A. Como se compõem os corpos materiais?
B. A Química é importante para compreendermos a Gênese do globo?
C. Como foram formados os corpos dos primeiros seres vivos?
Texto para leitura
464. Dilúvio bíblico – O dilúvio bíblico, também conhecido pela denominação de «grande dilúvio asiático», é fato cuja realidade não se pode contestar. Deve tê-lo ocasionado o levantamento de uma parte das montanhas daquela região, como o do México. Corrobora esta opinião a existência de um mar interior, que ia outrora do mar Negro ao oceano Boreal, comprovada pelas observações geológicas. O mar de Azov, o mar Cáspio, cujas águas são salgadas, embora nenhuma comunicação tenham com nenhum outro mar; o lago Aral e os inúmeros lagos espalhados pelas imensas planícies da Tartália e as estepes da Rússia parecem restos daquele antigo mar.
465. Por ocasião do levantamento das montanhas do Cáucaso, posterior ao dilúvio universal, parte daquelas águas foi recalcada para o norte, na direção do oceano Boreal; outra parte, para o sul, em direção ao oceano Índico. Estas inundaram e devastaram precisamente a Mesopotâmia e toda a região em que habitaram os antepassados do povo hebreu.
466. Embora esse dilúvio se tenha estendido por uma superfície muito grande, é atualmente ponto averiguado que ele foi apenas local; que não pode ter sido causado pela chuva, pois, por muito copiosa que esta fosse e ainda que se prolongasse por quarenta dias, o cálculo prova que a quantidade d’ água caída das nuvens não podia bastar para cobrir toda a Terra, até acima das mais altas montanhas.
467. Para os homens de então, que não conheciam mais que uma extensão muito limitada da superfície do globo e que nenhuma ideia tinham da sua configuração, desde que a inundação invadiu os países conhecidos, invadida fora, para eles, a Terra inteira. Se a essa crença aditarmos a forma imaginosa e hiperbólica da descrição, forma peculiar ao estilo oriental, já não nos surpreenderá o exagero da narração bíblica.
468. O dilúvio asiático foi evidentemente posterior ao aparecimento do homem na Terra, visto que a lembrança dele se conservou pela tradição em todos os povos daquela parte do mundo, os quais o consagraram em suas teogonias. É igualmente posterior ao grande dilúvio universal que assinalou o início do atual período geológico. Quando se fala de homens e de animais antediluvianos, a referência é àquele primeiro cataclismo.
469. Revoluções periódicas – Além do seu movimento anual em torno do Sol, origem das estações, do seu movimento de rotação sobre si mesma em 24 horas, origem do dia e da noite, tem a Terra um terceiro movimento que se completa em cerca de 25.000 anos, ou, mais exatamente, em 25.868 anos, e que produz o fenômeno denominado, em astronomia, precessão dos equinócios. Este movimento, que não se pode explicar em poucas palavras, sem o auxílio de figuras e sem uma demonstração geométrica, consiste numa espécie de oscilação circular, que se há comparado à de um pião a morrer, e por virtude da qual o eixo da Terra muda de inclinação.(1)
470. O equinócio é o instante em que o Sol, passando de um hemisfério a outro, se encontra perpendicular ao equador, o que acontece duas vezes por ano, a 21 de março, quando o Sol passa para o hemisfério boreal, e a 22 de setembro, quando volta ao hemisfério austral.
471. Ainda não puderam ser determinadas com precisão as consequências deste movimento, porque somente se há podido observar uma pequena parte da sua revolução. A respeito, pois não há mais do que presunções, algumas das quais com caráter de probabilidade.
472. Cataclismos futuros – As grandes comoções telúricas se têm produzido nas épocas em que a crosta sólida da Terra, pela sua fraca espessura, quase nenhuma resistência oferecia à efervescência das matérias em ignição no seu interior. Tais comoções foram diminuindo, à proporção que aquela crosta se consolidava. Numerosos vulcões já se acham extintos, outros os terrenos de formação posterior soterraram.
473. Ainda, certamente, poderão produzir-se perturbações locais, por efeito de erupções vulcânicas, da eclosão de alguns vulcões novos, de inundações repentinas de algumas regiões; poderão do mar surgir ilhas e outras serem por ele tragadas; mas passou o tempo dos cataclismos gerais, como os que assinalaram os grandes períodos geológicos. A Terra adquiriu uma estabilidade que, sem ser absolutamente invariável, coloca doravante o gênero humano ao abrigo de perturbações gerais, a menos que intervenham causas desconhecidas, a ela estranhas e que de modo nenhum se possam prever.
474. Quanto aos cometas, estamos hoje perfeitamente tranquilizados com relação à influência que exercem, mais salutar do que nociva, por parecerem eles destinados a reabastecer os mundos, se assim nos podemos exprimir, trazendo-lhes os princípios vitais que eles armazenam em sua corrida pelo espaço e com o se aproximarem dos sóis. Assim, pois, seriam antes fontes de prosperidades, do que mensageiros de desgraças.
475. A natureza fluídica, já bem comprovada, que lhes é própria, afasta todo receio de choques violentos, porquanto, se um deles encontrasse a Terra, esta o atravessaria, como se passasse através de um nevoeiro.(2)
476. Ainda menos de temer é a cauda que arrastam, visto que essa mais não é do que a reflexão da luz solar na imensa atmosfera que os envolve, tanto assim que se mostra constantemente dirigida para o lado oposto ao Sol, mudando de direção conformemente à posição deste astro.
477. Essa matéria gasosa também poderia, em virtude da rapidez com que eles caminham, constituir uma espécie de cabeleira, semelhante à esteira deixada por um navio em marcha, ou à fumaça de uma locomotiva. Aliás, muitos cometas já se têm aproximado da Terra, sem lhe causarem qualquer dano.
478. Em virtude das suas respectivas densidades, a Terra exerceria sobre o cometa uma atração maior do que a dele sobre ela. Somente uns restos de velhos preconceitos podem fazer que a presença de um cometa inspire terror.
479. Deve-se igualmente lançar ao rol das hipóteses quiméricas a possibilidade do encontro da Terra com outro planeta. A regularidade e a invariabilidade das leis que presidem aos movimentos dos corpos celestes tornam carente de toda probabilidade semelhante encontro.
480. A Terra, no entanto, terá um fim. Como? Isso ainda permanece no domínio das conjeturas; mas, visto estar ela ainda longe da perfeição que pode alcançar e da vetustez que lhe indicaria o declínio, seus habitantes atuais podem estar certos de que tal não se dará ao tempo deles.
Respostas às questões propostas
A. Como se compõem os corpos materiais?
A Química considera elementares umas tantas substâncias, como o oxigênio, o hidrogênio, o nitrogênio, o carbono, o cloro, o iodo, o flúor, o enxofre, o fósforo e todos os metais. Combinando-se, essas substâncias formam os corpos compostos: os óxidos, os ácidos, os álcalis, os sais e as inúmeras variedades que resultam da combinação destes. A combinação de dois corpos para formar um terceiro exige especial concurso de circunstâncias: seja um determinado grau de calor, de sequidão, ou de umidade; seja o movimento ou o repouso; seja uma corrente elétrica, etc. Se essas circunstâncias não se verificarem, a combinação não se operará. Quando há combinação, os corpos componentes perdem suas propriedades características, enquanto o composto que deles resulta adquire outras, diferentes das primeiras. É assim, por exemplo, que o oxigênio e o hidrogênio, que são gases invisíveis, quimicamente combinados formam a água, que é líquida, sólida, ou vaporosa, conforme a temperatura. Na água, a bem dizer, já não há oxigênio nem hidrogênio, mas um corpo novo. Decomposta essa água, os dois gases, tornados livres, recobram suas propriedades: já não há água.
A composição e decomposição dos corpos se dão em virtude do grau de afinidade que os princípios elementares guardam entre si. A formação da água, por exemplo, resulta da afinidade recíproca que existe entre o oxigênio e o hidrogênio; mas, se se puser em contacto com a água um corpo que tenha com o oxigênio mais afinidade do que a que este tem com o hidrogênio, a água se decompõe: o oxigênio é absorvido e o hidrogênio se liberta. Já não haverá água.
Os corpos compostos se formam sempre em proporções definidas, isto é, pela combinação de uma certa quantidade dos princípios constituintes. Assim, para formar a água, são necessárias uma parte de oxigênio e duas de hidrogênio. Se duas partes de oxigênio forem combinadas com duas de hidrogênio, em vez de água ter-se-á o deutóxido de hidrogênio, líquido corrosivo, formado, no entanto, dos mesmos elementos que entram na composição da água, porém noutra proporção.
Tal, em poucas palavras, a lei que preside à formação de todos os corpos da Natureza. A inumerável variedade deles resulta de um número pequeno de princípios elementares combinados em proporções diferentes. Por exemplo: o oxigênio, combinado em certas proporções, com o carbono, o enxofre, o fósforo, forma os ácidos carbônico, sulfúrico, fosfórico; o oxigênio e o ferro formam o óxido de ferro ou ferrugem; o oxigênio e o chumbo, ambos inofensivos, dão origem aos óxidos de chumbo, tais como o litargírio, o alvaiade e o mínio, que são venenosos. (A Gênese, cap. X, itens 3 a 8.)
B. A Química é importante para compreendermos a Gênese do globo?
Sim. As experiências mostram-nos quanto a Química é necessária para a inteligência da Gênese. Antes de se conhecerem as leis da afinidade molecular, não era possível compreender-se a formação da Terra. A análise química mostra que todas as substâncias vegetais e animais são compostas dos mesmos elementos que os corpos inorgânicos. Desses elementos, são o oxigênio, o hidrogênio, o nitrogênio e o carbono os que desempenham papel principal. Os outros entram acessoriamente. (A Gênese, cap. X, itens 9, 10 e 12.)
C. Como foram formados os corpos dos primeiros seres vivos?
A lei que preside à formação dos minerais conduz naturalmente à formação dos corpos orgânicos. Como vimos, a Química mostra que todas as substâncias vegetais e animais são compostas dos mesmos elementos que os corpos inorgânicos.
Alguns exemplos comuns darão a compreender as transformações que se operam no reino orgânico, pela só modificação dos elementos constitutivos. No suco da uva, não há vinho, nem álcool, mas apenas água e açúcar. Quando o suco fica maduro e são propícias as condições, produz-se nele um trabalho íntimo a que se dá o nome de fermentação. Por esse trabalho, uma parte do açúcar se decompõe; o oxigênio, o hidrogênio e o carbono se separam e combinam nas proporções necessárias a produzir o álcool, de sorte que, em se bebendo suco de uva, não se bebe realmente álcool, pois que este ainda não existe. Ele se forma das partes constituintes da água e do açúcar, sem que haja, em suma, uma molécula a mais ou a menos.
No pão e nos legumes que se comem, não há certamente carne, nem sangue, nem osso, nem bílis, nem matéria cerebral; entretanto, esses mesmos alimentos, decompondo-se e recompondo-se pelo trabalho da digestão, produzem aquelas diferentes substâncias tão só pela transmutação de seus elementos constitutivos.
O que diariamente se passa às nossas vistas pode colocar-nos na pista do que se passou na origem dos tempos, porquanto as leis da Natureza não variam. Visto que são os mesmos os elementos constitutivos dos seres orgânicos e inorgânicos; que os sabemos a formar incessantemente, em dadas circunstâncias, as pedras, as plantas e os frutos, podemos concluir daí que os corpos dos primeiros seres vivos se formaram, como as primeiras pedras, pela reunião das moléculas elementares, em virtude da lei de afinidade, à medida que as condições da vitalidade do globo foram propícias a essa ou àquela espécie. (A Gênese, cap. X, itens 12 a 15.)
Notas:
(1) Conforme os dados científicos que hoje conhecemos, sabe-se que o movimento conhecido como precessão dos equinócios não interfere nas estações do ano, já que o eixo de rotação da Terra mantém seu valor de 23,5º. O que ocorre é a mudança de posição em que a Terra se encontra na órbita em torno do Sol numa dada estação. (Observação feita pelo estudioso Luiz Gonzaga Pinheiro, autor da obra Apelos do Tempo, publicada pela editora - IDEAS@WORK.)
(2) Sabe-se hoje que os cometas são sólidos. São como uma rocha, às vezes de mais de um quilômetro de tamanho. Uma rocha de tal porte, ao se chocar contra a Terra, provocaria um estrago tão grande quanto o meteoro que causou a morte dos dinossauros. A natureza fluídica é própria da cauda do cometa e não do seu núcleo, que é rochoso. (Sobre o assunto, ver a obra Apelos do Tempo, de autoria de Luiz Gonzaga Pinheiro, publicada pela editora - IDEAS@WORK.)