ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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A busca da
qualidade: uma
tarefa para toda
a vida
Os tempos
presentes, nos
quais prevalece
a percepção
quase
generalizada de
que as coisas
estão fora de
lugar e o mal se
exacerba, são
também altamente
convidativos
para a
realização de
algumas
reflexões
imprescindíveis.
Entre elas, há a
necessidade
constante de nos
autoavaliar, ou
seja, de
averiguar como
estamos nos
conduzindo pela
vida, apesar do
quadro geral
observável de
enormes
incertezas e
anomalias que se
espraiam pelo
planeta.
Independentemente
das nossas
convicções ou
preferências
pessoais, o fato
é que todos nós
estamos
convocados para
o desafio de
consertar os
erros vigentes e
nos superarmos
em todas as
dimensões
possíveis.
Afinal de
contas, fomos
trazidos à
experiência
carnal para a
execução de
tarefas
significativas,
sem falar das
nossas correções
comportamentais
na direção do
bem e da
justiça.
Somados, tais
imperativos
requerem a
disposição de
nossa parte de
nos pautarmos
com qualidade
em todas as
esferas,
dimensões e
ambientes com os
quais estejamos
conectados.
Desde meados do
século passado,
aliás, o
conceito de
qualidade ganhou
notoriedade e
relevância nas
sociedades
humanas.
Inicialmente
como balizador e
métrica de
organizações e
seus produtos e
serviços, com o
tempo o conceito
foi ganhando
conotações e
escopo mais
abrangentes a
tal ponto que se
tornou
praticamente
sinônimo de
coisa benfeita.
Nesse sentido,
qualidade não é
um conceito
abstrato, mas
parâmetro
sinalizador de
confiabilidade e
eficiência.
Em termos
conceituais,
portanto,
qualidade
ombreia com a
noção de valor,
responsabilidade
e dever. Nessa
perspectiva
deontológica,
portanto,
qualidade é
perfeitamente
aplicável aos
indivíduos e aos
seus esforços.
Desse modo, a
busca de
qualidade deve
ser vista como
uma bússola a
nos guiar em
tudo o que nos
propomos a fazer
nesse mundo.
Dito de outra
forma, a
qualidade deve
ser a nossa
marca pessoal. E
ao incorporarmos
essa visão
estamos, ao
mesmo tempo,
cumprindo um
dever/missão
transcendente,
isto é, o de
sermos seres
humanos melhores
trabalhando para
implantação de
algo maior do
que nós mesmos.
Não há setor da
vida humana na
atualidade que
não prescinda de
gente disposta a
atuar com
qualidade. A
nossa própria
condição
precária de
civilização
demonstra
claramente tal
necessidade.
Afinal,
precisamos de
líderes,
gerentes,
políticos,
médicos,
professores,
policiais,
trabalhadores em
geral – só para
ficarmos em
alguns exemplos
–, dispostos a
dar aquela
“milha extra” de
boa vontade,
eficiência e
serviço à
humanidade.
Se há alguma
dúvida em
relação à tese
aqui defendida,
basta recuperar
na memória
aqueles
indivíduos que
se destacam
pelas suas
contribuições e
valor e os que
não
fazem diferença
em nada.
O
mesmo pensamento
vale para as
instituições.
Quantas, de
fato, podemos
atribuir-lhes a
condição de
organizações que
operam sob o
signo da
qualidade?
Quantas podemos
considerar como
ilhas de
excelência?
Cremos que o
raciocínio aqui
esboçado vale
também, em larga
medida, para nós
que militamos
nas instituições
espíritas.
Grosso modo,
elas existem
para suavizar a
dor e lançar a
luz sobre a
ignorância
reinante com
base em sólidos
argumentos
provenientes do
evangelho e das
revelações dos
Espíritos. Ao
enfeixar tão
nobres objetivos
espera-se que os
seus tarefeiros
também se sintam
inspirados a dar
o máximo de suas
capacidades.
Desse modo, um
expositor, por
exemplo, deve
compreender que
a sua
apresentação
(uma aula, na
verdade) deve
ter começo,
meio e
fim. Por
mais óbvia que
seja tal
proposição, a
observação do
dia a dia mostra
que esse truísmo
é desrespeitado
não raras vezes.
Em várias
ocasiões
presenciei
confrades e
confreiras que
não conseguiram
“entregar” o
tema.
Propuseram-se a
abordar
determinado
assunto, mas, no
decorrer da
exposição,
perderam o rumo.
Em muitas
oportunidades
observei
nitidamente a
intenção, por
parte do
expositor(a), de
exibir suposta
erudição através
da inserção de
simbologias na
interpretação do
evangelho, bem
como comentários
completamente
dissonantes.
Por essa razão,
o candidato(a) a
expositor(a)
deve ter sempre
em mente que a
sua função é
divulgar o
evangelho à luz
do Espiritismo,
se possível com
simplicidade e
objetividade. Os
exemplos, casos,
histórias e
eventos devem
manter essa
conexão.
Portanto, o
domínio da
literatura
espírita é
mandatório. A
ela deve ser
destinado, com
efeito, o maior
peso na
exposição/aula.
Nesse sentido,
vale recordar
que há colegas
que caem na
armadilha de
querer resumir a
doutrina no meio
da apresentação,
e acabam fugindo
do tema central.
Outros
literalmente se
perdem nas suas
anotações
quebrando o
ritmo. Por isso,
a organização do
material
(papéis) com a
introdução/objetivos
do encontro,
tópicos ou
questões a serem
abordadas,
citações, casos
e exemplos
pertinentes e,
finalmente, as
conclusões são
providências
indispensáveis.
Em síntese, uma
exposição
meticulosamente
elaborada denota
a qualidade do
expositor(a),
isto é, a sua
seriedade no
tratamento/enfoque
do tema e
respeito aos
presentes que lá
estão para
ouvi-lo(a).
Encaro sempre
com suspeição
colegas que
afirmam ter tido
uma “inspiração”
na noite
anterior e se
apresentam sem
qualquer
anotação ou
suporte.
Normalmente,
eles(as) acabam,
como diz uma
querida
confreira,
“amassando
cacau”.
Por outro lado,
dentro do
terreno da
qualidade não é
admissível
comparecer ao
trabalho com a
“cara amarrada”
ou mesmo mau
humor. Quem não
está disposto a
dar algo de
bom de si
mesmo – um
sorriso ou pelo
menos uma
expressão facial
amigável – nos
poucos momentos
em que está na
casa espírita, é
melhor ficar em
casa ou arrumar
outra coisa para
fazer...
Médiuns que
comparecem aos
trabalhos sem a
devida
harmonização ou
o recolhimento
interior
necessário pouco
ou nada
acrescentarão.
Uma boa dose de
bom senso aqui
também é
altamente
recomendável,
pois não é
incomum colegas
afirmarem ter
tido uma visão
de Maria de
Nazaré ou mesmo
de Jesus entre
outros
personagens
históricos. Por
fim, dirigentes
personalistas –
os chamados
“donos de
centro” – são um
capítulo à
parte. Pessoas
que se colocam
nessa perigosa
posição perderam
a noção da
transitoriedade
das coisas. Por
conseguinte, não
é de se
estranhar que a
sua passagem
pela direção das
casas seja de
baixa qualidade.
Como vemos nos
exemplos acima,
e sem a
pretensão de
esgotar o
assunto, a busca
da qualidade
deve ser vista
como tarefa
permanente. E no
exercício de
qualquer função
dentro de uma
casa espírita,
por mais simples
e humilde que
seja, o esforço
e empenho nessa
direção devem
ser constantes.
No final das
contas,
haveremos de ser
avaliados pela
espiritualidade
exatamente pela
qualidade dos
papéis que
desempenhamos ao
longo da vida.
Em suma, a nossa
qualidade
intrínseca
determinará o
nosso amanhã.