A ortografia e a
sintaxe, e as leis
humanas e as divinas
Este artigo não é para
justificar um erro
ortográfico meu, mas
apenas fui inspirado por
ele a fazer esta
matéria. Foi com a
coluna “Aborto é
sinônimo de assassinato
de um filho pela sua
própria mãe”, em O TEMPO
de 4-8-2014.
Estava eu tão
concentrado no conteúdo
da matéria, que digitei
a palavra frase com a
letra “z”, que, por
coincidência, é também a
inicial de zebra! E foi
realmente uma zebra
“muito zebra mesmo”,
pois foi um erro que se
repetiu! Mas paciência,
errar é humano! Só tenho
mesmo é que pedir
desculpas aos leitores
de O TEMPO, o qual não
tem culpa nenhuma, pois
minhas matérias, há
vários anos, que não são
submetidas à correção da
redação.
Mas, graças a Deus, não
foi um erro de sintaxe
ou de gramática, que
seria pior. Sim, pois
ouso dizer que a
ortografia está para a
sintaxe como as leis
humanas estão para as
divinas ou naturais. As
humanas,
aperfeiçoando-se, passam
periodicamente por
inovações, o que
acontece também com as
regras ortográficas.
As leis divinas ou
naturais, por serem
perfeitas, são imutáveis
e valem também para o
direito natural. Elas
são sempre as mesmas em
todas as épocas, em
todos os cantos do mundo
e em todas as religiões.
Já a moral humana,
chamada também de moral
positiva (positiva,
porque é acrescentada à
moral divina ou
natural), é variável.
Por exemplo: nossas avós
andavam com seus
vestidos quase que se
arrastando no chão. É
que era imoral os
tornozelos ficarem à
vista.
As regras de sintaxe, se
não são perfeitas e
imutáveis, são pelo
menos semelhantes às
leis divinas ou
naturais, pois são
duradouras, passando de
geração para geração.
Quando elas se
modificam, é muito
lentamente. Realmente, a
gramática só evolui com
a evolução da linguagem
aprimorada pelos
escritores e poetas
renomados. E é a
gramática que se baseia
na literatura, e não
esta naquela. De fato, é
comum os gramáticos
usarem frases de
escritores e poetas
famosos para defenderem
como certas as
construções gramaticais
ensinadas por eles. E
podemos até dizer que os
poetas têm mais
autoridade do que os
escritores para inovarem
a gramática. É o que já
dizia a antiga frase
latina: “Omnia poetis et
pictoribus licent”
(“Tudo é permitido aos
poetas e pintores.”).
Na primeira metade do
século 20, era
considerado um erro
crasso de português uma
frase ser iniciada com
um pronome oblíquo. Mas
Raquel de Queiroz,
conscientemente, passou
por cima dessa regra dos
gramáticos. E, hoje, se
considera correto esse
modo de construir uma
frase.
Dom Helvécio Gomes
Pimenta, primeiro
arcebispo de Mariana
(MG), demonstrando a sua
rebeldia contra as
oscilações das regras
ortográficas, dizia que
não as adotava, porque o
que era considerado
errado, no futuro
poderia ser correto!
Creio ter demonstrado
que as regras
ortográficas são
importantes para os
profissionais da
escrita, mas não tanto
como o são as
gramaticais, que, para
serem mesmo entendidas e
dominadas por eles, é
necessário que eles
dediquem uma boa parte
de sua vida ao seu
estudo.
Fiquei triste com meu
cochilo, não bem
literário, mas
ortográfico, na
mencionada coluna que
deu origem a essa, mas
tive também com ela uma
grande alegria, pois ela
teve 112 curtidas dos
leitores que me honram
com a sua leitura!