Em carta publicada nesta
mesma edição, o leitor
Reinaldo Cantanhêde Lima
escreveu-nos o seguinte:
Solicito na medida do
possível explicar sobre bens
materiais. Percebe-se que o
Evangelho seja contra
riquezas materiais: "É mais
fácil um camelo passar pelo
fundo de uma agulha do que
um rico se salvar". Daí a
minha inquietação: Deus é
contra riquezas materiais?
Nos templos católicos parece
os padres se preocuparem com
a pobreza! Nos Centros
Espíritas existem as
campanhas: enxugando
lágrimas, sopões etc. Eu
gostaria de neste espaço ler
sobre o assunto em comento.
Não é verdade que o
Evangelho seja contra a
riqueza, muito menos o
Espiritismo. Riqueza e
miséria, tanto quanto beleza
e fealdade, são provas, cada
qual com um objetivo
específico e igualmente
necessárias no curso do
processo evolutivo.
Lemos nas questões 814 a 816
d´O Livro dos Espíritos,
de Allan Kardec:
814. Por que Deus a uns
concedeu as riquezas e o
poder, e a outros, a
miséria? “Para
experimentá-los de modos
diferentes. Além disso, como
sabeis, essas provas foram
escolhidas pelos próprios
Espíritos, que nelas,
entretanto, sucumbem com
frequência.”
815. Qual das duas provas é
mais terrível para o homem,
a da desgraça ou a da
riqueza? “São-no tanto uma
quanto outra. A miséria
provoca as queixas contra a
Providência, a riqueza
incita a todos os excessos.”
816. Estando o rico sujeito
a maiores tentações, também
não dispõe, por outro lado,
de mais meios de fazer o
bem? “Mas, é justamente o
que nem sempre faz. Torna-se
egoísta, orgulhoso e
insaciável. Com a riqueza,
suas necessidades aumentam e
ele nunca julga possuir o
bastante para si
unicamente.”
Comentando o assunto, o
Codificador do Espiritismo
escreveu:
“A alta posição do homem
neste mundo e o ter
autoridade sobre os seus
semelhantes são provas tão
grandes e tão escorregadias
como a desgraça, porque,
quanto mais rico e poderoso
é ele, tanto mais obrigações
tem que cumprir e tanto mais
abundantes são os meios de
que dispõe para fazer o bem
e o mal. Deus experimenta o
pobre pela resignação e o
rico pelo emprego que dá aos
seus bens e ao seu poder. A
riqueza e o poder fazem
nascer todas as paixões que
nos prendem à matéria e nos
afastam da perfeição
espiritual. Por isso foi que
Jesus disse: ‘Em verdade vos
digo que mais fácil é passar
um camelo por um fundo de
agulha do que entrar um rico
no reino dos céus’.”
(O Livro dos Espíritos, nota
aposta em seguida à questão
816.)
O tema, dada a sua
relevância, foi objeto de
vários comentários inseridos
por Allan Kardec no cap. XVI
d´O Evangelho segundo o
Espiritismo.
Eis um deles, de autoria do
próprio Codificador:
“Se a riqueza houvesse de
constituir obstáculo
absoluto à salvação dos que
a possuem, conforme se
poderia inferir de certas
palavras de Jesus,
interpretadas segundo a
letra e não segundo o
espírito, Deus, que a
concede, teria posto nas
mãos de alguns um
instrumento de perdição, sem
apelação nenhuma, ideia que
repugna à razão. Sem dúvida,
pelos arrastamentos a que dá
causa, pelas tentações que
gera e pela fascinação que
exerce, a riqueza constitui
uma prova muito arriscada,
mais perigosa do que a
miséria. É o supremo
excitante do orgulho, do
egoísmo e da vida sensual. E
o laço mais forte que prende
o homem à Terra e lhe desvia
do céu os pensamentos.
Produz tal vertigem que,
muitas vezes, aquele que
passa da miséria à riqueza
esquece de pronto a sua
primeira condição, os que
com ele a partilharam, os
que o ajudaram, e faz-se
insensível, egoísta e vão.
Mas, do fato de a riqueza
tornar difícil a jornada,
não se segue que a torne
impossível e não possa vir a
ser um meio de salvação para
o que dela sabe servir-se,
como certos venenos podem
restituir a saúde, se
empregados a propósito e com
discernimento. (...)
Se a riqueza é causa de
muitos males, se exacerba
tanto as más paixões, se
provoca mesmo tantos crimes,
não é a ela que devemos
inculpar, mas ao homem, que
dela abusa, como de todos os
dons de Deus. Pelo abuso,
ele torna pernicioso o que
lhe poderia ser de maior
utilidade. É a consequência
do estado de inferioridade
do mundo terrestre. Se a
riqueza somente males
houvesse de produzir, Deus
não a teria posto na Terra.
Compete ao homem fazê-la
produzir o bem. Se não é um
elemento direto de progresso
moral, é, sem contestação,
poderoso elemento de
progresso intelectual.”
(O Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. XVI, item
7.)
Concluindo, transcrevemos a
mensagem que compõe o cap.
150 do livro Caminho,
Verdade e Vida, de
Emmanuel, obra psicografada
pelo médium Chico Xavier, em
que o conhecido instrutor
espiritual destaca também a
importância da riqueza no
mundo em que vivemos:
“O caminho evolutivo está
sempre repleto de aguilhões.
De outro modo, não
enxergaríamos a porta
redentora.
Entrega-se Deus aos filhos
da Criação inteira, reparte
com todos os tesouros de seu
amor infinito, estimula-os a
se elevarem, através de mil
modos diferentes;
entretanto, existem círculos
numerosos como a Terra, em
que as criaturas não se
apercebem dessas realidades
gloriosas e paralisam a
marcha, dormindo no leito da
ilusão.
Perante tal inércia, os
mensageiros da Providência,
aos quais se confiou a
tarefa de iluminação dos que
estacionam na sombra,
promovem recursos para que
se verifique o despertar.
Cientes de que Deus dá tudo
— a vida, os caminhos, os
bens infinitos, os gênios
inspiradores e só pede às
criaturas se lhe dirijam aos
braços paternais — esses
divinos emissários organizam
os aguilhões, por amor aos
seus tutelados.
Nesse programa, criou Jesus
os mais nobres incitamentos,
para a esfera terrestre. A
riqueza e a pobreza, a
fealdade e a formosura, o
sofrimento e a luta são
aguilhões ou oportunidades
instituídos pelo Cristo, a
benefício dos homens.
Cada existência e cada
pessoa têm a sua dificuldade
particular, simbolizando
ensejo bendito.
Analisa a tua vida, situa
teus aguilhões e não te
voltes contra eles. Se um
espírito da grandeza de
Paulo de Tarso não podia
recalcitrar, imagina o que
se pedirá do nosso esforço.”
(Caminho, Verdade e Vida,
cap. 150.)
Em face de explicações tão
claras, esperamos que as
dúvidas do leitor fiquem
devidamente sanadas.
|
Para
esclarecer
suas
dúvidas,
preencha
e
envie
o
formulário
abaixo. |
|
Sua
pergunta
será
respondida
em
uma
de
nossas
futuras
edições. |
|
|
|
|