1
“Nisto
conhecerão todos
que sois meus
discípulos, se
tiverdes
amor uns aos outros.”
– Jo, 13:35.
Vimos, em Centro
Espírita desta
Capital, no
início da década
de oitenta, que
pessoas carentes
recebiam auxílio
na sede da
Entidade. As
famílias – em
geral, a mãe
cercada de
filhos –
acorriam à busca
da sopa, de
cestas com
alimentos,
calçados e
roupas usadas.
Aí ouviam
palestras
evangélicas.
Mais de uma vez
observamos que
motoristas de
ônibus não
paravam no
‘ponto’, para
evitar os
pobres,
modestamente
vestidos, com
suas sacolas e
muitas crianças.
E nem sempre
tinham como
pagar a
passagem.
Muitas dessas
crianças
buscavam na rua
o próprio
sustento e
auxílio às suas
famílias. Ou
delas se
afastavam, pelos
maus-tratos de
toda ordem
recebidos no
‘lar’.
À época, jovens
idealistas
mobilizaram
integrantes das
Mocidades
Espíritas de
algumas
Instituições e,
movidos pela
compaixão,
dirigiam-se,
semanalmente, a
locais onde se
reuniam esses
pequeninos.
Assim, aprendiam
a trabalhar em
equipe e a se
unirem à Causa
do Evangelho e
não apenas a
esta ou àquela
Casa Espírita.
As crianças, à
margem da
sociedade, sem
alimento, teto
ou escola,
viviam à míngua
de carinho e de
oportunidades –
assim como
tantas delas
ainda vivem, no
Brasil, e em
várias partes do
mundo dito
‘civilizado’.
Não temos
notícias de
crianças
abandonadas
entre os índios!
E há animais que
‘adotam’ órfãos,
até de outras
raças!
Indagados sobre
onde moravam
seus pais,
indicavam os
Bairros X ou Y
de Goiânia –
quase sempre
chamados
“Jardins”, ainda
que ali nem
sempre houvesse
uma árvore –, ou
localizados em
municípios
vizinhos.
Em numerosas
invasões,
abrigavam-se
debaixo de
quentíssimas
barracas de
lonas pretas,
sem janelas e
dignidade; ou em
precários
barracões, sem
higiene, com
cisternas
construídas
próximas às
‘privadas’.
Os jovens
buscaram
conhecer alguns
desses
“Jardins”, e
criaram ‘Postos
de Assistência’
em vários deles,
para ali
transferindo,
com ingentes
sacrifícios,
suas atividades
junto às
crianças, e
respectivas
famílias.
Ora debaixo de
árvores, quando
as havia, ou na
própria rua; ora
em alpendres ou
varandas cedidas
por moradores
fraternos, em
suas casinhas
precárias e
modestas.
Tempos depois,
compravam “o
direito” de uma
daquelas
“posses”. Com
isso, as
atividades
cresceram,
exigindo
redobrados
esforços e
renúncias.
Brincavam e
cantavam com as
crianças,
ganhando-lhes a
confiança.
Evangelizavam-nas
e lhes serviam a
sopa fraterna.
Cortavam seus
cabelos e unhas;
curavam-lhes
pequenos
machucados.
Doavam-lhes a
amizade de seus
corações puros.
Ofereciam, a
pouco e pouco,
cursos de
trabalhos
manuais às mães
e aos jovens.
*
A criação desses
“Postos de
Assistência”,
nascidos
espontaneamente,
foi e é ideia
maravilhosa, eis
que reintegra as
crianças às suas
famílias, evita
que todos se
desloquem;
auxilia-as sem
lhes impor
sacrifícios, sem
humilhá-las.
E a convivência
mais próxima
lhes revelava
que suas
carências eram –
e ainda são –
maiores.
Requeriam não só
a assistência,
mas também a
promoção social:
a construção de
barracões e
creches; cursos
profissionalizantes
e até mesmo
escolas de
ensino
fundamental,
além de amparo
às jovens mães
‘solteiras’.
Esse convívio
faculta a
educação dos
sentimentos não
só das famílias,
mas também dos
que integram
essas
atividades,
revelando-lhes a
extensão do
trabalho a
realizar.
Dinamiza a
divulgação da
Doutrina
Espírita, eis
que esses
‘Postos de
Assistência’,
com o passar dos
anos,
transformam-se
em Casas
Espíritas
sólidas e
autônomas.
Crescem e se
transformam em
novos núcleos de
evangelização,
estruturados na
vivência dos
ensinos de
Jesus.
Ali, antigos
assistidos mudam
suas vidas para
melhor, não só
no aspecto
material, mas,
educados, muitos
deles atuam como
valorosos
trabalhadores
dessas
Instituições.
Contribuem para
o
desenvolvimento
social
sustentável da
comunidade, eis
que atuam no
núcleo familiar;
estimulam o
trabalho e a
consciência de
Cidadania nos
filhos muito
amados de Deus.
Transforma-lhes
a vida para
melhor.
Ainda que
inconscientemente
seguem a
orientação de
Allan Kardec, de
multiplicar o
número de
pequenos grupos
espíritas:
“334. (...) A
dificuldade,
ainda grande, de
reunir numerosos
elementos
homogêneos que
atendam a esse
requisito nos
leva a dizer
que, no
interesse dos
estudos e para o
bem da própria
causa, as
reuniões
espíritas devem
tender mais para
a multiplicação
de pequenos
grupos, do que
para a
constituição de
grandes
aglomerações.
(...)”
2
– Grifamos.
“335. (...)
Nas pequenas
reuniões, onde
todos se
conhecem melhor,
há mais
segurança quanto
à eficácia dos
elementos que
para elas
entram. O
silêncio e o
recolhimento são
mais fáceis e
tudo se passa
como em família.
(...)”
2
E reafirma em
outra parte:
“A homogeneidade
e a comunhão de
pensamentos e
sentimentos são,
para os grupos
espíritas, (...)
a condição
sine qua non
de estabilidade
e de vitalidade.
É para tal
objetivo que
devem tender
todos os
esforços, e
compreende-se
que é tanto mais
fácil atingi-lo
quanto menos
numerosas as
reuniões. Nas
grandes reuniões
é quase
impossível
evitar a
intromissão de
elementos
heterogêneos
(...). Nas
pequenas
reuniões, onde
todos se
conhecem e se
estimam, onde se
está como em
família, o
recolhimento é
maior, a
intrusão dos
mal-intencionados
mais difícil.”
3
– Grifo do
original.
Hoje,
felizmente, são
numerosos esses
Postos Avançados
de fraternidade
legítima. Raras
são as
Instituições
Espíritas que
não se ocupam
com essas
oficinas de
trabalho. Muitas
delas mantêm uma
ou mais dessas
unidades – e em
certos casos,
até em
municípios
vizinhos –, onde
se nota a ação
transformadora
do Evangelho.
Para nossa
alegria, esses
‘Postos
Avançados de
Assistência aos
Filhos do
Calvário’,
surgiram em
inúmeras regiões
brasileiras. Não
há, a nosso ver,
como saber
quando e onde
surgiu o
primeiro deles
em nossa Pátria.
Cremos que
existem em todos
os Estados
brasileiros.
Certamente foram
inspirados pelos
“(...) Espíritos
do Senhor, que
são as virtudes
dos Céus, qual
imenso exército
que se movimenta
ao receber as
ordens do seu
comando,
espalham-se por
toda a
superfície da
Terra e,
semelhantes a
estrelas
cadentes, vêm
iluminar os
caminhos e abrir
os olhos aos
cegos”.
4
À semelhança da
ação de Paulo de
Tarso, também
desenvolveram
essas atividades
em outros
continentes.
Muitos deles
foram criados em
outros países,
tanto na América
do Sul, quanto
na América
Central e na
África, sempre
tão sofrida!
Quem puder
apoie, sempre,
esse louvável
trabalho!
Belas e
generosas
iniciativas, a
levar a Boa Nova
a tantos
corações!
Referências:
1.
XAVIER,
Francisco C.
Paulo e Estêvão.
Pelo Espírito
Emmanuel. 23 ed.
Rio de Janeiro:
FEB, 1987. P.
389/90;
2.
KARDEC,
Allan. O
Livro dos
Médiuns.
Trad. Evandro
Noleto Bezerra.
Rio de Janeiro:
FEB, 2009. Cap.
24, it. 334 e
335;
3. KARDEC,
Allan. Viagem
Espírita em 1862
e outras viagens
de Kardec.
Trad. Evandro
Noleto Bezerra.
Rio de Janeiro:
FEB, 2005. P.
232/233. O
Espiritismo na
Bélgica;
4. KARDEC,
Allan. O
Evangelho
segundo o
Espiritismo.
2 ed. Brasília:
FEB, 2013.
Prefácio.