ARTHUR BERNARDES DE OLIVEIRA
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Guarani, MG (Brasil)
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A mensagem de João
Daniel, interpretando o
estranho sonho de
Nabucodonosor,
profetizara que o Deus
do céu, no tempo certo,
suscitaria um reino que
jamais seria destruído;
que, a partir daí, o
poder sobre o povo de
Israel não passaria de
novo a outro povo; que
Deus esmiuçaria e
consumiria todos os
outros reinos, mas o de
Israel subsistiria para
sempre.
Os judeus sempre tinham
vivido sob o jugo de
outros povos. Foram
escravos dos persas, dos
fenícios, dos
babilônios, dos
egípcios. Em sua
história jamais haviam
conhecido independência
e soberania por mais de
vinte anos seguidos. E
sonhavam intensamente
com a vinda de um
salvador, um enviado, um
Messias que lhes
assegurasse esses bens
para sempre.
Isaías, prosseguindo na
trilha aberta por
Daniel, prevenindo sua
gente, deixa-lhes um
sinal: antes do
restaurador do reino, do
Messias prometido, há de
voltar Elias, o profeta
maior, que, vindo do
deserto, preparará os
caminhos do Senhor.
Eis senão quando aparece
João pregando no
deserto.
João era filho de um
sacerdote, Zacarias, e
seu nascimento lhe fora
anunciado por um
Espírito quando Zacarias
se preparava para,
dentro do santuário,
fazer a queima do
incenso. Zacarias, lá
dentro, e o povo todo cá
fora, orando, aguardando
que ele voltasse do
santuário para os
ofícios do dia. Sua
mulher, Isabel, era
estéril e avançada em
idade, sem, pois,
qualquer possibilidade
de engravidar.
Quando o Espírito lhe
aparece, em pé, à
direita do altar,
Zacarias enche-se de
medo. Afinal nunca
houvera passado antes
por um fenômeno daquela
natureza.
Disse-lhe, então, o
Espírito: “Zacarias, não
temas. Tua oração foi
ouvida e Isabel te dará
um filho a quem chamarás
João. Em teu lar haverá
muita alegria. Muitos se
regozijarão com o
nascimento de teu filho.
Ele será grande diante
do Senhor. Não tomará
vinho nem qualquer
bebida forte e virá
cheio do Espírito desde
o ventre materno.
Converterá muitos dos
filhos de Israel ao
Senhor Deus. Traz o
espírito e poder de
Elias, para converter os
desobedientes e levá-los
à prudência dos justos,
habilitando-os para o
Senhor”.
Zacarias duvidou do que
acabara de ouvir. Como
acreditar naquilo se já
era velho e a mulher
também avançada em
idade? O Espírito
insistiu: – Eu sou
Gabriel, e cumpro a
vontade de Deus. Fui
indicado para trazer-te
a notícia. Todavia, como
não acreditaste nas
minhas palavras que, a
seu tempo, se cumprirão,
ficarás mudo e nada
poderás falar até o dia
em que estas coisas se
realizem.
Cumprido o tempo, sai
João a pregar pelas
tortuosas estradas da
Palestina.
Corria o décimo quinto
ano do reinado de
Tibério, sendo Pôncio
Pilatos o governador da
Judeia.
Dizia João às pessoas
que saíam para ouvi-lo e
por ele serem batizadas:
“Raça de víboras, quem
vos induziu a fugir da
ira vindoura? Produzi,
já, frutos dignos de
arrependimento e não
venhais dizer que tendes
por pai a Abraão, porque
eu vos afirmo que Deus,
destas pedras, pode
suscitar filhos a
Abraão. Sabei que o
machado está posto à
raiz das árvores. E que
toda árvore que não der
fruto será cortada e
lançada ao fogo”.
Assustada, a multidão
perguntava: – Que
devemos fazer, então?
João orientava: – Quem
tiver duas túnicas, dê
uma a quem não tem
nenhuma. Não vale você
estar aquecido quando o
seu irmão está morrendo
de frio. E quem tiver
comida sobrando na
despensa de sua casa dê
parte dela a quem está
passando fome.
Os publicanos,
responsáveis pela
cobrança de impostos, de
cuja atividade
construíam ilicitamente
enorme prosperidade,
preocupados, também
perguntavam: – E nós,
João, o que devemos
fazer?
João respondia-lhes: –
Não cobreis mais do que
o que está estipulado na
lei. Excesso de exação é
crime, bem sabeis.
E aos soldados que
também queriam
orientar-se sobre como
agir, era clara a
mensagem de João:
– A ninguém maltrateis.
Tratai todos, pobres e
ricos, da mesma maneira,
não dando nem aceitando
denúncias falsas contra
ninguém e, sobretudo,
contentai-vos com o
salário que a sociedade
vos paga.
Mas a todos João fazia
questão de lembrar: – Eu
vos estou batizando com
água; virá, porém,
depois de mim, alguém
muito maior que eu e de
quem não sou digno nem
de amarrar-lhe as
sandálias. Esse vos
batizará com o fogo do
esclarecimento e da
verdade.
Como se recorda, a
mensagem de João dava
ênfase ao
arrependimento. Mas não
ao arrependimento comum,
simples,
descompromissado. Era o
arrependimento
comprovado pelas obras;
seguido de exemplos.
Arrependimento que vale.
Arrependimento
definitivo, que
significa mudança de
mentalidade, de atitude,
de comportamento. Começo
de vida nova; de um novo
proceder, de hábitos e
comportamentos novos.
Alguns companheiros
filiados a outras
escolas religiosas, com
influência cristã,
fizeram do
arrependimento uma tábua
de salvação. Para eles,
basta arrepender-se para
se salvar. Às vezes, no
último momento. Na hora
de morrer, se o cidadão
se arrepender e crer no
Cristo será salvo. É
isto mesmo? Será?
Dizem os Espíritos que
não. O arrependimento é
o primeiro e importante
passo na direção nova. É
o começo da jornada pela
renovação. Arrepender-se
é tomar conhecimento de
que o que se está
fazendo contraria as
leis da vida gravadas na
nossa consciência por
ordenamento de Deus. É
mudar o rumo das coisas.
É romper com hábitos
antigos, renovando
atitudes. É produzir
reforma profunda na
nossa maneira de agir.
Arrependimento é o
primeiro passo. Depois,
reconstruir; resgatar
compromissos, consertar
o que se estragou.
Resgatar...
Resgate ou expiação, o
segundo passo. O
arrependimento sozinho
não acumula crédito. É
apenas a abertura de
conta. Resgate ou
expiação não se faz sem
sofrimento. E muita
gente pensa que o
sofrimento leva a pessoa
para o céu. Que a dor é
o passaporte para o
Paraíso. Ledo engano. A
dor é pressuposto,
porque só podemos pensar
em subir quando
estivermos curados. E a
dor é forma de
tratamento. É cirurgia
na alma. Refazimento de
tecidos que destruímos;
limpeza das manchas que
sujaram a nossa
vestimenta espiritual. A
dor educa porque nos
mostra quão pequenos nós
somos; desafia nosso
orgulho, nosso
personalismo, nossa
mania de grandeza.
Lembra-nos que somos
iguais aos outros,
quando não, piores,
muitas vezes.
O terceiro passo é a
reparação. Reparação é o
nosso reencontro com as
pessoas que
prejudicamos; com os
companheiros a quem
ferimos; com aqueles que
esbulhamos, humilhamos e
fizemos sofrer. Limpar
do coração deles, com o
afeto de agora, a mágoa
que nossos erros fizeram
nascer antes, com tanta
revolta e sofrimento.
Dar hoje o que lhe
negamos outrora.
Recuperando pessoas e
reconstruindo amizades
que destruímos tão
estouvadamente. Enfim,
reparar. Reparação é
moeda acumulada no
caminho da conquista
final. Essa é a moeda
que conta e que nos
acompanha à eternidade.
É inevitável ocorrerem
os três passos para a
nossa ascese
definitiva.
Arrependimento, resgate,
reparação: três fases
indispensáveis no
processo de crescimento
espiritual.