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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 389 - 16 de Novembro de 2014

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)

 
 

Amargo episódio


Uma eleição presidencial é sempre um momento crucial na vida de qualquer nação. Sinaliza, de certa forma, o grau vigente de saúde institucional de um país à medida que os seus cidadãos podem sufragar os seus futuros representantes. E tal exercício de cidadania é inequívoco produto do avanço humano e das suas sociedades. Como ainda não inventamos algo melhor nesse campo, devemos enxergar em tal conquista algo, enfim, absolutamente expressivo, especialmente quando comparamos com locais onde persiste a ausência desse direito.

Posto isto, a eleição de 2014 será gravada nos anais da história do Brasil como algo chocante e decepcionante por vários motivos. De um lado, felizmente, o processo democrático não sofreu solução de continuidade, mas, de outro, prevaleceram práticas abjetas que enlamearam a vitória dos atuais detentores do poder. Por mais condescendentes que sejamos não podemos dissociá-los, bem como os seus correligionários, de certos atos e atitudes lamentáveis cometidos ao longo do pleito.

Mentiras, difamações e ataques baixos de toda sorte foram praticados à profusão. Em vez de se digladiar no campo das ideias e proposições, o que se viu foi um processo eficaz de destruição de reputações e boas intenções. O vale tudo se tornou a estratégia geral de campanha, evidenciando claramente que a meta era ganhar a eleição não importando os métodos e táticas utilizadas. Muito antes do início do pleito, aliás, a atual mandatária deixou claramente explicitados os princípios norteadores da sua campanha: “em eleição vale o diabo”.

O ex-presidente, a seu turno, chegou – no ápice da falta de cordialidade – ao extremo de insinuar que os seus opositores eram “nazistas”, num assomo de destempero verbal e fomentação de ódio. No palanque do desequilíbrio, com efeito, só havia espaço para a “vitória” e a sustentação do poder efêmero a qualquer preço. Estatísticas foram brandidas aos quatro cantos como “provas de eficiência e desempenho superior”, e as realizações obtidas pelos outros ou foram apagadas propositalmente ou distorcidas. Não houve a grandeza moral de se querer reconhecer que cada época tem as suas próprias dificuldades e dinâmicas.

No decurso desse espetáculo dantesco de disputa, a verdade passou ao largo. A propósito, talvez ela nunca tenha sido tão maltratada na história dessa nação, muito embora o Cristo de Deus nos tenha alertado um dia para que a buscássemos como salvaguarda à nossa libertação de experiências dolorosas. Merece consideração à parte o comportamento de pouco mais de 54 milhões de eleitores. Aparentemente nada os sensibilizou a não ser o próprio bem-estar.

Nem mesmo as denúncias de escândalos de corrupção e desmandos que permearam toda a corrida eleitoral – num deles personagens íntimos do poder, valendo-se de delação premiada, fizeram gravíssimas acusações contra a suprema mandatária da nação e o ex-presidente – foram suficientes para fazê-los mudar de opinião.  Ao que tudo indica, portanto, os sagrados componentes ético-morais tão profundamente exarados no Evangelho do Cristo não lhes tocaram o coração.

Diante do exposto, ficamos extremamente desapontados e preocupados com o nosso Brasil. Ficamos a nos perguntar qual será a lição a ser aprendida desse importante evento. Seria a necessidade de as pessoas de bem terem mais fé e esperança? Mais confiança no futuro, apesar da tempestade que, aparentemente, se delineia no horizonte? Ou seria mais uma vez a dor coletiva como acicate à evolução? Difícil dizer exatamente a essa altura.

O que nos parece razoável, no entanto, é que precisamos nos manter serenos. Evitar que as emoções mais fortes aflorem soa-nos como providência indispensável nessa hora. Ademais, cada experiência tem a sua lição positiva. Talvez precisemos de mais uma lição amarga para acordar, enquanto povo, para certos deveres e responsabilidades do Espírito que nos cabem. Aguardemos, enfim, o que o plano maior da vida nos reserva adiante no contexto coletivo.  




 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita