A Parábola do Semeador
A parábola do Semeador é
autoexplicativa sendo,
por isso, considerada a
mais simples e a mais
direta das mensagens de
Jesus. Essa mensagem de
Jesus aparece nos três
evangelhos sinóticos, a
saber, Mateus (Mt, 13:
1-9), Marcos (Mc, 4:
3-9) e Lucas (Lc, 8:
4-8). Aparece, ainda,
conforme a Wikipédia, no
evangelho apócrifo de
Tomé. Não é objetivo
desta análise comparar
possíveis semelhanças e
diferenças dos textos
atribuídos aos três
evangelistas. A escolha
de reproduzir aqui a
narrativa de Mateus
deve-se ao fato de que
este evangelista
contextualiza o evento
relatado e apresenta
detalhes que podem
ajudar o leitor na
compreensão da parábola.
“Naquele dia saindo
Jesus de casa, sentou-se
junto ao mar;
achegaram-se a ele
grandes multidões, de
modo que entrou numa
barca e se sentou; e
todo o povo ficou em pé
na praia. Muitas coisas
lhes falou em parábolas,
dizendo: O
semeador saiu a semear.
Quando semeava, uma
parte da semente caiu à
beira do caminho, e
vieram as aves e
comeram-na. Outra parte
caiu nos lugares
pedregosos, onde não
havia muita terra; logo
nasceu, porque a terra
não era profunda e,
tendo saído o sol,
queimou-se; e porque não
tinha raiz, secou-se.
Outra caiu entre os
espinhos, e os espinhos
cresceram e a sufocaram.
Outra caiu na boa terra
e dava fruto, havendo
grãos que rendiam cem,
outros sessenta e outros
trinta por um. Quem tem
ouvidos, ouça.” (Mateus,
13:1-9)
Ao contar a parábola
Jesus chama a atenção de
seus ouvintes. Esse
chamado de atenção
aparece em outras
narrativas. Trata-se da
locução: “Quem tem
ouvidos, ouça”. Por que
esse evocativo às vezes
usado no início e no
final, ou apenas no
início, ou ainda somente
no final da narrativa?
Evidente que não é
dirigido ao deficiente
auditivo. Então seria
uma redundância? Essa
evocação indica que é
necessário permanecer
atento e refletir além
do registro das palavras
que o conduto auditivo
reproduz ou, no caso da
leitura, buscar o
espírito da letra, como
indicou Paulo, afirmando
que “a letra mata, mas o
espírito vivifica” (2
Cor 3, 6). Procurando
realizar tal exercício
entendemos importante
identificar alguns
aspectos que dão
movimento à parábola:
(a) quem é o semeador?
(b) o que o semeador
semeia? (c) em quais
glebas as sementes são
semeadas? (d) qual a
produção de cada gleba?
A presente análise não
descarta outras
interpretações.
Entretanto o semeador
pode ser entendido como
todo e qualquer
indivíduo que entra em
contato com a boa nova.
Impossível tomar
conhecimento (“ouvir”)
de uma boa nova e não
passá-la adiante, mesmo
em se tratando de
eventos comezinhos como,
por exemplo, alguém
falar ao telefone:
“Fulano disse que ontem
choveu bastante em...”.
Aquele que semeia tem
uma tarefa que para
realizá-la proficuamente
precisa ser também
gleba. Recebe de outrem
e semeia adiante. Quem
está de posse da boa
nova, pretende
difundi-la e, na maioria
das vezes, não seleciona
seu ouvinte. As
diferentes pessoas
(glebas) que recebem a
semente (boa nova) têm
diferentes condições de
preparo (sensibilidade
evolutiva) e, por isso,
respondem de maneira
diversa a essa
semeadura.
A parábola traz
informações explícitas
sobre as características
das glebas que receberam
as sementes, podendo-se
identificar, grosso
modo, três tipos de
respostas por parte
delas: (a) negativa; (b)
pseudopositiva; (c)
positiva. Na negativa, a
semente (boa nova) é
negligenciada pela
pessoa, embora
aproveitada por outros.
Esse caso pode ser
ilustrado por aqueles
que falam da boa nova,
mas que não se esforçam
em aplicá-la em suas
vidas. Na pseudopositiva,
aparentemente a boa nova
foi aceita, chegando
mesmo a germinar, porém
diante das primeiras
dificuldades fenecem.
Ilustram essa classe as
pessoas que não se
aplicam suficientemente
na boa nova recebida,
descuidando quanto à
reflexão e ao
aprofundamento. Na
positiva, a resposta se
diferencia de grupos
para grupos. Há os que
se dedicam de maneira
exemplar e obtêm
resultados
extraordinários. Há,
também, os que são
apenas esforçados e
conseguem bons
resultados, mas abaixo
dos primeiros.
Finalmente, outros com
menor dedicação alcançam
colheita meramente
mediana. Trata-se
daqueles que recebem a
boa nova de maneira
casual, quase
burocrática e caminham
lentamente na estrada
evolutiva. Como se vê, a
colheita depende não
apenas do semeador, mas,
sobretudo, da destinação
dada à semente.
Colaborou na redação
deste artigo
Zilda A. P. Del Prette,
da UFSCar, de São Carlos
(SP).