Cantiga do perdão
Maria Dolores
Não te iludas, amigo,
Por mais se expandam
lágrimas contigo,
Todo lamento é vão...
Tudo o que tende para a
perfeição,
Todo o bem que aparece e
persiste no mundo
Vive do entendimento
harmônico e profundo,
Através do perdão...
Perdão que lembra o sol
no firmamento,
Sem se fazer pagar pelo
foco opulento,
A vencer, dia a dia,
A escuridão da noite
insondável e fria
E a nutrir, no seu longo
itinerário,
O verme e a flor, o
charco e o pó, o ninho e
a fonte,
De horizonte a
horizonte,
Quanto for necessário;
Perdão que nos destaque
a lição recebida
Na humildade da rosa,
Bênção do céu, estrela
cetinosa,
Que, ao invés de pousar
sobre o diamante,
Desabrocha no espinho,
Como dizer que a vida,
De caminho a caminho,
Não despreza ninguém,
E bela, generosa, alta e
fecunda,
Quer que toda maldade se
transfunda
Na grandeza do bem...
Perdão que se reporte
À brandura da terra
pisoteada,
Esquecida heroína de
paciência,
Que acolhe, em toda
parte, os detritos da
morte
E sustenta os recursos
da existência,
Mãe e escrava sublime de
amor mudo,
Que preside, em
silêncio, ao progresso
de tudo!...
Amigo, onde estiveres,
Assegura a certeza
De que o perdão é lei da
Natureza,
Segurança de todos os
misteres.
Perdoa e seguirás em
liberdade
No rumo certo da
felicidade.
Nas menores tarefas que
realizes,
Para lembrar sem sombra
os instantes felizes
Na seara da luz,
Na qual a Luz de Deus se
insinua e reflete,
É forçoso exercer o
ensino de Jesus
Que nos manda perdoar
Setenta vezes
Cada ofensa que venha
perturbar
O nosso coração;
Isso vale afirmar,
Na senda de ascensão,
Que, em favor da
vitória,
A que aspiras na luta
transitória,
É mais do que
importante, é essencial
Que te esqueças, por
fim, de todo mal!...
E que, em tudo, no bem a
que te dês,
Seja aqui, mais além,
seja agora ou depois,
Deus espera que ajudes e
abençoes,
Compreendendo, amparando
e servindo outra vez!...
Do livro Antologia da
Espiritualidade,
obra mediúnica
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier.
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