desgraçou, levando-a ao suicídio... E se passava como meu amigo, a quem abri a minha casa e lhe concedi a honra que não merecia, de conviver com a minha família. Cada um de nós, agora, zela e luta por seu próprio filho. Nunca mais soube dela, a filha, a quem ele destruiu...” Ao referir-se à causa de sua desventura, o choro convulsivo dominou o comunicante de forma irrefreável. A uma orientação mental de Emerenciana, a irmã Anita aplicou-lhe energias tranquilizadoras, diminuindo-lhe o desespero e mantendo a harmonia nos aparelhos nervoso e respiratório do médium, afetados pela ingestão dos fluidos tóxicos, que os sobrecarregavam. (Loucura e Obsessão, cap. 19,  pp. 246 a 248.) (Continua no próximo número.)


 


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