O Centro Espírita
Desde a fundação da
Sociedade Espírita de
Paris, em 1º de abril de
1.858, até os dias de
hoje, o Centro Espírita
tem sido a célula mais
importante para a
manutenção e a
divulgação das ideias
espíritas. Formado por
mulheres e homens de boa
vontade, o Centro
Espírita é o “ponto
visual de convergência”
das atividades e
comunidades espíritas.
Assunto de tamanha
importância não poderia
ter passado sem as
incisivas, profundas e
acertadas observações de
José Herculano Pires.
(1)
O ano de 2.014 é marcado
por comemorações do
centenário de
reencarnação de
Herculano Pires. A
Fundação Maria Virgínia
e J. Herculano Pires,
juntamente com o Centro
Espírita Cairbar Schutel
em São Paulo, têm
desenvolvido um ciclo de
palestras, desde 2.013,
sobre obras de Herculano
Pires (os vídeos podem
ser acessados em
www.herculanopires100anos.com.br).
Em nossa cidade, a
Fundação Espírita João
de Freitas tem promovido
seminários bimestrais
acerca de alguns livros
do autor, contribuindo,
assim, para a divulgação
e o debate de questões
de suma importância da
Doutrina Espírita
abordados pelo olhar de
Herculano Pires.
Na obra “O Centro
Espírita”, Herculano
Pires introduz o tema,
como era de seu feitio
fazer em suas
manifestações, chamando
a atenção para o
desconhecimento do
Espiritismo por parte
dos espíritas: “Se os
espíritas soubessem o
que é o Centro Espírita,
quais são realmente a
sua função e a sua
significação, o
Espiritismo seria hoje o
mais importante
movimento cultural e
espiritual da Terra”.
Importante percebermos
que Herculano, assim
como outros grandes
pensadores da Doutrina
Espírita, se preocupava
com as consequências de
se bem compreender o
Espiritismo, com os
resultados de sincero
estudo e séria meditação
acerca da Doutrina. Se
nos preocupássemos com a
verdadeira vocação do
Centro Espírita, os
resultados das
atividades poderiam
transformar cada um de
nós e o mundo, no
movimento dialético que
ele sempre lembrava.
Ao contrário de nos
atentarmos para a
verdadeira missão e o
grande significado do
Centro Espírita, temos
no Brasil, ainda segundo
Herculano, o maior
agrupamento de espíritas
do mundo “igrejificando”
o Espiritismo,
emparelhando-o às
decadentes religiões de
outrora. Nossas palavras
seriam extremamente
pueris próximas às de
Herculano, quando
denuncia virilmente o
prejuízo do misticismo e
da falta de estudo no
meio espírita. Por isso,
permita-nos o leitor
apresentar extensa
citação do autor:
“Ninguém estava ali para
aprender a Doutrina,
para romper a malha de
teia de aranha do
igrejismo piedoso e
choramingas. A
domesticação católica e
protestante criara em
nossa gente uma
mentalidade de rebanho.
O Centro Espírita
tornou-se uma espécie de
sacristia leiga em que
padres e madres
ignorantes indicavam aos
pedintes o caminho do
Céu. A caridade esmoler,
fácil e barata,
substituiu as gordas e
faustosas doações à
Igreja. Deus barateara a
entrada do Céu, e até
mesmo os intelectuais
que se aproximam do
Espiritismo, e que têm o
senso crítico, se
transformam em
penitentes. Associações
espíritas,
promissoramente
organizadas, logo se
transformam em grupos de
rezadores pedinchões. O
carimbo da igreja marcou
fundo a nossa
mentalidade em penúria.
Mais do que subnutrição
do povo, com seu cortejo
trágico de endemias
devastadoras, o
igrejismo salvacionista
depauperou a
inteligência popular,
com seu cortejo de
carreirismo
político-religioso,
idolatria mediúnica,
misticismo larvar, o que
é pior, aparecimento de
uma classe dirigente de
supostos missionários e
mestres farisaicos,
estufados de vaidade e
arrogância. (...) Essa
tendência mística
popular, carregada de
superstições seculares,
favorece a proliferação
de pregadores
santificados, padres
vieiras sem estalo,
tribunos de voz
empostada e gesticulação
ensaiada. (...) Não no
clima para o
desenvolvimento da
Cultura Espírita”.
Publicada pela primeira
vez em 1.980, vemos que
esta obra de Herculano
Pires se mantém viva e
abrangente da realidade
dos movimentos
espíritas, sobretudo no
Brasil. Todavia, mesmo
apontando as mazelas dos
Centros Espíritas
brasileiros, Herculano
ainda vê esperança, ao
afirmar que “embora
ainda, na sua maioria,
mostrem-se enteados [sic]
num misticismo larvar,
conservam nessa própria
condição negativa as
energias potenciais de
reconstrução” e nesse
trabalho “ele [o Centro
Espírita] modifica o
mundo pela modificação
progressiva da
consciência”.
Segundo o autor, o
Centro Espírita é o
lugar onde as “almas
frágeis” encontram as
“almas fortes”. É onde
deve se dar o
intercâmbio entre
aquelas que “precisam
ser constantemente
vigiadas e orientadas no
Centro Espírita, pois se
entregam facilmente a um
misticismo inferior,
tentando alcançar a
angelitude através de
submissão interesseira a
Espíritos
mistificadores,
dirigentes de vistas
curtas e médiuns
pretensiosos” e estas
que trazem em si
questões atinentes ao
problema disciplinar,
“que procedem de linhas
evolutivas em que os
Espíritos se aperfeiçoam
no uso da independência
e da coragem”. Nesse
intercâmbio entre almas
no Centro Espírita, a
fraternidade há de ser a
ideia fundamental, visto
que “segundo a regra
geral das relações
humanas, o forte deve
proteger e amparar o
fraco, para ajudá-lo a
se fortalecer”. Segundo
Herculano, mesmo quando
a disciplina for
necessária aos
andamentos dos trabalhos
no Centro Espírita, “boa
vontade e compreensão
fraterna” merecem se
sobrepor às exigências
da ordem, ou, se não,
precisam ser as balizas
entre as quais a
disciplina se deve dar.
No livro em comento,
Herculano Pires aponta
para a necessidade de
visarmos à finalidade
superior do Centro
Espírita, não esperando
tão somente vantagens
imediatas. Uma “visão
superior do mundo, do
homem e da vida” é o que
poderemos ter, caso nos
empenhemos a construir
no Centro o ambiente de
estudo, de seriedade, de
comprometimento com a
Doutrina Espírita. “Se
cada frequentador do
Centro quiser ajudá-lo
na sua missão superior
de preparar os homens
para um mundo melhor, a
dinâmica do Centro se
intensificará para o bem
de todos.” Esta
perspectiva da relação
dentro do Centro e entre
este e o mundo é
bastante exaltada por
Herculano Pires, seja na
obra em apreciação, seja
em outras oportunidades.
É indispensável ser o
Centro Espírita “bem
dirigido por pessoas
sensatas e estudiosas”,
ser o ambiente em que
Deus está presente, em
que se “prova
objetivamente a
sobrevivência do homem
para após a morte”, em
que “a Religião não se
disfarça em grandezas
perecíveis e
artificiais” e onde “se
cultiva a grandeza dos
corações sinceros,
devotados ao amor do
próximo”.
É-nos impossível falar
sobre uma obra de
Herculano Pires com
limitação de espaço e/ou
tempo. Contudo, nosso
esforço foi o de
apresentar, mesmo que
sucintamente, os pontos
mais relevantes de “O
Centro Espírita”,
lembrando que a leitura
do livro é
insubstituível.