Morte
Guaraci de Lima Silveira
Morte:
Eu a procurei nos
escombros da vida.
Andei perdido cultuando
a dor
às vezes ou sempre que
passava por mim
levando pra longe os
meus ternos sonhos...
Sim, os sonhos da vida
que não morrem jamais.
Morte:
Um dia disseram-me que
era sagaz.
Gerada na audácia voraz
de criar
lágrimas e desesperos,
desencontros,
desencantos, mergulhos
no abismo,
no nada, niilismo,
anarquismo sem
metas, objetivos ou
marcas.
Morte:
Um dia curvei-me
passivo, inerte
e sem cor ante a espada
aguda
que sobrepunha em mim.
Assim eu chorei pelos
que foram,
ou ficaram, pelos que
copiaram o
exemplo malsão de chorar
por você.
Digladiar com você, tão
frágil e insípida
caminhando entre os
homens.
Morte:
Hoje, passado no tempo,
eu a vejo assim,
tão pequena e sem cor –
morta que está
na presença de Deus.
Morte:
Hoje a procuro nos
escombros da vida
e vejo em você os
lampejos da aurora
que mora nos céus e
espraia na vida, não
em escombros, assombros
ou medos.
Eu a vejo solene,
cumprindo missão.
Suplicando a Deus o
ensejo de ir,
sumir e morrer entre os
homens felizes.
Ah morte, como a
cultuei, rituei e sofri
por você!
Agora que está aqui tão
morta no chão do
meu mundo eu a venero
não pelo que leva
e sim pelo que traz.
Pois, por você morte, eu
descobri que a vida
não cessa e que sua
espada desviada aponta
solene os caminhos da
renovação...
Guaraci de Lima
Silveira, colaborador de
nossa revista, reside em
Juiz de Fora (MG).
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