Jesus foi
agressivo no
episódio da
Purificação do
Templo?
"E entrou Jesus
no templo de
Deus, e expulsou
todos os que
vendiam e
compravam no
templo, e
derribou as
mesas dos
cambistas e as
cadeiras dos que
vendiam pombas;
e disse-lhes:
Está escrito: A
minha casa será
chamada casa de
oração; mas vós
a tendes
convertido em
covil de
ladrões."
(Mateus,
21:12-13)
O acontecimento
conhecido como a
"Purificação do
Templo" é
narrado pelos
quatro
apóstolos,
autores dos
evangelhos
canônicos. A
referida
passagem é no
mínimo curiosa,
pois descreve
uma suposta ira
de Jesus, em seu
primeiro grande
ato público após
ser batizado por
João Batista.
Na ocasião, como
descreve a
Bíblia, Jesus
teria se
irritado com a
presença de
vendilhões que
negociavam
diversos
produtos no
Templo de
Jerusalém,
expulsando-os do
recinto.
“Tirai daqui
estas coisas;
não façais da
casa de Meu Pai
casa de negócio.
Lembraram-se os
Seus discípulos
de que está
escrito: O zelo
da Tua casa Me
consumirá.” (João,
2:14-17)
Os relatos
destacam que o
Nazareno
derrubou mesas e
moedas e ainda
espantou os
animais que eram
comercializados,
utilizando um
cordel.
Este evento
causa-nos certa
estranheza, pois
produz uma
conotação
agressiva com
relação à
atitude
de Jesus, a
única nessas
características,
anotada pelos
apóstolos, em
todo o seu
ministério.
Mas será que
Jesus, de fato,
foi agressivo
nesta situação?
Cairbar Schutel,
em seu livro "O
Espírito do
Cristianismo",
nos mostra o
caminho para
compreender a
questão:
“Para que se
compreenda bem
esse ato, de
aparência
agressiva, é
preciso que nos
reportemos
àquela era e
examinemos, sem
espírito
preconcebido, os
princípios da
Lei que regiam o
povo, os
costumes
religiosos
degenerados pela
classe
sacerdotal em
vil mercancia, a
ponto de haver
sido convertido
o Templo de
Jerusalém em
covil de
salteadores".
(Cairbar Schutel
- O Espírito do
Cristianismo - A
Purificação do
Templo.)
O fato era que o
Templo de
Jerusalém estava
perdendo seu
aspecto
religioso para
dar lugar ao
comércio e à
corrupção do
povo e dos
sacerdotes
locais,
justificando
assim uma
postura mais
enérgica
de Jesus para
combater tais
desvios. Se o
Mestre não
tivesse adotado
este
posicionamento,
talvez a
essência
espiritual do
templo se
perderia por
completo. Cristo
certamente não
adotou uma
conduta
agressiva, mas
manteve-se firme
em sua
atitude, para
que as pessoas
compreendessem a
gravidade da
situação.
Podemos
considerar esta
passagem,
portanto, como
uma encenação
literária, muito
utilizada por
Jesus para
transmitir suas
mensagens à
mente humana
ainda limitada.
Aliás, esse tipo
de comunicação
gestual era uma
característica
dos profetas da
época. Podemos
citar várias
passagens
bíblicas que
demonstram uma
encenação
literária, como,
por exemplo, a
profetização de
Ágabo da prisão
de Paulo de
Tarso:
“[...] desceu
da Judeia um
profeta, de nome
Ágabo; e vindo
ter conosco,
tomou a cinta de
Paulo e, ligando
os seus próprios
pés e mãos,
disse: Isto diz
o Espírito
Santo: Assim os
judeus ligarão
em Jerusalém o
homem a quem
pertence esta
cinta, e o
entregarão nas
mãos dos
gentios”.
(Atos 21.
10-11)
Esta encenação
literária foi
empregada pelo
profeta Ágabo,
para anunciar de
maneira
antecipada a
prisão de Paulo.
Portanto, era
natural na época
este tipo de
linguagem.
A pedagogia
utilizada por
Cristo era muito
peculiar, os
próprios textos
bíblicos são
carregados de
alegorias e
conotações
diversas.
Recordemo-nos
das parábolas.
Em nenhum
momento as
escrituras
sagradas rotulam
a atitude do
Messias como
agressiva,
todavia, cada um
assimila os
textos de acordo
com sua
capacidade de
entendimento. A
nossa
compreensão é
limitada frente
aos ensinamentos
de Jesus, isto
justifica as
divergências nas
interpretações
bíblicas a que
assistimos por
aí.
Por fim,
submetendo a
questão ao crivo
da razão,
chegaremos à
conclusão de
que Jesus não
teria adotado
tal conduta,
pois Ele é um
Espírito puro,
como nos
demonstra a
Codificação
Espírita:
625. Qual o tipo
mais perfeito
que Deus
ofereceu ao
homem para lhe
servir de guia e
modelo?
"Vede Jesus.”
(Allan
Kardec - O Livro
dos Espíritos.)
Se analisarmos
então a
característica
de um Espírito
puro, veremos
que há
predomínio do
espírito sobre a
matéria (quando
encarnado), além
da superioridade
moral e
intelectual
sobre os demais:
Primeira ordem.
- Espíritos
puros
112) CARACTERES
GERAIS - Nenhuma
influência da
matéria.
Superioridade
intelectual e
moral absoluta,
com relação aos
Espíritos das
outras ordens.
(Allan Kardec -
O Livro dos
Espíritos.)
Se Jesus é um
Espírito puro,
consequentemente,
não manifestaria
paixões
inferiores como
a raiva e a
agressividade,
nem mesmo
encarnado, pois
Espíritos
pertencentes a
essa ordem já
expurgaram de
seu íntimo este
tipo de
sentimento, que
é uma
característica
humana.
Então, podemos
concluir que a
agressividade
atribuída ao
comportamento de
Jesus na
Purificação do
Templo é apenas
uma questão de
interpretação.
Referências:
A Bíblia
Sagrada.
O Espírito do
Cristianismo -
Cairbar Schutel.
O Livro dos
Espíritos -
Allan Kardec.