Dois casos ocorridos no
centro espírita
Em síntese, o
Espiritismo foi
organizado visando o
desenvolvimento
espiritual do homem e o
centro espírita é o
local onde
preferencialmente os
homens se reúnem para
estudá-lo, embora possam
fazê-lo em outros
lugares. Ocorre que,
pelas características e
exigências
teórico-práticas dos
estudos espíritas, é
mais razoável concentrar
as atividades num local
específico onde possam
se desenvolver
satisfatória e
progressivamente e onde
o público interessado em
conhecer o Espiritismo
possa ter acesso.
O estudo é o principal
objetivo do centro
espírita, conforme
realça Allan Kardec na
edição de abril de 1860
da Revista Espírita,
no artigo “Considerações
sobre o objetivo da
sociedade” ¹, e como
sugere em várias outras
passagens da sua obra.
As demais finalidades do
centro espírita, também
importantes, como a
divulgação da doutrina,
as reuniões mediúnicas,
o atendimento fraterno,
os passes, a assistência
social etc., vêm como
consequência das
conclusões que o estudo
proporciona. Aquele que
procura o centro
buscando algum benefício
e sai bem orientado,
leva consigo instruções
que lhe serão úteis para
a vida, ainda que nunca
mais retorne ali. Essas
instruções, sempre de
cunho moral, são o
motivo principal da
intervenção do
trabalhador na casa
espírita e devem ser a
prioridade em qualquer
atendimento, sejam quais
forem as demandas, seja
de homens, seja de
Espíritos. Mesmo o
visitante casual não
pode deixar o centro
espírita sem pelo menos
levar uma boa impressão
daquilo que vê e ouve
ali.
Recordo-me de um
“atendimento fraterno”
que fiz, certa feita, a
um policial que vivia o
drama de ter matado uma
pessoa no exercício do
seu trabalho. Consumido
pelo trauma, vivia
atormentado. Depois de
esclarecê-lo com o
conhecimento espírita
relativo ao assunto,
encaminhei-o para um
tratamento de passes.
Nunca mais o vi, senão
numa tarde, tempos
depois, em que ele
entrou na minha loja
comercial e me
reconheceu. Conversamos
e ele disse estar bem
melhor e que aquela
entrevista o animara a
procurar não só o apoio
dos livros, mas também a
ajuda de um psicólogo,
como eu recomendara.
Em outra ocasião, numa
reunião de desobsessão,
recebemos a comovente
visita de um ex-obsessor
que se dizia arrependido
e, agora calmo e
sensibilizado, agradecia
as ideias construtivas
que recolhera no grupo e
que o encheram de
esperanças novas quanto
ao futuro. Consultada
pela equipe de trabalho,
no retorno à entrevista,
a ex-obsidiada confirmou
com muita tranquilidade
o bem-estar que sentia
agora. Animada, queria
retomar os estudos
espíritas que
abandonara.
Esses dois exemplos
simples mostram como o
estudo da doutrina pode
dar mais segurança,
eficiência e qualidade
na realização de todo o
conjunto de atividades
do centro espírita, na
medida em que gera no
trabalhador a
compreensão de como
minorar as necessidades
humanas de qualquer
ordem, de forma a
suscitar no beneficiário
a vontade de desenvolver
recursos para
transformar a própria
vida. Não se trata de
convencer ninguém, nem
fazer prosélitos, mas
simplesmente não perder
nenhuma oportunidade de
orientar corretamente as
pessoas com a visão
espírita das coisas.
Por isso, os cursos de
doutrina são tão
importantes no centro
espírita, como meios de
instrução
principalmente, mas
também como forma de
fixar colaboradores,
preparados pelo estudo,
nas diversas áreas de
trabalho da instituição.
O bom desempenho da casa
espírita depende da boa
formação doutrinária e
da conduta pessoal dos
seus dirigentes e
colaboradores, além da
convergência de
propósitos dos
trabalhadores para um
mesmo foco, no caso,
“amai-vos e
instruí-vos”. Não basta
dizer-se espírita e não
estar compromissado com
o modo de ver do
Espiritismo.
Isso tem, sobretudo,
relação direta com o
tipo de influência
espiritual que a casa
recebe. Quanto mais as
diretrizes do centro
espírita estiverem
ajustadas às normas
doutrinárias da
codificação e aos
padrões morais do
evangelho, maior a
assistência dos bons
Espíritos.
Trabalhadores unidos e
fraternos podem fazer
muito pela causa do bem,
esclarecendo os
frequentadores do centro
espírita sobre as
questões fundamentais da
vida, além de consolar e
atender suas
expectativas mais
imediatas. Quanto mais
preparados estiverem,
mais contribuirão com o
processo de
transformação da
sociedade em que se
inserem, através das
ideias renovadoras do
Espiritismo.
¹ Referência à Sociedade
Parisiense de Estudos
Espíritas, fundada por
Allan Kardec, em 1º de
abril de 1858.