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Estudando as obras de Manoel Philomeno de Miranda
Ano 8 - N° 390 - 23 de Novembro de 2014
THIAGO BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br
 
Curitiba, Paraná (Brasil)  
 

 

Loucura e Obsessão

Manoel Philomeno de Miranda

(Parte 37)

Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do livro Loucura Obsessão, sexta obra de Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco e publicada em 1988.

Questões preliminares

A. A invigilância do homem encontra-se presente nas causas de muitos dramas que deparamos na vida?

Geralmente, sim. A invigilância do homem sempre posterga soluções que poderiam ser adotadas antes que se transformassem em dores acumuladas. Pensando na vida, apenas do ponto de vista material, muitos desejam fruir hoje, para chorar, arrependidos, num demorado amanhã, em vez de renunciarem agora, para se beneficiarem, largamente, depois. É a isso que nos leva a visão puramente materialista da vida. (Loucura e Obsessão, cap. 24, pp. 302 e 303.)

B. Podemos dizer que o suicídio é a culminância de um estado de alienação que se instala sutilmente?

Sim. Esse é o pensamento do Dr. Bezerra de Menezes. O candidato ao suicídio não pensa com equilíbrio, não se dá conta dos males que o seu gesto produz naqueles que o amam. Como perde a capacidade de discernimento, apega-se a ele como única solução, esquecido de que o tempo equaciona sempre todos os problemas, não raro, melhor do que a precipitação. A pressa nervosa por fugir, o desespero que se instala no íntimo, empurram o enfermo para a saída sem retorno. (Loucura e Obsessão, cap. 24,  pp. 306 e 307.)

C. O Espírito do suicida é também auxiliado pelos benfeitores espirituais? 

Sim. Foi isso que o Dr. Bezerra de Menezes fez em favor da jovem suicida que se debatia junto ao cadáver, com irrefreável desespero. O Benfeitor aplicou-lhe energias desimantadoras para o Espírito, induzindo-a ao sono, que foi logrado, depois de extenuante esforço do Mentor. Feito isso, ele se afastou explicando: “Temos que deixá-la vinculada ao corpo por algum tempo”. E acrescentou: “Ela preferiu este áspero caminho para aprender a ser feliz. Como não há exceção para ninguém, podemos atenuar-lhe as dores excruciantes, porém, a libertação é sempre conquista pessoal”. (Loucura e Obsessão, cap. 24, pp. 307 a 309.)

Texto para leitura 

145.   A invigilância do homem sempre posterga as soluções – As atividades socorristas prosseguiam sem cessar, e cada  momento brindava a todos, especialmente  a Miranda, com experiências novas ricas de ensinamentos e convites constantes à reflexão. Dr. Bezerra dedicara-se ao caso Carlos e, por extensão, a outros, com o amor e devotamento de pai vigilante e abnegado, apesar das múltiplas tarefas que desenvolvia. Certo dia, ao cair da tarde, apresentando sinais de preocupação, o amorável Mentor convidou Miranda a seguir com ele até ao Necrotério da cidade, para atenderem, em regime de urgência, um casal desolado. O ambiente era tumultuado por Entidades de variada procedência, entre as quais se destacavam Espíritos perversos e vampirizadores, com facies lupina, dependentes das viciações psíquicas a que se entregavam, altercando umas com as outras, em pandemônio assustador. Não obstante, havia também ali Espíritos afeiçoados ao bem, que se dedicavam à proteção dos recém-desencarnados que pudessem receber ajuda, tanto quanto aos seus despojos cadavéricos. Numa sala, atendida por gentil profissional, estavam uma dama de meia idade, em aturdimento, e um senhor, algo mais velho, visivelmente abatido, quase em estado de choque, segurando duas laudas de papel, escritas, a punho, que lhe pendiam sobre o colo. Miranda não teve dificuldade em identificar os combalidos. Tratava-se do companheiro Joaquim Fernandes e sua esposa, ele afeiçoado médium receitista e trabalhador de respeitável Agremiação Espírita, que Miranda conhecia bem, em face dos seus multifários misteres sob a luz esplendorosa do Espiritismo. Ante a surpresa do amigo, Dr. Bezerra explicou: “É, sim, o nosso devotado médium, que experimenta o traspassar do punhal da aflição, difícil de ser superada. Um drama antigo tem, nesta hora, infausto desfecho nesse senhor, cujas consequências se arrastarão por muitos anos, qual vem acontecendo desde o eclodir das suas primeiras manifestações. A invigilância do homem sempre posterga as soluções que poderiam ser realizadas antes que se transformassem em dores acumuladas. Pensando na vida, apenas do ponto de vista material, deseja fruir hoje, e chorar, arrependido, num demorado amanhã, a renunciar agora, para beneficiar-se, largamente, depois...” Dito isto, o Mentor propôs: “Leiamos a carta, embora eu já esteja informado da ocorrência, ali narrada”. (Loucura e Obsessão, cap. 24,  pp. 302 e 303.)

146. As lágrimas que nascem do coração diminuem as dores da alma – A missiva, grafada com letra irregular, traduzindo o estado nervoso de quem a escrevera, terminava em dura sentença com pedido comovedor de perdão. Dirigida aos pais, após as palavras de amor profundo, ricas de ternura e dor, culminava dizendo:  “(...) Vocês me deram a vida corporal e sacrificaram-se por toda a existência, a fim de que sua filha fosse honrada e feliz. Nunca mediram esforços em favor da minha ventura primeiro, para, depois, a sua. Facultaram-me o título universitário e o excelente trabalho a que me tenho entregue com responsabilidade e consciência de dever. Devo-lhes tudo e amo-os com total empenho da alma... Todavia, sofro muito, experimentando ignota, estranha dor que me macera revelar-lhes. Sou frágil, nessa área, que é a do amor. Apesar de jamais ele me haver faltado nos seus sentimentos a mim dirigidos, a adolescência e a idade da razão levaram-me a buscá-lo em expressão diferente. Há pouco, quando o encontrei, passei a viver, no mesmo momento, um céu e um inferno que agora alcança o seu estado máximo. O homem, a quem amo e que me diz amar, é, infelizmente, para mim, casado e pai generoso. O nosso é um amor impossível na Terra, exceto se nos dispusermos a fruí-lo no mar das lágrimas dos outros, que não lhe merecem a deserção do lar... Fui forjada nos metais da dignidade que o seu carinho de pais modelou no meu caráter... Não é necessário minudenciar mais nada. Não podendo viver com ele, nem me sendo possível prosseguir sem ele, retiro-me de cena, preferindo sofrer e fazer os seus corações amantíssimos chorarem uma filha digna, a permanecer, para desespero de muitos, inclusive de vocês, que pranteariam uma filha alucinada... Perdoem-me, anjos da minha vida. Não pensem que ajo egoisticamente, esquecida do amor de vocês. Pelo contrário, atuo em homenagem ao seu amor e por amor também. Não avalio, em profundidade, a tragédia do suicídio. Tenho-o, na mente, há algum tempo, e não o posso adiar mais, ou optarei pelo suicídio moral, que culminará, certamente, mais tarde, nesta forma infeliz.... Ele, o homem amado, ficará tão surpreso com o meu gesto tresvariado, quanto vocês estarão ao ler esta carta. Mais uma vez abençoem-me e intercedam à Mãe de Jesus, que tanto sofreu, pela filha que os ama, porém, não suporta mais viver...”  Despedindo-se com palavras assinaladas pela dor selvagem, a moça assinava, trêmula, o nome. Miranda, finda a leitura, percebeu lágrimas nos olhos do afetuoso Dr. Bezerra, que envolveu os pais desolados em energias calmantes, permitindo-se detectar pelo sofrido Joaquim Fernandes, que prorrompeu, naquele instante, em pranto volumoso, que procurara conter a custo. “O choro far-lhe-á bem – explicou o Mentor. – As lágrimas que nascem do coração diminuem as dores da alma e acalmam o sistema nervoso em tensão.” (Loucura e Obsessão, cap. 24,  pp. 304 e 305.)

147. O suicídio é a culminância de um estado que se instala sutilmente – Em seguida, Dr. Bezerra passou a inspirar o médium, infundindo-lhe coragem para o prosseguimento da luta e recordando-lhe a esposa mais fraca e os necessitados que lhe pediam ajuda. A indução poderosa do Mentor levantou as forças do aflito, que se recompôs interiormente, voltando assim à realidade dos deveres assumidos. Entretanto, vendo o Guia bondoso e captando-lhe o pensamento, exclamou, sem palavras: “O senhor estava com a razão, naquele já remoto dia! Antes houvesse sido naquela ocasião. Oh! Deus meu!...” O Benfeitor admoestou-o: “Fernandes, a lamentação é tóxico destruidor, que não podemos utilizar. A Vida é mais sábia do que nós e deveremos aceitá-la conforme se nos apresenta. Nada de lamúrias. Onde o combustível da fé, a fim de que ‘brilhe a sua luz’? Este é um momento de reconstrução e não de abatimento. Sobre as ruínas surgem as flores; da terra sulcada pela enxada, saem os trigais abençoados para o pão, e, na frincha da rocha, débil planta se sustenta, diminuindo a aspereza do mineral... Agora, levante-se e conforte a esposa abatida”. O alquebrado pai soergueu-se com dificuldade e, enquanto o rio das lágrimas lhe fluía dos olhos, ele falou à companheira: “Aceitemos com humildade o irrecusável e trágico acontecimento, confiando em Deus e intercedendo pela filha infeliz...” Com a voz embargada, a mãe respondeu: “Não me revolto! Dói-me a forma da evasão. Logo pelo suicídio é que a perdemos? Onde ela pôs a razão, Deus meu?! Não sei se suportarei carregar esta desdita. Ajuda-nos, Senhor da Vida!” O médico que atendera o casal no necrotério, acostumado aos dramas do cotidiano, telementalizado pelo Mentor, disse a ambos os genitores de alma esfacelada: “O suicídio é a culminância de um estado de alienação que se instala sutilmente. O candidato não pensa com equilíbrio, não se dá conta dos males que o seu gesto produz naqueles que o amam. Como perde a capacidade de discernimento, apega-se-lhe como única solução, esquecido de que o tempo equaciona sempre todos os problemas, não raro, melhor do que a precipitação. A pressa nervosa por fugir, o desespero que se instala no íntimo, empurram o enfermo para a saída sem retorno... Recordem-se dela, nos seus momentos juvenis, na felicidade, sobrepondo, a estas ocorrências, todos os dias de encantamento, que devem pesar mais do que os momentos atuais, na balança do amor... Religiosos, que são, considerem-lhe a alma e refugiem-se na fé”.  (Loucura e Obsessão, cap. 24,  pp. 306 e 307.)

148. A prece produz mal-estar nos Espíritos ociosos e eles se retiram – À medida que a calma foi sendo restaurada, Dr. Bezerra convidou Miranda a visitar a sala de necropsia, onde se encontrava o cadáver. Atada aos despojos que se exauriam com vagar, apesar da brusca interrupção vital pelo suicídio, encontrava-se a pobre equivocada, somando às dores do tóxico que ingerira as dilacerações produzidas pela autópsia. Vigilante e triunfal, aguardando-a e alegrando-se com o seu sofrimento, encontrava-se cruel obsessor, que não escondia os sentimentos de impiedade, nem os propósitos que acalentava a respeito do prosseguimento da vil planificação. “Aí está – referiu Dr. Bezerra, defrontando o algoz da suicida – o pobre corresponsável pelo trágico desfecho deste drama de larga duração. Assim, a pobre irmã conduz algum atenuante. Ela retorna à nossa esfera como suicida-assassinada. Induzida à solução insolvável, é responsável por aceitar-lhe a inspiração infeliz e vitalizá-la, quando deveria reagir, valorizando os dons da vida e preservando-a a qualquer custo. Todavia, é igualmente vítima, por haver sido empurrada ao abismo por uma inteligência lúcida que lhe planejou a desdita e pôs-se vigilante, aguardando o momento para agir com impunidade. Agora, aguarda-a, antegozando a vitória e esperando prosseguir na intérmina vingança. A alucinação a que o ódio reduz o ser não tem limite... Oremos por ambos, a fim de os ajudarmos.” Com a prece fervorosa feita por ambos os amigos, a sala inundou-se de tênue claridade, decorrente da vibração do amor e da oração, produzindo inesperado mal-estar no perseguidor e noutros Espíritos ociosos ali presentes, que saíram blasfemando, iracundos. Acercando-se do cadáver, junto ao qual a jovem se debatia com irrefreável desespero, o Benfeitor aplicou-lhe energias desimantadoras para o Espírito, induzindo-a ao sono, que foi logrado, depois de extenuante esforço do Mentor. “Temos que deixá-la vinculada ao corpo por algum tempo”, explicou Dr. Bezerra. “Ela preferiu este áspero caminho para aprender a ser feliz. Como não há exceção para ninguém, podemos atenuar-lhe as dores excruciantes, porém, a libertação é sempre conquista pessoal.” Retornando à sala onde estavam os pais, Miranda notou que já havia, neles, um melhor estado de alma. Em pouco tempo, iniciou-se o velório e parentes e amigos da família, surpresos, foram chegando, oferecendo seus préstimos e permanecendo solidários. Desencarnados solícitos, incluindo familiares e beneficiários da generosidade cristã do irmão Fernandes vieram igualmente, amorosos, participando do acontecimento lutuoso e contribuindo, em espírito, em favor da pobre suicida e de seus pais. (Loucura e Obsessão, cap. 24,  pp. 307 a 309.) (Continua no próximo número.)


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita