ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Idosos e
sociedade
Um importante
fenômeno
demográfico e
social está
presentemente em
curso, ou seja,
o substancial
envelhecimento
da população.
Seus efeitos são
claramente
visíveis,
particularmente
no Ocidente.
Para ser mais
exato, os
adultos com 60
anos ou mais de
idade já
representam um
quinto da
população nos
países
desenvolvidos, e
as previsões
indicam que
serão um terço
por volta de
2050.
Em decorrência
dessa tendência,
na Europa, por
exemplo, as
preocupações
estão no momento
fortemente
concentradas na
busca do
equilíbrio dos
sistemas
previdenciários.
De modo geral, a
relação entre os
adultos
participantes da
população
economicamente
ativa e o número
de idosos, que
se beneficiam de
aposentadorias e
outros programas
assistenciais, é
desproporcional.
A gênese desse
problema está
ligada ao
aumento da
longevidade e o
fato de que as
novas gerações
estudam muito
mais anos em
cursos de
graduação e
pós-graduação do
que as
precedentes e,
em consequência,
demoram mais
tempo para
ingressar no
mercado de
trabalho.
Quando, enfim,
optam por formar
as suas próprias
famílias, os
casais têm, em
média, um filho.
Segue daí que as
contas públicas
não fecham, os
déficits
previdenciários
são crescentes e
a necessidade de
implementação de
medidas
adicionais
(amargas, por
sinal) parece
ser inevitável.
O Brasil, por
sua vez, vem
sentindo os
efeitos daí
decorrentes. De
fato, as
previsões do
IBGE, nesse
particular, são
altamente
preocupantes.
Veja-se, por
exemplo, que os
dados colhidos
pelo instituto
indicavam que,
em 2008, para
cada grupo de
100 crianças de
0 a 14 anos,
havia 24,7
idosos com 65
anos ou mais de
idade. No
entanto, as
projeções
sugerem que,
entre 2035 e
2040, haverá
muito mais
população idosa
chegando a
alcançar uma
proporção 18%
superior à de
crianças e, em
2050, a relação
poderá ser de
100 para 172,7.
Outro dado
alarmante: em
2000, para cada
pessoa com 65
anos ou mais de
idade,
aproximadamente
12 estavam na
faixa etária
chamada de
potencialmente
ativa (15 a 64
anos de idade).
Contudo, as
projeções
mostram que já
em 2050, a
relação entre
ambos os grupos
de idade passa a
ser de 1 para
pouco menos de
3. Estatísticas
à parte, o
Brasil conseguiu
o expressivo
feito de
implantar um
estatuto
especificamente
voltado ao
idoso. Em tese,
tal regulação
deveria
contribuir
significativamente
para atenuar as
agruras da
velhice.
Todavia, é
notório que a
situação do
idoso brasileiro
é cercada por
dramaticidades
sem conta. Senão
vejamos: baixo
valor pago às
aposentadorias
(o fator
previdenciário
simplesmente
sequestrou a
renda justamente
conquistada por
esse grupo, o
que constitui,
indiscutivelmente,
uma das maiores
arbitrariedades
já praticada
neste país),
custo elevado
dos remédios e
planos de saúde,
infraestrutura
inadequada,
situação de
dependência e
percepção de
desamparo, entre
outras coisas.
Os nossos velhos
estão longe de
viver o
tratamento e a
atenção
dispensada aos
seus semelhantes
na Suécia, por
exemplo.
Não bastasse
isso, observa-se
igualmente um
indisfarçável
conflito
intergeracional,
especialmente
nas grandes
cidades. Ou
seja, o
tratamento dado
ao idoso pelas
gerações mais
jovens na
atualidade
prima, não raro,
pela indiferença
e frieza. Em
viagens de
metrô, trens ou
ônibus abundam
as situações de
indelicadeza e
ausência de
empatia em
relação aos mais
idosos, não
obstante a
profusão de
avisos e
advertências.
Tal constatação
nos leva a crer
que a velhice
está sendo muito
mal recebida
pela sociedade
brasileira
contemporânea.
Ao que nos
consta, não há
um estudo
detalhado sobre
o assunto para
explorar, mas os
exemplos de tal
distorção
comportamental
são obviamente
onipresentes. Há
aí,
evidentemente,
um componente
educacional que
precisa ser
apropriadamente
enfocado. A
começar pelo
berço, embora os
pais hodiernos
tendam a ser
emocionalmente
distantes e, as
suas
orientações,
pouco ou nada
efetivas.
Dito de outra
forma, as novas
gerações
precisam ser
ensinadas desde
cedo – por mais
óbvia que tal
sugestão possa
ser – a
respeitar o
idoso, a
conviver
harmoniosamente
com a velhice e
a dar primazia
às suas
necessidades. A
questão é
básica. Ser um
dia idoso é
destino
inexorável de
todos, conforme
estabelecem as
leis da vida.
Salvo alguma
eventual
exceção,
deveremos
transitar –
consoante a
lógica da vida –
um dia por essa
fase biológica
que, na precária
condição
terrena, vem
acompanhada de
limites e
restrições
inumeráveis.
Desse modo, não
fazer aos outros
aquilo que não
desejamos para
nós representa
uma norma cristã
basilar de vida.
Portanto,
alocar espaço
apropriado para
o idoso e
respeitar os
seus limites
denota boa
conduta
humanitária e
espiritual. Não
tenhamos dúvida
também que lidar
com um número
crescente de
idosos exigirá
muito mais
paciência e
sensibilidade de
todos nós. Mas
esse é um preço
justo derivado
do simples fato
de se viver em
sociedade. Mas
ao atender digna
e
respeitosamente
a um idoso
estamos
trabalhando, na
verdade, pelo
nosso próprio
bem, pelo nosso
amanhã.